ᴀɢᴏʀᴀ ᴛᴇɴʜᴏ ᴠᴏᴄê
- O que você está fazendo? - meu amigo ri
- Comemorando, eu estudava sobre a possibilidade da imortalidade e vocês além de provarem que ela é ainda me explicaram todo o processo.
- Você estudava sobre isso? - é Sara quem pergunta e eu me jogo de novo na poltrona.
Havia muitas coisas que eles não sabiam sobre mim, contei a Fred minha história, mas não ela completa, não era surpresa que eles não soubessem do detalhe sobre as pesquisas.
- Sim, eu sou biomédica, como vocês sabem, e estudava isso desde o início da minha graduação. - e de repente estava nostálgica - Mas minha amiga Margot pesquisava sobre a existência de vocês, eu ria bastante, pois quanto a isso eu era totalmente cética. - confesso - Bom, olha onde eu estou agora.
- Cercada por nós. - a vampira suspira.
Eu assinto encarando o chão por algum tempo.
Quem diria, além de estar cercados por eles, eu poderia ser um deles, tenho o gene deles.
Louco.
- O que são os convertidos? - questiono curiosa e Fred me olha atento, se ajeitando na poltrona.
- São os vampiros que não matam pra se alimentar, na verdade eles nem encostam nas pessoas. - eu assinto interessada - Se alimentam apenas de bolsas de sangue.
- Há exceções somente para casais que querem compartilhar o sangue, essa troca é como a consumação do casamento para os humanos. - conta Sara e eu gelo.
- Por isso a ligação forte?
- Sim. - Fred assente.
- De qualquer maneira não me arrependo de ter me consumado com você Fred. - brinco e ele gargalha alto junto com Sara.
- Mas existem também os regenerados. - adiciona ela. - Vampiros que antes se alimentavam até a morte, mas que passam a beber somente o suficiente para sobreviver.
· Que é o meu caso ·
Ouço Fred na minha mente e sorrio.
- Mas disso ninguém pode saber. - adverte a vampira que também o ouviu.
- Sanguíneos são gulosos. - olho pra minha amiga que me encarava com um sorriso no rosto - Me desculpa, Sara. - rio da careta que ela fez - Mas é verdade, cinco litros de sangue, como conseguem?
- Um vampiro sanguíneo normalmente demora entre dois a três dias pra se alimentar, mas tem os que necessitam beber todos os dias.
Fred assente.
- Existem também os vampiros Pure, ou só puros, sem relação com a descendência. - ele dá sequência. - Esses você só encontra em Órion. - eu o vejo sorrir - São chamados assim porque nunca provaram o sangue humano, se alimentam apenas do sangue de animais.
- Existe uma espécie de vampiro que se alimenta somente de frutas, os Fructus, esse tipo é raro, muito mesmo e eles são muito poderosos pois carregam o poder dos quatro elementos. - tampo a boca surpresa.
- Que massa! - sibilo surpresa.
- Quase todas as famílias dessa espécie moram em Órion, apenas os Forcecs que moram em Ópreon pois são híbridos, vampiro e fada. - acrescenta o homem e eu sorrio.
- E os originais que são gerado por dois vampiros. - completa Sara.
Isso realmente era um mundo amplo, do qual muitos não fazem nem ideia que existe.
- Pois é, essas são as espécies de vampiros que temos.
Puros, convertidos, regenerados, frutíferos, sanguíneos e originais.
- E os bruxos e lobisomens?
- Bom, não vivemos juntos, cada um tem uma cidade pra sí. - minha amiga se ajeita numa outra poltrona. - As bruxas, os elfos e as fadas da luz vivem em Ópreon, como o Fred disse, e os das trevas em Lópreon.
- A mesma coisa pros lobos, existem dois tipos, os morticínios, que se alimentam de humanos e os puros que se alimentam somente de animais. - conta Fred - Ótrion é onde os puros moram e Lótrion é o canil dos podres.
- Quantas cidades. - comento processando as informações.
- Sim, quem decidiu assim foi Bill Mollin, pai de Daio, que governava tudo antes de ser morto por Platon. - conta a vampira e esse nome repercute pela minha mente.
Bill Mollin, era pai de Daio?
