Aliança Esparta-Atena
Se eu soubesse que o treino de hoje seria um set em conjunto com nossos treinadores, não teria gasto tanto tempo com Shuuya, ou Satoru. Enquanto os grupos eram escolhidos, eu ainda estava terminando as minhas voltas na quadra em forma de aquecimento. Logo não tinha direito de comentar sobre o time que iria jogar.
Vagamente escutei a seleção, não tendo certeza sobre o que foi escolhido, dei os últimos passos da corrida e coloquei as mãos na cintura enquanto andava devagar em direção ao grupo, olhando para o quadro e as separações atentamente.
— Nunca joguei contra o Dan sério assim, essa será uma experiência nova — comentei vendo que eu estava no time de Chie. Junto comigo estavam, Sayuri, Aki, Aya, em suas respectivas posições, Yumi faria o teste como central ao invés de ponta e eu dividiria com Chie no ataque. A maior diferença está em Naoki que entrou no lugar que normalmente seria de Misaki.
A levantadora original, continua frequentando os treinos, mas não tem perspectivas de participar de jogos tão cedo. Não podemos deixar a dependência em Chiasa, então a novata tem tido mais espaço em treinos do que o usual.
— Esse será um massacre novo — meu irmão corrigiu com um sorriso —, me pergunto o que a toda poderosa Atena irá fazer quando lidar com essa linha aqui.
Ele apontou para três nomes, os três meio de redes, Sora, Keiko e o próprio treinador Esparta.
— Pode perguntar, só não vai ter uma resposta — Chie rebateu guiando o time para o outro lado —, vinte minutos para discutir uma estratégia.
— Quinze.
— Vinte — Chie manteve o tom de voz — uma das minhas jogadoras ainda está descansando.
O mais velho revirou os olhos e balançou a mão pedindo para Amano-kun cronometrar o tempo. Recuamos para um dos cantos do ginásio, na frente de Dan a treinadora não se deixou abalar, mas quando reunidas em grupo as coisas mudaram um, pouco. Pude ver nos seus olhos a incerteza. Tanto na defesa quanto no ataque as jogadoras eram excepcionais. Estamos com três atacantes de qualidade, contudo, existe uma falha clara defensivamente. Sem contar que essas três precisaria passar por um bloqueio potencialmente problemático.
Tombei a cabeça para o lado e levantei a mão para a nuca ajeitando os fios soltos — Vamos precisar de um ótimo direcionamento, não será fácil lidar com eles.
— Mas não é impossível, com exceção de Chizue a maioria deles inflama emocionalmente fácil. Emi tem os reflexos, os outros nem tanto. A confiança deles vai deixar as aberturas — comentou a mais velha olhando para o outro lado. — Tenho certeza que o bloqueio vai subir muitas vezes, tentem usar mais block-out do que o de costume. Fitas também.
— Sayu você pode ficar no controle do tempo da defesa, Naoki e eu também podemos ajudar a segurar se for necessário. Aya e [Nome] ficam de olho nos buracos de recepção, coloquem a bola para cima, daremos um jeito de continuar.
Durante os vinte minutos treinadora Atena não parou de falar um único momento, isso porque estava nas regras que durante o jogo nenhum dos treinadores poderiam dizer nada. Como na primeira vez que nos enfrentamos deviam seguir as orientações dos capitães.
Coloquei a mão na frente do corpo e juntas jogamos ela para baixo, prestei atenção no time adversário para tentar ver quem seria aquele dando as orientações.
Sora não é uma boa atriz, então quando ela começou falar mais alto do que o normal soube que estava fingindo. Keiko não seria, apesar de ser uma ótima jogadora, seu foco tende a ficar única e exclusivamente no bloqueio. Isso limitou minhas opções a Chiasa, Hana e Chizue. Tomei meu lugar no fundo da quadra, eles começariam com o saque enquanto iriamos fazer a recepção.
Foi por um momento, mas o desvio que Chizue deu para o chão quando a encarei, delatou que era a capitã escolhida naquele momento. Virei a cabeça para olhar as outras jogadoras e Dan, era uma boa escolha considerando a personalidade calma da segundanista, ela conseguiria colocar os sentimentos do grupo em ordem caso o ritmo começasse a acelerar.
Eu começaria na frente enquanto Aya estava no fundo, o outro lado o saque mais perigoso estava na mão de Hana, mas nesse momento da rotação eu provavelmente estaria na linha de trás.
