Fora dos Planos




— Makoto, eu juro que se você tirar mais uma foto...

— Me desculpe capitã, mas preciso de registros — respondeu o rapaz tirando o rosto detrás da câmera —, e eu tenho uma credencial profissional para isso.

— Vá tirar fotos de outros times então — reclamei.

O antigo capitão da Fukurodani, me ignorou completamente e virou o rosto levantando a mão para ajeitar os cabelos — Não me importa os outros times, sou um ex-aluno da Fukurodani.

— Como você quer ser um jornalista sendo tão parcial? Sequer se preocupa em esconder isso.

— Vou me preocupar com isso depois que me formar, até lá posso me permitir — rebateu e escondeu o rosto atrás da lente novamente —, sem falar que estou aqui com uma missão. Aquela pessoa que está sujando meu precioso vôlei não vai se prender sozinha.

O time estava reunido na arquibancada do ginásio, enquanto eu conversava com nosso repórter particular nos corredores dedicados a imprensa. A princípio, fui apenas para ver qual seria sua agenda para o dia, mas para variar Makoto me tirou para conversar.

— É um pouco demais pedir para filha idiota dele fazer uma grande movimentação durante o primeiro dia de torneio, por província ainda.

— Uma coisa é certa [Nome], assim como vocês, é o último ano de competição da Mahiru. Falta de tempo faz as pessoas tomarem atitudes estúpidas.

— Posso compreender seu raciocínio, mas nos comparar em qualquer nível é um insulto tremendo — fiz uma careta. — Como sabe não vamos jogar hoje porque somos cabeça de chave. Voltaremos para escola no período da tarde, depois que for decidido nosso adversário, para ter um treino leve. Vim avisar que não precisa ficar aqui até o fim.

— Entendido, capitã. Obrigada por se preocupar com seu senpai.

É melhor não responder.

Deixei a área das quadras com as mãos nos bolsos, e subi as escadas para voltar a encontrar com o time. Todas sabiam que não tinha muito o que fazer senão observar, já que nosso confronto estava guardado para o dia seguinte. Nosso adversário iria jogar depois do almoço e como tivemos a abertura pela manhã fomos obrigadas a comparecer.

Sentei no lugar entre Keiko e Sora.

— Finalmente Makoto te liberou? — Sora alfinetou — Daqui de cima parecia que ele não parava de falar.

— Como todas às vezes que nos encontramos, como estão os jogos?

— Parados — Kei respondeu bocejando em seguida — o melhor foi o da Nekoma. Falando nisso, a gerente deles queria que encontrar mais cedo. Me surpreende que não se trombaram ainda.

— Não sei porque, ela tem o próprio time para cuidar.

Balancei a cabeça e procurei os casacos vermelhos com os olhos, não conseguindo os encontrar, imaginei que estivessem nos bastidores.

— Leia sobre a história dela antes de tirar qualquer conclusão, sua mal-humorada, devia saber melhor do que ninguém que não se pode julgar as pessoas por aparências — fechei o punho e bati em sua coxa. Imediatamente Sora empurrou meu braço para o lado protegendo suas pernas de uma nova agressão, devolvendo o soco na mesma intensidade.

— Gosto dela — Kei interrompeu a pequena briga —, Sora implica porque tem ciúmes.

— Eu sei, já disse que não vou trocar ela — disse e abaixei desviando da sua investida. Keiko também protegeu o rosto do segundo ataque que recebeu. Olhei para a meio de rede e rimos juntas enquanto Sora fechava ainda mais a cara. Chie disse que nossa movimentação é precisa pelos anos juntas, momentos como esses provam ser verdade.

— Não sou obrigada a gostar de todo mundo — a vice-capitã resmungou cruzando os braços.

— Pelo menos tente, sua cabeça dura. Como vai fazer amigos depois que se mudar se for tão, você.

Já havíamos conversado sobre antes, Sora pretende ir para os Estados Unidos depois que se formar. As coisas seriam mais fáceis para ela e Akemi do outro lado do mundo. E também as preparações estão sendo realizadas desde o ano anterior.

Sora levantou a mão para a cabeça e bagunçou os cabelos resmungando de raiva — Vou tentar, tá legal? Nem é por você, mas Aki também gosta dela.

— E eu não conto? — Kei se curvou para a frente indignada.

— Não, você gosta de todo mundo — Sora explicou —, não tem nenhum senso crítico sobre pessoas. Inclusive devia pedir para Chie alguns conselhos sobre essa parte.

— Certo — separei as duas que tentava, se acertar —, se querem se matar, façam isso sem eu estar no meio.

O time estava tendo diversas conversas paralelas, inclusive Dan e Chie, é uma atmosfera tranquila que envolvia o time. Por isso todos ficamos assustados quando Misaki de repente se levantou e saiu correndo, Emi gritou por ela, mas ninguém realmente entendeu. Virei o rosto lançando um olhar para Dan, esperava que nosso sangue compartilhado fizesse a mágica e fizesse ele entender.

— Emi, o que aconteceu? — Chie perguntou.

— Não sei treinadora, Misa estava sentada sem falar até agora.

Dan apoiou as mãos nos joelhos e se levantou — Vamos ver o que aconteceu, vocês pirralhas fiquem aqui mesmo.

