sᴜʙᴛᴇʀʀâɴᴇᴏ

A casa estava vazia a mais de meia hora, Jace neutralizou os cheiros antes de voltar para o hospital, Cristian estava do outro lado da rua bem bonitinho em um dos galhos da árvore quase não o podia ver por conta da noite escura.

Ele me obrigara guardar suas roupas em minha mochila mesmo eu dizendo que era arriscado, assim mesmo ele insistiu, combinei com Margot de nos encontrarmos na cabana da floresta.

Ela não me levaria nada suspeito, suspeito seria o que aconteceria depois já que também nos encontraríamos com uma das amigas dos meninos, uma bruxa.

Eu precisaria voltar a Lórion de alguma forma agora que não tinha Michel, nao estava preocupada com nada, com a minha família fora de Paradise eu poderia ir salvar minha mãe e depois Alicie, não existia meios pra complicação, certo?

E graças a Amélia eu estava a um passo a frente de Michel, ao menos era isso que eu pensava antes de sentir a energia dele e sua fúria enquanto entrava em um dos carros estacionados na minha garagem.

Desci com pressa, joguei a mala no porta mala e travei o carro a tempo de um outro parar em frente ao portão aberto de casa, olhei para a árvore e avistei Cristian.

Que ele fiquei bem paradinho ali.

Respiro fundo quando ouço o canto de Cristian, mais cedo ele me disse que essa espécie era considerada vampira por se alimentarem do sangue das feridas dos animais, disse também que existem outras espécies como o Tentilhão, por exemplo.

- EU MATO VOCÊ AGORA OU DEPOIS? - grita na minha direção ao mesmo tempo que tenta empurrar meu ombro.

Eu me desvio e limpo a poeira imaginária do meu ombro com desdém.

- Não mata. - o olho com um sorriso - Você até que demorou, que foi? Perdeu o endereço da minha casa?

- Não. - sorri maléfico. - Não, não, você acha que eu sou algum palhaço? - aponta o dedo na minha cara, eu olho dele pro dono sentindo uma imensa vontade de quebrá-lo - Aonde esteve e com quem esteve? - pergunta se aproximando e eu reviro os olhos.

- Bem - estendo meus braços e olho ao redor - Bem-vindo a minha casa, eu vim pra cá ontem a noite. - digo fria - Se você estivesse em algum lugar que eu pudesse te encontrar eu teria te contado e teria vindo comigo, mas prefiriu sumir. - cuspo as palavras com descaso. - Mas eai, foi aonde ontem? - pergunto cruzando os braços - Por que o que eu fiz foi chegar aqui, tomar banho e dormir um pouco. - minto.

- Vai se ferrar, você achar que eu acredito em você? - pergunta.

- Vai a merda Michel. - rebato irritada com seu show. - Por que perguntou então? Se quiser pode conferir a casa meu bem. - esbravejo, mas é verdade é que não passa sem wi-fi - Fica a vontade! - estendo minha mão lhe dando passagem e o vampiro não hesita, no segundo seguinte estava lá dentro.

Encosto-me no carro sabendo que teria que agir rápido, pensava em várias possibilidades, mas com toda certeza não seria nenhum pouco fácil convencer Michel, pensei em abandoná-lo de novo, mas Daniel não parecia interessado em tirar os olhos de mim.

Suspiro quando minutos depois o vejo sair.

- Encontrou algo? - pergunto me desencostando e ele me ignora entrando no carro e eu sorrio ainda de costas pra ele.

Idiota.

Ele agarra meu pulso, mas eu o puxo de volta.

- Pra onde quer me levar, seu lunático? - luto contra sua mão, mas não tenho sucesso.

- Voltar pra Lórion, tenho coisas pra fazer. - eu respiro fundo.

Não posso, ainda preciso me encontrar com Margot.

Me mantive em silêncio, não iria falar mais nada, não esperava ter sua aprovação eu iria sem ela mesmo.

Os minutos se passavam enquanto eu matutava um novo plano, sorrio quando penso em algo promissor.

Esperei até que estivéssemos cercados por árvores, era o início do trajeto de Longcity pra EastVille, sem esperar, abro a porta do carro e pulo, a cabana naonera longe daqui.

- HOPE! - o ouço gritar furioso.

Saio rolando na terra, na grama e nas folha, levanto-me rápido e passo a correr na minha recém adquirida velocidade, mas cinco minutos depois sinto agarrarem minha cintura.

- Aaah. - grito indo pro chão.

- Tá indo aonde ruivinha? - pergunta Daniel virando-me para ele.

- Não me chame de ruivinha. - grunhi e para me soltar dou uma joelhada no meio de suas pernas.

- Aaah. - geme caindo de joelhos ao meu lado.

Guys is guys

Eu não queria matar ninguém por enquanto, então levanto-me e volto a correr.

Entro no meio das árvores e continuo correndo em direção a EastVille, ouvia o canto de Cristian e o entendi quando novamente sinto me pararem, dessa vez puxando meu pulso e me jogando conta uma árvore.

- CARAMBA, SEU FILHO DA MÃE!!! - grito com dor após meu ombro ser perfurado por um galho.

- Talvez agora você fique quietinha, gracinha. - se aproxima.

Sinto meu corpo formigar, mexo os dedos da mãos buscando não sair controle, pego impulso e me jogo pra frente.

- Aaah. - gemo caindo de joelhos.

A respiração descompassada, o calor me invadindo por inteira, a fúria subindo.

- Eu não queria te matar. - digo de cabeça baixa. - Mas agora é isso que eu vou fazer. - levanto-me rápido, correndo até ele, enfio minha mão em seu peito e arranco seu coração antes que pudesse ter alguma reação.

O cheiro de seu sangue atiça minha fome e então meu estômago dói, não sei o quanto encaro, é o suficiente pra Cristian achar perigoso.

- Hope? - ouço meu nome e olho pra ele em sua forma normal, ele recua e eu sorrio - Tá bem ô luz neon, pode desligar agora. - fala colocando as mãos na cintura e eu pisco repetidas vezes.

Ele estava literalmente pelado na minha frente, olhei pro outro lado me sentindo constrangida, jogo o coração no chão e limpo minha mão na camisa.

- Valeu. - agradece se aproximando devagar. - Você deixou minhas roupas lá. - murmura e eu olho em direção a seu rosto, Cristian recua de novo me fazendo soltar um riso fraco.

- Está com medo de mim? - pergunto enquanto ele olha pro corpo murcho no chão se ajoelhando ao lado dele.

- Que engraçado você me perguntar isso. - murmura - É óbvio que sim, uma vampira com olhos violetas e metade semi... - arregalo os olhos, como ele sabia?

Estava ouvindo atrás da porta?

- Cala a boca. - digo rápido. - Como você...? - pela careta que ele tem no rosto, sim, ele ouviu por detrás da porta - Tudo bem que você saiba, mas ninguém mais precisa saber... - resmungo.