O saque veio, mas a recepção foi sólida, Naoki se posicionou, sua forma era boa, só dava para saber para onde seria o levantamento no momento que ele acontecesse. Comigo ao seu lado, fazer um rápido foi a melhor opção para começar.
— [Nome], boa cortada!
Keiko chegou a reagir a tempo, mas a mudança na força do toque fez a bola bater no seu braço e então cair no chão.
Naoki foi para o saque, ela também tinha um bom arsenal apesar de não ser tão forte quando o meu ou de Hana. Emi foi quem recebeu dando sequência no ataque, o corte veio pelo meio, nas mãos de Sora, mas antes mesmo do corte ser feito, Aya já estava em posição para fazer a recepção. Aki pediu a bola tentando fazer um ataque da parte de trás, mas ele foi interceptado por um treinador Esparta muito mais animado do que ele deveria estar.
— Tudo bem, vamos recuperar.
O jogo como o esperado estava arrastado, muitos dos pontos ao nosso favor foram marcados a partir de erros. O set parecia estar se fechando em vantagem as adversárias, nos abalando completamente devido à defesa ridícula que eles montaram. Nossas jogadas não estavam ruins, é só que no momento o outro lado da rede estava melhor.
Na terceira rotação fui para o saque, então chegou o momento de ganhar algum respiro. Girei a cabeça lentamente, soltei os ombros, girei a bola nas mãos e assim que pisei na linha me virei. O time inteiro estava tenso, provavelmente tentando fazer uma previsão de que tipo de saque que eu iria fazer.
Não consegui evitar o sorriso de puxar os cantos da minha boca. O apito soou, bati a bola duas vezes no chão e então fiz o meu saque. Com a mão esquerda. Emi sabia as minhas particularidades, mas provavelmente não estava esperando que eu o usasse logo na primeira jogada. O ponto foi ganho do desvio na rotação.
Inevitavelmente o time adversário se deslocou para se organizar me usando de referência, foi nesse momento que usei de toda a minha força e habilidade para conseguir um ace, Emi recebeu, mas precisou usar o peso do corpo para compensar e nisso a bola voltou para nós livremente. Fiz o primeiro passe para Naoki e em seguida avancei para o ataque de fundo, como Aki havia feito antes, minha diferença foi que a bola estourou no bloqueio e voou a ponto de bater na parede atrás do time.
Keiko voltou para o chão segurando o pulso e balançando a mão, fazendo uma careta de desgosto na minha direção.
— Conseguimos uma vantagem, vamos respirar e seguir com calma — disse para o time quando comemoramos o ponto.
A partida pareceu ficar mais fluida, contudo isso não significa que ficou mais fácil. A questão é que a sensação de sufocamento se foi e então tudo pareceu mais igualado, o placar estava se acompanhando e quando menos percebemos já estávamos nos 20 pontos.
— Aki, cobre — Chie pediu depois de uma recepção torta.
— [Nome]!
Finquei os pés no chão, joguei os braços para trás e então com um impulso pulei, o giro veio do braço direito aproveitando a falha no bloqueio preparado para um ataque canhoto. A paralela foi no canto da quadra pegando no ângulo do retângulo da linha lateral e do fundo.
— Que ataque nojento — Sora reclamou.
— Cada uma luta com as habilidades que tem — provoquei de volta — feche os braços na próxima vez. Peneira Matsumura.
A vice-capitã oficial ajeitou os manguitos na mesma intensidade em que seus olhos miraram os meus. Ela estaria soltando raios por eles se fosse possível. Bati a mão com a da primeira anista elogiando o seu levantamento, em seguida olhando para o placar.
Empatados 23 a 23.
Chie foi para o saque, ao contrário do que imaginei, tanto ela quando Dan fizeram menos jogadas chamativas do que o esperado. Apesar que meu irmão roubou alguns pontos de bloqueio para ele durante o set. Ambos pareciam estar realmente observando as jogadoras, ignorando os conceitos julgados como certo ou errado dentro da partida.
Aki foi para o saque e eu apoiei as mãos no joelho me curvando para frente, nas últimas jogadas Chiasa pareceu evitar levantar para a gêmea. Isso me incomodou, então passei a prestar mais atenção em seus movimentos.
