53

Minjeong respirou fundo. Ela tinha a adaga na mão, mas mesmo que o atingisse, nunca poderia fugir dele. Ela se perguntou se poderia ganhar mais tempo antes de seguir por esse caminho.

– Se você vai se alimentar de mim, podemos ao menos nos mudar para algum lugar mais confortável? Está úmido e desagradável aqui embaixo.

Jeongin riu e o som ecoou.

– Então, a consorte da antiga Princesa não se importa de outra pessoa se deleitando dela. Talvez a razão pela qual você esteja neste túnel sozinha é porque perdeu toda a sua proteção após a morte dela?

O coração de Minjeong bateu forte. Se Jeongin pensasse que Jimin estava mesmo morta, provavelmente a mataria. Ela fingiu estar insultada, enfiando o nariz no ar.

– Claro que não perdi minha proteção. Como te disse, a Princesa está viva e vindo ao meu encontro. Ela alimentou-se de mim há pouco tempo. – Ela tocou a marca de mordida em seu pescoço.

Jeongin ficou na frente dela e pressionou dois dedos frios em sua garganta. Seus olhos castanhos encontraram os dela.

– Eu não me importo com quem quer que tenha se alimentado de você recentemente. Mas isso é uma pena, porque pretendo te usar com força até o último minuto. E não posso ter você morrendo comigo. – Sua mão alisou o pescoço dela e atravessou a clavícula, que estava exposta por conta do sueter largo que vestia.

A mão de Minjeong apertou o cabo da adaga. Ela sabia que se o atacasse agora, ele provavelmente iria derrubá-la ou deixá-la inconsciente. Mas dada a situação, não tinha muitas opções. Certamente, Jimin já estava ciente da brecha de segurança na residência principal e viria a procura dela. Sua melhor chance de sobrevivência sem ferimentos graves era mantendo o vampiro longe.

E só existia uma única forma efetiva de fazer isso.

– Permita-me saborear um pouco do que tem para mim – disse Jeongin.

Ele avançou em direção ao pescoço de Minjeong, e como se tivesse sido treinada para matar, ela desembanhou a adaga e a enterrou no peito do vampiro, que deu um salto para trás completamente surpreso.

– Você é mesmo uma criatura fascinante – Jeongin sorriu, um brilho sombrio passando por seus olhos enquanto levava a mão ao ferimento. – Eu gostaria de me divertir um pouco antes de finalizar com você.

Minjeong piscou e ficou em postura de combate, com o corpo de lado e a adaga empunhada com uma mão, posicionada de forma defensiva.

Antes que ela pudesse sequer raciocinar, Jeongin sacou a espada e correu na direção dela tão depressa que parecia um borrão, então recuou na mesma velocidade. Minjeong parou, chocada, e uma pequena linha de sangue escorreu de sua bochecha até o canto da boca.

Ele a havia atingido com a ponta da espada antes que ela tivesse tempo de respirar. O vampiro projetou a língua para fora, lambeu o sangue da espada e sorriu lentamente.

– Apesar de compartilhar do sangue de uma antiga, parece que você ainda precisa de mais treinamento.

A musicista permaneceu em silêncio, perguntando-se por quanto tempo conseguiria evitar um ferimento fatal. Ela voltou à posição de combate, sua bochecha branca ainda manchada com o sangue escuro, apesar de o ferimento já ter começado a se fechar.

Jeongin segurou a espada com mais força, os nós dos dedos indicando que não estava satisfeito com o silêncio dela. Ele avançou.

Desta vez, Minjeong se moveu imediatamente, aproximando-se dele com velocidade e tentando atingi-lo no pescoço. Jeongin deu um passo para o lado, desviando no último momento, com o cabelo balançando na corrente de ar criada pela arma. Ele acertou as costas dela com o punho da espada, arrancando um grunhido de dor.

Sem se deixar abater, Minjeong se virou e o atacou de lado, a lâmina deslizando pelo seu flanco, cortando o tecido da roupa e atingindo a pele.

Jeongin começou a perder a calma. Deu um golpe na direção da cabeça de Minjeong, que se abaixou, empurrando o abdome dele com a mão e o desequilibrando enquanto levava a adaga em direção ao seu pescoço. Mas o vampiro era rápido, moveu o corpo para o lado e agarrou o pulso dela, imobilizando-a.

– Agora já chega! – rosnou Jeongin visivelmente irritado. Ele tirou a adaga da mão dela e jogou-a fora, depois a encarou fixamente. – Estou surpreso que tenha conseguido me ferir, mas você jamais conseguiria me vencer em um combate direto.