- Eu ainda lembro quando você me mostrou suas memórias, nunca vi um vampiro fazer aquilo. - dá de ombros fazendo uma careta enquanto se levantava. - Até que eu não saiba do que mais você é capaz, sim, eu tenho muito medo de você. - bate uma mão na outra parecendo tirar a poeira.

Sorrio por sua confissão e olho ao redor com as mãos na cintura.

- Desculpa pelas suas roupas, acho deixei a mochila lá em casa - digo e ele assente.

- Ainda bem que está lá, minha calça da Gucci. - ele finge chorar e eu rio.

- Compro outra pra você. - prometo - Mas agora precisamos ir. - e no instante seguinte ele volta a forma de pássaro.

Corro por mais alguns minutos antes de ouvir o assobio de Cristian e não vê-lo mais no céu.

- Qual é o plano? - pergunta se juntando a mim.

Eu rio alto desacreditada.

- Tá falando sério que você vai correr pelado? - pergunto - E ao meu lado? - completo e o ouço rir.

- Não tem outro jeito, você perdeu minhas roupas. - é uma justificativa, mas ele também parece afim de me provocar.

- Tá. - rio - Eu tenho que ir voltar pra Lórion antes de Michel. - ergue as sobrancelhas. - Você viu pra onde Michel foi? - pergunto o olhando.

- EastVille - responde e eu respiro fundo.

Tem duas opções, ou ele tentará chegar em Lórion primeiro ou tentará pegar minha família.

- Preciso comer. - me vejo falando e Cristian me olha. - O que? Não venha querer me dar lição de moral porque eu sei que você andou saindo da dieta. - falo e ele ri. - E Fred me disse que vampiros recém transformados se alimentam com mais frequência.

- Eu ia concordar. - faz uma cara de inocente engraçada. - Você está com cara de quem está com fome. - fala e eu assino. - E quem é Fred? - pergunta e eu sorrio. - Iiih, esse sorriso, Daio está em perigo.

- Bobagem, Fred é só um amigo.

- É a esperança do Daio. - dá de ombros, mas eu nego ainda mantendo o sorriso.

- Matei dois humanos ontem. - conto e o ouço xingar baixo - Eram estupradores. - ele franze o cenho e eu sorrio. - Ajudei a garota, arranquei a genitária de um e drenei o outro.

- Que merda Hope, você arrancou o p** do cara? - pergunta parecendo sentir a dor do homem.

- E as b****. - incluo - Foi maneiro, ele sangrou bastante, eu nunca me senti tão viva bebendo aquele sangue.

- Sua transformação está completa, então? - pergunta e eu ia responder, mas senti um cheiro bom, cheiro de comida.

- Para. - falei também parando. - Eu vou comer.

Ao longe vejo um alce, estava entre as árvores e arbustos, quase imperceptível, mas eu o vi.

- Aprendeu a caçar? - pergunta ele ao meu lado.

- Eu tenho minha própria maneira pra isso. - digo encarando o animal que parecia começar a perceber que estava sendo observado.

- Ah é? Compartilha. - pede e então o olhar do alce se encontra com o meu.

Sinto o formigamento e meus olhos se tornando violetas.

- Eu posso entrar na mente de qualquer coisa e de qualquer pessoa, vampiros, humanos, lobos, bruxas, e inclusive de animais. - digo e Cristian sorri vendo o animal vir na nossa direção.

Quando estava próximo acaricio sua cabeça, soube que era fêmea porque a galhada não era tão grande.

- Obrigada minha querida por me alimentar. - digo e não espero pra avançar sobre ela que só então reage parecendo despertar.

Nas garras da morte.

- Vai querer? - pergunto a Cristian que observava sorrindo quando o animal já desfalecia.

- Não valeu, comi ontem - diz e eu não hesito em terminar meu café da manhã.

Era bom, mas não tanto quanto o do humano ontem, ou então o de Daio.

- Como posso ter vivido vinte cinco anos na terra como humana sem ser uma humana? - pergunto após acariciar a fronte do animal caído na terra e o agradecer novamente.

- Nunca vamos ter respostas e explicações pra algumas coisas, Hope.

Eu me levanto e bato uma mão na outra, observo o animal por alguns minutos e então limpo minha boca pra em seguida voltarmos a correr.

- Vou precisar de um banho.

- E de roupas novas também. - acrescenta.

Olho pra minha camisa que tinha alguns respingos escuros, no meu pescoço e ombro também tinha, na minha mão até um pouco acima do puso também, na real eu cheirava toda a sangue, de novo. Cristian por sua vez não vestia roupa nenhuma.

- Tem razão. - não que eu esteja preocupada em chegar em Lórion assim, mas come on, higiene é alguma coisa - Vou ligar pra Margot, se ela ainda não tiver saído pode nos ajudar com isso, afinal você precisa tanto quanto eu. - ele ri quando me recuso a olhá-lo.

- Aonde vamos nos encontrar?

- Na cabana. - coloco as mãos na cintura e olho ao redor. - Não está muito longe daqui. - pego meu celular, a única coisa que não deixei pra trás.

- Essa tal de Margot...sabe sobre nós?

- Ela sabe a teoria, mas nunca viu um de vocês de perto. - ele ri e murmura um "você fala como se nossa aparência fosse animalesca".

Não me importo em responder, meus pensamentos estão longes, na minha família e em qual será o próximo passo de Michel.

"Alô?" - ela atende parecendo irritada.

"Margot, sou eu."

"Eu já estou indo, tive um imprevisto na universidade e me atrasei."

"Tudo bem, ainda não chegamos lá." - respiro fundo sabendo que agora ela também correrá perigo - "Na verdade, queria saber se você pode trazer uma troca de roupa pra mim e uma masculina, por favor?" - olho pra Cristian que estava com os braços cruzados olhando pra algo além das árvores.

Ele parecia uma escultura de Michelangelo, sem brincadeira.

"Eu tô achando você esquisita, verbena, madeira e agora troca de roupa? Nem é halloween ainda" - e eu consigo o som dos seus saltos batendo contra o chão.

"É mais sério do que pensa, quando estiver vindo tira saltos."

"Tô indo."

- Podemos ir? - pergunta assim que desligo a chamada.

- Por que essa cabana seria um ambiente pra festa de halloween? - pra responder essa pergunta eu teria que contar a história e francamente...

Entramos agora em uma área totalmente isolada, não se via mais a pista, era deserto por ser dentro da floresta e como EastVille era uma cidade de ricos quase ninguém tinha tempo e vontade de explorar a mata, por isso ali foi palco para uma série de estupros e assassinatos.

Ninguém desconfiava até dois adolescentes seguirem um caçador, esperaram ele desocupar a cabana e então entraram, lá dentro acharam um corpo em estado avançado de decomposição e com essa descoberta vieram outras mais.

Nunca foi identificado o assassino.

