Uma Chance

c a p í t u l o c r o s s o v e r



Você não está brigando com a bola [Nome], tem que chutar, não levantar o pé — Tom me deu bronca mais uma vez — flexiona o joelho e chuta com a ponta.

É fácil para você falar — reclamei segurando minha mais recente adquirida inimiga em mãos e jogando em sua direção — parece que nasceu com um ímã nos dedos.

O garoto riu recebendo o passe com o peito e em seguida fazendo embaixadinhas com a bola que Shuuya me deu. O braço machucado já não estava mais no gesso, apenas com a tala imobilizadora.

— Você, ruim — disse num japonês torto me fazendo franzir.

Esse tipo de coisa você aprende rápido não é? — coloquei a mãos nos seus cabelos claros bagunçando em seguida. Tom colocou a bola embaixo do braço bom e entrou na casa junto comigo, não rejeitando a demonstração de afeto.

Hoje, sábado, é o dia em que a Nekoma e a Fukurodani vão treinar juntos, e a italiana irá participar do nosso treino como uma convidada.

Confesso estar ansiosa, por esse motivo saí para correr pelo bairro de manhã quando acordei muito antes do que o esperado sem conseguir dormir. Quando voltei Thomas resolveu me ajudar a treinar os pés, uma vez que ele ainda não estava completamente ajustado ao novo fuso horário. Também é a primeira vez que ele vai sair de casa para uma volta, e conhecer sua futura escola.

Depois de um bom café da manhã saímos juntos, e esperamos por Kou que parecia ter se atrasado no ponto de encontro de sempre.

Então esse cara, Koutarou. É tipo seu namorado? — perguntou chutando uma pedrinha.

Tipo isso.

Vocês não vão ficar se pegando até a escola né? Porque eu não preciso ver minha nova irmã beijando um cara.

Dei risada, na verdade, gargalhei colocando um braço em seu ombro — Não. Primeiro que é perigoso não prestar atenção no caminho, segundo que não somos desse tipo de casal. Mas espero que não fique enjoado de ver um par de mãos dadas.

— Posso aguentar isso.

— Bom dia! — Kou se aproximou acenando no alto, completamente trajado com o agasalho branco do time — Oh!

Ele parou os passos quando viu meu irmão mais novo — Bom dia Kou, espero que não se importe em termos companhia. Tom vai assistir o treino.

O capitão abriu um sorriso largo desatando a falar — Então você é o Tom-kun? Ah, não sabia que ia te encontrar hoje.

Thomas olhou pra mim — Ele não sabia que você vinha.

— Oh, certo. — nervosamente Tom se curvouOlá, é um prazer te conhecer. Me chamo Thomas.

Não havia diferença entre ele e um tradutor automático, a frase foi cuidadosamente decorada para ser usada ao conhecer alguém.

Eu falei certo? Ele não respondeu.

Bati nas costas de Koutarou, num salto ele respondeu fazendo Tom também se assustar. Eu tinha dito que o mais novo não falava japonês, por isso a surpresa. Mas também o diálogo foi finalizado nessa introdução.

Com um pouco de intérprete, e muitos gestos. Kou conseguiu falar um pouco com Tom. Ocasionalmente meu irmão soltava uma ou outra palavra que ele conhecia e que fazia sentido no contexto da conversa. Foi uma caminhada divertida, até precisarmos nos separar.

— Vocês vão aparecer no treino livre depois?

— Provavelmente sim — respondi —, não é sempre que podemos fazer um time misto para jogar com a Nekoma.

Seus olhos se iluminaram, e depois de se abaixar para me dar um beijo no rosto, Kou se afastou acenando vigorosamente para Thomas.

Não me olhe desse jeito.

Acho que suas pupilas estão em formato de coração — o mais novo brincou fazendo jus ao traço ruim de personalidade compartilhada com Daniel.

No ginásio das garotas, Tom ficou um pouco mais confortável. Já que a maioria delas conseguiam manter uma conversa constante e Amano-kun, nosso fiel e excepcional gerente, também estava presente para acompanhar o treino.