Minjeong se desvencilhou dele e deu um passo para trás, simplesmente para aumentar a distância entre eles. Uma miríade de pensamentos passava por sua mente. Ela esperava conseguir atrasá-lo um pouco mais. Mas agora isso parecia uma possibilidade remota. Seus pensamentos se mudaram para Jimin. Se Busan tinha entrado em Seul, o traidor estava em busca do trono. Minjeong se perguntou quantos soldados de Busan estavam dentro da cidade. Ela se perguntou se o conflito havia começado.

A musicista fechou os punhos quando Jeongin diminuiu a distância entre eles. Ela ficou parada até ele chegar logo acima dela. Então se moveu para o lado no exato momento em que o corpo do vampiro era arremessado pelo ar. Alguém estendeu a mão e a puxou. Ainda cercada pela escuridão, ela estava confusa.

– Tenho que admitir que você tem coragem. – Uma voz familiar falou. – Mas ainda é a consorte mais azarada que eu já conheci.

– Jisu. – Ela disse, encarando-a em um misto de alívio e surpresa.

A vampira assentiu em resposta.

– Jimin? – Minjeong procurou por ela na escuridão.

Envolta em sombras surgiu uma figura, vestida completamente de preto.

Ela olhou diretamente para um par de olhos castanhos irritados.

Como se pressentisse o que o aguardava, Jeongin se ergueu e ficou em posição de combate, segurando a espada na frente dele. Ele parecia apavorado diante do que via.

– Oh, sim, tenha medo. – Os olhos castanhos de Jimin se estreitaram. – Confie em uma arma que você não é digno de utilizar.

Ela avançou em direção ao vampiro, que projetou a espada em frente ao seu corpo, como se isso pudesse parar a Princesa irritada. Os olhos de Jimin ficaram estranhamente acesos. Ela se esquivou justo na hora em que Jeongin golpeou contra sua cabeça, agarrando o pulso dele e empurrando sua mão para trás, tão rápido e tão forte que os ossos se quebraram.

O vampiro gritou e soltou a espada.

– Você tocou na minha companheira. – Jimin agarrou o seu pescoço e o ergueu do chão. – Você fez com que ela sangrasse. Agora você pagará por cada marca na pele perfeita dela.

Jeongin tentou em vão agarrar os braços dela, uma expressão de terror em seu rosto.

Com um som doentio, a Princesa quebrou o pescoço do vampiro, arrancando sua cabeça fora. Ela jogou o corpo de lado e limpou as mãos nas calças pretas.

– As ordens de quem você vai seguir agora? – Ela perguntou, encarando o cadáver.

Jimin se virou, o ambiente escuro mesclando-se ao seu belo perfil. Sua expressão suavizou quando viu Minjeong a encarando.

Ela se aproximou e acariciou seu rosto com a mão.

– Me desculpe, ele machucou você.

Minjeong segurou a mão dela.

– Há soldados de Busan na residência principal. Aquele vampiro disse ser o chefe de segurança do principado, então imagino que Hongjoog também esteja aqui.

– Eu o conheço, ele jurou lealdade a Seul em troca da sua vida – A Princesa se afastou dela. – Concordar com isso foi um erro pelo qual estou tendo que pagar agora.

– Dado o momento da invasão, Hongjoog deve estar no salão do Conselho agora – disse Jisu, aproximando-se. – Certamente ele espera que Aeri vá ao seu encontro para um confronto direto. E ao pôr fim a sua existência, deve reivindicar o trono de Seul e convocar o exército de Busan para lidar com aqueles que discordarem.

Jimin passou as mãos nos cabelos.

– Não discordo, mas vamos seguir em frente com a nossa estratégia. Jisu, leve o corpo de Jeongin para fora dos túneis e o queime. Então vá ao encontro de Changbin e ordene que ele envie um destacamento para a câmara do Conselho imediatamente.

– Como desejar, Mestre – respondeu a loira. Minjeong observou enquanto ela se afastava sem o menor protesto.

Sem dizer mais nenhuma palavra, a Princesa segurou o seu braço e avançou com ela pelo túnel. Jimin fez várias voltas, tantas que Minjeong não tinha ideia de em que direção elas estavam indo enquanto a acompanhava. De repente, ela parou. Seu corpo ficou parado.

Estavam em frente à câmara do Conselho.

– O que está acontecendo? – Perguntou Minjeong.

– Ouça – sussurrou ela.

A musicista se concentrou e pode ouvir vozes vindo detrás da porta, anunciando a presença dos invasores de Busan ali.

– Os soldados certamente estão à postos. Está armada? – sussurrou Jimin, dirigindo a atenção para sua companheira.

– Estou. E você?

– Estou.

A Princesa avançou, concentrando-se enquanto as dobradiças da porta rangiam. Ela podia ver uma luz bruxulemate dos candelabros iluminando os rostos dos seus inimigos.

