VS Togake & Hotaru
Fazia muitos anos que eu não tinha um fim de semana tão intenso, mesmo que o meu time, o dos garotos e Dan estivessem me assegurando que as palavras de Mahiru não passavam de palavras jogadas ao vento. A sensação de ansiedade crescendo no meu peito não diminuiu.
Inevitavelmente tive uma longa noite de conversas em casa, minha mãe ajudando a manter minha cabeça organizada para o dia seguinte e o resto da minha família servindo de suporte. Chegamos até ali com um objetivo, ainda que as garotas não fossem me cobrar uma posição, eu tinha que estar ali para elas. Mesmo que no banco, se eu perdesse a cabeça, impactaria diretamente na moral do time.
No segundo dia de jogo, era claro que meu humor não estava dos melhores, mas em quadra dentro das linhas, consegui os deixar de lado momentaneamente e fazer uma partida decente, ao menos na primeira delas. A escola Tokage foi a nossa primeira adversária do segundo dia, podíamos dizer ser um time organizado, jogou com tudo o que tinha, porém, perdeu de dois sets a zero para uma Fukurodani esbanjando raiva e frustração.
Daria mérito a elas, numa jogada ou outra conseguiram nos dar trabalho chegando a ficar na frente algumas vezes durante os sets, no segundo ainda mais pela vontade de avançar uma fase. Nossa técnica lapidada pelos anos de treinamento com Dan, se provou superior e nos fez avançar mais uma vez.
Naquela manhã, qualquer lapso de amarelo que surgia na minha visão automaticamente já era substituído por uma das garotas me fazendo andar na direção oposta, ou tampando minha visão. Foi com alegria que aceitei sua ajuda, evitando reconhecer a presença de Mahiru no ginásio.
Para o período da tarde as coisas estavam mais tranquilas, mas não tirou o peso de nossos ombros, nossas adversárias eram de uma escola feminina chamada Hotaru. De acordo com Amano-kun, elas gostam de jogadas chamativas, e talvez seja uma das únicas escolas que podem se comparar a nós em questão de força.
Sendo esse seu atributo mais proeminente, acabam ganhando uma falha em técnica e estratégia. Costumam alternar num jogo mais contido e explosões de ataques que tendem a surpreender os adversários, também tem em seu arsenal de ataque, estratégias que confundem os adversários. Usando iscas e variações táticas.
— Foco — Chie pediu passando e apertando os ombros de cada uma. — Não dá para pegar todas as bolas, se acontecer algo inesperado, vamos focar em pensar como resolver na próxima jogada. Não se deixem intimidar.
Senti ela apertando o meu pescoço de leve e passando para a próxima, olhei para baixo um momento ocupando a mente com as mudanças no uniforme. Estávamos com nosso segundo uniforme, que tirava as partes cinzas escuras e substituía por branco. Me inclinei para ajustar a joelheira e respirei fundo antes de levantar as mãos para a cabeça e ajustar o lacinho de cabelo prendendo os fios firmemente.
Girei os ombros e inclinei a cabeça para ambos lados, colocando meus pensamentos e meu coração no lugar certo para a partida. Olhei para a arquibancada instintivamente, vendo o restante das jogadoras e os torcedores do dia. Os meninos estavam se preparando para o próprio jogo, então dessa vez não vi eles por ali.
— Sabemos o estilo delas, e estamos preparadas para lidar com ele — disse colocando a mão na frente do corpo. — Não hesitem se virem algo de errado, façam a chamada.
— Posso começar com você? — Sora perguntou colocando a mão em cima da minha.
Dei risada — Eu quis dizer em jogadas, mas me dê um tempo estou sincronizando vice-capitã. Até lá segure as pontas para mim.
O time que iria entrar em quadra colocou a mão em cima da minha.
— Fukurodani!
— Fight!
— Fly!
— High!
Jogamos as mãos para baixo, e seguimos para entrar na quadra. Já havia sorteado com a capitã do time adversário, elas escolheram o saque. Então iremos receber.
O primeiro set começou com uma energia pesada, e nem era por tudo que tinha acontecido, mas sim pela força dos ataques. A Escola Hotaru estava tentando forçar de toda maneira seu estilo em cima do nosso. Intercalando jogadas rápidas e lentas, mas sempre terminando na força absoluta.
Se não me engano, Makoto que ajudou na curadoria das 5 melhores Aces na categoria feminina, disse que uma das jogadoras da escola estava cotada. Porém, disputava para entrar no quinto lugar. A capitã liderava a equipe com certa habilidade, aparecia nos momentos decisivos e era uma segunda força primordial no ataque.
