Força


A meia quadra que tinha na garagem da casa de Sora, se tornou um pequeno refúgio durante os dias na residência Matsumura. Após sair para correr pelo bairro naquela manhã preguiçosa de sábado, me juntei a minha amiga para trocar alguns passes de outro esporte.

— Céus, se suas pernas fossem um pouco mais moles, daria um nó nelas — Sora riu fazendo um dribble simples enquanto eu desistia de tentar tirar a bola de sua posse e sentava no chão.

— Não está tão ruim assim, minha taxa de sucesso aumentou se considerar que costumava ser zero.

— Sempre o tom de positividade — Sora bateu a bola duas vezes no chão antes de dar um passo para trás e fazer um arremesso preciso.

— Imaginei que estariam treinando vôlei, não basquete. — Saki, a irmã gêmea de Sora entrou na quadra se abaixando para pegar a bola do chão fazendo um passe de volta para a irmã.

— Essa idiota está tentando descobrir o que fazer com os pés dela durante uma partida.

Revirei os olhos, e cruzei as pernas — Eu sei o que faço com eles, só quero ter um melhor controle e reação.

— Sempre parece estar procurando um jeito de melhorar [Nome] — Saki comentou se aproximando.

— Porque a condição atual nunca é o suficiente — suspirei e deitei no chão, olhando bem longe o céu ensolarado e as poucas nuvens brancas que navegavam por ele. A sombra de Sora se projetou sobre mim, com uma careta é claro. Minha amiga segurou a bola de basquete bem acima da minha cabeça.

— O que preciso fazer para tirar todo esse negativismo de você, será que uma pancada resolve?

Me levantei rapidamente antes de ter a bola solta na minha testa — Se depois de perder aceitarmos a situação como está, sem melhorar, não terá diferença alguma. Vamos apenas ser derrotadas novamente, de igual forma tomar uma vitória como garantida também é tolice.

— Melhoria contínua, na vitória ou na derrota. Sempre podemos construir uma melhor versão de nós mesmas — Saki interrompeu nossa pequena discussão, mais pensando alto do que propriamente falando conosco.

— Fala sério, você realmente entende o que ela fala? — Sora passou a bola de basquete para a irmã.

— É o que se espera de uma capitã — respondeu a gêmea —, são momentos como esse que me lembro o quão distante estamos.

Saki foi eleita capitã do time de basquete depois que as veteranas saíram no ano passado. Apesar de ser uma ótima jogadora pelo que Sora me disse, nunca precisou se posicionar como a líder de um time antes. De alguma forma me lembra a primeira vez que encontrei com Aiko e o time da Yonsen.

— Tem três anos de cargo nos separando Saki — tentei a confortar —, uma capitã não nasce do dia pro outro.

— E ainda assim já se foi uma temporada inteira — continuou cabisbaixa, ela girou a bola na mão apertando os veios com os polegares —, claro que o time quer ganhar. Mas só parecem tão... Desanimadas.

— É porque você está desanimada.

Surpreendentemente a resposta veio de Sora, não de mim.

— Capitão ou capitã é aquilo que o time precisa — ela continuou —, sabem que podem contar com as suas habilidades, mas talvez você precise ser mais energética Saki. Começando por ir treinar sem essa sua cara de choro.

Parece que a personalidade da minha vice-capitã se estende até mesmo para sua família, suas palavras foram duras, porém carregavam verdades. Por um momento ponderei interromper, mas a deixei falar. Não é o meu momento.

Saki respirou fundo, se preparando para a bronca da irmã.

— Tudo bem, você não queria ser capitã em primeiro lugar, mas precisa se esforçar pra ser uma boa. Cobrar as jogadoras quando preciso, elogiar quando merecido, parece que só estão na mesma quadra no mesmo momento. Não tem uma sensação de espírito de equipe.

— E como que faço isso? — perguntou a irmã devolvendo a bola.

— Não sei — Sora disse por fim se preparando para mais um arremesso — se fosse eu. Começaria conversando com o time, ouvi discursos demais dessa idiota para acreditar que não funcionam.

— Você estava indo tão bem — reclamei —, estava quase te elogiando.

Minha amiga riu alto e fez mais um arremesso perfeito.

— Penso que Sora não está nem 100% certa ou errada — comecei a apresentar meu ponto — depende um pouco. Mas se existe um momento em que você pode mostrar as suas fraquezas e apresentar elas pro time como um grupo, é no treino. O time de basquete não é como o time de vôlei masculino, que consegue lidar com os altos e baixos do capitão deles né?

Ela balançou a cabeça com um riso — Bem longe disso. Acho que está certa, que as duas estão certas. Não adianta eu ficar segurando tudo para mim, sendo que é um esporte em grupo.

— E se livre da cara de bebê chorão.

As duas começaram a discutir, a ponto de empurrarem uma a outra. Ri e me afastei andando até a bola de basquete que estava no chão, enquanto ambas faziam o que irmãos fazem de melhor.

Brigar.

Bati a bola no chão algumas vezes e tentei fazer um arremesso.

Falando em irmão, espero Thomas esteja bem. Parece que os documentos de adoção deram certo e ele já viria com o restante da família no fim de semana, oficializando minha posição como a irmã do meio.

— Desde quando você se tornou tão confiável Sora?

Virei a cabeça na direção delas com um sorriso.

Foi um pouco depois que minha amiga e os filhotes voltaram do acampamento nacional que comecei a perceber o envolvimento da vice-capitã com o time. Três anos depois, com seu estilo de jogo definido, e seu lugar consolidado a confiança de Sora enfim desabrochou. Até algum ponto do segundo ano, era possível ver alguma dúvida em seus olhos, agora não mais. Não tinha o medo de estar sempre na sombra de Saki, livre as amarras que um dia estiveram em sua mente Sora encontrou seu lugar. A força do time feminino da Fukurodani está exatamente onde deve.

— Não sei o que está dizendo. Sempre fui confiável, [Nome] não teria me colocado como vice-capitã se não fosse.

Tombei a cabeça para o lado. Seus olhos enviando uma mensagem clara para concordar com sua afirmação. Mensagem essa que deliberadamente escolhi ignorar.

— Eram poucas opções — Saki se livrou do agarro de Sora e correu para longe, aproveitei e fiz um passe — mas ela melhorou bastante.

— Aya me contou do pequeno discurso que fez no acampamento de treinamento — doce vingança. Coloquei a mão no queixo — Como foi mesmo? "Estamos entre as melhores, mas ainda temos um caminho para sermos as melhores." Pode acreditar que ela disse isso Saki?

— Tem certeza que é mesmo a minha gêmea? Ninguém trocou ela na viagem?

Sora estava com o rosto vermelho e as mãos fechadas em punho, ela avançou para a irmã que voltou o passe da bola para mim. Era como um touro furioso de frente com um pano vermelho intenso, se tinha uma palavra para descrever a meio de rede seria, fumegante.

— É assim que vai ser [Nome]? — perguntou com um sorriso distorto no rosto.

Segurei a bola de basquete e me coloquei em posição respondendo com confiança — Sim.

Meu treinamento extra estava longe de acabar.













N/A: Ain eu não tinha como não repetir o nome do capítulo. Quem não lembra o nome do capítulo que a capitã convence a Sora em Legends é 'Força'. Minha filha cresceu tanto T.T

Esse meio termo, capítulos de transição, vão aparecer por mais algumas atualizações. Vai ser bom pra avançar a história no tempo, então fiquem firme!

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!

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