Surpresas & Memórias
Apesar de ter passado o segundo dia de jogos longe de Mahiru, a semana que veio depois dele não foi fácil. O dia a dia na escola por si só já é uma rotina frenética, junto com os piores pensamentos e lembranças de tempos sombrios, parecia que o tempo estava levando a melhor sobre mim.
Era como cair numa espiral, de se lamentar do momento em que a conheci e deixei que fizesse tudo que fez comigo até pensar se ela teria forças para realmente me prejudicar fora da escola ou quadra. O maior problema sendo, que eu raramente estou sozinha.
O pensamento de algo acontecer com Kou por eu ser o alvo da garota era enervante, fazia minha boca secar e um amargor envolver a língua. Me levava para longe, para caminhos de pensamentos que nunca foram uma opção.
Makoto disse que com a ajuda de Iizuna as coisas andariam um pouco mais rápido, mas o humano é falho precisa ver para crer e às vezes nem com provas acredita.
— [Nome], está pronta?
A voz de Misaki surgiu na porta do vestiário, só então percebi estar sozinha no local completamente imóvel e parada na frente do meu próprio armário, a blusa de treino ainda presa nos cotovelos pronta para ser vestida.
Num choque de realidade, passei o tecido pelo pescoço, puxando os cabelos presos na gola e os jogando para fora.
— Sim, desculpe — a porta do armário foi fechada. — Me distraí por um momento.
Minha amiga deu um sorriso triste e me esperou sair. — Sabemos que anda meio distraída no geral. Você me disse uma vez, "se não pudermos fazer nada por quem gostamos, quem vai?"
A frase foi dita naquele mesmo vestiário no começo do ano.
— Todos sabemos o que está passando, pode falar se precisar — comentou —, não precisa se prender dentro da própria cabeça. Embora talvez eu não seja a melhor pessoa para falar isso.
Misa colocou as mãos para trás e olhou para o chão, ela ainda não entrou na quadra no ano, apesar de treinar com o time diligentemente como se estivesse no time titular. Além disso, Chie também fazia um trabalho individual com ela. Nossa levantadora original parecia estar melhor, quando comparado com as turbulências do começo do ano, mas ainda não é o momento dela pisar em quadra.
— Acho que é o contrário Misa — coloquei o braço em cima de seus ombros seguindo o pequeno caminho de cimento até nosso ginásio. — É exatamente por ser você que pode falar isso, obrigada.
Com o coração mais leve subi os degraus e assim que abri a porta do local fui surpreendida por um estampido e diversos confetes brancos que fizeram uma cortina na minha frente. Conforme eles foram caindo, percebi os dois times reunidos no nosso ginásio e pendurado na parede uma faixa — como as que levamos para o torneio —, com uma mensagem.
Parabéns Capitã Esparta!
— Parabéns? Pelo quê?
Sora que estava mais perto de mim, bateu o tubo de papelão no topo da minha cabeça — Fala sério, quem esquece o próprio aniversário?
Olhei para a parede onde estava nosso calendário, 8 de novembro, dois dias antes do último jogo das preliminares de Tóquio. Realmente o dia do meu aniversário.
A vice-capitã me empurrou, me forçando a tomar a frente no meio círculo de alunos e treinadores, ganhando um coro de feliz aniversário. Foi a primeira vez desde o primeiro ano que algo como isso aconteceu, nos anteriores apenas nos reunimos em uma conveniência perto da escola depois do treino.
Geralmente eu não fico afetada por esse tipo de coisa, mas a carga de sentimentos que já estava dentro de mim me forçou a levantar as mãos para o rosto e esconder as lágrimas.
— Ah! Capitã, não era para você chorar! — Aki gritou preocupada. — Koutarou faz alguma coisa!
Dei risada e passei os dedos embaixo dos olhos secando a trilha molhada — Não é de tristeza, acho que às vezes uma pequena coisa ruim que acontece esconde e nos faz esquecer de todas as coisas boas que temos.
Me curvei em sinal de respeito na frente deles — Obrigada por acreditarem em mim todo esse tempo. Se tem uma coisa que posso dizer ter orgulho pelo resto da vida, foi ter dividido todos esses anos com vocês.