Contudo, conforme a pesquisa levantada. Era isso que tinham para oferecer.
Força é um conceito relativo, elas podiam estar no páreo, mas com as garotas acostumadas a treinar comigo, com Chizue e também Bokuto. Tínhamos plena capacidade de lidar com os ataques feitos, e mais do que isso dar sequência nas jogadas. Com técnica e precisão nos mantivemos na frente desarmando as tentativas de virada do time adversário. Dominamos o set com uma recepção de primeira linha e um par de centrais motivadas na rede.]
— [Nome], por favor! — Chia levantou para mim.
O bloqueio delas estava começando a ficar mais baixo, considerando a quantidade de vezes que elas tentaram atacar e não conseguiram. Estavam preparadas para lidar com um ataque forte, então apenas dei um toque por cima do bloqueio fazendo a bola ir para o fundo da quadra, caindo no canto dela onde as linhas formam o ângulo.
— Eu não sei dizer qual é a versão mais assustadora de você — Kei comentou quando comemoramos o ponto. — A espartana ou a assassina de aluguel.
— Assassina de aluguel? Essa é nova — fiquei do lado dela na rede.
— Sim, essa cara fria, contida. Como alguém que não se importa em dar fim em outras pessoas. Agindo como se fosse um passeio no parque.
Coloquei a mão na nuca com um riso — Que motivos eu tenho para ficar nervosa agora? O jogo está controlado, não estamos fazendo nada muito diferente do que nos treinos.
Escutei o apito e nosso time fez o saque, no que desci a mão para me preparar joguei os fios para o lado. Acompanhando a central para servir de bloqueio, conseguimos um ponto quando subimos mais alto que a adversária.
— Quero dizer — coloquei a mão na cintura. — A única diferença é que tem mais gente assistindo.
Keiko pegou a minha mão e colocou em sua testa por um momento como quem recebe uma benção — Me passe essa sua mente de titânio, por favor. Preciso disso na minha vida.
— Ei, parem de ser estranhas — Hana deu uma chamada, deixando uma careta de desgosto tomar seu rosto. — Capitã, o saque é seu.
Apesar da Hotaru ter feito um bom primeiro set ofensivamente, defensivamente, tinha falhas por esse motivo nosso time, que era completo em todos os espectros, levou o primeiro set.
No segundo set elas voltaram com uma determinação renovada, determinada a não deixar que a Fukurodani tentasse abrir mais vantagem. Mas considerando que começamos com o saque, já levamos os primeiros pontos, desestabilizando esse espírito de luta renovado.
Se adaptaram deixando as jogadas chamativas de lado, tentando jogar com a estratégia, ainda que não fossem reconhecidas por isso. Claramente seu objetivo era quebrar a nossa defesa mudando o ritmo, fomos pegas de surpresa em um ou outro ataque, mas nada que pudesse apresentar uma verdadeira ameaça.
Nós estávamos trabalhando de maneira coordenada, como sempre minhas meninas dançando conforme a minha movimentação. Se eu estava calma, elas também acompanhavam esse sentimento, garantindo que o time permanecesse blindado.
À medida que o segundo set avançou, Hotaru continuou buscar suas chances, lutando para não deixar isso acontecer, também lutamos para ganhar vantagem. Depois dos 15 pontos, Dan fez uma pausa para dar orientações, dizendo que podíamos acelerar o ritmo e fechar o set com o tipo de jogo que só o nosso time conseguia fazer.
Com força, técnica e espírito.
25 a 21 e a terceira vitória para a Fukurodani, até o momento invicto nas preliminares. Sem ter perdido um único set.
Por termos descontado toda a raiva no primeiro jogo do dia, viemos para o segundo mais tranquilas e concentradas. Se a ordem das escolas fosse invertida, poderíamos ter tido um sério problema, enfrentar uma escola parecida com a sua inflama a vontade de se mostrar melhor. Nisso, certos julgamentos podem ficar comprometidos, fazendo os erros nascerem da impaciência.
Sorte ou não, atribuiria isso ao amuleto que o Velho Shin nos deu.
Nos juntamos no meio da quadra para comemorar e em seguida fomos para a lateral, recebendo elogios de Chie e Dan pelo jogo. Eles sabiam que manter o rendimento não era fácil, mental e físico. Agradecemos o apoio da torcida e então terminamos as atividades do clube pelo dia.
Apenas um jogo estava nos separando das qualificatórias, onde os quatro melhores times decidem os três representantes.
Por escolha da maioria, esperamos para ver quem seria nossas próximas adversárias. Enquanto o jogo delas não tinha final, fui com Sora até onde vendiam as camisetas para que ela as pudesse ver. Aparentemente Saki disse a ela que mesmo que não usasse, era uma boa recordação.
