— Bom dia [Nome]! E Tom.

Kou estava me esperando na frente de casa para irmos à escola juntos, apesar de ser hoje o dia em que eles partiriam para o Colégio Shinzen, na prefeitura de Saitama, a fim de realizar o acampamento de uma semana do Grupo Fukurodani.

Pelo que eu sabia dos horários, eles iriam partir pouco depois do começo do nosso treino, então teríamos tempo o suficiente para conversar antes disso acontecer.

Meu irmão mais novo ainda estava um pouco sonolento, então além de ter a mão esquerda com os dedos entrelaçados aos de Bokuto, com a mão livre eu guiava Tom pelo ombro, impedindo dele ficar para trás.

Com o começo das aulas de aproximando, Thomas começou ficar um pouco ansioso. Apesar de conhecer alguns dos alunos do primeiro ano, como Amano-kun e Naoki nenhum deles estava em sua sala. Então a sensação de ficar deslocado tem o deixado para baixo.

Por esse motivo pedi um favor para o meu bom amigo Shuuya, para deixar que Tom participasse de alguns treinos antes das aulas começarem. Não eram oficiais, assim como nós eles tinham treinos livres, então não faria diferença. Meu irmão também já estava registrado como um aluno, então estava legalmente autorizado a visitar a Fukurodani.

— Ele está bem? — Kou perguntou se inclinando para frente, vendo que o mais novo encostou a cabeça no meu ombro enquanto parados aguardando o sinal para atravessar.

— Sim, só não é alguém que gosta de acordar cedo — respondi. — Kou, tenho uma curiosidade. Você disse sobre a dupla estranha da Karasuno, mas e o restante do time?

O sinal abriu e nós continuamos a andar. Ele colocou a mão livre embaixo do queixo e resmungou pensando.

— No geral é um time interessante. O capitão é muito bom na recepção, mas também ataca, então acaba cobrindo quando a rotação está desfavorável para o líbero. O melhor atacante deles é bem forte, conseguiu quebrar o bloqueio do Washio algumas vezes — disse. — Parece ser um bom time, mas ainda falta algo. Parece que eles ficam muito dependentes do ataque especial do levantador com o baixinho.

Ele continuou fazendo uma análise precisa e detalhada dos jogadores, também comentando sobre a gama de ataques que eles tinham. Algumas pessoas podem pensar que o Bokuto é um cabeça de vento, como Kuroo costuma o chamar, mas a realidade é bem diferente.

Sua personalidade solta, e simplista, causa a falsa impressão de ser um bobo quando, na verdade, Kou tem uma boa visão sobre quem está ao seu redor e também sobre suas próprias manias. Ainda que às vezes precise da ajuda de outros para voltar aos trilhos. Ele não gosta muito de estudar, mas com vôlei sua dedicação é bem diferente.

— Para um time que está almejando o nacional, ainda tem alguns ataques que eles precisam se aperfeiçoar. Poucos usam o saque viagem, é mais difícil conseguir um ponto se saque assim. — Kou parou de falar por um momento — O que foi?

— Nada, você fala bem. Fez uma ótima análise do time.

Suas orelhas ficaram vermelhas e ele virou o rosto — Só falei o que vi.

— Você tem uma boa capacidade de análise e percepção Kou — comentei balançando nossas mãos — todos no time tem. Mas acho que você é um pouco mais consciente do que acontece ao seu redor do que geralmente os outros acreditam.

— Porque eu tendo a me animar muito ou ficar muito para baixo, não deve passar a impressão que sou inteligente. Pelo menos para vôlei.

— Você é fantástico para muitas coisas, só uma matéria ou outra que precisa melhorar um pouco — brinquei —, como matemática.

— [Nome], não fala assim — respondeu envergonhado —, eu melhorei.

Encostei a cabeça em seu ombro ainda rindo.

Não muito depois chegamos a escola, foi só então que Tom pareceu despertar da sua sonolência, alguns dos garotos do clube já estavam por ali então acabamos por parar próximos ao estacionamento.

— Parece radiante Konoha — falei assim que nos aproximamos do grupo.

— É claro Capitã, nós vamos para Shinzen e treinador Dan vai ficar aqui com vocês.

— Sorte sua que ele não ouviu, caso contrário você estaria com problemas — afirmei —, mas suponho que seja difícil mesmo. Também ficamos assim no primeiro ano.

O loiro fez uma careta — Oe, oe, oe, o que quer dizer?

— Que a estamina de vocês é pior que a nossa — nossos olhares se chocaram —, com uma semana ficaram reclamando. Imagina como seria se fossem os três anos?

— Também treinamos com ele todo esse tempo, foi só uma carga diferente — tentou se explicar. — Por isso ficamos mais cansados.

— Se é o que você diz — balancei a mão achando engraçada a sua reação. — Devíamos apostar e fazer um circuito entre os terceiranistas. Faz tempo que não apostamos nada.

— É verdade — Saru completou —, mas o que vamos apostar? Já apostamos de tudo praticamente, desde comida a carregar bolsas.