Se eu tivesse que pensar numa possível substituta direta para minha na posição, seria Chizue. Além da força, ela tinha uma técnica sólida que a colocava entre as melhores do time mesmo sendo do segundo ano. O não uso das suas habilidades me fez pensar estarem planejando algo. Isso se confirmou no próximo contra-ataque, foi a primeira vez que vi minha companheira de rede correr para fazer um ataque aberto. Sayu acertou no tempo do bloqueio, mas a bola que bateu com força voou. Teria sido um exímio ponto, se eu não tivesse passado uma boa parte de todos esses anos me especializando na defesa.
Assim que fiz a recepção, vi do outro lado da rede a sua reação. Surpresa, mas também admiração. O ataque foi rápido, mas foi bloqueado pelo outro lado, dessa vez Aya que fez a recepção me dando tempo para conseguir avançar. Mas não foi o suficiente para marcar ainda.
— Aya recua, mas não muito, fique preparada para um block-out — dei a instrução, vendo que era a nossa rotação mais forte no bloqueio.
O corte veio pela mão de Hana, sei que quando ela quer marcar tende a usar seu melhor ataque, que é um cruzado, então novamente a recepção foi feita. Aki conseguiu o ponto usando uma finta aproveitando a situação.
Nosso time se conhece, então elas sabem que quando os momentos ficam difíceis, eu tendo a tomar a liderar, é quando se preparam para os ataques fortes e deixam a frente aberta. Apesar de todas as expectativas dizerem que não, o set acabou na nossa mão.
— Bom trabalho capitã — Chie colocou a mão no meu ombro, o sorriso no rosto não mentindo a satisfação. — Tirem alguns minutos para descansar, vamos discutir o que observamos em seguida.
Amano-kun entregou toalhas e garrafas, sequei o rosto e me sentei ao lado de Chizue na arquibancada.
— Foi um bom ataque no final, mas a montagem para ele foi arranjada demais. Esperou uma condição perfeita, sabia que estava planejando algo quando recuou dos ataques.
A luz pareceu acender em sua cabeça e então ela se virou para mim — Obrigada pela orientação capitã.
— Por mais que eu odeie admitir [Nome] está certa — Dan e sua melhor amiga lousa branca parou quase na nossa frente —, tínhamos ao melhor time. Só que o outro tinha uma peça que foi fundamental nesse resultado atípico.
Apoiei o rosto na mão — Não fique amargurado treinador.
Dan tirou a toalha do pescoço, enrolou e tacou na minha direção — Quieta pirralha, você é a causa de tudo isso.
— Sou? — sorri em retorno — Como posso ter feito algo?
Treinador Esparta revirou os olhos e começou a escrever — Tem uma pessoa nesse ginásio que conhece cada trejeito, cada ação e cada movimentação das jogadoras. E é essa idiota aqui — ele apontou para mim. — Estamos jogando entre conhecidos, temos manias de fácil identificação.
— O que [Nome] fez durante a partida foi quebrar a expectativa que vocês tinham dela — Chie continuou me usando de exemplo. — Como usar o saque de esquerda numa primeira jogada, ou recuar num momento de dificuldade, quando o esperado é diferente. Durante esse tempo que treinamos sem a presença de Dan, focamos no mental, já deu para ver algumas diferenças. Contudo, a aplicação dela continua um pouco travada, precisa ser feito de maneira mais natural.
— Como a jogada combinada da Chiasa e da pequena gênio — Sora apontou — o aberto pela direita.
— Exatamente — Dan disse. — Do mesmo jeito que [Nome] consegue ler o time, outros adversários também podem conseguir. Tenho certeza que vocês viram algumas pessoas parecidas com ela no acampamento nacional. Só que não podemos simplesmente fazer jogadas desordenadas só porque os adversários conhecem nossos ataques.
— Fica um pouco confuso quando fala assim general Esparta — Keiko levantou os dedos —, não vamos mudar o estilo, mas também os adversários já nos conhecem. O que faremos, então? Me perdi.
— Aumentar e adaptar. Sei que Chie andou treinando alguns movimentos novos, mas até onde sei, com exceção de Chizue, não vimos nenhum deles na partida. Entendo o medo de usar algo quando não está aperfeiçoado, mas se não usarem isso em treino, onde vão usar?
O tom de voz foi normal, mas acredito que pesou mais do que qualquer tom de bronca.
— Se deixaram levar pela rivalidade, ignorando as habilidades novas e imperfeitas para lutar com o que estão mais confortáveis. — treinadora Atena deu o veredito final.