- Ela foi usada por assassinos e estupradores, há alguns anos atrás encontraram um corpo dentro dela. - conto - Isolaram a área pra investigação, mas o caso acabou sendo arquivado porque nunca conseguiram encontrar pistas suficientes.

Ele franze o cenho, mas não fala nada.

- Ali. - aponto e diminuimos a velocidade da corrida.

Diferente de Cristian eu me sinto cansada e até um pouco ofegante

- Credo, tem mesmo cara de ser sombria.

- Não se preocupe, é segura agora.

Passamos a caminhar quando ela estava a apenas um metro de distância, olhei em volta.

- A universidade fica na cidade então Margot não deve demorar tanto pra chegar. - murmuro ainda observando os arredores

- Tudo bem. - diz Cristian olhando em volta também -Sou eu que estou pelado mesmo. - rio com a casualidade de sua brincadeira - Aonde você vai?

- Entrar lá dentro, ué. - dou-lhe as costas novamente - Ah, e não reclama, você pode virar um pássaro. - digo enquanto caminho pra longe dele - E eu não acharia ruim.

- Qual é, eu sou um homem bonito de ser ver. - ouço sua zombaria.

- Não disse que não era. - e dessa vez quem ri é ele - Mas também não disse que era. - falo alto e ainda ouço seu riso.

Cristian é um vampiro simples, boa pinta.

Subo as escadas de madeira velha que range com meu peso, caminho pela varanda suja e acabada, cruzo meus braços olhando em volta.

É realmente um cenário de filme de terror sem ter sido projetado e com o tanto de sangue em mim eu estava combinando perfeitamente.

Vou até a porta e toco a maçaneta, tento abrir, mas estava trancada, forço a porta uma vez e na segunda tenho que dedicar mais força pra que ela abra.

Só porque eu estava querendo arrombar...

Olho para Cristian, mas volto-me novamente para a porta.

- Merda, vira logo um pássaro. - e lá estava eu, desconcertada.

- Foi mal Hope, mas não vai rolar. - brinca risonho e eu suspiro.

Analiso interessada o interior da cabana iluminada apenas pela luz que entrava pelas janelas.

- Você não sabe o quanto vai pegar mal sua nudez?

- Qual é, eles não vão achar que eu nós... - eu o interrompi.

- Cala boca. - digo rápido e ele ri. - Pelo amor de Deus, você não tem senso? - pergunto caminhando pra dentro.

- Que isso? - retruca irônico vindo logo atrás de mim. - Além do mais a culpa é sua, você que deixou minhas roupas pra trás.

Ia erguer o dedo pra ele, mas em uma fração de segundo sinto um cheiro forte de madeira podre, mofo e mais alguma coisa que não soube identificar e que me faz franzir o cenho porque era ruim

- Isso fede a sangue velho. - comenta o vampiro atrás de mim, eu sorrio.

Ele pareceu ler meus pensamentos, ou é só eu que não sou nada discreta com as minhas fisionomias mesmo.

- Eu sinceramente esperava cheiro de defunto, não sei porque eles ainda não demoliram isso. - chuto o chão, os braços cruzados evitando a todo modo de olhar pra ele.

É constrangedor como parece ser normal pra ele.

Caminho pela pequena sala que tinha apenas uma poltrona e ouço um barulho, o eco dos nossos passos no piso velho e as folhas voando lá fora.

O assento da poltrona tinha seu couro trincado, mas não tinha nada de anormal ali, então fui para a cozinha aonde aparentemente não tinha nada estranho também.

Abri os armários, todos vazios, os eletrodomésticos eram velhos e a porta do forno rangeu quando abri e depois quando fechei, a surpresa foi quando olhei a geladeira, eu ri.

Ela estava ligada, saiu até uma fumacinha fria quando a abri.

Lá dentro havia só um pote com um líquido escuro e com o que parecia ser uma beterraba dentro.

- Cristian. - chamo o vampiro que aparece ao meu lado rapidamente. - Olha isso.

- O que é? - se curva ao meu lado enfiando a cabeça dentro da geladeira.

- Não sei, mas será que dá pra chegar pra lá? - estou claramente incomodada e ele claramente não dando a mínima.

- Hope, já viu Daio sem camisa? - pergunta e eu sorrio - Então porque está se preocupando com a minha fisionomia? Você vai esquecer rapidinho quando ver a dele de novo. - garante e eu gargalho.

- Vocês homens são uns tontos mesmo, até os que não são humanos. - saio de perto dele que ri.

- É a verdade, eu não disse nada demais. - exclama alto - Vocês mulheres que problematizam tudo, até as que não são humanas. - o ouço enquanto me deslocava pela casa.

Se a geladeira estava ligada com certeza devia ter alguém aqui, sabia dos meus poderes, mas foi bom sentir a arma, que peguei de volta com Jace antes de nos despedirmos, na minha cintura.

Heron me ensinou boas táticas pra eu não praticar agora.

Enquanto caminhava tentei fazer o mínimo barulho, pois poderia ter alguém ali dentro, mas a madeira rangia enquanto eu caminhava pelo corredor escuro.

Abri a primeira porta devagar, e ali tinha um banheiro e estava vazio e sem aparentar uso.

Olhei tudo com olhar avaliativo, o cheiro de mofo ajudou concluir que o cômodo não era usado a um bom tempo.
Estava tão absorta que nem ouvia mais Michel do lado de fora.

Ainda estava lá dentro olhando as gavetas quando ouvi som de uma correntes, me coloquei em alerta apesar de pensar que era coisa da minha cabeça, mas quando ouvi de novo senti todo meu corpo se arrepisr.

Era real.

- Cristian? - chamei atenta. - Cristian? - tornei a chamar quando o barulho se repetiu - Ouviu isso? - pergunto quando ele aparece na porta.

- O que? - está confuso, mas no mesmo instante ouço um grito estridente que fez meus ouvido zunirem e minha cabeça doer.

- Grrr - gemo de dor me debruçando e escondendo a cabeça entre os braços. - Aaaah - grito alto.

- O que foi Hope? - pergunta preocupado me erguendo pelos ombros.

- Merda... - murmuro ainda tapando meus ouvido.

Quando o grito cessou consegui me endireitar me sentindo zonza, ofegante e levemente ensurdecida.

- Tem alguma coisa errada com esse lugar. - olho em volta.

Me apoio na pia respirando devagar, minha respiração estava pesada, sentia meu estômago embrulhado.

Foi quando outra vez ouvi o mesmo grito seguidos de soluços e súplicas.

- O que foi? - ele está preocupado, mas não parece ouvir o que ouço - O que você está ouvindo, Hope?

- Gritos. - arfo - Por aqui. - digo saindo do banheiro e o guiando.

Cambaleei pelo corredor com pressa de encontrar a pessoa que pedia tanto, me escoro na parede e tento ser rápida.

A outra porta estava perto, mas além daquele começaram a vir outros gritos, todos de dor, de desespero.

- Cristian... - sinto minha cabeça latejar. - Dá onde tá vindo essa merda? - não consigo olhá-lo, não consigo erguer minha cabeça.