Estava junto dos filhotes observando eles explicarem as aulas e os professores para Tom, quando Aki passou pela porta com um aviso.

— Parece que a Nekoma chegou. Vi um ônibus vermelho encostando.

— Vou buscar nossa convidada então — me levantei — Dan e Chie devem estar chegando, não destruam o ginásio enquanto eu estiver fora. Temos que causar uma boa impressão.

— Vai logo idiota do vôlei — Sora estava fazendo alguns toques para cima e não parou para me jogar um insulto. Essa é uma habilidade nova.

Troquei os sapatos e desci os degraus com um salto, seguindo com passos determinados pelos caminhos entre os ginásios. Não demorou para eu ver os casacos rubros, andando como um conglomerado de glóbulos vermelhos.

— Antes de serem massacrados, vim roubar a gerente de vocês — anunciei com um sorriso —, espero que não se importe.

Alguns deles sorriam, a rivalidade entre as escolas nasce naturalmente quando se faz parte do mesmo grupo de treinamento. Nesse caso, por invadirmos os acampamentos de treino com frequência, ela se estende até mesmo para o time feminino.

— Fique sabendo que não estou fazendo isso por você, corujinha.

Bakaneko olhou de canto de olho para a italiana e em seguida seus olhos cor de âmbar voltaram a se chocar com os meus. Aquele filhote de gato estava atento a todos os meus movimentos, também havia algo a mais em sua feição.

Naturalmente o ignorei e andei até a italiana enlaçando seu braço com o meu — Como se alguém precisasse de qualquer permissão sua para fazer algo. Devolvo ela quando terminar, ou não.

— Não se atreva, capitã — sua voz soou com um tom de aviso.

Acenei para Yaku, Kai e Kenma, que são aqueles com quem eu já conversei algumas vezes e puxei a gerente para andar comigo na direção do ginásio do time feminino.

— Achei que a minha relação com Kuroo era peculiar, mas vocês dois parece que querem se matar — comentou não muito depois que nos afastamos.

— A primeira vez que nos encontramos ele achou que eu era uma líder de torcida — expliquei me lembrando do primeiro jogo que assistimos entre as duas escolas —, o odiei no primeiro momento. Mas como Kou e o Bakaneko se aproximaram, não tem muito o que eu fazer além de suportar sua presença, e os conselhos amorosos idiotas que ele dá pra ele.

Ocasionalmente ele acerta, mas é melhor não brincar com a sorte.

— E ser uma boa amiga — a italiana riu —, consigo ver por debaixo de toda essa pose que você se respeitam.

— Kuroo iria ficar insuportável se soubesse, agradeço de manter esse segredo entre nós duas.

— Meus lábios estão selados — ela fez um movimento de zíper selando uma promessa.

Por um momento a conversa morreu. Ela que tinha a mão apoiada no meu braço inconsciente mente agarrou meu agasalho o apertando, os olhos parecendo distantes, não precisei de mais sinais para saber que naquele momento alguns sentimentos traiçoeiros sopravam bobagens em seus ouvidos.

— Não são todas as minhas jogadoras que estão aqui, as que vieram o fizeram por vontade própria. Inclusive a vice-capitã — tentei a tranquilizar colocando a mão cima da sua —, a maioria delas não conseguia manter a bola no ar por dois toques quando começamos. O porquê de estar aqui, é sabido por todas, tem permissão para errar e levar o treino no seu ritmo.

Um longo suspiro, e um brilho que retornou junto de um meio sorriso — É assustador como você parece saber o que se passa na cabeça das pessoas.

— Já ouvi isso algumas vezes.

Juntas entramos no ginásio e as cabeças se viraram, soltei o braço da italiana. Ela não falou nada, foi então que coloquei a mão em suas costas, a forçando a dar um passo para frente. Em algum nível ela me lembrava Aiko, com uma confiança silenciada pelas incertezas.

Suas mãos agarraram a alça da bolsa e os ombros tencionaram com a atenção recebida.

