51

– Trago notícias, Mestre. – Uma semana depois da tentativa de assassinato, Yeji entrou no escritório particular da Princesa em sua residência secundária.

Ela estava sentada à mesa, na companhia da sua Conselheira. Com um gesto, indicou para que sua chefe de inteligência se sentasse.

– Pode falar.

– Acabamos de receber um recado urgente de nossos agentes em Busan. Nosso espião conseguiu uma audiência com o Conselheiro Kim, deu o recado e entregou a espada como a senhora instruiu. Na mesma hora, Hongjoog informou ao seu círculo íntimo que a senhora estava morta.

– Então foi Busan.

– Sim, Mestre. Parece que Hongjoog estava pessoalmente por trás da tentativa de assassinato.

Os olhos castanhos da Princesa cintilaram.

– E?

– Um dos seus questionou nosso agente sobre por que Joonho não tinha ido dar o recado pessoalmente. O espião respondeu conforme as suas instruções, e Hongjoog se contentou com a resposta. Parece que ele aceita depressa as notícias que agradam aos seus ouvidos.

– Pelo visto, sim. – A Princesa coçou o queixo, pensativa. – Quanto tempo temos antes de eles se moverem?

– Não ficou claro. Segundo nossos agentes, Hongjoog está guardando sigilo em relação à notícia de sua morte. Ele não quer competir com outros principados pelo seu território.

– Jogada inteligente. Seus agentes em Busan deram alguma informação sobre possíveis espiões aqui em Seul?

– Segundo nossos agentes, Busan não conseguiu infiltrar espiões em nosso principado.

– E nem precisam. Hyunjin vendeu para o antigo Príncipe as plantas do nosso sistema de segurança. Uma vez que estava trabalhando com Hongjoog, era esperado que ele tivesse acesso a essas informações.

Yeji assentiu com a cabeça.

– Devo dizer que foi confirmado que Hongjoog despachou dez homens para assassiná-la. Ou seja, um invasor continua sumido, como disse Taeyong.

A Princesa encarou sua chefe de inteligência com uma expressão dura.

– Quero que ele seja encontrado. O quanto antes.

– Sim, Mestre. Embora não caiba a mim dizer isso, creio que Taeyong localizou o invasor e vai apresentá-lo a senhora em breve.

– Pelo bem de Taeyong, tomara que isso seja verdade.

– Nós poderíamos dar aos nossos espiões carta branca para lidar com Hongjoog diretamente. É provável que o sucessor dele seja mais sensato e não cometa a bobagem de iniciar um conflito contra nós. Poderíamos cobrar tributos dele.

Jimin considerou a possibilidade, ainda que de forma breve.

– Um assassinato é bom demais para Hongjoog. Quero entrar naquela residência, pôr minha bota no pescoço dele e obrigá-lo a se render.

– Nesse caso, na minha opinião, estamos em situação mais propícia para assumir uma postura defensiva em relação a Busan. Temos aliados entre as duas cidades, e, aparentemente Hongjoog não quer entrar em guerra. Ou seja, terá que assumir Seul de dentro.

– Foi o que pensei, Yeji.

A Princesa olhou para o anel de sinete de ouro em seu dedo antes de dispensar sua chefe de inteligência. Tinha assuntos a tratar com sua Conselheira e não necessitava de expectadores.

Yeji fez uma profunda reverência antes de se retirar.

– Então, quais são as notícias do Palácio Imperial? – A Princesa se dirigiu a Aeri e indicou com um gesto uma cadeira próxima.

Ela fez uma mesura e se sentou.

– O Rei não pôde receber o mensageiro. Mas ele se encontrou com sua Conselheira.

A revelação não surpreendeu a Princesa.

– E...?

Aeri tirou da roupa um pedaço de pergaminho dobrado e lacrado com cera vermelha e o brasão do Rei da Coreia do Sul.

– Esta missiva lhe foi dada para confirmar a conversa que teve com a Conselheira. Ela informou que o Império não vai interferir em caso de guerra entre Busan e Seul, a menos que o conflito atraia uma atenção indevida.

A Princesa rompeu o lacre, desdobrou o pergaminho e leu rapidamente as palavras em coreano antigo.

– Atenção de quem? Dos humanos ou da Ordem dos Caçadores?

Aeri se remexeu no assento.

– A Conselheira não especificou.

– Provavelmente porque uma coisa leva à outra.

A Princesa parou um instante ao ver na missiva algo interessante que não tinha relação com a conversa em pauta.

Aeri percebeu a reação e a encarou com um olhar curioso. Jimin dobrou a carta e a guardou no bolso do blazer.

– Foi informado ao Império que não tínhamos certeza se Busan estava por trás da tentativa de assassinato?