Ouço vozes de criança, homens, mulheres, choros...

Perdi a conta de quantas vezes tive que me amparar na parede para não cair, Cristian me segurou quando quase fui de encontro ao chão, chacoalhei minha cabeça me sentindo atormentada e segui até a porta.

Os gritos cessaram assim que encostei na maçaneta, respirei aliviada e então a abri ainda me recuperando.

Entrei seguida pelo vampiro, mas não havia muita coisa além de uma estrutura de madeira de uma cama de solteiro, uma pia de louça rosa queimado e um espelho pequeno em cima dela, caminhei até o armário que também tinha ali e o abri.

- Olha. - ouço Cristian atrás de mim e o vejo apontar pra cabeceira da cama aonde tinha apenas uma parte de uma algema ainda presa, no chão uma poça pequena, seca e escura de sangue.

Não parecia velha porque ainda estava vermelha viva.

- Meu Deus... - murmuro sentindo meu estômago embrulhar, eu respiro fundo buscando o alto controle, então, em alto e bom som, ouço uma corrente ser arrastada, virei-me depressa deixando o quarto e indo até o outro.

Abri a porta com um estrondo e a única coisa que vi foi o meu reflexo em espelho de corpo inteiro em uma das paredes.

Encarei-me por um instante em silêncio, não havia mais som, mas eu não poderia estar ficando louca. Foi então que ouvi um grito masculino que tirou todas as minhas forças, e outros vieram seguidos de gemidos, choros e murmúrios de dor, eram femininos, cai de joelhos.

- Hope? - chama Cristian claramente preocupado - O que está acontecendo?

Com os olhos fechados comecei a ter alguns reflexos, eram muitas correntes, pessoas presas a elas, vários quartos, o ambiente era todo escuro, cheirava a esgoto, sangue e carne petrificada e sangue fresco.

Olhei em volta buscando por uma saída, mas não havia nada, foi então que o vi, ele vinha na minha direção.

O ser de preto.

Tento me levantar quando sinto correntes prenderem meus pés e minhas mãos, pego a arma na cintura e sem hesitar aponto pra ele.

- Hope, merda, abaixa isso!!! - ouço a voz de Cristian e então o vejo o vulto de seu corpo nu.

- Minha nossa... - arfo abaixando o revólver. - Me desculpa, e-eu... - olho ao redor aflita, minha visão estava de volta ao normal.

Levanto-me com ajuda dele, minha respiração estava descompassada e eu tinha lágrimas nos olhos.

Olho pras paredes me sentindo ainda zonza, busco algo que indicasse uma passagem, existia algo ali que eu precisava descobrir.

Com um suspiro abro os olhos e me aproximo das paredes colando meu ouvido sobre a superfície.

- O que está fazen... - eu o interrompo.

- Shiiii. - ele se cala.

Ainda com o ouvido sobre a superfície bato com o dedo do meio em evidência procurando por alguma que estivesse oca, foram várias tentativas até que ouvi algo promissor.

- Aqui!

- O que? - pergunta o vampiro confuso.

- Está oca e... - me calo quando ouço correntes.

- tem alguém aí em cima? - ouço a voz baixa, era quase como um sussurro.

- Você ouviu? - pergunto, mas ele nega devagar.

- tem alguém aí em cima? - pergunta de novo - eu acho que nos encontraram. - ela fala e então ouço um alvoroço e vários sons de batidas.

- Agora...eu ouvi. - ouço Cristian, existe horror em seus olhos

- ajude-nos, por favor.

- ajude-nos. - ouço a mesma voz feminina de antes e franzo meus lábios em uma linha reta.

Olho pra Cristian que me encarava perplexo.

- Isso porque você falou que era seguro. - achei que ele estava ficando traumatizados, mas pelo visto está bem já que ainda consegue fazer piada.

Sem esperar mais me afasto um pouco e soco a parede que quebra sem muito esforço, os pedidos de ajuda aumentam e ouço choros aliviados.

- graças a Deus, graças a Deus. - diziam alto.

Eu e Cristian quebravamos a madeira pra que pudessemos passar, atrás de tudo aquilo tinha um quartinho que fedia a mofo e sangue, sangue humano e também a sanguinários.

- Sentiu esse cheiro? - olho alerta pra Cristian.

- Sim. - afirma se afastando de mim. - Está vindo de fora. - me dá as costas pra olhar pra fora da janela suja de poeira e cocô de pássaro.

Penso por alguns minutos antes de tomar qualquer decisão, afinal de contas isso poderia muito bem ser uma armadilha.

- Meu nome é Hope, eu vou ajudar vocês... - ouço mais comemoração vinda de lá de baixo e isso me preocupa, não podemos chamar atenção - Mas pra isso eu preciso que fiquem quietos, por favor. - peço e rapidamente eles se silenciaram.

Olho pra Cristian que assente.

Saco minha arma e a ponho em posição, se fosse pensar bem eu nem preciso dela, mas não conheço tudo sobre mim e prefiro usar o que eu sei usar bem.

Caminho até a porta em passos lentos tentando não fazer barulhos, saio pro corredor rápido dando de cara com Margot.

- Mais que merda Hope Valente, o que que é isso? - minha amiga está com os olhos arregalados, a voz alterada, consigo ouvir seu coração acelerado, mas não abaixo a arma.

Eu me lembro de Daio e vivi em Lórion o suficiente pra saber que vampiros podiam se transfigurar, não ia me deixar levar só por ver o que podia ser só a imagem dela, além do mais era raro Margot me chamar pelo nome inteiro quando não estava furiosa comigo.

- Em que ano nos conhecemos? - ela hesita. - Não sabe ou se esqueceu? - pergunto com um sorriso crescente no rosto, ela esqueceria tudo menos a data do nosso aniversário de amizade, minha amiga era fissurada em datas comemorativas.

Destravo a arma e a pressionou contra o peito do vampiro, contra seu coração, um tiro e já era.

- Aonde ela está? - pergunto sabendo que pra se transfigurar ele teria que ter tocado nela, o que significava que Margot estava com eles.

Uma janela se quebra e senti quando Cristian saiu em disparada na direção do barulho.

O vampiro sorri e tenta me acertar, mas felizmente consigo desviar. Dessa vez ele tenta agarrar minha arma que cai e desliza pelo chão de madeira podre. Ele avança sobre mim e me derruba, agora tenta me imobilizar colocando o peso de seu corpo contra o meu quadril e tenta agarrar meus braços, mas a única coisa que consegue é me arranhar.
Grunho com a dor, empurro seu corpo para longe e me levanto rapidamente, o vampiro tenta se levantar também, mas chuto seu estômago e depois seu rosto.

- Cadê ela, seu merda? - pressionando meu pé contra seu peito e aperto. - Cadê ela? - chuto suas costelas e o ouço grunhir novamente.

Eu tava perdendo a paciência e ao mesmo tempo quase me matando de medo e preocupação.

