Folga




Surpreendentemente, depois que conquistamos a primeira vaga para o nacional de primavera, nossa vida pareceu virar de cabeça para baixo. A ação desportiva de Mahiru chamou muita atenção do público geral e isso acabou gerando a brecha que Makoto estava esperando para derrubar o esquema fraudulento do pai dela e da sua empresa.

A empresa repentinamente emitiu uma nota que deixaria o posto de patrocinadora do esporte feminino, devido a investigações e uma denúncia de manipulação. O técnico Zayasu, que esteve envolvido na última parte do processo de reunir provas, também veio a público garantir que isso não afetaria a integridade do esporte e que já havia conversas para outros patrocinadores assumirem o compromisso e apoiarem o crescimento do vôlei feminino em nível nacional.

Iizuna que esteve servindo de informante do lado da Itachiyama disse que a capitã sequer voltou para o ginásio no primeiro treino depois da eliminação, o time jogou o segundo jogo apenas por jogar pelo que soube.

Honestamente eu fiquei com pena do time, não sei qual o percentual de culpa delas, mas acredito que algumas deveriam estar ali realmente pelo esporte, o que acontece é que acabaram caindo nos esquemas de Mahiru. É diferente de quando eu saí da quadra sendo dispensável, mais próximo de quando tive o acidente no primeiro ano.

— Vai sair fumaça da sua cabeça se continuar pensando assim.

— Não estou pensando nada de mais — respondi Sora ainda olhando pela janela da sala de aula. — Apenas recapitulando tudo que aconteceu.

— Certo — minha amiga virou —, deve ser difícil aceitar a fama. Fiquei sabendo que até pediram fotos com você.

Balancei a cabeça negando — O irmão de Aki estava no jogo e pediu uma foto, uma criança familiar do nosso time. Apenas isso, não tem nada de fama.

A central fez uma careta e apoiou o rosto na mão resmungando — Sei, me faça acreditar nisso mesmo, aqueles pirralhos da Karasuno até te mandaram mensagens.

— Via Koutarou, e você não recebeu cumprimentos também, sua amargurada? — estiquei a mão para puxar sua orelha. — Também estava na matéria do Makoto, Saki me disse que seu pai fez uma festa.

Nesse momento Sora parou de se debater e segurou meu pulso, seu rosto ficando vermelho — Saki? Desde quando você conversa com a minha irmã pelas minhas costas.

Deixei um sorriso maldoso distorcer minha boca — Oh pobre Sora, nem imagina o que sei de você. Todos os segredos obscuros, do golfinho de quando era bebê que fica na cabeceira da cama, até sua obsessão por águas-vivas.

Minha vice-capitã tapou a minha boca — Ah droga, cala a boca idiota! Foi só uma fase.

Puxei a mão dela — Engraçado, eu lembro de você usar um pijama de água viva num dos nossos acampamentos. Quantos anos essa fase está durando?

Agora ela se levantou para tentar me acertar, mas eu me joguei para trás — Washio socorro, estou sofrendo uma tentativa de assassinato. É um golpe!

O garoto apenas sorriu e manteve os braços cruzados sobre a carteira — Bom saber que vocês estão enérgicas assim logo de manhã.

Deitei a cabeça na carteira dele ainda afastando as mãos de Sora de mim — Por que não estaríamos? Ganhamos dias de folga, sabe o que é isso? Dias sem treinar.

Washio olhou para mim com a cara confusa — E o treinador Dan deixou?

Sora enfim desistiu de tentar me bater e voltou a se sentar virada para trás — Deixou desde que assinássemos um juramento que não iríamos exagerar. Temos uma rotina pequena de aeróbicos para cumprir, mas fora isso estamos o mais perto de livre que se pode estar.

— Oh, isso é surpreendente.

— Surpreendente são todas as tabelas que ele tem com nossos pesos, alturas, alcance de pulo — continuou a vice-capitã —, sério. Ele parece um maníaco, nem sei se vamos precisar tirar medidas para o nacional, capaz dele só passar os dados da tabela.

Fechei os olhos e respondi — Duvido, ele vai usar esse momento para atualizar os dados, e se não tivermos cuidado, é capaz de fazer a gente correr um circuito de novo.

Dessa vez os dois reclamaram, Washio também era uma vítima dos treinos de Dan ainda que menos. — A propósito — abri os olhos e voltei a me sentar virando para o garoto.

— Vocês estão treinando normal?

— Sim — respondeu —, não pegamos a vaga invictos igual um outro time poderoso feminino por aí. A maioria sente que precisa trabalhar para atender as mesmas expectativas que vocês, então estamos treinando.

Quando comecei na Fukurodani nunca teria imaginado que um dia os garotos precisariam se esforçar para se manter no mesmo nível que nós, e que talvez nosso reconhecimento estivesse maior que o deles pela história construída.

— Boa sorte — Sora se virou —, vou dormir a tarde inteira.

— Sonhe com águas vivas — brinquei recebendo um sinal de mãos não muito amigável.