- Depois disso Daio assumiu o lugar do pai como líder, e no início as três cidades luminosas queriam uma guerra para vingar Bill, mas ele não permitiu, pois isso poderia levar à desastres com proporções grandiosas, a guerra poderia ultrapassar os limites dos portais colocando a vida dos humanos em risco.
- Até então quem tinha acesso único aos portais eram os senhores de Órion, Ópreon e Ótrion, mas com a decisão de Daio, e apoiado pelos principais anciãos do conselho, Solveig Hansson se voltou contra eles e se tornou um elfo das trevas.
- Ele que abriu os portais de Lórion, Lópreon e Lótrion.
- Gorverna Lópreon até hoje, apesar de gostarmos da distância tivemos que nos juntar por causa da guerra. - Fred fala e eu franzo o cenho confusa.
- Se os portais estavam fechados, como saiam pra se alimentar? - Sara sorri apoiando os cotovelos nos joelhos.
- Não saíamos. - a olho sem entender.
- Estávamos presos a aproximadamente um milênio. - Fred franze o cenho.
- E como sobreviveram?
- Bem, Bill criou um programa em Órion que recrutava sobrenaturais que estavam dispostos a mudar, se converter. Essa era nossa única opção pra sobreviver.
- Muitos morreram, vampiros famintos começaram a se alimentar de outros vampiros, assim como os lobos, o caos estava instalado nas nossas cidades. - Sara encara o chão.
- Por isso Platon e alguns dos anciãos decidiram que matar Bill seria o mais viável a fazer. - Fred suspira - Eles se comunicaram com as bruxas com ajuda das que residiam aqui e fizeram um pacto.
- No halloween seguinte elas fizeram o círculo da magia aqui e lá, eu me lembro como se fosse hoje que eles literalmente sumiram. - Sara ainda mantinha os olhos no chão. - Claro que fazemos isso sempre, mas aquilo foi de arrepiar a alma, sumiram todos, as bruxas, Platon e os anciãos.
- Não soubemos deles por mais de duas semanas e então quando voltaram trouxeram com eles a cabeça de Bill Mollin. - é inevitável não sentir meu coração se apertar por Daio.
- Mas ainda não havíamos sido libertos, na verdade isso só ajudou que as coisas piorassem, pois pararam de recrutar.
- E pararam bem na minha vez. - Fred diz me olhando, consigo enxergar nos seus olhos a decepção - Então começaram os rumores de guerra, todos pareciam furiosos, mas Daio não quis, ele sabia que seríamos dizimados fácil demais por causa dos anos sem nos alimentarmos.
- Foi então que Solveig se virou contra eles, disse que Daio era fraco demais para ser o líder dos três reinos e que assim como Bill foi morto eles poderiam ser também.
- É melhor juntar-se a eles, do que ficar contra eles. - Sara murmurou.
- Como eu disse, ninguém nunca esperava uma investida tão poderosa das bruxas, magia negra sempre foi combatida pela magia luminosa, mas daquela vez...
- Ninguém pensou muito após a abertura dos portais, muitos humanos morreram. - a vampira disse simples.
Eu não a julgo, ela era assim mesmo e isso não significava que ela não se importava.
- Quanto tempo faz isso? - pergunto sabendo que ouviria falar de um massacre, não?
- Em 1890. - eu murcho na poltrona.
Damn, eles falam como se fosse ontem, foi a mais de cem anos.
- Se Daio impediu a guerra porque estão nela agora?
- Após a morte de Bill, Michel entrou em um novo conflito com um dos anciãos santificados após tentar seduzir a esposa dele. - começa explicar meu amigo.
- Como se matar o soberano das três terras não tivesse sido suficiente. - murmura Sara com os olhos no chão com a cabeça repousada no encosto do sofá, seu tom era sarcástico.
- Madalena era incrivelmente linda e herdeira de umas das famílias mais poderosas de Órion, por ser casada e convertida ela o negou e então Michel, com a ajuda de uma bruxa aliada, enfeitiçou a vampira.
- A mãe de Alicie. - murmuro e ele assente.
- Ela morreu após dar a luz a criança. - confirma - Órion então estava em chamas, todos queriam a cabeça do pai e filho herdeiro de Lórion. - ele suspira - E dessa vez Daio aceitou, no início eram apenas rumores, até eles começarem a enviar infiltrados, descobrimos alguns, mas tenho certeza que existem mais.
