Vontade
— Achei que estava curada dessa sua depressão pré-torneio.
Minha amiga cutucou o meu rosto, como a quem verifica se alguém está vivo. No momento estava deitada sobre a carteira com o rosto virado para a janela e sem exatamente saber o que fazer.
— Não é sobre isso — respondi e respirei fundo em desolação.
— Então, sobre o que é? — ela se virou na cadeira e sentou se virando na minha direção. Ponderei por um segundo se eu falava realmente o que havia acontecido ou não, no fim ela iria descobrir, então acabei tirando uma pilha de cartas que estava na minha bolsa.
A minha vice-capitã fez uma careta e então se afastou para pegar os papeis, nesse ponto eu já estava encostada na cadeira, sentada como uma pessoa normal e olhando para frente.
— Um monte de papel — Sora observou pegando a primeira da pilha. — O que tem demais nisso para te chatear.
— Abre — respondi. — Não é exatamente chatear e sim não saber reagir muito bem com o conteúdo.
Ainda com olhos cerrados, Sora puxou o fecho e olhou o conteúdo, em seguida dando risada e então levantando a carta no alto.
— Fala sério, está toda perdida desse jeito porque não sabe ter um fã-clube? — apenas o fato dela falar em voz alta a fez grunhir. — "[Nome]-senpai, você é tão legal quando está em quadra, meu coração se sente cheio apenas de saber que estou percorrendo pelos mesmos corredores que a Capitã. PS. A foto que saiu na matéria da revista semanal de vôlei ficou ótima! Vou colecionar todas"
— Precisa tomar cuidado para não deixar a fama subir à cabeça agora. — ela abriu uma segunda. — Já passou por todas elas?
Neguei — Não tive coragem.
— Que alegria que você me tem aqui, então — com mais animação do que devia, Sora passou o dedo pelo ponto de cola que estava fechando o envelope. Limpando a garganta em seguida. — Vejamos... Oh, esse é interessante. É um poema, que se chama "A Capitã que reina pelas quadras."
Com a força de um exército
Dedicada e como ferro,
Reina, luta, joga.
Faz da quadra seu Império.
Sora riu no momento em que terminou de ler — São declarações fortes que você tem aqui.
— Pare com isso — ergui a mão para bater em sua cabeça de leve —, sou grata pelo apoio. Mas acho que é um pouco demais.
A garota soltou o papel na minha frente — Soa um pouco hipócrita, não reclama de toda a atenção que recebe do diretor. E sabemos que ele está bem enviesado em melhorar a imagem da escola usando os times.
Deixei a cabeça tombar para trás, Washio provavelmente estava na sala de Misa, então não iria se importar de eu deitasse em sua carteira por um momento — Tem razão, provavelmente não ligo porque temos vantagens enquanto time.
— E com isso — ela apontou para as cartas — você ganha vantagens no seu ego. Quero dizer, não faz mal deixar a cabeça subir um pouco se todo o reconhecimento é merecido. Pode deixar que se você começar a ficar babaca com certeza vamos te colocar no trilho em dois tempos.
— Com os punhos suponho — respondi.
— Me conhece muito bem.
Ela estava certa, em todas as palavras. Uma vez sua mãe disse que para lidar com situações precisa dar nome aos seus sentimentos, foi só com as palavras de Sora que consegui identificar o que realmente estava chateando.
Medo.
De decepcionar as pessoas depositando sentimentos em mim, fosse confiança ou inspiração. Quero vencer, quero estar lá em cima, atenção vem como consequência e até então eu não estava realmente sentindo isso. Era o time feminino da Fukurodani lutando para ter um lugar ao sol, não eu me prostrando na frente de um holofote.
Já não era só uma ambição que dependia das minhas habilidades, a partir de agora, tinha muito mais coisa envolvida. Poder também vem com a exposição, Makoto também já havia me dito isso, mas viver é outra coisa.
— Conto com isso então — juntei as cartas, agora sentindo uma sensação diferente do momento em que as vi pela primeira vez. Ao invés de estranheza, era uma sensação quente que deitou no centro do meu peito como gratidão. — Vou ler com calma, em casa. E nunca mostrar qualquer uma delas para você novamente. Obrigada.
— De nada — ela se virou para frente. — Idiota do vôlei.
O resto do dia passou sem grandes surpresas, me encontrei com Hibiki-sensei para resolver alguns últimos detalhes sobre as instalações e combinações. Isso me atrasou um pouco para o treino da parte da tarde. Quando apareci no vestiário, a maioria delas já haviam se trocado.
Passei a camisa de treino pela cabeça e ajustei os cabelos o jogando para trás, em seguida me sentei para colocar as joelheiras, fazendo uma revisão mental do que tínhamos para treinar naquele dia. Estávamos num processo de refinar as jogadas e polir os movimentos, precisávamos de mais algumas cartas nas mangas para apresentar no nacional.
— [Nome] — escutei Misa me chamar da porta. — Tem um momento?
Olhei por cima do ombro — Claro, o que é? Precisa de algo.
Minha amiga segurou as mãos juntas na frente do corpo, e então abaixou a cabeça. Seus ombros se soltaram por um momento, um suspiro profundo deixou sua boca.
— Quero que avise treinador Dan — ela se aproximou, com determinação e cabeça erguida. — Estou pronta para voltar às quadras.
N/A: Olha só! Um capítulo curtinho de transição, mas o próximo vai ser mais longo. Prometo.
Obrigada por ler até aqui.
Até mais, Xx!!
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