Irmãs Bokuto
Não conseguia me reconhecer no reflexo, passei tanto tempo em roupas de treinos e uniformes que me ver fora de um deles parecia estranho, porém, não de uma maneira ruim, apenas diferente. Nossa semana de folga estava para terminar e o convite que Koutarou fez para encontrar com suas irmãs realmente se concretizou no fim da semana.
Para ser honesta, eu apenas aceitei por ele, meu último encontro com sua família não foi exatamente o melhor deles, e depois da tal briga no dia do parque de diversões também não escutei nada sobre sua mãe.
Respirei fundo olhando para o espelho — Fala sério, como pode ser confiante em quadra e ficar assim com uma saída?
— Uma coisa não influencia a outra — a voz que surgiu na porta do meu quarto me fez virar, minha mãe estava encostada no batente com um sorriso. — Koutarou está lá embaixo falando com seu pai, junto da irmã dele.
Peguei a alça de uma bolsa pequena e coloquei no ombro.
— [Nome] — minha mãe chamou. — Confie um pouco mais em você, às vezes as pessoas precisam ver algo diferente para entender que existe outra opção. Mas hoje não precisa se preocupar com isso, apenas se divirta, precisa disso.
Ele segurou meu rosto entre as mãos e deu duas batidinhas nas minhas bochechas — Pensar é bom, mas às vezes você faz isso demais.
Sorri — Obrigada.
Descemos as escadas juntas, Katsue parecia bem entretida conversando com meu pai e Tom trocava algumas palavras de sim ou não com Kou do outro lado. Meu irmão já estava melhor no japonês, em entender, mas falar ainda era um problema, o que deixava as interações dele um tanto quanto interessantes.
— Oh, parece que nosso tempo de conversa acabou — meu pai disse olhando na minha direção e se levantando.
— [Nome], já faz tanto tempo! — Katsue se levantou e andou na minha direção. — Parabéns pela classificação.
Ela me deu um abraço rápido quase acompanhado de pequenos pulos — Não consegui ir aos jogos, mas ouvi dizer terem sido incríveis, vou ter certeza de ver os do nacional.
— Ei, você não vai ver os meus jogos — Kou reclamou para a irmã.
— Vi você jogar desde pequeno, até quando não sabia acertar a bola — Katsue mostrou a língua para ele. — Vamos então? Teremos um dia cheio, Koemi deve nos encontrar lá.
— Claro.
A minha família ficou para trás enquanto seguimos para o carro de Katsue, felizmente ela era tão falante quanto o irmão, logo o caminho não teve um único momento de silêncio. O destino foi um shopping da cidade, um pouco afastado da área de turistas e aparentemente mais elitizado
— Certo crianças vamos à programação do dia — disse a mais velha, disse assim que entramos. — Koemi deve estar por perto, até lá vamos dar uma volta, temos uma reserva num restaurante e então de tarde podemos assistir a um filme, parece bom para vocês?
— Parece ótimo — concordei. — Nunca vim nesse shopping antes, então fico na mão de vocês.
— Pode acreditar, a família Bokuto é a melhor em planejar passeios!
Katsue andava um pouco mais a frente apontando lojas e tecendo comentários, Kou geralmente concordava e adicionava algum detalhe. Eu e ele estávamos andando de mãos dadas seguindo os passos da irmã dele. Era evidente que nossas criações eram diferentes, minha família não está no espectro rico da sociedade, mas temos uma condição um pouco acima da média. A família de minha mãe costumava ser um pouco mais elitizada, foi por esse motivo que ela foi à Inglaterra pela primeira vez para estudar e conheceu o pai de Daniel, porém os negócios acabaram na geração dos meus avós.
Eles venderam a empresa e investiram parte do dinheiro em outros locais, deixando uma herança mediana para a filha. Meu pai era diretor de uma empresa corporativa, um ótimo administrador, mas nenhum deles cresceu e nos criaram com regalias.
— [Nome] ficaria tão fofa num vestido de inverno como esse!
— Sinto muito, mas não faz muito meu estilo — sorri —, sem falar que minhas pernas são todas batidas de treinar.
— Bobagens — ela me ignorou girando o tecido. — Você fica realmente fofa fora das roupas de treino, não acha Kou?
Ele colocou a mão no queixo e pareceu pensar — Acho que [Nome] fica fofa de qualquer jeito, mas com o uniforme ela fica tipo super forte. Dá até um pouco de medo, não em mim, claro, nos outros.
Koutarou sorriu — [Nome] brilha mais forte quando está fazendo o que gosta.
Senti o rosto esquentar com a declaração sincera do garoto, e Katsue apenas riu e me empurrou na direção do provador, alegando querer me dar um presente, mas precisava conferir as medidas. Negar simplesmente não era uma opção, no fundo, acho que ela apenas queria ter o prazer de escolher roupas para alguém. Felizmente Koemi chegou não muito depois, sua personalidade mais calma e perceptiva acabou controlando, e me salvando, de dois irmãos Bokuto muito animados em me fazer de boneca.
— Ah, estou faminta — Katsue comentou deixando o casaco de lado enquanto nos sentávamos no chão de um tradicional restaurante japonês. — É uma pena que vocês não podem beber ainda, ou faríamos uma festa.
— Nem você pode beber — Koemi elegantemente se sentou com um sorriso. — Ou vai dormir no meio do filme depois.
A irmã do meio da família fez uma careta — Não é como se não pudesse acontecer naturalmente, se o filme for chato o melhor é dormir mesmo. São as melhores sonecas, posso afirmar isso.
— Mantenha os modos Kat.