- Comigo. - ouço uma voz que faz todos os meus sentidos ficarem atentos.

Olho pra ele que mantinha as mãos nos ombros de Margot.

- Fred... - chamo em um sussurro aliviado, analiso Margot por alguns segundos.

Minha amiga tem o olhar assustado, mas mesmo assim ergue a mão direita na minha direção e acena com um pequeno sorriso no rosto.

Graças a Deus!

Olho pro cara no chão que agora estava com um semblante assustado e então sorrio, eu o levanto.

- Tenha uma boa experiência no inferno - quebro seu pescoço e arranco sua cabeça em seguida, vendo seu corpo cair no chão murchando gradativamente.

Vir9-me para meus amigos pra encontrar uma Margot chocada com seus olhoa verdes esbugalhados olhando pra cabeça que perdia a visionomia dela aos poucos e Fred com um sorriso divertido nos lábios.

- Ah... - jogo a cabeça dele por cima do ombro - É...eu...desculpa por isso. - Fred deixa Margot onde está, ainda paralisada olhando pra cabeça do cara que agora tem sua fisionomia real, mas já digo, se ele foi bonito un dia jamais será novamente.

Meu amigo me abraça e é como se eu estivesse mergulhando em um pula pula de ar, sou abraçada por seus músculos também.

- Como é bom te ver, como é bom te ver. - reafirmo encostando sua testa na minha, fazia apenas alguns dias, mas eu já sentia muita falta dele, de Sara, Alicie e Ana.

- Hope!! - ouço Cristian chamar alto, um tom de reprovação gritante em seu tom quase agudo e então o olho. - Quem é esse? - batendo a mão sobre a barriga suja de terra e sangue, tem respingo de sangue em seus braços, ombros, pernas, em toda parte dele assim como minhas roupas e as de Fred. - Aah. - faz uma careta exagerada - É o tal Fred?

Eu me afasto do vampiro.

- Fred esse é Cristian, Cristian esse é Fred. - eles se cumprimentam com um acenar de cabeça. - Ele é o pai da Alicie. - digo ao moreno.

- Sim, eu já ouvi falar dele.

Eles se analisam de cima a baixo, não vejo ameaça no olhar de nenhum deles, mas é engraçado.

- Daio não vai gostar de te ver. - murmura o louro é eu faço careta.

- Jura? É você que está pelado. - alfineta parecendo se divertir com a situação.

Enquanto isso, me aproximo de minha amiga que permanece na mesma posição desde que matei o vampiro.

- Ei. - toco o braço de Margot e ela dá um pulo ao mesmo tempo que um grito afinado e assustado. - Que isso? - tapo meus ouvidos que tinem e rio ao mesmo tempo.

- Não me mata, não me mata. - repete se afastando de mim.

Meu sorriso morre e meu olhar se torna sério, até os meninos se calam. Permaneço olhando pra minha amiga que está toda encolhida em choque, o que eu deveria fazer agora?

Apagar as memórias dela? Não, é errado...

Ela ergue a cabeça devagar e ela na minha direção, o silêncio é assombroso entre nós quatro.

Margot de repente estala a língua, seus olhos voltam ao normal ao mesmo tempo que ela endireita o corpo.

- Tá falando sério que você acreditou? - cruza os braços indignada - Eu teria medo que qualquer um dos outros me matassem, mas você Hop? Estou decepcionada.

Com o coração na mão avanço sobre ela com velocidade só pra vê-lá se encolher de novo.

- Idiota, é bom te ver. - ia abraçá-la, mas Margot me afasta.

- Não é por nada não, também estava com saudade, mas não quero ser a folha do seu carimbo. - rio quando ela me olha de cima a baixo, mas mesmo assim a puxo para perto.

- É bom te ver.

- É bom te ver também. - ela diz enquanto finge choro, o corpo contraído contra o meu.

- Hope perdeu minhas roupas. - ouço Cristian dizer dando sequência ao alginetamento dos dois.

- Mentira. - me afasto da minha amiga que bate em suas próprias roupas para se "limpar" - Em partes, na verdade eu esqueci no meu carro, que está em casa. - me defendo.

- Você está bem? - olho pra Margot que me analisava.

- Eu estava na forma de pássaro. - justifica, mas Fred ri.

Ela sorri para mim e sei que em seguida só ouvirei abobrinha.

- Mas é óbvio que está, olha essas asas. - aponta pras costas de Fred aonde as asas estavam encolhidas, com o comentário ele as recolhe e eu sorrio. - E aquele ali é... - eu tapo sua boca com pressa quando aponta pra Cristian.

- Tá Margot, percebi que você está ótima, mas pelo amor de Deus... - murmuro e ouço o riso de Fred e a gargalhada de Cristian.

- Eu disse pra Hope que eu não sou de se desperdiçar. - concorda o loiro e eu fecho meus olhos respirando fundo.

Esses dois juntos não vai prestar.

- Ah, não é mesmo. - ela diz arrancando minha mão de sua boca e pisca pra ele.

- E eu preocupada de você estar com medo. - murmuro após revirar os olhos.

- Até parece que você não me conhec... - ela se cala quando ouvimos um rangido de porta ao longe, murmúrios e então gritos.

Lembro-me rapidamente das pessoas que encontrei.

- Ah gente, eu vou precisar de ajuda, parece que tem algumas pessoas presas aqui. - digo e Fred assente. - Mas antes, você pode pegar a roupa pra ele? - pergunto a minha amiga e a vejo assentir.

Cristian a acompanha até a sala e eu volto para o quarto junto com Fred que me ajuda terminar de abrir a passagem.

- eles levaram mais um de nós. - ouço a voz feminina que vem de lá de baixo.

- a minha mulher... - chorava um homem em desespero.

- Estamos indo. - olhando pra dentro do cubículo encontrando um buraco no chão.

- O que é isso? - ouço Margot que entrara no quarto, Cristian estava atrás dela terminando de colocar a camiseta.

Caminho até a beira do círculo e olho pra baixo, ali tinha uma escada presa às paredes do buraco, eu suspiro decidida.

- Eu vou descer.

- Tem certeza, Hop? - ela não parece com medo, só preocupada- Pode ser perigoso.

- Vou ficar bem. - digo calma. - Vocês vem comigo? - pergunto aos vampiros.

- Melhor um de nós ficarmos, Michel me mandou, com certeza virá mais de nós. - diz Fred.

- Desce com ela, eu fico. - Cristian se protifica. - Vou esperar por Keila e Koila. - eu concordo.

- Eu vou procurar alguma coisa pra abriga-los, devem estar em condições péssimas. - minha amiga diz deixando o quarto.

- Não a deixe sozinha, é perigoso. - aconselha Fred e o loiro assente.

- Tomem cuidado. - pede antes de deixar o quarto.

- estamos descendo. - aviso me sentando no chão e apoiando meus pés nas barras de ferro.