Ela se curvou para frente — Obrigada por me receber.

— E aí [Nome]? — Aki a cumprimentou primeiro, se aproximando com um sorriso.

— Tenho que admitir, você é corajosa de entrar na cova do leão por livre e espontânea vontade — Keiko comentou juntando as mãos na frente do corpo —, desculpa antecipadamente.

Sora bateu nas costas da colega meio de rede — Calada Kei.

A meio de rede reclamou algo sobre traumas enquanto tentava aliviar a dor da batida da vice-capitã.

— Vocês estão agindo como se eu estivesse pronto para matar alguém — Dan acabara de chegar junto de Chie. Bem a tempo de escutar as jogadoras.

— Não é sempre esse o caso? — Hana rebateu sem qualquer resquício de medo.

Chie riu e entrou no ginásio, cumprimentando a italiana em seguida. Dan também entrou.

— Desculpe por não te cumprimentar quando fui ao consultório D'Calligari. Minha irmã falou de você, mas ainda não havia feito as ligações — se desculpou apontando na minha direção

— Sem problemas.

— Comessem a se aquecer, fósseis e dinossauros — ele deu alguns direcionamentos e puxou a italiana para perguntar algumas informações sobre seu condicionamento. A fim de validar o treino.

Dos titulares apenas Misa não estava presente, o restante do terceiro e segundo ano estava completo, mais Naoki-chan e duas colegas do primeiro ano. Girei os braços puxando o pescoço, contando em voz alta enquanto o restante me seguia. Um olhar de canto para a arquibancada e os dois garotos também pareciam acompanhar.

— Muito bem, vamos passar por um pouco de tudo hoje e vamos terminar com alguns sets — Dan disse virando a folha da prancheta — mas esse Chie vai explicar como vai funcionar para vocês depois. Façam duas filas, começamos com cortes.

— Por que está sorrindo? — Sora perguntou.

— É estranho — respondi roubando um olhar para a fila ao lado onde a italiana estava posicionada entre Emi, que virava a cabeça para falar com ela e Keiko que de alguma forma já tinha as mãos em seu ombro também participando da conversa. — Não sinto que temos alguém de fora no treino, se não fosse o uniforme vermelho, nem perceberia.

Sora seguiu meu olhar, de repente seu próprio rosto ficou suave — Entendo o quer dizer, ela se misturou bem com as outras meninas.

— Vindo de você que não gosta dela, é um avanço.

— Nunca disse que não gosto — minha amiga puxou uma mecha de cabelo minha, ralhando para eu prestar atenção.

Me virei para alinhar na fila e peguei a bola girando ela na minha mão esperando minha vez. Quando chegou, foi o mesmo para a italiana, troquei um leve olhar com ela e joguei a bola para Chiasa.

Precisava atender a sua antecipação.

Corri e pulei jogando os braços para trás, com força fiz o corte e ele caiu no outro lado da quadra com um barulho seco e intenso. Assim que passei por debaixo da rede me virei para ver a gerente da Nekoma fazer o seu corte.

Não tinha a força do meu e também não foi um pulo tão alto, mas sua forma era absolutamente perfeita. Desde a posição das pernas, ao giro do braço. Ela podia estar na escola dos gatos, mas por dentro ainda carregava o DNA do antigo time, os lobos de Roma.

Quando ela voltou ao chão, prendi a respiração por um segundo, e parece que ela também porque engoliu seco antes de dar um passo incerto para passar debaixo da rede.

Foi o primeiro pulo depois de um longo período lidando com uma dor sozinha.

— Boa cravada — estiquei a mão em sua direção.

Os olhos da italiana se levantaram para os meus, ela pareceu pensar em algo que a fez sorrir e em seguida bateu a mão na minha. O som ecoando longo até as paredes.

— Obrigada, capitã.




N/A: Essas duas juntas é muito minha religião!

Lembrando que não é obrigatório ler a versão em Constantly Flowing, se voc~e já não acompanha regularmente, só adiciona uma camada extra de história.

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!

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