Dan listou todos os ataques que treinamos em sua ausência, provando que mesmo longe sabia exatamente o que estava acontecendo em quadra. Ele diz que eu sou peculiar por conseguir ler as pessoas, mas, na verdade, meu irmão não é muito diferente.
— Vamos passar por todos esses ataques novamente até o fim do treino. E depois faremos outro jogo, os usando em situação real o máximo possível. Entendido?
O time concordou e foi exatamente o que fizemos, no outro set jogado depois de algumas horas de trabalho. O ritmo foi muito diferente e o time de Dan levou a melhor ganhando apesar da minha exímia leitura de movimentos, e assim mais um dia de treino foi finalizado.
Após organizar o ginásio, e me despedir das garotas guiei Dan e Chie para o treino do clube de futebol. Onde Tom ainda parecia estar jogando, a pequena parcela da nossa família se sentou na lateral esperando o caçula terminar suas atividades com tranquilidade.
— Como está sua perna? — Dan perguntou tentando puxar assunto.
— Bem, como deveria estar — respondi me deitando na arquibancada do campo. Parte dela estava debaixo de uma sequência de árvores altas que faziam sombra. Apesar de ser verão, apenas de estar na sombra já fazia diferença. — Faz muito tempo que não tenho dores, pelo menos não na perna.
— Oe, está treinando com alguma coisa doendo?
— Não — corrigi antes dele começar a reclamar —, mas quando uso muitos ataques de força sinto meus ombros pesarem. É por isso que você coloca fitas de kinesio quando preciso.
Dan respirou alto — Prometa que vai me dizer quando sentir qualquer tipo de dor pirralha.
— Já passei da fase de esconder — disse e fechei os olhos —, não é como se eu fosse extremamente necessária em quadra agora. Posso até descansar de um set ou outro que sei que o time vai se virar.
Nesse momento senti um punhado de fios de cabelos sendo puxados.
— Você é a capitã, é necessária, mesmo que esteja no banco. Não fale uma besteira como essa quando por enquanto é o centro do time — Dan disse —, arrastou todo mundo para essa saga. Não adianta tentar desistir agora, principalmente depois de todos os discursos.
Afastei sua mão com um tapa — Estranho falar isso quando treinamos para tirar qualquer dependência de jogador do time.
— Dependência técnica — explicou —, moral é outra coisa. Só deixo você descansar depois de uma partida de cinco sets. Até lá vou fazer você jogar o máximo que der.
— Até que você sabe incentivar — Chie entrou no meio da conversa —, considerando que a única partida de 5 sets é a final do Torneio de Primavera. Mesmo as eliminatórias ficam com no máximo três.
Me sentei escutando o apito soar do treino de futebol — E é o único caminho possível, não só pelo que o Dan disse. Mas tenho uma promessa a cumprir.
— Ah — Dan exclamou desinteressado —, é aquela baboseira de namorar o Koutarou só depois que o torneio acabar?
Pressionei os lábios juntos e baixei a cabeça olhando para os pés — Na verdade, eu estava pensando na promessa feita com a capitã da Academia Meisen, que esteve com Sora no nacional. Não sabia que estava tão interessado na minha vida amorosa assim.
Dan ficou quieto por um momento — Ele é um bom garoto.
Levantei uma sobrancelha — Se está tentando dar sua aprovação, está um pouco tarde para isso. Não que faça muita diferença, já que o namorado será meu.
— Não dá para ter uma conversa séria com você — reclamou.
— Dá sim — coloquei a bolsa no ombro e levantei — temos muitas conversas sérias. Só não sobre a minha vida amorosa, ou vai tentar me dar uma palavra de como bebês nascem de novo?
A gargalhada de Chie ecoou com certo deboche — Mentira que ele fez isso?
— Com certeza fez — desci o degrau deixando para os dois terminarem a conversa. Não tinha nenhuma intenção de reviver aquele momento embaraçoso.
Voltando a atenção para o meu outro irmão, a felicidade em seu rosto era explícita, estava completamente suado. Tinha grama presa em suas vestes, as bochechas estavam vermelhas e sustentavam um largo sorriso. Talvez tenha sido o momento em que ele mais falou depois que chegou ao Japão, mas enquanto contando cada detalhe do treino depois que fui embora, seus olhos — verdes como os de Dan —, brilhavam como joias.
No fim saímos da Fukurodani direto para uma loja especializada em esportes, pois havia alguns itens que Tom queria comprar.
Mal sabia eu que era uma péssima decisão.
N/A: Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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