Enquanto descia contei mais de quarenta degraus e quanto mais baixo mais gelado, fedido e sombrio, mas mais sombrio ainda é saber que se fossemos pessoas normais estaríamos correndo o mesmo risco que essas pessoas pra salvá-las, mesmo assim eles não negariam socorro, um lado desesperadamente egoísta do ser humano.

- Que que isso? - era uma mistura horrível de cheiros, fezes, sangue, vômito e podridão.

Assim que meus pés tocaram o chão me afastei da escada e olhei pra cima.

- Pode descer, Fred. - digo alto, mas com receio de ser ouvida por quem levou a mulher.

Não temo por mim, mas pelas pessoas que vamos ajudar. Começo a pensar no motivo de Amélia ter me mandado para cá, por acaso ela sabia? E se sabia, poderia ser uma armadilha? Ela é uma Valente, parente daqueles dois lunáticos, eu não duvido.
Ainda não confio nela, mas não posso negar socorro, não sou desumana.

Me afasto quando percebo que ele vai pular, então ele pousa, com a mão no chão e joelhos flexionados.

- Homens. - tenho um riso debochado nos lábios quando ele olha pra mim com um sorriso satisfeito e alguns fios de cabelo no rosto.

Olhamos ao redor, consigo enxergar tudo apesar de estar um breu.

- Tem algumas portas ali. - aponta Fred.

Passo a caminhar até uma delas, mas olho pra baixo quando tropeço em algo.

- Mas que merd...? - arregalo meus olhos quando reconheço que é um corpo em estado avançado de decomposição bem ali, aos meus pés, já não tem olhos, nem lábios, e o nariz já estava quase inteiramente desmanchado.

Fred se coloca ao meu lado e olho pra ele com pesar.

- Pessoal, aonde vocês estão? - pergunto baixo pulando o defunto e andando até uma das portas.

Não tinha nenhuma frestinha pra que eu pudesse ver o que tinha atrás delas, então o jeito foi tentar arrombá-la.

- Deixa que eu faço. - meu amigo toma meu lugar e eu sorrio por sua proteção.

- Aqui... - ouço um sussurro choroso e o arrastar de corrente atrás de mim.

Olho pra trás e enxergo uma garota no chão, mãos e pés acorrentados e presos ao concreto, ela estava nua, muitos cortes e muito sangue seco.

Ao se lado vi outra garota, mas não ouvi seus batimentos, do outro lado também havia correntes, mas estavam vazias.

- Eles acabaram de levar ela. - poderia presumir que ela havia deduzido, mas não ela seguiu meu olhar.

A menina que chorava estava com as pupilas parecidas com a de um gato de tão dilatadas.
Ainda bem que lá em cima está escuro, senão teríamos que tampar os olhos dela e os dos demais porque se não poderiam passar mal.

- Willi morreu a algumas horas. - soluça.

- Há quanto tempos vocês estão aqui? - me aproximo rapidamente e inspeciono seu corpo pra ver se tinha alguma ferida aberta.

- Não sei, não sei. - nega, seu corpo se contrai com cada toque meu e até os que eu não dou - Eu perdi completamente a noção do tempo, é dia ou é noite? - pergunta e eu suspiro.

- É noite, hoje é dia 17 de agosto. - vejo alguns arranhões, vários hematomas, mas nada além disso.

- Ainda é verão? - pergunta enquanto eu quebrava suas correntes.

- Sim, minha querida. - meu coração está repleto de compaixão - Como é seu nome?

- Dona. - responde e eu assinto quebrando as correntes de seus pés.

- Você sabe aonde estão os outros? - mas ela não responde porque chora mais quando a liberto.

Abraço a garota e acaricio seu cabelo.

- Estão espalhados, tem alguns atrás dessas portas, muitos deles já devem ter morrido, pararam de responder. - eu assinto.

- Tudo bem, vamos tirar os vivos, fique calma. - sinto meu corpo formigar.

- Eles levaram minha mãe, algumas outras mulheres e uma criança. - me olha - Trancaram elas em algum lugar depois daquela porta. - aponta pra última da fileira.

Algo nesse lugar me incomoda mais que o normal, é estranhamente conhecido.

A porta ficava de frente pra uma espécie de gaiola aonde vi um homem preso, seu pescoço estava despencado sobre o corpo, as mãos presas no alto da cabeça, os pés acorrentados, estava nu e tinha uma faca enfincada no centro do peito.

- Eles o mataram a algum tempo, pouco antes de você aparecer. - conta e eu recordo do grito que ouvi.

- Eu ouvi mais outros gritos, outras vozes.

- Eles tiraram Otto e Rose agora pouco, eles a levaram por aquela outra porta e mataram ele depois de perguntar algo que não soube responder - conta aos soluços.

Atrás de mim Fred quebrava mais portas, me afasto de Dona e a encaro.

- Eu sinto muito por tudo isso minha querida, vamos ajudar vocês, mas preciso saber atrás de quais portas eles estão.

- Estão presos atrás de algumas dessas portas, eu não sei quais são as certas.

- Tudo bem, você já nos ajudou bastante, consegue ficar em pé? - pergunto olhando pra seus olhos, nao consigo ver a coloração.

É bizarro.

- Não tenho certeza, faz alguns dias desde minha última refeição.

- Tudo bem, venha. - pego ela no colo e não me importo com seu cheiro forte, minha missão era tirá-la daqui.

Olho pro meu amigo que encarava fixamente o quartinho da porta que acabara de arrombar.

- O que tem aí? - ele balança a cabeça em negativa e encosta a porta.

- Mais corpos. - sinto o pesar em seus olhos e preocupação.

- Eu vou subir. - aponto com a cabeça pra garota que mantinha o rosto pressionado contra mim - Ela não soube dizer quais as portas certas, tem mais pessoas mortas. - digo e ele assente.

- Eles estão em silêncio porque estão com medo. - murmura erguendo a cabeça - Pessoal, eles estão aqui pra nos ajudar... - diz um pouco mais alto. - Digam aonde estão, eu estou saindo daqui, vocês também vão. - fala e por alguns minutos permanecemos sem respostas.

Ouvimos quando correntes foram arrastadas e uma batida ecoou por todo o lugar.

- aqui! - se pronunciaram.

- aqui. - outros também disseram.

- aqui, todos morreram, só eu restei. - ouvimos outro, apertei meus lábios em uma linha reta. - me tirem daqui, por favor. - o homem chora.

Meu Deus.

- Certo, sobe com ela, eu vou libertar eles. - Fred diz me tirando do transe e eu assinto.

Ela volta descansar sua cabeça em meu colo, sua respiração estava fraca, eu sentia seu corpo leve mais que o normal.

- Eu vou ter que te levar por alguns degraus. - aviso a ajeitando sobre meu ombro e apertando suas pernas.

Olho pra Daio que assente.

- Pode ir.

- Segure-se bem. - aviso a garota que me enforca mas sem provocar em mim nenhuma cócegas.