— Isso é verdade.

— E se for um pedido? — Komi levantou o indicador. — Algo que o outro time pode pedir para fazer.

De alguma forma isso me lembrou a dívida que Dan que perdurou por mais de um ano, e sabendo que alguns deles podiam ser tão malvados quanto eu, não respondi de imediato.

— Não sei se confio em vocês para isso — apoiei a bochecha do braço de Kou — podem pedir qualquer coisa.

— Ei, não é assim. Temos bom senso — o líbero fez uma careta.

— Vou falar com as garotas, depois que voltarem do acampamento decidimos — vi que um pouco longo os meninos do futebol começaram a passar. Shuuya já devia estar por ali. Tom olhou para mim fazendo um pedido com os olhos.

— Bom, eu preciso ir, tenho que ajudar meu irmãozinho com algo. Então desejo um bom treino para vocês. Kaori e Yukie vão anotar os jogos, então não adianta mentir quem ganhou mais sets.

— Como se precisássemos disso — Konoha respondeu com um sorriso confiante.

— Esse é o espirito, se alguma das meninas aparecerem por aqui digam que eu vou pro ginásio depois.

— Pode deixar — Komi-yan prestou continência —, fique perto do celular esses dias. Nunca se sabe o que pode acontecer, podemos precisar de uma dose de incentivo.

Olhei para os meus pés por um momento, sabendo que o aviso era caso algo acontecesse com o capitão. Fiz um sinal que sim e então me virei para Kou.

— Diga para Akaashi que desejei um bom treino, e não exagere nos treinos só porque vai dormir lá, nem todo mundo quer treinar sem parar igual você — levantei a mão para o seu rosto e então ergui os pés para alcançar sua bochecha, deixando um beijo estalado nela.

Primeiro teve a surpresa do gesto e então as galáxias inteiras brilhando dentro dos seus olhos.

— Te vejo em uma semana.

Koutarou resmungou afirmativamente e deixou a testa encostar na minha, passando os braços pela minha cintura, em seguida me dando um abraço apertado. Bati nas mãos dos meus colegas terceiranistas desejando uma boa viagem e então coloquei o braço sobre os ombros de Tom o guiando em direção ao campo de futebol.

— Não sei que hora termina o treino deles, então se acabar antes do nosso pode vir por ginásio.

— Tá, mas tem certeza que não tem problema?

— Sim, o próprio capitão disse que não tinha problema. Não posso garantir a boa comunicação, mas tenho certeza que você consegue se virar. Se estava com dúvida de vir, teria dito isso antes de sair de casa. Então coloque alguma confiança nesses seus ossos.

Baguncei seus cabelos claro. Cheguei na lateral do campo e localizei Shuuya, alguém do time que conversava com ele me viu e avisou. Logo o capitão correu na nossa direção.

— Bom dia, Shuuya-kun.

— E aí [Nome], você deve ser o Thomas?

— Sim, obrigado por me receber. — meu irmão apertou a mão estendida do mais velho.

Considerando que ele falou com meu irmão em inglês, supus estar tudo bem e então deixei o mais novo aos cuidados do meu novo amigo e refiz o caminho em direção ao vestiário do time. Contudo, parece que hoje era um dia para encontros.

Quando passei perto da piscina, encontrei alguém que não vi desde a última reunião de clubes com o diretor da escola.

— Satoru — o cumprimentei, não teria nem como o evitar visto que praticamente trombamos de frente.

— Que incomum ver você passando por aqui — o garoto comentou fixando os olhos nos meus.

— Fui fazer uma visita ao time de futebol, estou voltando para o meu ginásio agora — respondi com simpatia. Afinal, nossas questões ficaram no ano passado — Está treinando?

— Pensando, é um termo melhor. As coisas não estão muito boas por aqui — confessou mesmo sem eu pedir. — Sei que é estranho, mas será que pode me emprestar um pouco do seu tempo?

Teria que me virar com Dan depois, mas no momento achei que valia a pena escutar o que ele queria. Subi as escadas que levavam para a piscina e então ele indicou para me sentar ao seu lado na arquibancada, tirei a bolsa, coloquei entre nós e aguardei ele fazer o mesmo e começar a falar.

Enquanto isso tentei lembrar de alguma informação, geralmente Emi mantinha um registro de tudo que estava acontecendo na escola, visto que algumas das garotas em sua sala faziam parte do clube responsável pelos boletins escolares. Em relação a resultados não acho que a primeira competição deles foi tão ruim, conquistaram o terceiro lugar, mas foi isso.

Olhei para as águas calmas da piscina por um momento, assim como eu, Satoru colocou a bolsa do seu lado e se sentou.

— Então, o que está acontecendo — questionei —, se tivesse que dar um palpite, diria que parece desmotivado.

— Como sempre você está certa. Depois de tudo que aconteceu ano passado, o time me colocando como capitão sem ter muita escolha e os recentes resultados... Realmente estou desmotivado, com tudo, inclusive com o esporte que pratico.