Aeri parecia querer perguntar sobre a missiva. Mas não o fez.

– Sim.

– Como você viu, recebemos confirmação de que Hongjoog foi o responsável pelo ataque. Qual é a posição do Império em relação às circunstâncias do nosso conflito?

– Segundo a Conselheira, o Rei prefere evitar pronunciamentos públicos em relação a essas questões, mas no âmbito particular o mérito de nossa reclamação já foi reconhecido.

A Princesa levou um instante para ajustar as abotoaduras enquanto refletia sobre as palavras de Aeri. Não eram as que ela esperava.

– Alguma indicação da... aposentadoria do Rei?

– Não, minha senhora, mas há boatos de que escolheu um sucessor em segredo quando completou mil anos.

– Que boatos? – O tom da Princesa foi ríspido.

Aeri ergueu as mãos em um gesto conciliatório.

– Nada específico. Mas daqui até o Império cidadãos comentaram como é estranho ninguém ter visto o Rei em pelo menos um século. Foi-me dado a entender que a Conselheira dela cuida de todos os assuntos de Estado. E que um sucessor vai assumir o trono quando chegar a idade certa.

A Princesa resistiu ao impulso de comentar e deixou seu olhar se perder ao longe, sem revelar o que lhe passava pela cabeça.

Naquele momento, alguém bateu à porta.
Aeri se curvou e a abriu com discrição, bloqueando a entrada com o corpo.

– Com licença, Aeri. – A voz de Ningning encheu o ambiente. – Taeyong tem um presente para a Princesa.

– Que presente? – Aeri pareceu surpresa.

– Um presente busanita.

Aeri ficou em silêncio por alguns instantes.

– Diga a Taeyong para levar o presente para a sala do Conselho. Vou avisar a Mestre.

Ningning concordou, e Aeri fechou a porta. Jimin arqueou as sobrancelhas.

– Bem, que presente é esse?

– Não sei ao certo.

– Reúna os membros do conselho. Podemos precisar deles.

Aeri fez uma reverência e se retirou.

No silêncio de seu escritório, a Princesa sacou a missiva do bolso e tornou a ler o recado escrito na parte inferior com uma caligrafia conhecida. Um largo sorriso se espalhou por seu rosto.

\[...]

– Voto por torturá-lo. – A voz alta de Jisu ecoou pela sala do conselho numa melodia ardilosa.

O Conselho havia se reunido sem o prisioneiro, que estava sendo mantido em uma cela próxima sob a vigilância cuidadosa de nada menos do que quatro guardas.

– A vida do busanita pertence a Princesa. Talvez ela prefira matá-lo pessoalmente – interveio Aeri, olhando para sua líder sentada no trono.

– Ele é jovem e pode ser convertido – disse Taeyong em voz baixa, porém confiante.

– Precisamos determinar qual foi seu contato com Busan. – A Princesa mirou o semblante grave em seu chefe de segurança.

Taeyong concordou com um meneio de cabeça.

– Sem dúvida, Mestre, mas duvido que ele tenha tido algum. Separou-se dos outros e teve que ficar escondido no Arno. Pelo aspecto, nem sequer se alimentou desde a noite em que a senhora foi atacada.

– Yeji? – A Princesa se virou para sua chefe de inteligência. Esta se levantou.

– Não tivemos nenhuma notícia de qualquer informação daqui ter vazado para Busan. Hongjoog continua a pensar que a senhora morreu, Mestre.

– Alguma movimentação na região?

– Nenhuma. Segundo nossos espiões, Busan reuniu um exército, mas as ordens são para que se mantenham a postos. Eles confirmaram que um conflito aberto está fora de cogitação até que se prove necessário.

A Princesa sorriu.

– Excelente.

– Como previmos, Busan está fazendo planos para vir pela passagem no subterrâneo – prosseguiu Yeji. – Mas os nossos espiões conseguiram determinar por onde eles devem seguir.

– Decerto em direção à câmara do conselho – ponderou a Princesa.

– Essa é a possibilidade mais viável. Eliminando o Conselho, Hongjoog pode assumir facilmente o controle da cidade e evitar a guerra que tanto teme.

Jimin uniu os dedos.

– Hongjoog me surpreendeu. Imaginava que fosse atacar horas depois de saber da minha morte.

Yeji assentiu.

– É possível que estivesse esperando um relatório aqui de dentro.

A Princesa tornou a sorrir.

– Foi a nossa sorte. Nosso exército é maior e com certeza mais forte. Nós estamos totalmente prontos. Embora possamos obter permissão de nossos vizinhos para marchar por seus territórios e atacar Busan, de fato é mais prudente aguardar. Hongjoog virá até nós.

