Partida Alternativa
A partida começou a ser escrita da mesma maneira que a anterior, nosso ritmo forte tomando espaço e subjugando as adversárias sem dar chance de marcar.
Aquelas adversárias que jogaram conosco no ano passado já não estavam lá, mas a Fukurodani que lutou cinco sets depois de ter um ônibus quebrado e correr até a partida, sim. As antigas campeãs, hoje é apenas isso que elas são.
Me apoiei nos joelhos esperando o saque vir das adversárias, neste ponto o placar estava 17 a 13 com a vantagem da Fukurodani.
Eu estava na linha do fundo, porém sem a líbero, não que seja um problema. Antigamente eu me preocupava apenas em marcar pontos, ainda é minha parte preferida, mas lapidar a arte da defesa não tem preço. Evitar adversários de marcar do meu lado da quadra, pode ser uma arma tão forte quanto um ataque direto bem feito.
— Minha! — dei o comando quando a bola fez uma leve curva no ar, foi um saque forte. Mas comum. O levantamento foi feito para Hana que girou o braço aberto para pegar velocidade e força e então estourou na quadra da Musashi sem que elas conseguissem chegar para defender.
Keiko foi para o saque, não foi um saque muito complicado de pegar, sabemos que quando a recepção é bem feita elas gostam de vim com um ataque de força, tranquilo e previsível. É nesse momento que Sora faz seu nome subindo para bloquear e matar a jogada delas com um bloqueio matador.
Assoviei, genuinamente impressionada.
— Nossas centrais estão com tudo hoje. Aconteceu alguma coisa que eu não estou sabendo?
— Sora provavelmente tem muito ódio acumulado dentro dela — Hana comentou. — Já Keiko só está num bom dia mesmo, aposto que ela está pensando no que comer depois da partida.
Dei risada e voltei para a minha posição, sabendo que a probabilidade daquilo ser verdade é realmente alta.
Durante nosso treinamento para as preliminares e qualificatórias, sabendo que a Musashi podia estar no nosso caminho, vimos as filmagens da nossa partida anterior. Entendemos nossos erros e vimos que foi o melhor que podíamos fazer numa situação atípica. Agora, mais maduras, em jogos e na vida, eliminamos os erros infantis, avançando sobre um time que já não tinha suas estrelas em quadra.
Essa é a beleza dos times colegiais, todo ano eles mudam, pessoas entram e saem. Estilos se adaptam e novas jogadas surgem. Ao menos para a maioria deles.
O saque foi feito novamente no mesmo esquema, mas dessa vez passando por Sora na rede, a recepção veio para mim novamente. Chia fez o levantamento e então conseguimos mais um ponto explorando o bloqueio delas mandando a bola para fora com um block-out.
Apito soou, marcando o pedido de tempo adversário.
Coloquei ambas mãos na cintura e voltei para onde estava o time, ganhando espaço no banco para sentar.
— Aqui, Capitã-senpai! — Amano me entregou uma toalha. Agradeci e passei o pano no rosto e nos braços secando o suor, girei os ombros e olhei para o placar.
— Bela partida, ótima mesmo — Dan elogiou. — Chegamos aos 20 pontos e a Musashi não saiu dos 13. Vamos continuar pressionando, esse time de hoje que está do outro lado da quadra só tem o nome, experiência e leitura de jogo ficou com aquele time que enfrentamos ano passado.
Ele apontou para fora e em seguida para a cabeça — Não significa que podem ficar confortáveis, o jogo só acaba quando acaba. Até lá daremos nosso melhor, não importa se estivermos ganhando com uma vantagem de 15 pontos. Respeitando nossos adversários como o grande e tradicional time que é.
— Senti um tom de deboche Dan — Sora passou a toalha no pescoço e meu irmão se fez de desentendido.
— Não sei do que está falando, é um grande time... — ele deu de ombros.
— Se falar isso secando o veneno da sua boca, talvez acreditem — Hana continuou.
Dan deu risada e soltou os braços — Não é uma mentira, é um grande time... — ele deu uma pausa deixando a verdadeira personalidade dele aflorar.
— O que acontece é que esse ano somos maiores.
Keiko estalou o dedo e apontou na direção do treinador — Ah! Eu sabia que o treinador estava com rancor guardado do jogo do ano passado. Nunca ficamos tanto tempo estudando um time que não tinha certeza de cair no nosso caminho. Quero dizer, havia uma grande possibilidade, mas não era confirmado.
— Oh! Treinador Esparta — Chiasa juntou as mãos na frente do corpo. — Esteve frustrado por nós todo esse tempo?
Deixei o corpo pender para trás olhando a cena de desenrolar, ele tinha se colocado naquele lugar, só queria ver como ele iria sair dela. Uma vez que todas as jogadoras estavam esperando seu pronunciamento.
Meu irmão limpou a garganta — Bem, também. Onde que já ouviram a história de um time que correu até sua partida e ainda ganhou? Era o roteiro perfeito, mas parece que quem está escrevendo essa nossa história tem planos diferentes.
Balancei a cabeça e me levantei ajeitando as joelheiras e em seguida a camisa. — Não se deixem enganar, ele só queria o destaque de ser o grande comandante desse time.
— Ei, pirralha, não sabe ler o clima não? — ele empurrou meu ombro.
Levantei a mão para o rabo de cavalo apertando um pouco — O clima está ótimo, só estou falando verdades. E mais uma coisa...
