Ação e Reflexão

c a p í t u l o c r o s s o v e r



— De novo — fiz uma recepção e mandei a bola para Hinata novamente — gire o corpo, pense como um elástico, use o torso inteiro para acumular força e então soltar durante a cortada.

O exercício que estávamos fazendo depois de um pedido animado era do lado de fora do ginásio, para não atrapalhar quem estava do lado de dentro.

— Aqui vai! — Hinata fez o movimento certo, sem saltar, mantendo os pés no chão, mas não fez muita diferença.

— Acho que você precisa trabalhar seus músculos melhor — dei risada ao segurar com as duas mãos a bola recebida — mas o movimento está certo. Precisa construir os músculos para ter a força que deseja.

— Me ensine isso também! — pediu com as mãos em punhos e estrelas nos olhos.

Balancei a cabeça e joguei a bola de volta para ele — Isso é algo que o seu treinador vai saber dizer melhor como fazer, eu não conheço o seu biotipo. Cada organismo reage de uma forma diferente.

— Sem contar que você não aguentaria um treino completo do Dan — Sora apontou da porta do ginásio onde estava sentada. Minha amiga tinha o rosto apoiado na mão de uma maneira entediada. — Ainda não consigo acreditar que você é um central.

— Ah, isso é rude até para você — rebati em lugar do corvo indefeso. — Existem padrões velados, não regras. Komori é um líbero colegial e tem 1,80.

Sora ergueu as mãos em defesa — Calma capitã, foi só uma observação.

— Sei que sou baixinho — Hinata disse —, mas consigo pular! No alto ficamos iguais.

— Parece que só pular mesmo, suas recepções e saque não são muito bons.

— Sora! — Ralhei mais uma vez me voltando para o garoto, embora ela não estivesse mentindo, falar algo dessa maneira desmotiva. Coloquei a mão no ombro de Hinata — Parece ter se esquecido de que você também não sabia fazer recepções direito.

— Tempos distantes — ela se levantou —, agora sou uma jogadora, quase, de nível nacional.

— Que ocasionalmente vira uma peneira, Keiko ainda tem uma taxa de sucesso de bloqueio maior que a sua.

Os olhos da vice-capitã se voltaram para os meus com uma sensação cortante, quase podia ver a veia saltando em sua testa. — Refletiu isso antes ou depois de aprender a mover esse seu pé de pato?

— Depois de ver você perdendo o rumo com o ataque rápido desse pequeno central que pula alto — bati a mão no ombro do garoto, mantendo o sorriso no rosto.

Um suspiro alto, e a vitória da discussão. — É inevitável, é simplesmente ridículo. No fim, os idiotas do vôlei sempre acabam se juntando. Karasuno vai voltar a jogar, melhor entrar Laranjinha.

Sora bateu nas roupas e então sumiu.

— Ela não disse para te desmotivar, só não tem muita delicadeza mesmo — e continuei andando em direção às escadas. — Mais da metade do nosso time não sabia o que fazer com a bola no começo.

— Mas é verdade — Hinata fez uma careta, como se fosse difícil admitir. — Ainda preciso melhorar muito.

— Ainda que seja, não é bom se acostumar com as pessoas falando isso para você. — entrei no ginásio — Pelo que ouvi seus ataques já evoluíram em relação aos primeiros encontros. Então melhore ainda mais, afinal é para isso que servem os grupos de treinamento, certo?

— Capitã-senpai!

— Oe Hinata! — Sugawara o chamou com a mão para voltar ao grupo. Ele então se foi e eu voltei para sentar na lateral junto com meu time, a Karasuno entrava na quadra e a Ubugawa ia para o descanso.

— Sabe — Kei começou a comentar assim que me sentei ao seu lado —, o laranjinha parece um filhote de pato andando atrás da mãe pato.

— Bokuto gosta dele, não tem nada de mais em ajudar no que eu puder. Todas nós já estivemos no mesmo lugar, imagine se tivéssemos alguém como nós durante o fundamental? Talvez ainda jogássemos com a Mahiru, seríamos melhores amigas.

Keiko fez uma careta — Não, definitivamente não. Isso nunca iria acontecer. Não importa o santo que aparecesse na nossa frente.

Dei risada e voltei meus olhos para a quadra, havia pequenas conversas acontecendo em todos os lugares. Eu não queria trazer essa pauta, mas provavelmente seria o último acampamento que estávamos participando, com esse time. Se a tradição se mantivesse, a invasão no próximo ano já não contaria com nenhuma de nós do terceiro ano.

Os caminhos estavam todos se estreitando, tudo que podia acontecer com o time já aconteceu. Caímos no primeiro ano porque fui uma idiota, saímos no segundo porque não fomos boas o suficiente, e no intercolegial desse ano apenas não estávamos preparadas para seguir sem deixar algo para trás. Nesse caso, o treinador que esteve desde o dia um.

A vida acontece em ciclos, em um momento eles acabam, se não estivermos preparados para isso a situação vai inevitavelmente tirar o melhor de nós.

No nosso primeiro jogo, no primeiro ano, a capitã da escola me disse, "para um time avançar alguém ou algo tem que ficar para trás." Orgulho, desejos, sonhos, tempo, de alguma forma todos estamos deixando de fazer algo para avançar, esperando que os esforços no final tragam alguma forma de conquista. Embora hoje eu não pense que tudo deve converter em resultados, fazer algo pela melhora pessoal também é um ponto válido.

Virei e estiquei as pernas aproveitando o momento para deitar na coxa de Kei.

— Acho que se eu morresse agora, não teria nenhum arrependimento.

— O quê? — minha amiga gritou. — Você vai morrer?

— Eventualmente todos vamos um dia. Se parar para pensar, no momento em que nascemos já estamos morrendo.