Voltando-se para sua chefe de inteligência, acrescentou:

– Yeji, escreva cartas para a Princesa de Icheon e o Príncipe de Daegu, pedindo-lhes que fiquem do nosso lado durante qualquer conflito em potencial, mas não mencione nosso adversário por enquanto. Certifique-se de que nossos espiões na costa estejam prontos e ofereça-lhes belas recompensas por informações sobre qualquer movimentação ao norte.

Yeji se curvou.

– Sim, Mestre.

– Taeyong. – A Princesa chamou seu chefe de segurança com um aceno.

O vampiro se aproximou do trono e se curvou.

– O soldado busanita é seu prisioneiro. Extraia dele qualquer informação que conseguir, depois mate-o.

Taeyong hesitou. Parecia querer protestar, mas teve o bom senso de não fazê-lo.

– Sim, Mestre.

– Como recompensa, vou encarregá-lo pessoalmente do interrogatório. Mas ordeno a Ningning e Jisu que assistam às perguntas. Ryujin, a médica, também ficará ao seu dispor caso precise dela.

– Sinto-me honrado, Mestre. Obrigada. – Taeyong fez uma mensura e voltou para o seu lugar.

– E Taeyong.

Ele parou antes de se sentar e tornou a se virar para o trono.

– Sim, Mestre?

– Não pense que eu esqueci a sua falha. – A expressão da Princesa endureceu. – Espero que eu não tenha que lidar com outra em um futuro próximo.

\[...]

Minjeong estava no corredor procurando por Jimin quando ela ouviu vozes detrás das portas fechadas de sua biblioteca. Sem se incomodar em bater, ela entrou no cômodo.

Siwon estava no final da biblioteca, em frente à mesa de Jimin. A Princesa acenou para ela enquanto concluía suas instruções.

– Para Genebra. Mas apenas em determinadas circunstâncias.

– Sim, minha Senhora. – O segurança respondeu.

– Você está dispensado.

O humano se curvou e deixou a biblioteca, acenando para Minjeong enquanto saia.

Ela cruzou os braços quando se aproximou da mesa dela.

– O que há em Genebra?

– O Trivium.

– O que é isso?

– Meu banco. – Jimin saiu de trás de sua mesa e segurou as mãos dela. – Se você precisa fugir de Seul, vá para a Via em Cheongdam, número trinta e três. Procure por Yeoreum. Ela irá fornecer-lhe com segurança passagem para fora da cidade.

– Você já me disse isso antes. – Ela procurou seus olhos. – Alguma coisa mudou?

– Meus inimigos estão se mobilizando e em breve devem fazer seu movimento.

Minjeong ficou surpresa.

– Por quê?

– Por que a situação externa está sendo resolvida e eles não podem perder a oportunidade – Jimin segurou os braços dela. – Escute, o caso de assassinato público deve ser encerrado em breve. Mesmo agora, minha rede de inteligência está colocando tudo em desinformação. Daqui a alguns dias, o pêndulo balançará em nossa direção.

Minjeong se encostou na mesa.

– Eu quero continuar a viver no meu mundo. Permanecer em Seul é realmente importante para mim.

Jimin envolveu a mão em volta do pescoço dela.

– Entendido. Apenas me dê alguns dias.

– Alguém está tentando tirar o principado de você. Há a Ordem dos Caçadores de um lado e qualquer outro vampiro intrometido no outro.

Ela tirou a mão e deu um passo para trás.

– Isso é verdade, mas nós temos o apoio do Rei. Nós temos aliados nos principados vizinhos. A maré vai virar.

Minjeong agarrou a mão dela.

– Você tem certeza?

– Sim. Se eu estiver errada, já fiz um caminho para você escapar da cidade.

Ela agarrou a mão dela com força.

– Eu não vou sair sem você.

– Você não vai precisar. – Jimin olhou para as mãos. – Eu já sei quem é o traidor, e vou atraí-lo até mim. Eu só preciso de um pouco de tempo.

– E a Ordem dos Caçadores?

– A Ordem não quer uma guerra com o Império. Eles vão fazer barulho, tenho certeza, mas irão demorar a agir. Devo mostrar à Ordem e ao mundo que Seul está firmemente sob meu controle. Vai demorar alguns dias.

A Princesa levantou os olhos para encontrar os dela.

– Você pode me dar isso?

– Eu não vou deixar você, Jimin. – A musicista se inclinou contra ela. – Mas se a cidade cair e precisarmos fugir, você vai fazer isso?

– Pergunte-me quando chegar a hora – ela sussurrou, pressionando sua cabeça contra o peito.

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Bom, galera, passando aqui para avisar que a partir desse capítulo a fic entra na reta final. Espero que curtam a leitura até lá.

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