Era divertido estar ali com a família dele, ainda que... Bom, que não fossemos oficiais. Me fazia pensar ter algo de bom reservado para o futuro.
Quando estávamos no meio da refeição, o assunto universidade apareceu.
— Kou disse que você deve ir para a Nittaidai - Koemi comentou me pegando de surpresa, coloquei o hashi sobre a mesa antes de responder.
— Sim, recebi um convite atrelado a bolsa de esporte, devo ingressar no curso de gestão da vida esportiva, talvez roube o emprego do meu irmão um dia — respondi como piada.
As irmãs se olharam por um momento — Você não pretende jogar no time nacional?
Levantei a mão para o pescoço — O meu caminho foi um pouco turbulento, acredito que vai depender um pouco do resultado do Torneio de Primavera, mas realmente não sei, não tenho como controlar essa escolha.
— Mas você tem vontade? — Katsue questionou alcançando um pedaço de salmão. — Capacidade sabemos que tem, mas depende do que está no seu coração.
Parei por um momento, já tinha tido uma conversa parecida com Washio. — Depende do momento em que estiver, mas de nada adianta projetar muito o futuro e esquecer que preciso focar no agora para chegar lá, seja onde for.
Koemi pegou um copo de chá — Entendo sua decisão, mas realmente espero poder me gabar um dia que os melhores jogadores do país são meu irmão e minha cunhada.
A mulher era calma, mas não queria dizer que suas falas eram menos impactantes do que as dos irmãos. Coloquei a mão na boca me recuperando de um engasgo repentino, Kou tentou me ajudar mas também acabou se perdendo com o resto da conversa.
— Sim! — Katsue se apoiou na mesa. — Era exatamente isso que eu estava pensando, você pode imaginar as crianças? Eu juro, serão as coisas mais fofas, espero que sejam inteligentes como [Nome].
— Que os deuses os abençoe — Koemi completou.
Parecia que nossas almas tinham deixado nossos corpos e tudo que restou do lado de dentro era vergonha. Podia ver espirais tomando os olhos do capitão do time masculino refletindo a confusão dos seus pensamentos.
Limpei a garganta e alcancei um guardanapo colocando um pouco de ar no seu rosto. — Desculpe, mas não estão pensando um pouco longe? Quero dizer, não que eu não gostaria, mas... A mãe de vocês precisa gostar de mim para qualquer coisa como essa acontecer, não?
O sorriso no rosto de Katsue diminuiu — Ela está tentando é só que...
A fala dela morreu enquanto mais um olhar era trocado com a mais velha. Koemi colocou ambas mãos no colo e tomou a fala.
— Minha mãe, nossa mãe, como a maioria das herdeiras de famílias tradicionais, foi mais tratado como moeda de troca do que qualquer coisa. Teve uma vida frugal e limitada aos ensinamentos arcaicos da família — começou a contar. — Não foi até se casar com nosso pai que ela entendeu o que realmente era viver e pensar por si mesma. O casamento deles foi algo próximo ao arranjado, porém nosso pai se apaixonou logo no primeiro encontro.
— Isso é o que ele diz — Katsue interrompeu.
— Enfim, ela ainda tem muitos dos ensinamentos com que cresceu enraizados, e também é teimosa. Não é tão fácil mudar suas convicções.
— Mas ela ainda parece pensar que Shizuka é uma opção melhor do que eu.
— Ela está errada — Kou pareceu recuperar a consciência subitamente segurando meu punho e em seguida a minha mão. — Não quero saber da Shizuka, quero você.
Seus olhos estavam fixos nos meus e pareciam me puxar em sua direção como um campo gravitacional que atrai um objeto no espaço. A diferença é que estávamos sendo observados por suas irmãs.
— Céus, olhe esse pirralho. Desde quando ele fala coisas assim?
Koemi riu — Sentimentos realmente nos fazem agir de maneiras peculiares, foi bem romântico.
— Certo garoto apaixonado — Katsue empurrou ele para longe de mim pela testa. — Está certa e errada sobre Shizuka, a empresa do pai dela é uma grande parceira da nossa família. Ela pode ter cogitado uma vez ou outra, mas minha mãe é absolutamente contra recriar o que foi feito com ela.
— Ou a esse ponto ambas já estaríamos com maridos que sequer saberíamos quem são. — a outra irmã completou. — Ela tentou ajudar a aflorar esse sentimento nos dois, por isso sempre insiste para os dois ficarem próximos, mas não deu certo.
— Não deu certo porque esse cara aqui só tem olhos para você — Katsue apertou as bochechas de Kou imitando como se fosse ele falando. — [Nome] é incrível, ela joga tão bem, é tão inteligente, tira as melhores notas.
Ela soltou o rosto dele. — Fala sério, pulem o namoro e se fiquem noivos de uma vez.
— Não é uma má ideia.
Coloquei ambas mãos no rosto, eu preferia estar sendo alvo de Sora e Dan ao mesmo tempo, do que permanecer nessa situação. — Agradeço que vocês me coloquem neste patamar, mas somos jovens, ainda temos algumas experiências para viver. Eu... Gostaria de chamar Koutarou de namorado por algum tempo antes de pular para noivo.
Juntei as mãos ainda sentindo a pele quente queimar de vergonha — Será que podemos mudar de assunto, ou vão ter que carregar ambos desmaiados até o cinema.
As duas mais velhas riram — Certo, vamos parar as brincadeiras, por enquanto.
Terei de pensar duas vezes antes do próximo convite.
N/A: Ainda estamos no período de detox de jogos, eu achei esse capítulo muito divertido.
Espero que tenham gostado.
Até mais, Xx!
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