Preliminares de Tóquio
Levantei os braços para cima me alongando. Depois que o chaveamento saiu, os dias passaram ainda mais rápido, quando percebi já chegamos ao primeiro dia do torneio. Esse sábado de manhã estava peculiarmente silencioso, como um mar que se recua para atacar a costa.
— Nosso primeiro jogo é no período da tarde, vamos mais cedo para poder observar alguns jogos e nos integrarmos com a atmosfera do torneio — explicou o treinador. — Alguns avisos antes de entrarmos no ônibus.
Dan tomou a frente para poder olhar para todas as jogadoras organizadas numa meia-lua.
— Assim como os torneios anteriores, tem muita gente andando e circulando. Evitem andar sozinhas pelos corredores ou se afastar perto do horário da partida. Quem não está listado como titular do jogo pode se juntar à torcida na arquibancada, o apoio de vocês será muito apreciado.
— Treinador Esparta está ficando cada dia mais mole, quanto tempo demorou para gente ver um sorriso sincero? — Kei cochichou para mim.
— Estou ouvindo Keiko — Dan virou a cabeça rapidamente. — Hibiki-sensei já foi na frente para garantir que tudo está certo para ambos os times. Vamos carregar o ônibus e então partir.
Começamos a colocar o equipamento no veículo conferindo que não tinha nada faltando, Amano até tinha uma planilha de controle, conferindo se tudo que precisávamos estava ali. O garoto estava com algumas olheiras, quando questionado sobre estar bem, apenas disse que estava ansioso demais para dormir no dia anterior.
Nosso pequeno gerente andou trabalhando bastante nos últimos dias buscando todo tipo de informação sobre os possíveis adversários que encontraríamos no caminho. Graças a ele, tanto os treinadores quanto as jogadoras tinham um caderno de informações.
Velho Shin fechou a porta do bagageiro e então seguiu para abrir a porta para as jogadoras entrarem. Esperando do lado de fora para cumprimentar cada jogadora individualmente e desejar boa sorte.
— Velho Shin, você vai assistir, não é? — Aki perguntou.
— Claro que sim, estarei na torcida por vocês. Ainda mais que agora estou uniformizado.
Ele alisou o agasalho do time ajeitando as mangas. Foi um presente que demos para ele no fim do último torneio, já que desde a primeira vez que ele nos levou para o ginásio ficou para torcer e assistir.
— Isso aí! — ela bateu na mão dele e entrou.
Sora balançou a cabeça na minha frente e também bateu na mão do mais velho, subindo em seguida. Quando chegou a minha vez, ele parou para me falar algo, já que era a última.
— Eu e minha esposa fizemos algo para você deixar no banco capitã — ele tirou do bolso um amuleto omamori de proteção —, sei que não acredita em sorte. Pode deixar essa para nós, mais velhos, as superstições, mas espero que o torneio acabe sem acidentes.
Olhei o objeto, cuidadosamente bordado a mão e sorri.
— Talvez passe a acreditar Velho Shin, pode ser o que estava faltando. Obrigada, deixaremos no banco durante a partida.
Ele agradeceu e eu então subi os degraus indo direto para Amano pedindo para ele cuidar do amuleto, e deixar no banco durante todas as nossas partidas a partir de agora.
Me sentei no banco ao lado de Sora olhando pela janela, como já costumava fazer em sala de aula. Ainda que as garotas estivessem sorrindo e conversando, é fácil ver através dos seus olhos o fantasma do primeiro ano nos assombrando. É uma memória forte demais para não a reviver de tempos em tempos, mas basta mudar o ponto de vista. Ao menos foi isso que Kou me disse no dia anterior.
Apesar de querer continuar o treino livre, Dan não deixou. Ele praticamente me expulsou do ginásio assim que o horário oficial do treino acabou, dizendo que eu devia estar completamente descansada para a partida do dia seguinte.
De igual forma, os meninos também foram expulsos, isso resultou em eu e Kou sendo voltando para nossas respectivas casas mais cedo do que o comum.
— O que aconteceu? — ele perguntou parando de andar, por estarmos de mãos dadas senti o puxar e então parei de andar também.
— Nada — respondi com certa confusão —, por quê?
Kou fez uma careta — Está olhando para baixo, quando geralmente olha para a frente.