- A alguns dias os sinos soaram, o que indica que a qualquer momento a fronteira que separa Órion e Lórion irá se abrir.
- Mas por enquanto estamos apenas lutando com pequenos grupos que são mandados pelos portais que eles abrem. - conta Fred. - Muitos já morreram e nós estamos em desfalque, por isso Michel mandou recrutarmos humanos para serem transformados para a guerra.
É, disso eu já sabia.
- É o que estamos fazendo, apesar de demorar uma semana ou mais para eles acordarem. - Sara cruza as pernas.
- Por estarem em frenesi alimentar eles são tão rápidos, violentos e mortais quanto um vampiro de quinhentos anos ou mais - explica Frederik - Estratégia de guerra, mas uma ação totalmente ridícula pois a probabilidade de voltarem é pouca.
- Eles morrem matando, normalmente depois que matam eles sugam o sangue, e se for o de um puro ou convertido eles agonizam até a morte.
- E por que isso?
- Funciona como a coagulação de um sangue tipo A quando entra em contanto com o sangue tipo B. - pacientemente me explica e eu juro, eu nunca me senti tão fascinada por um assunto como estou agora.
Heron havia me dito algo do tipo, mas sempre preferiu falar das técnicas de ataque do que de biologia.
- Quando o sangue de um ser puro ou de um convertido entra em contato com o interior de um sanguíneo começa a autodestruição do organismo dele.
- Isso era usado como uma forma de tortura. - os olhos de Sara estão longe, parece lembrar de algo em especifico.
- Deve doer mesmo.
- Como o inferno. - seus olhos encontram os meus e eu sinto os meus pelos se arrepiarem todos.
- Hop. - chama a criança e eu a olho. - Você quer vim assisti comigo? - ela pergunta e eu sorrio. - Tá passando bananas de pijama. - eu concordo olhando para os meus amigos em seguida.
- É claro que sim, estou indo. - me levanto e pego a mão que ela me estendeu.
Vejo Sara sorrir e aperto meus olhos fazendo uma careta, não aguentava a fofura daquela criança.
Se falar que assisti algo mentiria, durante todo o filme eu pensei no que havíamos conversado, o que esperavam? Que eles realmente morressem?
Não concordo com o estilo de vida, muito menos com suas ideologias, mas mantê-los cativos foi uma atitude tão ruim quanto a vida que eles levam.
Bill errou ao prendê-los, Daio devia reconhecer isso, o fim não poderia ter sido diferente.
Vampiro sem fome já é perigoso, vampiro com fome é ainda mais, agora vampiro faminto é totalmente genocida.
Eles não pensaram nisso, não?
De certa forma, contribuiram pra uma matança enorme, com certeza os sanguinários não se contentaram com um humano apenas, muitos deles devem ter sido mortos por apenas um vampiro.
· Pare de pensar nisso, humana · ouço Sara e sorrio com Alicie enrolada em meus braços.
· Leu meus pensamentos? · pergunto enquanto beijo a cabeça da garota que se encolheu ainda mais em mim.
· Não, não leio mentes, mas sua cara não nega. · diz e olho pra ela que estava encostada na parede não muito distante, olhando pra mim.
Voltei a olhar pra TV e reviro os olhos quando vi que passava Dora Aventureira, no meu colo Alicie interagia com o desenho.
Um tempo depois meu estômago roncou, só então me lembrei que ainda não tinha tomado café.
Perguntei a Alicie se ela estava com fome, mas a garota negou dizendo que ainda estava cheia.
Eu entendi o que ela quis dizer e olhei pra Anastácia com pesar.
A garota ficou na sala entretida com o desenho enquanto eu fui com Ane para a cozinha, Sara estava lá em cima montando a guarda e Fred voltou para o clã.
- Por que ela está aqui? - se refere a Alicie enquanto eu comia pão.
- Ela foi sequestrada, é uma longa história, Michel quer o pai dela então pegou a filha que era pra ter morrido com a mãe.
- Você acha que ele vai deixa-lá viver? - fixo meu olhar na mesa me lembrando do que a babá me falou.
Mas o que eu pudesse fazer para salvá-la, eu faria.