As aulas passaram rapidamente, no intervalo todos nos juntamos como de costume, roubando comida um dos outros e aproveitando o momento de descontração. Diferente das garotas, eu não tinha muito o que fazer em casa, uma vez que Tom estaria na escola e meus pais voltavam no fim da tarde. Então mesmo sem ter treino, resolvi ir para a quadra dos garotos, não para participar ou algo do tipo, dessa vez apenas como espectadora.

— Tem certeza que não vai jogar? Nem um pouco? — Kou perguntou enquanto estávamos andando em direção à quadra juntos.

— Não, só vou chegar perto de uma bola de vôlei se ela ameaçar bater no meu rosto — respondi rindo. — Só não quero voltar para a minha casa e ficar sozinha, fora isso, ainda estou de folga.

Koutarou pareceu ficar triste pelo fato de eu me recusar entrar em quadra, então peguei sua mão apertando enquanto caminhávamos pelo restante do caminho até o ginásio deles.

— Pense que estou na arquibancada assistindo você jogar, pode me mostrar todos seus ataques legais. Posso até filmar e mandar para o Hinata tenho certeza que ele vai gostar de ver.

— Ah! Então eu quero, não tire os olhos de mim [Nome].

Soltei sua mão e me apoiei nos seus ombros tomando impulso, imediatamente Kou segurou minhas pernas me mantendo em suas costas. Abracei seu pescoço deixando um beijo estalado ali — Alguma vez eu deixei de olhar?

Suas orelhas ficaram vermelhas, mas consegui ver o sorriso em seu rosto enquanto ele continuava andando e me carregando.

Com a pressão da etapa de Tóquio longe de nós, até começarmos o Torneio de Primavera eu iria me permitir ser apenas uma garota. Sem discursos, sem pensamentos extremamente complicados, sem responsabilidades comigo ou com outras pessoas. Me perderia um pouco nas bobeiras da vida antes de voltar para o campo de batalha e conquistar meu objetivo.

Kou subiu os degraus do ginásio comigo nas costas.

— Capitã? O que está fazendo aqui? — Konoha perguntou.

Minha carona abaixou me colocando no chão.

— Porque essa cara de medo loiro? — questionei — Estou sozinha, só vim acompanhar o treino, só troquei de uniforme porque está frio.

— Wah, é até estranho que [Nome] venha aqui e não treine — Saku girou a bola na mão. — Quando foi a última vez que você fez isso?

— Provavelmente quando estava machucada — balancei os braços olhando ao redor e acenando para os técnicos que estavam um pouco distantes da entrada. — O que estão treinando hoje?

— Formações e saques — respondeu —, já que na nossa partida com a Itachiyama alguém acabou se enrolando.

— Ei, já me desculpei, estou treinando para melhorar! — Kou gritou em resposta.

Bati nas costas do capitão o empurrando para o treino — Certo, certo, continuei treinando então. Me digam se querem que eu olhe algo em especial, um olhar de fora pode ajudar.

— Pode deixar — Komi prestou continência.

Realmente não fiz muito enquanto ficava ali, conversei um tempo com as gerentes, cumpri a minha promessa de filmar alguns lances de Kou, e também renovei minha galeria de fotos dele. Assisti o treino sem preocupações, alguns deles ocasionalmente se sentavam ao meu lado e perguntavam algo. Ou apenas aproveitavam para descansar ao meu lado, Akaashi em especial parecia querer saber mais sobre saques, então num momento de pausa compartilhei com o levantador o treino que Chie havia feito comigo e algumas dicas a mais.

No fim até mesmo ajudei a distribuir toalhas e garrafas para os garotos, Tom ainda devia estar terminando o treino quando chegamos na saída da escola, então ficamos esperando meu irmão num banco. Eu estava de pé, entre as pernas de Koutarou que estava sentado com a cabeça apoiada na minha barriga aproveitando enquanto passava a mão pelos seus cabelos.

— Minhas irmãs querem encontrar com você — ele disse —, devíamos sair juntos um dia.

Fiquei em silêncio num primeiro momento, nosso último encontro não foi exatamente agradável.

— Claro, porque não. Existe algum lugar que elas gostam?

— Shopping — respondeu levantando a cabeça —, mesmo que queiram fazer coisas separadas, lá tem tudo.

Acariciei seu rosto admirando que o sorriso em sua boca também estava refletido em seus olhos. Abaixei a cabeça deixando nossos lábios se encostarem, senti suas mãos pousarem na lateral das minhas pernas quando aprofundei o beijo me deixando intoxicar pelo seu gosto.

Ei, vocês — escutei um grito e em seguida algo bater na minha perna, sorri contra os lábios do capitão, reconhecendo a voz de Tom. — Parem com isso antes de eu chegar perto o suficiente para ver.

O loiro andava na nossa direção com uma das mãos sobre os olhos, nos meus pés estava a sua bola de futebol.

— Certo, certo — anunciei — já paramos.

Thomas fez uma careta e abaixou para pegar a bola, respondendo em seguida — O que aconteceu com "são apenas mãos dadas".

Baguncei os fios dourados na sua cabeça e pisquei para ele de uma forma divertida — Quando você está vendo, Little Bro.











N/A: Obrigada por ler até aqui!!

Até mais, Xx!!

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