Hongjoog estava diante do trono, ladeado por dez soldados. Ele a encarou chocado.

A pedido da Princesa, Minjeong manteve-se a suas costas, observando a política da realidade se desdobrar.

O vampiro cuspiu no chão.

– Eu recebi a confirmação da sua execução!

– Parece que eu encontrei uma forma de voltar do inferno. – O olhar da Princesa se fixou no traidor a sua frente. – Você ordenou que Jeongin matasse um humano e suspendesse seu corpo no Yongsan Park?

– Sinceramente, Jimin, pensei que como governate você soubesse que não podemos controlar todos os passos do nosso povo. Não entendo qual relação eu possa ter com os atos de Jeongin em um momento como esse.

– Você mente. Você cometeu traição contra o principado de Seul, e você violou nosso tratado com a Ordem dos Caçadores. Para o seu castigo, você deve ser mantido prisioneiro até que possa ser entregue a eles. Do contrário, meu caro, sua execução será sem dúvida bem sucedida.

Hongjoog deu um passo à frente, desembainhando sua espada.

– Eu esperei anos pela minha chance ao trono busanita! – Ele rosnou. – Você me negou isso. Então aqui estou eu, tomando a força tudo aquilo que me foi negado. Vamos, lute comigo. Morrer pela espada pelo menos seria honroso.

A Princesa parecia incrédula.

– Depois de trair o principado que o protegeu por tantos anos, você implora por uma morte honrosa?

– Eu não imploro por nada. – grunhiu Hongjoog. Ele apontou para o seu comandante, que posicionava seus soldados para combate. – Pode começar, comandante Park.

Os soldados ergueram suas espadas.

– Dê a ordem e eu vou matar você – disse a Princesa, encarando-o.

O comandante se curvou.

– Jurei ao novo Príncipe de Seul protegê-lo e garantir sua vitória.

O olhar da Princesa passeou pelos soldados.

– Existe apenas uma Princesa de Seul. E você está diante dela.

O vampiro ficou em silêncio, espada desembainhada.

– Deixem suas armas e eu pouparei suas vidas. – A Princesa dirigiu-se aos soldados, sua voz ecoando em toda a câmara.

Hongjoog riu.

– Você pode ser uma antiga. Mas nós somos dez. E nós estamos todos armados.

Jimin sabia que eram muitos soldados, mas precisaria acabar com todos eles o mais rápido possível. Ela era mais forte do que qualquer um presente ali, mas Minjeong ainda estava em treinamento, eles a sobrepujariam e ela não teria ninguém dando cobertura.

Com vigor renovado, a Princesa desembanhou sua espada e encarou Hongjoog.

– Você está certo dos seus números? Eu considero menos. Possivelmente suas habilidades matemáticas são tão deficientes quanto o seu julgamento.

– Só existe uma maneira de isso acabar, com a sua cabeça em uma estaca na praça pública – Hongjoog fez um sinal para seu comandante, sorrindo.

Este assentiu e deu um passo à frente.

– Este é o meu último aviso. – A Princesa ergueu sua espada, e a lâmina brilhou à luz do fogo. – Eu sou uma antiga, filha do próprio Rei. Eu tenho força e habilidades que vocês nem podem imaginar. Oponham-se a mim a seu risco.

O silêncio preencheu a câmara do conselho na revelação da Princesa; os soldados olharam para ela em choque.

– Não se deixem enganar – O comandante levantou a mão, e os soldados se prepararam. – Acabem com ela.

Antes que uma única espada pudesse ser brandida, Jimin diminuiu a distância entre ela e seus atacantes e decapitou o comandante. Seu corpo era um borrão preto enquanto ela avançava de soldado a soldado, mergulhando sua espada em seus pescoços, retirando-a e mudando para a próxima vítima.

Dois soldados avançaram e um aproveitou a oportunidade para correr em direção à Minjeong, mirando sua cabeça. Rápida como um raio, a Princesa se virou, inclinando-se para trás e evitando o metal que cintilava pelo ar, passando por pouco de seu próprio pescoço.

Ela empunhou a espada, e com um movimento do pulso, a cabeça do soldado caiu dos ombros e seu corpo desabou.

Lâminas cintilaram sobre ela, como uma chuva de metal. Os soldados restantes se concentraram unicamente nela, mas a Princesa mal reagiu, ocupada demais brandindo espadas para longe das mãos dos soldados antes de finalizá-los. Em menos de cinco minutos, os soldados foram destruídos, seus corpos espalhados pelo salão do Conselho. Foi um massacre.

Hongjoog amaldiçoou.

– Impossível.

Minjeong olhou para o traidor. Pela primeira vez, ela viu o medo gravado em seu rosto.