— Até onde sei tiveram resultado descendentes na competição que participaram.

— Mas não foi o que planejamos.

Uma risada seca deixou a minha boca, dobrei as pernas as abraçando contra o corpo — Se tudo que planejei para o time tivesse acontecido, seríamos tri-campeãs nacionais. Não importa o quanto a gente planeje, as outras escolas estão fazendo o mesmo, no fim somos dezenas de pessoas lutando para conquistar o mesmo.

Fiz uma pausa — Está pensando em desistir só porque está numa fase ruim?

Pelo canto de olho vi seus ombros levantarem, e então parece que a ficha de realidade dele caiu. Não posso realmente o julgar, às vezes precisamos de alguém para falar uma coisa óbvia.

— Se ser o capitão te deixa desconfortável, passe a posição para outro. Se não quer mais praticar, pare. As coisas são simples quando seus desejos estão definidos, você só está sofrendo porque não sabe o que quer de verdade.

— Eu estava pronto para levar uma bronca, mas sinto como se tivesse levado um soco na cara.

Ele se levantou e andou até a lateral da piscina — Não quero realmente parar, mas ter ficado a baixo das metas me fez questionar se estou certo em dedicar tanto tempo a algo que provavelmente não vai fazer tanta diferença assim.

— Nenhum de nós sabe o que acontece no futuro, oportunidade chega para aqueles que estão preparados. Se você gosta, nenhum momento é perdido. Então o antigo capitão estava por aqui, você era mais confiante e também um pouco babaca.

Ele riu alto com o meu comentário, mas não negou.

— Essa postura de derrotado não combina com você — me levantei também —, se precisa de alguém alimentando seu ego é só olhar o que escrevem no boletim da escola.

— Sobre isso deve entender, já que está saindo em matérias quase regularmente — uma provocação ácida, mas melhor do que a cara de cachorro molhado de antes.

— Fazer o que se é a minha realidade — dei de ombros, não é porque eu realmente queria isso. Faz parte do plano maior do Makoto. — Me deixe perguntar algo, por que você resolveu fazer natação?

Satoru se virou, abaixou a cabeça e deu um sorriso triste — Porque era divertido.

Um súbito desejo surgiu dentro de mim — Você está com seu celular aí?

Confuso o garoto apalpou os bolsos e tirou o aparelho, pedi com a mão para que me entregasse e assim que ele o fez, atendi a minha vontade. O empurrão de surpresa fez com que ele caísse na piscina vestido com o uniforme completo, logo em seguida ele surgiu balançando a cabeça e então jogando a água dos cabelos para o lado.

— Ainda é divertido, você provavelmente se esqueceu disso, está focado demais em só conseguir resultados. Brinque um pouco na água e então volte a pensar no que fará da vida.

Andei de volta para arquibancada e deixei o celular em cima da bolsa dele — E desculpe pelo empurrão, só achei uma boa oportunidade de provar um ponto.

Uma gargalhada e então ele se deitou boiar na superfície das águas cristalinas — É um exemplo do que você disse de ter os desejos bem definidos?

— Também. — peguei minha bolsa colocando a alça no ombro. — Não sei se é o tipo de conversa que queria, mas espero ter ajudado.

— Com certeza ajudou — ele voltou a afundar e pegou um certo impulso para sair da piscina —, obrigado.

Se o fã clube dele o visse agora com certeza uma boa parte dele iria colapsar, mas com o sol inteiro para mim, não tinha motivos para eu olhar para o mar.

Acenei uma última vez e andei calmamente até o vestiário, para então seguir para o ginásio onde o treino já havia começado. Como esperado, a aura sombria de Dan estava mais intensa do que nunca, e as jogadoras todas se viraram quando eu apareci. Keiko até fez um sinal para mim que encarei como um desejo de boa sorte.

— O quão ferrada estou?

— Depende do quão boa será a sua desculpa — Daniel respondeu cruzando os braços.

— Deixei Tom no treino com Shuuya, e então fui ajudar um peixe voltar para água — levantei os braços me alongando —, parece boa o suficiente para você?

Dan fez uma careta confusa, e então pareceu deixar passar — Se aqueça logo, está cinco voltas atrás do restante. Nós dois vamos fazer um jogo e ver o quanto o trabalho de Chie fez vocês melhorarem.

— Nós? — perguntei — Nós em que sentido?

— Eu, Chie, e vocês. Já faz um tempo desde que jogamos um contra o outro, será uma boa oportunidade de ver a evolução de dentro da quadra.

Essa informação me pegou de surpresa, mas também me deixou animada.

Parece que os dias até as eliminatórias do torneio de primavera serão bem interessantes.

N/A: E lá vamos nós! Não ia colocar um novo comfronto desse, mas como precisa sincronizar com CF até que calhou bem. Vamos de esquenta para os jogos.

Tem também esse extra aqui, eu desenhei já faz umas semanas mas eu amei muito.

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!