— Bloqueio impenetrável — li em voz alta. — Combina com você.
— Cala a boca [Nome] — Sora resmungou para não ofender o vendedor, mas gritando para mim com os olhos.
Segurei o riso e coloquei as mãos no agasalho enquanto ela olhava os tecidos procurando uma frase que não a fizesse se arrepender da compra a todo instante. Sem perceber, alguém se aproximou de mim, apenas tomei consciência disso quando o uniforme verde e amarelo da Itachiyama brilhou no canto da minha visão.
Prendi a respiração por um minuto, relaxando em seguida quando percebi ser Iizuna. O capitão do time masculino e não outra pessoa.
— É a primeira vez que eu te vejo desde que começou a etapa de Tóquio — comentei me virando.
Sora se virou para verificar quem era e também o cumprimentou com um aceno enquanto pegava a sacola e pagava para o dono da barraca a camiseta.
O rapaz respirou fundo e deu um sorriso fraco — Sim, estivemos bem ocupados. Tem um momento, queria falar com você.
— Desculpe Iizuna — Sora interrompeu —, mas estamos com ordens superiores de não deixar [Nome] andando sozinha por aí.
— Eu entendo, genuinamente entendo, mas...
— Se ficarmos no seu campo de visão não tem problema, não é? — Tentei ajudar meu amigo, também curiosa pelo que ele queria falar.
Ela balançou a mão e Iizuna indicou a parte de fora do ginásio depois da entrada, onde meu cão de guarda poderia nos ver através do vidro.
— Eu não sei por onde começar — ele levou a mão para o pescoço —, uma das meninas do time feminino... Veio falar comigo sobre tudo que aconteceu ontem.
— Iizuna e-
— Me deixe terminar — pediu —, sei que vai falar que não tem nada a ver comigo. Mas tem, sim, quando é da minha escola e envolve alguém importante para mim.
A fala dele quase me fez dar um passo para trás.
— Sei que você já tem alguém no seu coração, e eu nem quero disputar esse lugar. Foi bobagem minha pensar em algo, quando vi vocês dois juntos desde o primeiro ano, e por favor não tenha pena ou peça desculpas. Nem sei quando que tudo deixou de ser uma admiração enorme por você e pela nossa amizade.
Ele olhou para o lado um momento, seu rosto ganhando um tom corado de vergonha. Iizuna limpou a garganta e voltou a me olhar.
— O que quero dizer é que você é uma amiga importante, e se tiver qualquer coisa que eu possa ajudar de dentro da Itachiyama. Me diga. Não importa o que seja, eu vou te ajudar.
Makoto com certeza poderia fazer bom uso de um acesso a Itachiayama, mas não queria envolver Iizuna dessa maneira.
— É um desejo meu, [Nome] — ele abaixou a cabeça para buscar meus olhos que estavam voltados para o chão. — Posso lidar com as consequências dos meus atos.
Cocei a cabeça — Iizuna, é maior do que eu ou aquela idiota que usa o mesmo uniforme que você.
Ele cruzou os braços — Pareceu uma ofensa.
Dei risada — Não foi, dessa vez.
Dessa vez o garoto colocou um sorriso sincero, e triste nos lábios — Você já tem alguém para te proteger, me deixe ao menos ajudar no que eu posso. Independente do que acontece desse lado, ainda é uma amiga querida. E que merece estar entre as melhores, sempre.
— Vai usar mesmo essa carta? — questionei.
— Você está me deixando sem opções — respondeu —, é de coração e sem ressentimentos. De verdade.
Ele esticou a mão para mim.
Encarei para sua palma por um momento e apertei sua mão — Não adianta se arrepender.
— Não vou. Agora, melhor você entrar antes que Sora-chan venha me morder.
Dei risada alta após soltar do cumprimento — Ela faria isso, falo com você depois. Boa sorte no último jogo, e mande lembranças para a sua Gerente e os meninos.
— Pode deixar.
Quando voltei para o lado de dentro, Sora estava com uma careta e de braços cruzados apoiada numa das colunas.
— Então, o que ele queria?
Ponderei sobre tudo que ele me disse, e então decidi guardar a maior parte para mim, sem saber exatamente o que pensar. Quando chegasse o momento dividiria com minha vice-capitã a outra parte da história, por hora respondi apenas uma coisa.
— Se meter em problema.
N/a: Coitado do menino Iizuna, oficialmente na friendzone. Não se preocupe, eu te consolo querido ;))
E Keiko, eu também queria a cabeça de titânio da gata.
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!!
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