A Princesa limpou a espada no casaco de um dos vampiros caídos e jogou a roupa de lado. Ela avançou em direção a Hongjoog com propósito. O traidor ignorou o alerta e também se moveu com a espada erguida.

O choque do metal no metal ecoou pelo salão, e os dois seres sobrenaturais começaram a duelar.

Apesar de forte, Hongjoog claramente não era páreo para Jimin. Esticou-se para a frente várias vezes à procura de uma brecha, mas a Princesa esquivou-se com facilidade de cada golpe.

Frustrado e temendo pela própria vida, ele tentou acertar o pescoço dela, mas antes que pudesse entender o que estava acontecendo, Jimin brandiu a espada em direção ao seu punho, e a lâmina silvou no ar.

A espada de Hongjoog caiu sobre o chão enquanto ele recuava alguns passos.

Jimin avançou e só parou quando estava bem a frente dele, mas não abaixou a espada.

– Seu destacamento esta morto. Seul é minha, como deve ser.

Hongjoog caiu de joelho, curvando a cabeça diante dela.

– Misericórdia.

– Desconheço essa palavra – disse a Princesa. – Você chamou a atenção da Ordem dos Caçadores com seu ato anárquico. Agora suportará sua ira. E qualquer pessoa que o tenha auxiliado será devidamente executado.

Ela se aproximou e ergueu Hongjoog pelo braço. Ele a empurrou para o lado.

– Você sabe o que eles farão comigo. Você me entregaria aos nossos inimigos para que eu seja torturado?

– Matar um humano e o expor no Yongsan Park atraiu a atenção da Ordem. Você vive pela espada, você deve estar preparado para morrer pela espada. – Os olhos castanhos da Princesa brilharam.

– Você poderia ter evitado tudo isso se tivesse me consolidado como Príncipe de Busan. Seus erros ainda vão ser a causa da sua ruína!

– Salve suas justificativas para a inquisição da Ordem.

Hongjoog rosnou e correu na direção de Minjeong, com os dentes à mostra.

Em um movimento tão rápido que foi um borrão, a Princesa bloqueou o caminho dele. Ela moveu o braço direito e atingiu Hongjoog no peito. Ele foi lançado pelo ar, a vários metros de distância, até cair no chão de pedra perto da entrada da câmara. Ele ficou deitado no chão, imóvel.

Nesse momento as portas se abriram, Ningning e Taeyong entraram na sala do conselho sendo acompanhados por um destacamento de dez soldados.

Eles pararam, completamente chocados com o cenário que se estendia diante dos seus olhos.

– O próximo que tentar tocar minha consorte será destruído. – A Princesa virou sua ameaça e olhou para seu chefe de segurança. – Leve o traidor para a cela de espera e aguarde mais instruções.

Taeyong assentiu e dois soldados se aproximaram para erguer Hongjoog do chão e o levar, mancando, até a porta.

A Princesa ajustou seu blazer e recuperou seu trono.

– Retirem esses traidores do conselho – Ela olhou para os cadáveres com desgosto. – Ningning, você e Taeyong levem os corpos para fora da cidade e queimem.

Os membros do conselho fizeram uma mensura e com o auxílio de alguns soldados começaram a remover rapidamente os corpos da câmara do Conselho.

Minjeong torceu as mãos, visivelmente abalada. Seus olhos castanhos estavam aflitos, observando os soldados se retirarem antes de descansar no rosto de Jimin.

A Princesa se aproximou e colocou a mão fria sobre a dela.

– Você está bem?

Ela assentiu com a cabeça.

– Eu sinto muito por ter demorado tanto tempo para ir ao seu encontro. – A expressão de Jimin estava em branco, como se ela estivesse escondendo alguma coisa. – Quando você estava nos túneis, ele tocou em você?

– Não – respondeu Minjeong. Ela limpou a garganta antes de continuar. – Ele me ameaçou, mas consegui ganhar tempo.

– Você foi muito corajosa, mas não deveria ter sido colocada em risco. Eu nunca esperei que eles atacassem a residência principal.

– Eun me ajudou a escapar, mas eu não sei o que aconteceu depois.

– Não se preocupe, estão todos bem. Aparentemente o objetivo dos invasores era criar uma distração. Mas me surpreende que Jeongin tenha ido atrás de você.

Minjeong permaneceu em silêncio.

Jimin apertou a mão dela.

– Embora a experiência não tenha sido o que eu desejava, é um cenário preferível para uma invasão. Desde que Hongjoog falhou, seus apoiadores provavelmente irão desistir. Eu vou fazer arranjos para entregar o traidor oficialmente.

Minjeong estremeceu, longe de ser consolada por sua análise.

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