- Espero que sim. - sorrio tentando passar-lhe segurança, mas não acho que tenha funcionado por que ela suspira.
- Ela parece um anjo Hop, como pode viver como eles? - seus olhos estavam na garota novamente.
- Ela não vivia, até ser obrigada. - e eu sinto um enorme pesar, eles a iniciaram - O problema é que estamos cercadas por vampiros sanguíneos, mas existe uma cidade onde todos são bons. - conto virando a xícara de café puro na boca. - Onde crianças, mesmo que filhos de vampiros, são apenas crianças.
- Eu duvido que existam. - sussurra e eu sorrio me lembrando dos dois doidos que eu conheci a um mês atrás.
Eu sinto tanta falta deles agora.
- Conheci dois, Daio Mollin e Cristian Barroso, o pai dela. - aponto com a cabeça - E posso te afirmar que eles nunca tocaram em mim. - digo e então me calo ao lembrar de certo alguém.
Deixo escapar um riso e Ane me olha sem entender, ela me pergunta o que eu estava pensando, mas nem morta eu ia contar das lembranças que pintavam minha mente e me fazia questionar a sanidade.
O que há comigo?
Abano meu rosto enquanto rio, Ane me encarando sem entender nada.
- Por que está corando? - franze o cenho e eu tapo minhas bochechas.
- Não estou.
- Está sim, Hope? - ela também sorri, parece começar a entender, mas eu nego freneticamente.
- Sim, ela namorou um deles. - Sara entra na cozinha me fazendo engasgar.
Como é que ela sabia disso?
Ane olha pra mim novamente, uma careta sacana no rosto.
- Hope...
- Nunca encostaram em você, né?
- Para gente, vocês entenderam o que eu quis dizer. - Anastacia caiu na risada e eu quase morri de vergonha.
Mais tarde, no quarto de hóspedes onde eu e Alicie ficaríamos, experimentei o vestido que usaria na noite da posse para Ane e Alicie ver.
No canto do quarto Sara estava em silêncio, notei, desde que ela chegou, que havia algo a incomodando, mas em nenhum momento ela disse algo sobre.
Notando meus olhos em si, ela sorri.
- Ela ficou perfeita nesse vestido, não?
A criança assentiu repetidas vezes.
- Muito linda, o vermelho combina muito bem com você. - Ane concorda. .
- Obrigada, meninas. - sorrio ainda intrigada com a tensão que rodeava Sara.
Olhei para meu reflexo no espelho e o adimirei, era mesmo lindo, mas não sabia se estava ansiosa ou receosa para usá-lo, pois significaria que estaria a um passo de finalmente encontrá-lo, mas também estaria a três do meu casamento.
E sinceramente, eu não sabia como poderia fugir disso.
- Meu papai contou que minha mamãe gostava muito de velde, ela dizia que ela a cor da espelança e agora eu conheço a cor e você Hope. - fala e eu sorrio emocionada.
Ser considerada assim por alguém é forte, por uma criança é ainda mais.
Alicie, por mais cruel que fosse, sabia seu destino e também sabia que eu poderia salvá-la.
- Obrigada, pequena princesa. - vou até ela e beijo o topo de sua cabeça.
- Vamos dar licença para Hope se trocar? - pergunta Anastácia e ela assente.
- Não demola, senão eu fico com saudade.
- Não vou, prometo. - beijo seu rosto que estava na minha altura por estar no colo de Ane.
Elas saem do quarto e eu olho para Sara, uma boa oportunidade para conversarmos.
- O que aconteceu? - não espero mais pra tentar fazê-la desembuchar tudo.
- Várias coisas, mas a que diz respeito a você mais do que a mim é que Leopoldo Lee chegou a Lórion. - eu apenas a encaro, sentindo todos meus membros tencionarem e meu rosto perder a expressão. .
Sinto um sentimento quente formirgar meu peito, o desejo de saber a verdade, de saber onde ela está viva ou morta e vingá-la por tudo o que lhe fizeram.
- Isso é ótimo. - digo por fim com um sorriso esquisito, juro que não foi de propósito.
Ela nega e se aproxima mais.
- Tem mais, ouvi Michel comentar com Daniel que irão tentar se comunicar com Jace.
Franzo o cenho, isso não estava dentro dos planos que fizemos.
Qual o motivo pelo qual ele tentaria isso?