Com isso subo na velocidade do raio, a menina grita em surpresa, mas no segundo seguinte já estamos no topo.

- Eu peguei ela. - fala Cristian.

Quando está fora do buraco a menina olha pra mim.

- Obrigada. - chora e sorrio.

- Vai com ele, você está segura agora.

- Salva minha mãe, por favor. - pede e eu assinto.

Assisto Margot abraçar a menina e guiá-la pra fora do quarto e então olho pra Cristian.

- Posso descer pra ajudar. - fala ele, mas eu nego pronta pra dizer que Margot precisaria de proteção, mas vejo Jason entrar no quarto com duas mulheres negras atrás de si.

- Essa é Koila e Keila. - aponta para as mulheres, uma delas irá me levar a Lórion essa noite. - Aquela maluca ali é a Hope - eu rio e aceno pra elas que sorriem - Trouxemos mantimentos, roupas, cobertas e ajuda física.

- Nós vamos descer com vocês. - fala uma delas.

Qual é mesmo? Koila ou Keila? Lidar com gêmeos idênticos é sempre um desafio.

- Tudo bem. - assinto - Pelo que Dona falou ainda tem bastante pessoas lá embaixo.

- Estaremos atrás de você. - Jason se aproxima.

- Eu preciso... - sou interrompida.

- Eu ficarei. - me corta a outra mulher. - Sou curandeira, vou ser útil aqui. - e eu concordo com um sorriso.

Olho pra baixo e então solto as barras de ferro e me sinto cair, pouso como Fred e logo me levanto, depois de mim vem Cristian, a mulher e por fim Jason.

- Chegou reforços - digo a Fred que quebrava mais uma porta. - São de confiança. - afirmo e ele assente.

- Vamos precisar. - fala apontando com a cabeça pro pequeno grupo de pessoas vivas que estava juntando próximo a gaiola.

- Que lugar macabro. - murmura a moça olhando em volta.

- Consegue subir dois de uma vez? - pergunto a Fred.

- Eu levito. - se pronuncia a mulher e eu a olho sorrindo.

- Isso é ótimo. - estou surpresa.

- Leva minha filha, por favor. - pede uma mulher que só vestia um short e um sutiã que um dia foi rosa.

Jason já havia subido com um garoto de aproximadamente dezesseis anos, Cristian era o próximo da fila, subiu com duas pessoas quando o amigo desceu.

- Vou subir as duas. - anuncia - Venham. - chama se aproximando.

Cristian desce de novo e puxa para si mais duas pessoas, era a vez da mulher que levita subir, mas quando foi pegar mãe e filha um humano tomou a frente apontando para ela um pedaço de madeira afiada.

- Vocês estão loucos? - perguntou ao grupo - Eles são como os monstros que nos trouxeram pra cá. - diz chorando. - Quem garante que não irá nos matar? - pergunta e eu franzo o cenho.

- Não vamos. - ele me olha.

- Não podemos acreditar em vocês. - ele está chorando e todo seu corpo treme.

- Temos três de vocês lá em cima, comendo e sendo cuidados. - diz Jason e o homem olha pra ele com medo.

- Dona disse que podíamos confiar neles. - a criança murmura.

- Já estamos condenados a morte Juan, eles nos ofereceram ajuda, não ficarei aqui e nem Celi. - fala a mulher o empurrando devagar e indo até a vampira. - Obrigada por nos ajudar. - ela sorri, mas no mesmo instante meus olhos e os dos meus companheiros foram atraídos em direção a última porta.

- Sentirão? - pergunta Fred se afastando de mais uma porta arrombada de um quartinho que só tinha corpos.

Começamos a nos aproximar, como uma barreira pra proteger quem ainda estava aqui embaixo.

- Vai rápido. - diz Jason à vampira que sobe com mãe e filha.

- O que? - os humanos começam a olhar pra onde vigiamos e começam a se desesperar. - São eles?

- Nos tirem daqui, por favor. - começam a chorar em desespero novamente.

O homem de antes cai de joelhos aos meus pés, a madeira ficou a alguns passos pra trás.

- Por favor, traga minha mulher pra mim, ela é ruiva, pequenina e está grávida de dois meses. - é só assim que ele consegue meu olhar.

- Venha, homem - chama Cristian que já tinha mais um humano perto de si.

- Farei de tudo pra salvá-la. - digo a ele que chora e assente - Agora subam, subam, subam. - digo rápido sabendo que eles estavam vindo.

Os vampiros somem em ordem pela escadaria enquanto tentamos acalmar os humanos que ainda não subiram, sei que o alvoroço pode chamar ainda mais atenção e aumentar o número deles.

- Vão para perto da escada, vão. - ordeno me aproximando de Fred.

- Vem de duas direções. - ele murmura e eu assinto.

- As duas portas da extremidade. - completo. - Consegue saber quantos? - olho pra trás vendo os nossos vampiros e o benzido ainda carregando as pessoas.

Haviam doze delas aqui embaixo ainda.

- Vinte no total. - fala e eu assobio.

- Vocês conseguem contê-los? - pergunta Cristian - Vamos subir o resto. - eu e Fred concordamos.

- Não podemos morrer. - brinco e ele ri.

- Você não pode mesmo não mesmo se quisesse. - ele está certo, mesmo que não saiba disso - Você se transformou, Valente. - afirma e eu sorrio.

As portas voam em sincronia e o que eu vejo sair delas me tira completamente o fôlego.

Seres de preto, totalmente de preto.

E então eu paraliso, cenas do sonho voltam com tudo na minha cabeça, minha família, mortes, gritos, sangue, tortura, Erick.

O grito que ouço de Fred me desperta e então agarro as mãos do ser que vinha até mim, eu o giro no ar e ele bate contra a gaiola, sem tempo pra respirar soco o rosto escondido do que veio a seguir, ele cambaleia e viro-me a tempo de ver quem enfia uma madeira afiada em meu abdomem.

- Ruuu... - arfo quando sinto entrar.

- HOPE!!! - ouço Fred, Cristian e Jason gritarem em sincronia, assim como as pessoas que ainda restavam.

Era pra eu sentir mais do que uma dorzinha fina? Eu sentia o sangue se espalhar pela minha camiseta e olhei pra meus amigos.

- Eu estou legal. - digo - Se concentrem. - peço

Fred, que dividia seu olhar entre mim e os seres abre suas asas e gira arrancando a cabeça dos que estavam em sua voltam, na mesma hora eles somem, como se evaporassem, mas não adiantou muito pra meu amigo pois ele já estava cercado de novo.

Sinto o ser a minha frente enfiar ainda mais o pedaço de pau em mim e então o olho sorrindo, sem esperar mais arranco rápido a madeira de mim e enfio nele que a segura e assim como os outros ele some bem na minha frente.

Tem um deles atrás de mim e me abaixo desviando de seu golpe, aproveito para lhe dar uma rasteira, puxo seu pé para perto e uso a mesma madeira de antes para enfiar em seu peito.

