52

Na noite seguinte, Minjeong havia retornado a residência principal de Jimin. Ela seguiu para a sala de instrumentos, vestindo um lindo sueter claro e jeans.

A Princesa por outro lado havia permanecido na residência secundária e lhe informado que estava ocupada com as questões recentes do principado. Mas planejava se juntar a ela antes do nascer do sol.

Minjeong fechou a porta e caminhou até a vitrine de violinos, onde escolheu um dentre tantos e começou a tocar baixinho. Acima dela, através do enorme teto de vidro abobadado, estava visível uma noite estrelada e brilhante. Apenas o menor filete de nuvens passou por cima de uma lua cor de prata. Seus dedos estavam dormentes uma hora depois, quando o seu celular tocou.

Kim Chaewon.

Ela ficou surpresa ao ver a ligação. Sorrindo, colocou o violino de lado e atendeu o celular.

– Chaewon?

– Minjeong, como você está? – O tom da sua amiga era casual.

– Eu estou bem. Fiquei sabendo da sua viagem para o exterior.

– Ah, eu precisava me distanciar de tudo por um tempo. Desculpe por não ter entrado em contato antes, mas as coisas estavam um pouco agitadas por aqui.

Minjeong balançou a cabeça, como se ela pudesse ver.

– Tudo bem. Estou feliz por você ter um lugar para onde ir.

– Você precisa vir me visitar qualquer dia desses. Pode trazer aquela sua namorada colecionadora de antiguidades junto.

A musicista sorriu, era bom ver sua amiga recuperando um pouco do seu humor habitual.

– Prometo que farei isso assim que for possível. Agora me fale como estão as coisas por aí.

– Melhores do que eu poderia imaginar –
Ela fez uma pausa e Minjeong ouviu algo abafado no fundo. – Estou pensando em dar aulas de música. Um amigo da família me ofereceu uma vaga de trabalho na instituição em que é diretor.

– Isso é serio? – Perguntou Minjeong.

Chaewon deu uma risada baixa do outro lado da linha.

– Eu também fiquei surpresa já que é uma instituição de renome e a qualificação exigida é bem alta. Mas confesso que estou precisando de algo para me motivar até estar pronta para retomar minha vida como concertista.

Minjeong sorriu de forma singela. Jimin estava realmente cumprindo com sua palavra.

As duas conversaram por mais algum tempo até Chaewon precisar desligar. Minjeong pegou o violino e voltou a tocar. A música sempre forneceu um consolo para ela, bem como uma ocupação. Ela estava feliz em receber notícias da amiga e por isso se permitiu perder no mundo dos acordes.

Quinze minutos depois, um alarme alto e estridente soou. Minjeong cobriu as orelhas. Ela não sabia dizer se era um alarme de incêndio ou não, mas o som era ensurdecedor. Ela colocou o instrumento de lado e avançou em direção à porta quando a governanta entrou, segurando seu braço e puxando-a em direção à biblioteca.

– Houve uma violação de segurança. Alguém passou pela barreira. – A mulher a apressou em direção a uma das estantes de livros. – Você precisa fugir.

– Fugir? – Minjeong olhou ao redor da sala. – Você não pode estar falando sério.

– Este é o protocolo. Sua senhoria será notificada, mas ela está inacessível no momento. – A governanta abriu uma gaveta e retirou um celular e um pedaço de papel, os quais empurrou para dentro nas mãos de Minjeong. Ela tocou um livro na estante e toda a estante se abriu.

Minjeong conhecia aquela passagem, era por ali que Jimin geralmente transitava quando precisava ir ao Conselho. Ela rapidamente pegou mais um intem sobre a mesa e seguiu a mulher até a entrada.

– Desça a escada. Vire à direita. Vá para o final do corredor. Digite o número escrito nesse pedaço de papel no teclado ao lado da porta. Ele
vai abrir e revela uma passagem que corre por baixo da cidade. Certifique-se de fechar a porta atrás de você.

– Espere. – Minjeong plantou seus pés. – E você? E quanto a Siwon?

– Estamos seguindo as ordens de sua senhoria.

– Esqueça isso! Você precisa vir comigo.

A mulher olhou para ela, impassível.

– As ordens de sua senhoria são sempre obedecidas. Depois de entrar na passagem, você encontrará uma rede de túneis. Sua senhoria vai encontrar você, mas você deve ir agora. Os intrusos estão armados. – A governanta a empurrou através da porta quando o som de passos pesados ecoou de fora da biblioteca.

Alguém começou a sacudir a maçaneta da porta.

– Depressa. – Ela a empurrou novamente e recuou, fechando a porta secreta.

Minjeong ficou em pé na escuridão total. Em outro momento, ela seria incapaz de visualizar o espaço como agora.

As escadas eram familiares, mas Minjeong não conseguia se lembrar de quando as viu. Talvez na noite em que Jimin a levara para conhecer o seu mundo. Seu estômago revirou. Ela avançou pelas escadas, respirando superficialmente contra o ar úmido. Um longo corredor ficava ao pé da escada, pontuado por uma série de portas de madeira.