- Eles querem atraí-los. - minhas pernas ficam bambas e entendo imensamente que algo ruim estava pra acontecer.
Algo que fugia do que havíamos combinado, do contrato.
E de repente meus olhos foram cegados e tudo o que eu via era o flashback do sonho de alguns dias atrás, de Michel matando Daio, Jace, Cristian e depois a mim.
Sinto meu equilíbrio vacilar, recuo dois passos e então estava tonta.
- Hope! -- Sara vem até mim em sua velocidade anormal.
E é ela que segura minha cabeça a impedindo de bater fortemente no chão quando tudo se torna escuridão.
- Droga... - é a última coisa que ouço antes de apagar.
ᴇssᴇ ᴛʀᴇᴄʜᴏ ᴄᴏɴᴛéᴍ ᴅᴇsᴄʀɪçãᴏ ᴅᴇᴛᴀʟʜᴀᴅᴀ ᴅᴇ ᴠɪᴏʟêɴᴄɪᴀ
ғísɪᴄᴀ (ᴛᴏʀᴛᴜʀᴀ)
ʟᴇɪᴛᴏʀᴇs ǫᴜᴇ ᴛêᴍ ᴇsᴛôᴍᴀɢᴏ ғʀᴀᴄᴏ, ᴏᴜ ɴᴇᴍ ᴛᴇᴍ ᴇsᴛôᴍᴀɢᴏ, ɴãᴏ ʟᴇɪᴀᴍ. ɴãᴏ ɪʀá ᴀғᴇᴛᴀʀ ᴀ ᴄᴏᴍᴘʀᴇᴇɴsãᴏ ᴅᴏs ᴘʀóxɪᴍᴏs ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏs.
Caminhava por um amplo salão, vestia um vestido branco, ele era grande e arrastava pelo chão conforme eu andava.
O piso era de madeira escura e o ambiente retangular, em todas as paredes haviam portas.
Dei alguns passos formando círculos ao meu arredor, conseguia ver que ali não tinha nenhum móvel, somente portas e os lampiões que tornava possível enxergar pouco.
Aonde eu estava?
Contei dezoito portas, e quando dei um passo em direção a uma delas ouvi uma gargalhada demoníaca.
Estagnei ali mesmo e então olhei ao arredor, nada.
Típico.
- Se vai me matar, mata de uma vez. - minha voz alta ecoa pelo salão.
Mas além disso, não ouvi mais nada. Cinco minutos em silêncio total ouvi algo cair ao chão, o grito que veio depois congelou a minha alma e dilacerou o meu coração.
- Pai? - meus olhos buscam por ele, mas eu ainda estou sozinha naquela enorme sala. - Por Deus, aonde você está?
Corro até as portas tentando abri-las, tentando encontrá-lo, tentando achar de onde vinham os grunhidos de dor.
Estagno aonde estou quando ouço outra voz, meu desespero não diminui se torna ainda maior quando reconheço o timbre do meu irmão.
Fico quieta sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, tudo está em silêncio novamente, solto a maçaneta que segurava e olho pra trás, mas o som do chicote que era arrastado pelo chão não vinha atrás de mim.
Grito de susto e pavor, e não consigo evitar de me encolher, escondendo meu rosto com os braços, quando o ouço ser desferido contra alguém.
O uivo de dor reverbera em meus tímpanos e me deixa ainda mais atordoada.
Não pode ser, não pode.
- HOPE! - a voz de meu irmão volta a soar, ela erradiava desespero, dor e agonia.
- Meu Deus, meu Deus - cochicho levantando-me com a ajuda da parede, minhas pernas estavam bambas demais pra me aguentar por muito tempo. - Não, não, aonde vocês estão? - volto a tentar abrir as portas, e vou até outra e outra, mas estão todas trancadas.
Tento correr até a última daquela fileira, mas sou puxava com violência de volta para o centro por correntes que, agora, prendiam meu pulsos.
Como uma menina indefesa eu tento me livrar delas, mas eu sei que é em vão.
- HOPE! - ouço a voz chorosa de Lissa.
Todo o ar que tinha em meus pulmões somem, meus ombros caem nas laterais do meu corpo e eu olho em volta.