Quando me levantei, ao contrário do que eu esperava, quem estava com os olhos marejados agora eram os outros.
— Capitã! — Kecchan foi a primeira a dar um passo na minha direção, na verdade, correu para pular no meu colo como se fosse uma criança. A sorte era dela por eu ser forte o suficiente para sustentar seu peso. — Eu não estou pronta para parar de jogar com você, mas eu não sou inteligente o suficiente para entrar na Nittaidai!
— Isso foi golpe baixo Capitã — Komiyan escondeu o rosto puxando a gola da camisa para cima.
— Não se fala esse tipo de coisa em aniversários — Konoha completou também com a voz embargada.
Individualmente todos vieram falar comigo, depois que Keiko me soltou. Dizendo que tiveram que fazer uma força tarefa, não para manter tudo escondido de mim — afinal eu estava meio aérea nos últimos dias —, mas para garantir que Koutarou não ia falar nada.
— Vocês me subestimam demais — o capitão cruzou os braços fazendo um bico. — Eu também sei guardar segredos.
— Quando você quer — Aki rebateu o primo deixando um beijo estalado na minha bochecha, rindo em seguida da indignação do garoto.
Quem se aproximou depois dela para me dar os parabéns foi Akaashi, mas diferente dos outros ele tinha uma pequena caixa na mão.
— Akaashi é realmente inacreditável, até preparou um presente. — Emi comentou.
— [Nome]-senpai sempre me ajudou muito, é apenas um sinal de gratidão.
A caixa era pequena, leve, mas tinha algo dentro dela que estava se movendo.
— Posso abrir? — perguntei ao mais novo, recebendo um aceno de cabeça positivo.
Era um tipo de chaveiro, tinham alguns pingentes que remetiam nosso dia escolar, como uma bola de vôlei e uma coruja, e na ponta um compartimento retangular com espaço para colocar uma foto.
— Como você disse, às vezes esquecemos das coisas boas. Ainda que esteja passando por tempo difíceis, espero que possa levar sempre uma boa memória junto com você.
O levantador tinha o rosto levemente corado quando disse isso, não é tão comum o ver se expressar dessa maneira, me fazendo acreditar que ele realmente colocou algum pensamento no presente buscando algo realmente genuíno. Sorri e puxei o mais novo para um abraço, tomando um momento para fagar seus cabelos assim como fazia com Thomas.
— Obrigada Kaashi, é perfeito.
— Não foi nada.
Dan, Chie, os treinadores, Hibiki-sensei, os primeiranistas. Todos eles me cumprimentaram até que faltou apenas um, nesse ponto já tinha sido informado que o treino do dia seria conjunto no ginásio das meninas, então aqueles que já haviam falado comigo se dedicaram a montar as redes e limpar os confetes.
— Te mandaram ficar por último de propósito?
Kou balançou a cabeça — Não, estava no seu momento de receber felicitações dos outros, então escolhi ficar por último.
Nesse ponto estávamos no canto da quadra enquanto os outros, estavam ocupados — ou estavam fingindo estar ocupados —, com outras coisas.
O Capitão levou ambas mãos até o pescoço e só então percebi haver uma corrente fina prateada presa nele embaixo da gola.
— Na quadra não é bom usar anéis e outros acessórios nos pulsos, mas colares não são tão incomuns — a corrente que ele tirou do próprio pescoço foi posta envolta do meu revelando ter também presa no meio dela um pingente, uma pequena placa de metal com um sol entalhado.
— Você disse que sou seu sol — Kou sorriu e puxou outra corrente do pescoço, dessa vez com um pingente de lua. — Mas se existo é para fazer você brilhar também.
Abaixei a cabeça e segurei o pingente vendo que atrás dele também tinham as duas iniciais do nome dele gravadas.
— Ah, essa foi ideia da Koemi — explicou começando ficar envergonhado. — Ela disse ser... Romântico. No meu também têm.
Ele virou para que eu pudesse ver as iniciais do meu nome e sobrenome atrás da lua.