Minjeong ouviu ruídos vindos de cima - passos pesados e vozes altas. Ela acelerou o passo, andando em direção à porta no fim do corredor. Ouviu mais passos acima. Algo começou a tamborilar alto e repetidamente. Quando ela se aproximou da porta no final do corredor, viu um teclado numerado.

Alguém gritou acima dela, e ela ouviu o barulho das coisas sendo jogadas no chão da biblioteca. Pegou o papel que a governanta lhe entregara e digitou o código. O teclado tocou e... Nada. Ela tentou a porta e ficou surpresa ao descobrir que ela se abria facilmente.

Bloqueando os sons da biblioteca no andar de cima, Minjeong passou pela porta. Fechou-a rapidamente e se encostou nela, respirando fundo.

O túnel estava úmido e o cheiro de terra e decadência enchia suas narinas. Ela seguiu em frente, olhando cautelosamente para lá e para cá. Quando tinha andado cerca de mil pés, pegou o celular. Era diferente do dela, mas igualmente atualizado. Havia alguns aplicativos visíveis na tela.

Infelizmente ela não conseguiu sinal.

Demorou alguns longos minutos para verificar os diferentes aplicativos, mas eventualmente descobriu uma bússola. Minjeong encontrou o norte, o que significava que ela poderia andar na direção do centro da cidade. Ela duvidou que os túneis fossem cavados em linhas retas.

A musicista continuou andando pelo túnel, parando de vez em quando para ouvir se alguém estava vindo. Tudo o que ela podia ouvir era a ocasional correria de ratos ou o som distante de água pingando.

Algumas vezes ela passou por outros túneis que se ramificavam. Em cada ocasião, ela parou para verificar bússola, continuando a viajar para o norte. Minjeong estava a pé há quase uma hora quando sentiu os cabelos levantarem na parte de trás do pescoço. De repente uma rajada de vento passou por ela.

Algo arrancou o celular da mão dela e o quebrou. Ela ouviu o baque no chão. Uma risada baixa soou nas proximidades. A musicista estava banhada em absoluta escuridão, mas seus sentidos aperfeiçoados permitiam que ela visulizasse a figura que se aproximava. O vampiro agarrou seu pulso, puxando-a em sua direção.

– Aqui está a consorte da antiga Princesa. Como está sendo viver sem sua companheira?

Ela puxou o braço para longe, afastando-se dele.

– Não posso responder sua pergunta, uma vez que não estou vivendo sem ela.

A voz soou divertida.

– Eu não vou cair nessa. Parece que a nova Princesa não tem nenhum apego por você ou pela memória da antiga líder. Como ela é egoísta.

– Quem é Você?

O vampiro riu novamente.

O coração de Minjeong acelerou. Sutilmente ela moveu a mão para trás, tentando segurar a adaga que trazia na cintura.

– Mostre-se.

O vampiro se aproximou.

– Revelar a aranha para a mosca? Isso é muito mais divertido.

– Para um covarde sim. – A mão de Minjeong encontrou o cabo da adaga e ela o segurou.

– Covarde?

– Se você é um dos soldados de Busan, certamente recebeu treinamento adequado. Eu pensei que um vampiro tão poderosa não precisasse de uma vantagem.

Ele rosnou.

Minjeong apertou o cabo da adaga com mais firmeza, mas não se moveu.

Envolto em escuridão, o vampiro se aproximou. Ele era alto e vestia uma espécie de manto negro. Quando tirou o capuz da cabeça, revelou cabelos escuros e olhos castanhos brilhantes.

– Quem é você? – repetiu Minjeong.

Ele sorriu, braços esticados.

– Eu sou Kim Jeongin. É um prazer finalmente conhecê-la pessoalmente.

Minjeong franziu a testa.

– Eu não posso dizer o mesmo.

Ele a estudou por um momento. Seu sorriso se alargou.

– Você é uma sagacidade.

– E você é? – Ela arqueou a sobrancelha.

– Como disse, eu sou Kim Jeongin. – Ele se curvou teatralmente. – Antigo conselheiro de Busan e atual chefe de segurança do principado.

– Antigo? O que aconteceu? – Perguntou Minjeong.

– Sua companheira executou meu mestre e reformulou o Conselho da cidade. Perdi minha posição para alguém que era da confiança dela.

A musicista o encarou de forma impassível.

– Você sobreviveu, acredito que não exista nada mais valioso que isso.

– Como é que você veio vagar por esses túneis sozinha? – Ele retrucou.

– Eu não estou sozinha. A Princesa está vindo ao meu encontro.

Jeongin balançou a cabeça e deu um passo mais perto.

– Você compartilhou do sangue dela, isso é certo. Alimentar-me de você será ainda mais prazeroso do que eu poderia imaginar.

\[...]