- Não, não, NÃO!!! - grito assim que ouço o choro sentido de Maria Tereza, tentando desesperadamente me libertar das correntes - Por favor, deixe eles, eu te dou tudo, faço qualquer coisa... - sou interrompida por um grito histérico.
Eu não reconheci o timbre, porém meu corpo inteiro se arrepiou, os gritos continuaram assim como minha família gritando por mim e eu sentia as forças se esvaindo de mim pelas lágrimas. Eu não conseguia mais me manter de pé e por isso comecei a desfalecer
- PARA!! - estou prostrada, de joelhos, com a cabeça eles e com as mãos tampando meus ouvidos.
A gargalhada soou mais uma vez e a porta que estava de frente para mim se abriu.
Pisco algumas vezes tentando recuperar minha visão embassada pelas lágrimas. Uma mulher estava sentada em uma cadeira, semi-nua, mãos e pés acorrentados, ela estava coberta por ferimentos, sua pele estava vermelha por causa do sangue, mas aquela tatuagem me fez reconhecê-la.
Era Margot ali, toda ferida e desfalecida, minha melhor amiga.
Atrás dela tinha um ser de preto, sua vestimenta tapava tudo, desde o rosto, as mãos e os pés.
- Não faça isso. - peço vendo ele erguer uma faca e se aproximar da minha amiga irmã - NÃO FAÇA ISSO, POR...NÃO! - grito quando o vejo enfiá-la no tórax da minha melhor amiga.
Com o impulso ela ergue o rosto junto com um grito e então começa a sufocar no próprio sangue que saia pela boca e nariz.
Não consigo não olhar, não consigo não gritar, não consigo não tentar me libertar, não consigo ficar de pé.
Mas meu rosto é conduzido em direção a outra porta que se abre e com pavor vejo Fred, ele estava amordaçado e acorrentado.
Dentro da sala pequena tinha outro ser encapuzado, ele pega um chicote e o mergulha dentro de um balde, quando sobe o objeto, junto vem o cheiro inconfundível de verbena.
Foi o grito dele que eu ouvi...de meu Fred tão gentil e único.
- Por favor... - me calo cedendo ao choro desesperado quando ele começaa surrar Fred que estava sem camisa.
Eu ouvia seus grunhidos de dor, enquanto eu gritava pra parar, para que parassem, tentava me soltar das corrente, mas era em vão.
Estava ficando louca, era uma mistura de tudo, minha família gritando por mim em aflição, Tessa chorando em desespero, Margot com uma faca atravessada no corpo, morta e Fred sendo chicoteado.
- PARE! - pedi aos gritos - PARE! - grito de novo sentindo a algema da corrente rasgar a carne do meu pulso.
Mais uma porta se abriu e sem que eu esperasse a cabeça de Sara rola até um metro de mim.
- Aaaaaah - grito desesperada. - Não, não, não, não... - olho pra cima, em direção a sala. - Sara...
Seu corpo estava preso por correntes na sala que fora aberta, e atrás dele um encapuzado com um facão na mão.
- HOPE! - ouço Lissa.
- POR FAVOR, NÃO FAÇAM NADA COM ELES, PAREM POR FAVOR. - implorei e uma porta da lateral esquerda se abriu. - Ela está grávi... - perco o ar e a fala quando olho pra elas.
Lissa e Tessa estavam acorrentadas, a criança estava com pequenas picadas pelo corpinho nu da onde escorria sangue, ela vestia apenas uma frauda.
Minha cunhada estava com a barriga exposta e toda retalhada.
- Ele disse que vai arrancar meu bebê Hope....
- NÃO! - tento me levantar, mas caio.
Tento novamente e, cambaleando, vou em direção a elas.
A criança estava com o pescoço caído sobre o corpo, desacordada.
- Eles vão matar a Maria... - ela chorava em desespero.
- NÃO. - sinto as corrente caírem
Em um fiasco de esperança de que poderia salvá-las eu corro com tudo o que tinha em mim até elas, no meio do caminho o vestido me faz tropeçar e eu caio, sinto muito pé doer muito, mas mesmo assim torno a me levantar e correr.
Vi quando aquele ser, que também estava atrás delas, pegou uma adaga, tentei aumentar a velocidade mancando um pouco, eu ia conseguir, eu ia alcançar, eu estava perto, estava perto, e quando fui passar pela porta ela se fechou bem na minha cara.