Com mais um desfeito por minhas mãos parto para cima do outro.

- MERDA!!! - grito quando sou jogada contra a parede.

Sem poder me conter sinto a força, a fúria e o poder se alastrar por mim adormecendo meu corpo.

Seguro as correntes que estavam depinduradas próximo a mim presas no teto e me balanço para pegar impulso, espero o ser estar próximo o bastante e então agarro com as pernas sua cabeça, com o impulso o lanço pra trás.

Eu o ouço cair, solto as correntes e então me viro para ele, estava desacordado, e desse jeito ficaria pra sempre.

Arranco sua cabeça sem hesitar e voltei a lutar.

- Aí. - murmuro parando tudo e olhando pra minha unha quando a sinto quebrar. - Esqueci de fazer a manutenção.

O ser com quem lutava olha pra minha mão e quando olha pra mim de volta vê meu punho fechado acertar seu rosto.

Continuo socando até que ele estivesse encurralado entre mim e a gaiola, então enfio minha mão em seu peito e arranco seu coração.

O órgão derrete na minha mão e pó escorrega por entre meus dedos enquanto o corpo dele cai como cinzas no chão, era doido isso, nunca havia visto nada parecido.

Olho pra Fred que lutava com os três últimos, lembro-me da faca no peito do humano e então tenho uma ideia.

Vou até ele e arranco a arma, o sangue escorre pelo tórax e abdômen nu, liso e sujo do homem que não aparentava ter mais de vinte anos.

Fred golpeou um que voou aos pés do último humano que gritou com vontade e medo, mas também aos pés de Cristian que surgiu do buraco, eu o vi sorrir e pisar com força na cabeça do ser.

- EU MATEI UM. - grita eufórico e eu sorrio.

Ele pegou no colo a última pessoa a colocando em seu ombro enquanto Jason e a vampira desceram.

Voltei minha atenção a Fred e usei minha velocidade para correr na direção dos seres que ainda lutavam com ele, empunhei a faca na reta de seus pescoços, normalmente ela não serviria pra decapitar por ser pequena, mas pela minha velocidade foi isso o que aconteceu.

Olho pra Fred que olha pra mim.

- Você está bem, Hope? - avança na minha direção parecendo sair do modo luta.

- Melhor do que nunca. - olho pra minha mão com sangue dos corpos que não passaram de cinzas.

- O que eles eram?

- Humanos benzidos. - responde Jason se aproximando - ele pediu licença e ergueu minha camisa até onde eu havia sido ferida. - Eu chemei reforços, não podemos levá-los pra um hospital comum, vão levá-los a Órion. - diz e eu assinto. - Vou dizer a Jace que está bem. - falou após ter abaixado a t-shirt. - Com certeza ele sentiu isso. - e eu me sinto mal por não ter evitado e ainda por cima me gabado.

- Tudo bem, obrigada. - sorrio. - Temos que dar mais uma olhada por aqui, Dona disse que existem mais prisioneiros e que foram levados pra algum lugar depois daquela porta.

- Certo, Margot e Keila irão com eles, eu e Koila iremos ficar pra ajudar. - fala e eu assinto o vendo voltar a subir.

Vejo Cristian descer, ele nos encara e depois passa a caminhar pelo lugar observando cada detalhe sem dizer nada.

Olho pra Fred que sorri calmo, mas uma linha fina de sangue que escorria da lateral de sua cabeça me faz fechar o sorriso.

- Você se machu... - me aproximo, mas sou interrompida pelo louro.

- Conhece esse lugar? - pergunta à Fred.

- Nunca ouvi falar. - afirma ele após me olhar de soslaio.

- Ele é de um de vocês. - fala chutando uma mão necrosada e se aproximando.

Cristian não parece mais tão adepto a ter uma convivência tranquila com meu amigo, o que rolou?

- Eu não sou um deles. - Fred diz entre dentes avançando alguns passos.

- Ei, ei. - fico na frente do meu amigo. - Cristian, por favor - digo rápida ao vampiro que mantinha as mãos pra trás.

- Vocês ouviram o que aquele homem disse. - argumenta olhando pra mim.

- Eu tenho certeza que ouvimos tão bem quanto você, mas isso não te dá o direito de falar merda. - reviro os olhos e ele sorri cético.

- Me esqueci que se junto... - ia falando, mas olhei em seus olhos e o fiz sentir o quanto suas palavras podiam machucar, enfim o calando.

- Quando eu falar pra você parar, é pra parar. - digo irritada me aproximando devagar enquanto ele gemia de dor apoiado na parece do lugar.

- O que está havendo? - pergunta quem eu imaginei até agora ser a Keila, mas era a Koila.

- Nada demais, só calando a boca de quem fala demasiadamente. - digo me afastando e tirando os olhos dele o ouvindo suspirar.

- Podemos ir se quiserem. - fala Jason e eu o olho, ele parece inseguro agora olhando para nós três.

- Por mim tudo bem. - jogo a faca pra cima que gira algumas vezes no ar antes de pegá-la de novo.

- Eles vieram de duas direções, com certeza pra lá deve haver alguma coisa ou alguém. - diz Fred tomando a atenção e eu assinto.

- Vamos nos separar, eu e... - Jason é interrompido.

- Hope! - ouço Dona das escadas, olho pros meninos e pra Koila e então vou sem hesitar até ela.

ᴏɪ ʜᴜᴍᴀɴᴏs, ᴍᴀɪs ᴜᴍ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ
ᴀɢᴜᴀʀᴅᴇᴍ ǫᴜᴇ ᴍᴀɪs ᴇᴍᴏçãᴏ ᴠᴇᴍ ᴀ sᴇɢᴜɪʀ.

ɴãᴏ sᴇ ᴇsǫᴜᴇçᴀᴍ ᴅᴇ ᴅᴇɪxᴀʀ sᴜᴀ ᴇsᴛʀᴇʟᴀ ᴇ sᴇ ǫᴜɪsᴇʀᴇᴍ ɪɴᴛᴇʀᴀɢɪʀ ɴãᴏ ᴀᴄʜᴀʀᴇɪ ʀᴜɪᴍ, ᴅᴇ ᴊᴇɪᴛᴏ ɴᴇɴʜᴜᴍ.
ᴠᴀʟᴇᴜ ʜᴜᴍᴀɴᴏs.

ᴍúsɪᴄᴀ ᴅᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ: ʜɪɢʜ ᴇɴᴏᴜɢʜ - ᴋ.ғᴀʟʏ

ᴅɪsᴘᴏɴíᴠᴇʟ ɴᴀ ᴘʟᴀʏʟɪsᴛ ᴅᴏ ʟɪᴠʀᴏ ɴᴏ sᴘᴏᴛɪғʏ, ʟɪɴᴋ ɴᴏ ᴘʀɪᴍᴇɪʀᴏ ᴄᴀᴘíᴛᴜʟᴏ.

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