Olhei em seus olhos — Não é melhor ser o comandante de um time classificado e invicto? O aproveitamento é 100%
Um fogo acendeu atrás de seus olhos, nesse momento eu soube que ganhei o argumento, as minhas garotas também estavam com os ânimos em bons tons. Voltamos para a quadra sob os gritos da torcida, deixei o resto do time brilhar no fim do primeiro set, mas no segundo tomei o meu lugar como Ace e capitã e mostrei a que vim.
Elas fizeram algumas substituições tentando mudar o curso da partida que estava bem definida e fluindo em direção a mais uma vitória das Espartanas de Tóquio.
— Saque flutuante! — Emi recebeu.
Nisso, Chiasa se adiantou para poder fazer o passe. Sora pulou na frente tentando marcar com um aberto. A vice-capitã não conseguiu pontuar e a Musashi veio no contra ataque pelo meio e conseguiu marcar um ponto.
Ainda havia uma diferença nos pontos, e estávamos no match-point. Foi então que algumas memórias do nosso jogo anterior começaram a vir para a minha mente.
No último set, aquele que iria definir tudo, minhas pernas estavam queimando o rosto completamente molhado de suor e as palmas das mãos vermelhas pelo tanto de ataques de força feitos. Me lembro da adrenalina e do foco posto na partida. Naquele momento a Musashi estava com a vantagem e eu estava no saque.
Sem medo de errar e encerrar a partida pelas minhas mãos, saquei forte, mas aquela Musashi recebeu, ganhando a chance para a virada. Tinha a cena gravada na mente como um filme, Sora conseguiu um soft-block Chia se ajeita para levantar e Hana tenta da primeira vez, não consegue. Chizue tenta passar a bola e ganhar tempo, não consegue.
O bate e volta da bola nos deixa atordoadas, dando a chance da Ace adversária cortar interceptando o passe. Sorte ou não eu estava bem posicionada e fiz o recebimento em cima da linha. Aquela bola passou por cima da rede em câmera lenta, a capitã colocou o braço para frente para receber e tirou no último instante, acabando o jogo ali.
As imagens antigas sumiram e dessa vez quem estava na posição de fazer um julgamento se a bola iria cair na nossa quadra ou não, era eu. Por instinto meu braço se estendeu, mas eu sabia que aquela trajetória não iria pontuar, travei meus músculos e esperei a bola cair para o lado de fora. Reescrevendo aquelas memórias de outro ponto de vista.
A partida acabou e a Academia Fukurodani era a vencedora.
Fechei a mão em punho e comemorei com as garotas. Recebendo tapas de todos os lados e xingamentos velados de elogios.
— Capitã é ridícula!
— Foi com requintes de crueldade!
— Realmente é irmã do Treinador Esparta!
Levantei a cabeça — Ei! Alguém ainda tinha uma dúvida disso? E parem de me bater, já estão aproveitando demais.
Elas se afastaram, à medida que tentei esfregar a base das minhas costas onde alguém tinha me dado um tapa. Para ser daquela maneira, só podia ter sido Sora, olhei para ela com uma careta, sendo respondida com um sorriso sarcástico e debochado de confirmação.
— Idiota — resmunguei, mas deixando a dor ser substituída pela felicidade.
Nos alinhamos na lateral da quadra e agradecemos a torcida, os meninos estavam se preparando para o jogo, então não estavam ali dessa vez. Mas reconheci meus pais e Tom no meio deles comemorando, vi também outros familiares como o pai de Sora e sua irmã, e Yusuke o irmãozinho de Aki. Ainda que não deixassem transparecer em treino ou em quadra, superar esse jogo era um grande passo.
Era o último gosto amargo na boca a ser lavado por esse time, no meu caso ainda havia um ponto final para ser colocado.
Quando passamos pela lista dos times, tive certeza de olhar uma, duas, três vezes para confirmar que estava vendo certo.
— Finalmente — Sora disse ao meu lado. — Demorou três anos.
— Parece muito mais — Keiko respondeu, séria, com uma feição que não é muito comum aparecer em seu rosto. Afinal, de todas as garotas ela era a única que sabia o que realmente era o fundamental.
— Seu grande palco está montado [Nome] — Aki também se aproximou.
— Só por favor, não tente agredir ninguém, eu não consigo te segurar nem com Sora — Hana se juntou à fila.
Apertei a alça da bolsa — Posso evitar isso, mas não garanto não cortar na cara de Mahiru.
Hana ponderou e riu em seguida — Certo, acho que isso passa pelas regras. Aprovado!
— Ei, não incentive! — Emi rebateu. — Mas confesso que até eu tenho vontade de tacar uma bola nela...
Balancei a cabeça e ajeitei a bolsa no ombro, seguindo para onde o restante do time estava esperando. Iríamos nos juntar para ver o fim do jogo dos garotos e depois retornar para a escola, só tínhamos que nos preparar, uma vez que nosso próximo confronto estava definido.
Primeira partida das Qualificatórias do Torneio de Primavera, Província de Tóquio.
Academia Fukurodani vs Instituto Itachiyama.
N/A: Estamos preparadas para o próximo jogo?
Sei que as partidas não estão TÃO narradas, mas vai ficar mais detalhada a partir de agora, que é um dos grandes pontos dessa saga inteira!
Obrigada por ler até aqui.
Até mais, Xx!
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