- NÃO!!! - gritei me chocando contra ela a tempo de ouvir um grito horrível de Lissa.
Socava a porta sem parar pedindo pra que as deixassem em paz, mas provavelmente era tarde demais.
- HOPE! - era meu pai, mas eu não queria olhá-lo.
Eu sabia o que viria a seguir, ele morreria, mas o ouço me chamar novamente e lentamente viro em sua direção sem conseguir negar ao seu chamado.
POW
POW
- PAI!
Dois tiros em seu pescoço.
Senti a dor no meu físico e mesmo que estivesse quase esgotada fui em sua direção. Dessa vez consegui entrar na sala, abracei ele que engasgava com seu sangue.
- Pai... - soluçava sem ter como salvá-lo. - Papai... - seguro seu rosto, seus olhos arregalados.
- E-e-eu a-amo v-você. - sua cabeça pesou em minhas mãos. - Lem-lem-lembre-se, vo-vo-você ta-tam-tam-bém é u-uma Spen-pen-cer.
Assentindo sem parar abracei meu pai sujando minha roupa branca, eu não sabia mais identificar se chorava, se gritava ou se urrava, ao longe eu ainda ouvia as chicotadas, eu temia por Fred enquanto chorava por meu pai.
Agarraram meus ombros, e a dor que eu senti não era maior do que a dor de saber que meu pai estava morto.
- ME SOLTAA!
O toque era frio como gelo, me queimava.
- Quero que vejo isso... - falou quem me arrastava para fora da sala, para longe do corpo do meu pai.
Uma porta do lado contrário a de Fred se abriu e eu vi meu irmão.
Seu peito estava todo retalhado.
- KALEB!!! - gritei quando o vi e tentei ir até ele, mas quem me segurava impediu apertando ainda mais suas mãos em meus braços, doía.
Meu irmão olhou pra mim e pude enxergar em seus olhos a sua dor, mas também um sentimento que ele carregou desde sua adolescencia, culpa.
O ser encapuzado apareceu atrás dele e então sem que eu pudesse impedir enfiou uma estaca no peito do meu irmão e a empurrou até atravessá-lo.
- NÃO. - gritei histérica vendo os olhos de Kaleb arregalados e sua boca aberta em um "O" - NÃO, KALEB!!!
Sua cabeça caiu pra frente, seus braços estendidos foram ficando ressecados e acinzentados e na frente dos meus olhos meu irmão murchou feito uma flor seca.
- Porque está fazendo isso? - caio sem forças no chão.
Ainda conseguia ouvir as chicotadas e os grunhidos de Fred.
- Por que eu me alimento da dor, me alimento da morte. - sem nunca me deixar ver quem ele era.
- ENTÃO ME MATA LOGO SEU MERDA. - gritei ainda no chão e ouvi sua gargalhada.
- Eu irei, mas não agora, quero que veja mais duas coisas. - me levanta -
- Eu torturo Aurora a vinte e cinco anos e não é atoa.
Minha mãe?
Meu silêncio surpreso o faz rir novamente.
- Mas antes de falarmos sobre isso vamos assistir a esse espetáculo primeiro. - me vira em direção ao único vivo ali.
- Não mate ele, por favor.
- Minha fome ainda não foi saciada Valente. - meu nome soa com desdém em sua boca.
Assim que ele diz isso o torturador para com as chicotadas, em seguida tira a mordaça de Fred para voltar com uma serra elétrica.
- Não. - susurro chocada - Não, não, não... - digo em desespero.
É real, ele vai realmente fazer isso.
Tento me soltar do aperto do homem, mas ele só me segura ainda mais forte.
- Aaaaah - grito me curvando no chão e escondendo minha cabeça entre as pernas quando a serra foi ligada.
- Quero que veja. - ele ergue minha cabeça pelos cabelos e senti meu coro cabeludo doer. - Abra os olhos!
- Não!! - murmuro em lágrimas com os olhos fechado enquanto o som dos gritos de Fred ecoavam pelo local.
- ABRA OS OLHOS!!! - grita com a voz transformada e sinto suas unhas na minha carne.
Grito de dor e desespero quando o faço e vejo o corpo, sem os braços e as pernas, tombar para frente ficando como o de Kaleb.