O capitão do time masculino tem uma peculiar percepção para coisas que as pessoas geralmente não prestam atenção. Talvez porque ele mesmo se apega ao que as pessoas dizem ser insignificante.
— Não percebi — respondi o chamando para sair do meio da rua e deixando a passagem livre. Levantei a mão livre para o pescoço o apertando. — Desde que saíram os chaveamentos, venho me lembrando do jogo do primeiro ano. O que eu me machuquei, sei que é coisa da minha cabeça, mas até sinto a perna doendo às vezes.
— Nunca me machuquei sério assim, mas acho que é normal — ele disse olhando para cima —, ao invés do que aconteceu, já tentou pensar em como seriam as coisas se tivessem perdido com você na quadra?
— Como assim?
Ele colocou a mão no queixo — Se você não tivesse se machucado, mas o time tivesse perdido o jogo. Acha que seriam o mesmo time de hoje? Sei que dói, mas não é melhor pensar que foi algo importante ao invés de apenas doloroso?
Nunca parei para pensar dessa forma, provavelmente a conversa sincera depois, no quarto do hospital nunca aconteceria. Sem isso a confiança e a mudança no time não teria acontecido, os laços que se formaram e fez com que nós nos aproximássemos no segundo ano não existiriam. Eram tantas possibilidades, para uma vida completamente diferente da que eu conheço, talvez muitas das garotas que fazem parte do time hoje não tivessem vindo para a Fukurodani. Porque foram impactadas naquele jogo, e viram a mudança acontecer.
Deixei a cabeça pender para frente encostando ela no ombro de Koutarou.
— Nunca pensei nisso, mas você está certo. Completamente certo, somos o time de hoje pelo que aconteceu no passado. Talvez tivéssemos acabado com o clube, quem sabe.
Levantei a cabeça e em seguida deixei um beijo de leve em seus lábios, ganhando surpresa e orelhas vermelhas de vergonha como resposta.
— Obrigada, você sempre sabe o que falar para mim. Ah, e agora que pensei, não temos um pão de yakisoba.
Imediatamente a postura dele voltou — Não! Precisamos achar [Nome], nossa tradição! Deve ter algum por perto.
Exasperado, ele saiu andando na frente, ainda com o rosto vermelho, mas sabendo também que mudei de assunto de propósito. Ainda estávamos perto da escola, devia ter alguma conveniência aberta.
Enquanto na minha frente, escutei ele dizendo — Disse que eu sempre sei o que falar, mas não é verdade. Muitas vezes eu não sei como agir, mas estou melhorando
Seu rosto se virou para mostrar um dos sorrisos mais bonitos que já vi, o fazendo até sorrir com os olhos — Então vou continuar olhando para você. Assim como olha para mim.
— Capitã! — Emi me chamou do fundo me tirando de pensamentos, levantei a cabeça e olhei para onde ela estava. — Pode confirmar que você costumava ficar toda chateada antes de um torneio.
Fiz uma careta — Já faz muito tempo que isso não acontece, por que está falando sobre?
— Os filhotes não querem acreditar — reclamou a líbero, provavelmente por ter sua credibilidade questionada pelos mais novos.
Sora então se virou — Já vimos ela bater a cabeça na mesa completamente desencorajada, mas depois que ela começou a comer pão de yakisoba, parou de fazer.
— Pão de yakisoba?
— É uma tradição, antes de todo torneio, como, ajuda a levantar os ânimos. Foi o que me ensinaram. Mas só vale para o dia anterior, se comer no dia pode ficar com um estômago ruim, então nem pensem nisso.
— É por isso que o Bokuto chegou com um sorriso de orelha a orelha na escola hoje? — Sora questionou em voz baixa.
— Não, foi pelo que aconteceu antes dele.
— Nojento — minha amiga fez uma careta.
Dei risada e voltei a me ajustar no banco, não demorou até chegarmos ao ginásio. As diversas bandeiras dos times participantes estavam expostas e pessoas paravam na frente delas para tirar fotos.
Pelo menos no caminho até o ginásio não tivemos nenhum imprevisto, quando chegamos o time masculino já estava lá, mas assim como nós, só teriam partidas na parte da tarde. Reconheci alguns jogadores e vi de longe os casacos vermelhos da Nekoma na arquibancada, nossa torcida também já estava organizada com ambos banners para apoiar os times.