— Capitã, você está passando mal?

— Devemos chamar o treinador Esparta?

Fechei os olhos rindo da preocupação das garotas mais novas — Estou bem, só estou pensando alto. Quis dizer que não tenho arrependimentos.

— Isso não é um lema de outra escola? — Kei de repente entrou no seu modo pensador.

— É não precisamos de memórias sua idiota — Hana rebateu —, é da Inarizaki.

A meio de rede se virou — Nossa, mas eles tem idiota na frase? É agressivo, eu gostei.

— A idiota é você!

— Ai!

Mesmo de olhos fechados senti que Keiko se moveu, provavelmente porque Hana a acertou pela fala impensada. Logo em seguida pelo ginásio o som de Kou comemorando um ponto ecoou, Karasuno entrou para jogar com a Shinzen então significava que a Fukurodani e a Nekoma estavam se enfrentando.

— Sabe, a Karasuno tem um bom meio de rede, mas tem algo que não encaixa. — Kei voltou a falar depois de se recuperar do ataque de Hana.

— Percebi enquanto nos enfrentamos — comentei —, parece que ele pensa ser dispensável para a posição. Quando é exatamente o oposto. Ele e Hinata são duas forças completamente diferentes.

— Sora disse o mesmo. A propósito, o que você disse para ela? Ela entrou aqui parecendo um furacão.

Abri os olhos e virei a cabeça para onde ela estava, Sora estava com Sayu e Chizue assistindo ao jogo da Nekoma perto da italiana. Ainda que eu não quisesse admitir, Kuroo era um dos melhores centrais que temos no acampamento, junto com Washio. A provocação não foi nada muito longe do que fizemos durante nossas rotinas, mas o fato de não ter conseguido reagir ao rápido da Karasuno parece que ficou em sua cabeça.

— Não disse nada fora do comum — olhei para o teto suspirando em seguida —, deve ter sido mais uma realização de pensamentos do que algo propriamente dito. Sabe que na maioria das vezes Sora precisa de um empurrãozinho para se expressar.

— Isso é verdade. Apesar de Chie dar todo o seu treinamento mental, todas ficamos sem saber o que fazer nas primeiras jogadas.

Me sentei — Estudamos nossas potenciais adversárias em Tóquio, sabemos reagir, mas não será sempre o caso. O que sabíamos da Karasuno pelos garotos, já se provou diferente em quadra, imagine todos os times nacionais que têm, cada um com seu estilo de jogo.

Cruzei as pernas e os braços olhando para as quadras e os times diferentes se enfrentando — Quando começamos a entender mais o esporte que vivemos, é mais fácil perceber todas as dificuldades de chegar ao topo e descobrir o que precisamos fazer como um time.

— Mas estamos nos preparando há três anos, então vai dar certo — Kei esticou os braços para a frente e abriu um sorriso confiante de orelha a orelha —, não é?

Devolvi o seu sorriso, porém, me mantive em silêncio, voltando a observar o treino dos garotos.

Os times se alternavam e quando chegou o momento de pausa voltamos novamente a nos organizar para jogar. Dessa vez com times mistos, e sorteados. O que levou a uma combinação bem estranha. No meu time estava o levantador e o outro meio de rede da Karasuno, Fukunaga e Kai da Nekoma e Konoha da Fukurodani.

Com a maioria de nós sendo pontas, tivemos que nos reorganizar, Kai ficou na defesa como líbero e eu acabei indo para a posição de central. Do outro lado, estávamos lidando com uma combinação de Kuroo, Akaashi, Chizue, Sora, Daichi e Bokuto, potencialmente problemática e difícil de lidar.

— Bokuto gosta de dar fintas com o olhar — coloquei a mão no ombro de Tsukishima — feche a paralela com confiança mesmo que pareça que será um cruzado.

O loiro assentiu e nós dois pulamos.

— Bloqueado!

— Geh! — Bokuto voltou para o chão estático de ter perdido o ponto.

— Esconda um pouco mais suas intenções cabeça de vento — Sora disse —, deu para te ler certinho.

— Ela está certa. Tsukki te ganhou nessa.

Estiquei a mão para o loiro ignorando a conversa alheia — Bom bloqueio.

— Você que deu a informação — respondeu olhando para o chão — se não fosse isso não teria bloqueado.

— De que adianta ter a informação e não saber bloquear? Coloque um pouco de confiança nos seus ossos Tsukki — usei o apelido que Kuroo disse. — Só assim vai chegar o seu momento.

Seus olhos se abriram, apesar da resposta ser o silêncio. Kou tinha me contado a maioria das coisas que aconteceram no acampamento de Shinzen, inclusive as conversas. Não foi uma escolha leviana de palavras, como disse para Keiko, gostaria de ter ouvido algumas palavras quando mais nova. Porém, nem sempre temos alguém para as dizer para nós, por esse motivo aqueles que vem depois de nós, são mais fortes.

Na combinação geral de jogadores, eles acabaram levando a melhor — por pouco —, mas levaram. Agradeci a toalha que Chiasa me estendeu e sequei o rosto.

— Capitã-senpai! Vamos jogar de novo mais um set!

Hinata foi momentaneamente empurrado pela italiana, que se aproximou com uma bola em mãos, a jogando para cima e para baixo. Seu queixo estava levantado, os passos eram firmes, no rosto uma expressão elegante e vitoriosa que apenas podia ser usada por uma rainha.

— Sinto muito baixinho, mas a capitã agora é minha.









N/A: Um capítulo de transição, depois de quase dois jogos seguidos. Vamos ter uns capítulos mais leves e então caímos direto no torneio de primavera, aí vai ser dedo no t0b4 e gritaria.

Será que esse ano elas ganham?

E já seguimos para o fim ein. (tipo mais uns 20 capítulos)

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!!



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