Eu me sentia mole, o cheiro de sangue era insuportável, e as imagens de tudo o que havia acontecido ali ainda mais.
- Maravilhoso. - me larga para aplaudir e eu caio como um saco de batatas no chão.
Um dos homens encapuzados sai da sala aonde estava meu amigo recém esquartejado, chuta a perna dele pro lado e arrasta a cadeira que ele estava na minha direção vagarosamente.
-Não...,não... - sinto as correntes de volta em meus pulsos e então sou forçada a me sentar.
- A Valente que aquela desgraçada gerou.. . - pela primeira vez vejo o rosto do desconhecido - Meu pai ficará feliz ao te ver aprisionada junto da sua mãe adúltera. - sorri um sorriso maquiavélico.
O rapaz era totalmente albino, tudo era branco, menos os olhos que eram completamente pretos, olhei pra suas presas, em cima e embaixo, e para as orelhas pontiagudas.
Fechei meus olhos para não ter que encará-lo, essa era a espécie de vampiro que eu mais sentia pavor, ele parecia o demônio.
Quer dizer, ele era o demônio.
- Mas antes disso, vamos brincar um pouco. - arregalo meus olhos.
O encapuzado lhe entrega uma faca e ele vem na minha direção.
- Aaaaaah. - grito em desespero fechando os olhos de novo, eu esperava a dor e senti braços me apertarem.
Isso não podia estar acontecendo, não, não...
Luto com todas as minhas forças para afastá-lo, mas não consigo, eu sabia que iria morrer sim, mas não iria me deixar vencer sem lutar.
Quanto mais forte eu sentia suas mãos geladas em mim, mais eu gritava e tentava me soltar.
- Hope, Hope sou eu, Hope. - ouço uma voz tranquila, a voz do meu amigo morto. - Calma, calma... - pediu e então como raio abri os olhos.
Fred, era ele me abraçando.
Estava escuro, um breu, enxerguei uma parte do quarto, estava com o corpo colado ao de meu amigo, então senti o colchão e a coberta, avistei Sara e seus olhos brilhantes próximo a cama e então arfei aliviada, agarrando a camisa de Frederik e voltando a fechar os olhos chorando em pânico.
- Fred... - chamei em prantos lembrando-me de seus gritos, do seu corpo.
- Agora está tudo bem, Hope. - ele se afasta e olha nos meus olhos.
- Foi pavoroso... - soluço sem parar. - Minha família, minha amiga, vocês... - digo entre soluços e Sara se aproxima.
- Nós sabemos, nós vimos... - conta e eu volto a abraçar Fred sentindo medo, muito medo. -Tudo vai ficar bem Hope, nada disso vai acontecer... - ela afirma afagando minhas costas após se sentar na cama.
Continuo chorando, eu não já tinha passado pelo suficiente não porra? Por que mais essa? Por que?
Tudo havia sido real demais e só de pensar...
Só de pensar...
ɢᴀʟᴇʀᴀ, ᴇssᴀ úʟᴛɪᴍᴀ ᴘᴀʀᴛᴇ ғᴏɪ ғᴏʀᴛᴇ... ɴãᴏ ʜá ᴍᴜɪᴛᴏ ᴏ ǫᴜᴇ ғᴀʟᴀʀ, ᴀᴛé ᴇᴜ ᴄʜᴏʀᴇɪ ᴇsᴄʀᴇᴠᴇɴᴅᴏ ɪssᴏ.
ᴘᴀᴠᴏʀᴏsᴏ.
ᴇɴғɪᴍ, ᴠᴏᴛᴇᴍ ᴇ ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴇᴍ.
ᴠᴀʟᴇᴜ ʜᴜᴍᴀɴᴏs.
ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ᴄʀᴀᴅʟᴇs - sᴜʙ ᴜʀʙᴀɴ
ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.
ᴇssᴀ ɪᴍᴀɢᴇᴍ ɴãᴏ ᴘʀᴇᴄɪsᴀ ᴅᴇ ʟᴇɢᴇɴᴅᴀ, ᴍᴇ ᴄᴀᴜsᴀ ᴜᴍᴀ ᴛʀᴇᴍᴇɴᴅᴀ sᴇɴsᴀçãᴏ ʀᴜɪᴍ
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