— Se lembram do que Dan falou — anunciei para as jogadoras — vamos procurar um lugar para sentar e ver os jogos da manhã. Qualquer coisa que acontecer nos avisem, se se perderem do grupo procurem alguém uniformizado com credencial do evento ou do time masculino.
Girei o pescoço e comecei a puxar a fila, sempre é uma sensação diferente. Todos estavam ali para ganhar, não havia nenhum time que compareceu para ser a presa. Eram todos predadores, prontos para avançar em cima do menor deslize com presas, garras e tudo que tivesse à disposição.
Pelo grupo ser grande chamávamos a atenção, e como minha vice-capitã previu logo os murmúrios começaram.
"Não quero jogar com as espartanas"
"São as favoritas de Tóquio, principalmente depois do artigo na revista de vôlei"
"Ouvi dizer que elas tiveram um amistoso com a Nittaidai! Sério?"
— Claro que já saberiam disso — Sora reclamou. — Como conseguem descobrir essas coisas?
Dei de ombros — Não muda o fato de ser verdade, podem falar o que quiser. Viemos para tomar a vaga de primeiro representante de Tóquio, não muda pelo que falam pelas nossas costas ou não.
— Olha só, parece que vamos ter que brigar por isso, então — o uniforme da Johoku entrou no campo de visão. A capitã Shiori na frente. — Ainda tem um gosto amargo pelo que aconteceu no nosso amistoso.
— Não sabia que estava tão ansiosa para ter a bunda chutada de novo Shiori — Sora provocou.
— É o que vamos ver, favorita — ela balançou a mão ignorando Sora e se aproximou. — Apesar disso, realmente espero que possamos nos encontrar na disputa de primeiro lugar. Não tem outro time que eu gostaria de enfrentar assim.
Shiori me estendeu a mão amigavelmente — Vamos estar esperando Fukurodani.
Aceitei seu cumprimento — Acho que tem alguma coisa de errado, porque tenho certeza que vamos chegar primeiro. Então termine logo seus jogos e venha nos encontrar Johoku.
Aquelas que estiveram no amistoso no começo do ano cumprimentaram outras nas nossas jogadoras antes de sair no caminho oposto.
— [Nome]-chan! — escutei alguém me chamar e então me deparei com um grupo completamente inesperado.
Kai e Makoto, os antigos capitães da Fukurodani, estavam juntos da antiga capitã da Yonsen. Agora, atual namorada de Kai.
Assim que nos aproximamos ela soltou do garoto para vir me abraçar.
— Aiko! O que está fazendo em Tóquio?
— Viemos assistir aos jogos, é claro, não vamos poder ver os outros, mas pelo menos conseguiremos assistir o primeiro.
— E a Yonsen? Também não começa hoje as preliminares de Akita? — Questionei olhando para Kai.
— Vemos os jogos delas com frequência — respondeu em seu lugar —, vão sobreviver sem nós um dia. Também tínhamos algumas coisas para resolver por aqui, então aproveitamos e estendemos os dias para poder acompanhar.
— Traz memórias — Makoto fingiu secar uma lágrima — me lembro quando você era apenas uma recém capitã conduzindo um grupo de garotas que mal sabia o que era vôlei.
— Ei — Hana chamou —, não é assim também. E se me lembro bem, você que perdeu para esse bando de inexperiente no primeiro jogo.
— Mas é um elogio Hana-chan — ele continuou —, agora o que vejo é um time completo pronto para tomar com lanças e escudos aquilo que merece.
— Está exagerando — Kai respondeu.
— Sempre gostei da narrativa de soldados e agora são as espartanas de Tóquio. Já até tenho o rascunho da minha próxima matéria pronta, "Fukurodani passa por todos os fantasmas do passado e garante a vaga para o Torneio Nacional de Primavera". — Makoto disse — O que acha capitã?
Dan pediu para as outras meninas continuarem andando para não congestionar o caminho, coloquei a mão no ombro de Makoto antes de responder com confiança e me despedir.
— Que você vai precisar de uma boa foto para quando for enviar para a publicação.
N/A: E começamos! Um capítulo mais introdutório, porque no próximo vamos direto pro jogo.
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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