Jisu tocara seus longos cabelos claros, perguntando-se quanto tempo mais permaneceria ali. Ela havia participado da última reunião do Conselho e lidado com as questões que lhe foram atribuídas. Agora estava na residência secundária da Princesa, observando enquanto ela lidava com um negócio de Estado.

Aparentemente Hongjoog se encontrava nos domínios da cidade. Como previsto, alguns de seus soldados haviam entrado em conflito com a defesa de Seul enquanto ele seguiu para o Conselho.

Ela tinha que admitir, era uma maneira desonesta e engenhosa de desestabilizar o principado.

– Minha senhora? – Uma voz hesitante veio do outro lado da porta.

A Princesa gesticulou para que Donghae, um de seus servos humanos, se apresentasse.

– O que está acontecendo?

– Trago uma mensagem urgente da sua residência principal, minha senhora. – Quando Siwon se aproximou da mesa, olhou para Jisu.

– Aproxime-se – a Princesa acenou.

O homem aproximou-se o suficiente para sussurrar.

– A residência principal foi violada. Disseram-me que sua consorte foi capaz de escapar para os túneis.

Jimin agarrou Siwon pela camisa.

– Quando?

– Dentro de uma hora. Levou tempo para a mensagem ser retransmitida porque os intrusos tinham os empregados como refém. Apenas quando a senhorita Ning chegou a residência, a situação foi controlada.

– Tem notícias da minha consorte?

– Nenhuma, minha senhora. – Siwon piscou rapidamente. – Ela ainda deve estar nos túneis.

– Pergunte a Ningning se há alguma maneira de determinar sua localização. Relate de volta imediatamente.

Siwon assentiu e a Princesa o soltou.

– Qual é o estado da residência principal?

– Os criados estão tentando consertar o estrago feito pelos intrusos. – Ele limpou a garganta. – A governanta relatou que um dos homens usava o símbolo de Busan e falou de fontes de inteligência.

Um estranho tipo de silêncio encheu o escritório enquanto a Princesa e Jisu absorveram a sinistra revelação do servo.

– Diga a Eun para se preparar para o caso de precisarmos iniciar o protocolo de Genebra. Reporte a situação a Aeri e traga Taeyong aqui. – Jimin acrescentou, pressionando o punho sobre a boca.

O homem curvou-se pela segunda vez e saiu correndo.

– Qual é o protocolo de Genebra? – Perguntou Jisu, curiosa.

– Não é da sua conta – a Princesa retrucou.

Sabiamente, Jisu fechou a boca.

Poucos minutos depois, Taeyong apareceu, parecendo mais atormentado do que o habitual.

– Mestre?

– Nós temos uma violação de segurança. Um grupo de soldados invadiu minha residência principal. – A Princesa olhou para o chefe de segurança. – Talvez você fosse me informar isso?

– Perdão, minha senhora. – Taeyong inclinou-se para baixo. – Eu acabei de ser informado. Mas posso afirmar que Hongjoog de fato está entre o destacamento que invadiu a cidade. O grupo que invadiu sua residência aparentemente era uma distração.

Jisu ofegou.

A Princesa amaldiçoou.

– Em quantos eles estão?

– Uma unidade de vinte, mais o Hongjoog, minha senhora.

– Onde eles estão agora?

– Eles foram vistos entrando no sistema de túneis perto da praça principal.

– Convoque o exército e coloque-os em alerta máximo. Chame o general para mim imediatamente. Envie uma mensagem ao Império, informando ao Rei que necessito de um encontro com o comandante da Ordem dos Caçadores. Peça por seu apoio. – A Princesa se levantou, pegando o blazer preto sobre a cadeira enquanto avançava em direção à porta.

– Sim, minha senhora. Devo informar o general da sua missão?

A Princesa parou.

– Estamos caçando traidores. Diga a eles para se armarem de acordo.

Se Taeyong pudesse ficar ainda mais pálido, ele teria. Ele se curvou rapidamente e saiu correndo do escritório, todo decoro deixado de lado.

– Você não pode estar falando sério. – Jisu se levantou, sua expressão desenhada e ansiosa.

A Princesa a encarou.

– No momento, existem apenas vinte e um deles. Eles devem ser destruídos antes que os outros se juntem a eles. Mesmo que Busan envie soldados imediatamente usando o transporte moderno, eles não chegarão antes do pôr do sol. Temos que seguir o nosso plano e engajar os invasores agora.

– Não podemos entrar em um conflito aberto sem atrair a atenção negativa da Ordem.

– Irei evitar que isso aconteça. – Ela deu a vampira um olhar desafiador. – Você tem a chance de prolongar sua vida, Jisu. Junte-se a mim ou seja condenada a traição.

Jisu retirou um passo.

– Você cometeria suicídio? Para quê? Uma cidade? Uma consorte?

Os olhos da Princesa brilharam.

– Eu me cansei de sua insolência. Faça sua escolha.

Jisu a observou por um longo momento. Então assentiu.

Jimin se virou e se aproximou da porta, com Jisu atrás dela.

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