Apesar de o rosto ter uma expressão debochada e leve, não condiziam com seus olhos, Chie disse que iria acompanhar e então os dois saíram para ver o que estava acontecendo.

— Vai ver ela passou mal — Keiko comentou levando os braços para atrás da cabeça — lembro de uma vez que aconteceu comigo. Resolvi comer os restos do dia anterior e fiquei bem mal.

— Bem mal é elogio — comentei me lembrando do fato —, você nem pode assistir as aulas porque estava ocupada demais no banheiro. No fim, seus pais tiveram que te buscar na escola.

— Ei, você foi a única pessoa que eu contei. Não saia espalhando meus segredos dessa maneira!

— Faz anos que isso aconteceu, sua idiota. E você que disse primeiro, só completei.

— Mesmo assim!

Graças a Keiko o foco do assunto mudou de atenção, passou um bom tempo até que Dan e Chie voltassem, sozinhos, disseram que Misaki havia passado mal e decidiu ir para casa. Claro que a desculpa não colou para mim, porém, seguimos o combinado, voltamos para a escola após ter nosso adversário decidido e tivemos um treino leve. Acompanhado de algumas estratégias que seriam usadas no dia seguinte.

Dispensamos as jogadoras e quando fiquei sozinha com a minha família questionei.

— O quão ruim é a situação da Misa?

Dan suspirou alto e girou a bola que tinha nas mãos — Caminhando para um ataque de pânico, ruim.

— Daniel — Chie o reprimiu —, não pode falar desse jeito.

— É minha irmã, ela entende.

Minha cunhada balançou a cabeça — É mais delicado do que parece [Nome], os pais de Misaki... Não estão tornando a situação fácil para ela, a exposição do torneio parece que só piorou.

Dan jogou a bola pra mim — Não parece estar surpresa.

Ergui os olhos devagar — Ainda sou uma pessoa perceptiva, sabia que estava acontecendo algo, mas não tenho direito de colocar uma definição no sentimento dos outros. Se Misa estivesse confortável para me falar, ela diria, mas imagino que nossa levantadora original não quer preocupar o time. 

Meu irmão concordou e se virou para Chie — Minha little one ainda está com as habilidades afiadas, eu disse que ela é boa com pessoas.

— Se está esperando eu te elogiar, pode esperar sentado. De qualquer forma, você precisa fazer uma decisão capitã.

— Não tem o que pensar, vamos deixar ela fora dos jogos até que queira voltar. Se Misaki não está bem para estar em quadra, não vamos a forçar a nada. Se ela quiser sair do clube, também não podemos interferir em sua decisão. Já fomos até o limite permitido de interferência, as decisões feitas a partir de agora, são delas.

— É impressionante como consegue falar com tanta firmeza, e chorar ao mesmo tempo.

— Cala a boca — Chie empurrou meu irmão para o lado —, obrigada por hoje capitã. Temos uma reunião com Hibiki-sensei e o técnico Yamiji.

Não consegui agradecer, ou sorrir, apenas sequei as lágrimas que encheram meus olhos e saí do ginásio. No vestiário peguei a bolsa e fechei a porta no mais completo silêncio. Os passos até a saída foram vagarosos, na tentativa de levar mais tempo.

— [Nome]!

Bati de frente com alguém.

— Kou!

O capitão do time masculino estava me segurando pelos ombros — Estava te chamando, mas não me ouviu. Espera, está chorando?!

Não é fácil ser a capitã da Fukurodani a todo instante, atingir as expectativas que os outros têm de mim, e também atingir as minhas próprias. No fundo, esqueço que também sou um ser humano.

Senti meu lábio tremer e então os sentimentos que estive mantendo em segundo plano, ganharam o holofote. Me sentia frustrada e chateada de ter tido a vaga roubada no acampamento nacional, arrancada sem poder fazer nada. A pressão dos sonhos e promessas realizadas quando formei o time, dos discursos e do planejamento, o peso nas minhas costas. Preocupação com as jogadoras, física e mentalmente, afinal somos amigas. Medo da incerteza do futuro, futuro esse que não sabia dizer se Koutarou faria parte ou não.

Passei os braços pela sua cintura e chorei. Sem me preocupar em perguntar o porquê ele estava ali em primeiro lugar.

— [Nome] o que aconteceu? Levou uma bronca ou algo do tipo? Quer que eu chame o treinador? Ou Koemi-nee é melhor?

Apesar de estar murmurando perguntas, Kou tinha a mãos em minha cabeça afagando os fios de uma maneira calmante. Tinha que chorar todo o possível agora, pois amanhã não teria essa chance.

— Desculpe, podemos fazer o caminho mais longo hoje?

O rapaz se afastou, as manchas do meu choro espalhadas pela sua camisa. Kou segurou meu rosto entre as mãos, e secou as lágrimas com os polegares. Dando um sorriso reconfortante em seguida.

— Claro que sim.






















N/A: Se eu chorei escrevendo, a resposta é sim.

Voltando aqui, horas depois, para lembra que eu escrevi uma One Shot  do Kageyama. Disponível no perfil para tods! Convido-vos a ler! :)

Obrigada por ler até aqui.

Até mais, Xx.

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