Respirei fundo — O que eu faço com você?
— Por quê?
Circulei os braços em sua cintura o abraçando — Você faz ficar mais difícil cumprir a promessa que eu mesma fiz. Falta muito para o Torneio de Primavera acabar e você ser meu namorado?
O rosto dele rompeu em vários tons de vermelho — Não! Quero dizer, um pouco, ainda temos as qualificatórias e a semana do nacional. Mas não estou falando isso porque não gostaria que acontecesse antes, é só que...
Levantei os pés e deixei um beijo estalado em sua bochecha, uma vez que estávamos na quadra.
— Eu sei, não é algo que precisamos pensar agora.
Os ombros dele relaxaram e em seguida ele também me apertou nos braços antes de murmurar um feliz aniversário. Podem tomar Kou como alguém leve que não coloca muitos pensamentos nas coisas, que para ele não importa essa espera ou não, quando, na verdade, ele também tem suas ambições e sabe o que tem maior prioridade momentânea.
A confirmação disso veio de uma conversa com a italiana, apesar de eu ter falado com ela. Também escutou da boca dele que somos algo sem rótulo, de acordo com ela o que ele disse foi "Somos jovens, também quero ganhar. Vou esperar o quanto for necessário por ela."
Para viver esse amor com tudo que ele tem a oferecer, podemos aguentar mais um pouco.
Aquele treino foi o mais divertido que tivemos em tempos, times mistos, pessoas trocando no meio do jogo e posições modificadas. Foi um dia para deixar as preocupações de lado e seguir para o último jogo das preliminares com calma e confiança.
Afinal, iríamos enfrentar a Academia Musashi. O time que nos tirou da primeira vaga no segundo ano. Dessa vez não tinha lugar garantido. É ganhar e garantir lugar nas qualificatórias, só existe essa opção.
Juntei minhas meninas antes do jogo, nossa partida era uma das primeiras do dia. O que significava que estávamos descansadas e com total motivação.
— Se ano passado nos faltou um pouco de técnica, para esse só falta a vitória. Temos tudo que precisamos bem aqui — e continuei — estamos invictas até aqui, vamos levar essa invisibilidade para o nacional.
— Aquele último ponto continua engasgado na minha garganta — Hana reclamou. — Adoraria devolver isso hoje.
— É o único jogo do dia — Sora tomou a posição. — Não precisamos nos segurar, esse jogo é nosso.
Juntamos as mãos no meio do grupo.
— Fukurodani! — chamei.
— Fight!
— Fly!
— High!
Bati palmas para motivar as jogadoras e fui para o meu lugar no saque, girei os ombros e esperei o apito dando início soar. Bati a bola duas vezes no chão e respirei fundo, "musashi" pode significar guerreiro, habilidoso e até lendário...
Assim que tive permissão joguei a bola para cima, tomei impulso e pulei usando todos os músculos aquecidos para galgar força para o ataque. A bola encaixou na palma da minha mão direita com perfeição, viajando até o outro lado da quadra num único instante, sequer dando chance delas se moverem para receber.
— Ace! Ace!
Recebi uma nova bola para fazer o segundo saque, levantei a mão para o pescoço, contornei a corrente recebida de aniversário com o indicador e joguei os fios de cabelo para o lado fazendo um efeito de chicote.
2 a 0 para a Fukurodani, e com a possibilidade de aumentar a vantagem no placar.
Não importa o que essa Musashi almeja, recebi a bola para fazer o terceiro saque — fechei os olhos por um momento escutando os sons do ginásio me envolver —, só tem espaço para uma lenda.
N/A: Olha quem voltou! Duas semanas seguidas ein, quanto tempo fazia que isso não acontecia?
Tive uma realização essa semana, em nenhum dos livros a capitã teve um aniversário. Então, porque não aproveitar?
Lembrando que estou seguindo a obra original, então esse ponto das qualificatórias acontece no começo de novembro.
Obrigada por ler até aqui! Deixe um comentário se possível, pra motivar a tia Nadi![
Até a próxima, Xx!!
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