47

Um som estridente despertou Minjeong de um sono pesado. Jimin, que estava deitada ao lado dela, levantou-se a cama e envolveu-se em um roupão de seda.

Minjeong rolou para o lado, sem vontade de abrir os olhos. Ela ouviu a porta se abrir.

– O que é isso? – O tom de Jimin era frio.

– Perdoe a interrupção, minha senhora. – Ningning estava quase gaguejando. – Houve um incidente.

– Que tipo de incidente?

Minjeong abriu os olhos para ver Jimin sair para o corredor, fechando a porta durante a sua conversa. Ela ouviu murmúrios do corredor, mas não conseguiu distinguir as palavras, até que Jimin xingou em voz alta.

Ela entrou novamente no quarto e caminhou até o guarda-roupa, removendo um conjunto de roupas pretas.

Minjeong sentou-se.

– O que está acontecendo?

– O corpo de um humano está pendurado em um gancho de carne no Yongsan Park.

A Princesa jogou o roupão no chão e começou a vestir suas roupas.

– O que?

– As fotografias da cena foram divulgadas. A Ordem terá conhecimento disso agora.

– Você está em perigo?

Jimin virou a cabeça. Sua expressão suavizou.

– Não, meu amor. Mas devo agir imediatamente.

Ela continuou se vestindo enquanto Minjeong piscava para não dormir.

– Por que alguém faria isso?

Jimin abotoou a camisa.

– É a postura do corpo que é mais reveladora. Ele foi posicionado em um lugar público para ficar visível quando o sol nascer. Quem quer que tenha feito isso sabe que nossas tentativas de encobrir a matança seria prejudicada pelo sol.

– Você não acha que a Ordem dos Caçadores fez isso?

– É possível. Mas é mais provável que tenha sido um vampiro, querendo me atacar pessoalmente.

– Como?

– Expondo aos meus inimigos que não sou capaz de controlar o que acontece no meu próprio principado – Ela se moveu para o lado dela e a beijou profundamente. – Seja cuidadosa. Esteja em alerta. Eu prefiro que você não saia da residência hoje, mas se você o fizer, por favor, peça para Ningning me informar. Certifique-se de levar o segurança com você.

Ela desapareceu pela porta.

\[...]

A primeira preocupação de Jimin era a segurança do principado. Ela correu
de prédio em prédio, saltando pelos telhados, buscando qualquer sinal de que a Ordem havia invadido. Percorreu o perímetro da cidade, examinando as fronteiras e as patrulhas.

Finalmente parou no topo do Teatro Nacional, olhando a cidade que amava lá embaixo, e sentiu medo.

Sob circunstâncias normais, ela teria ido ao Conselho, contado o que descobrira e enviado grupos para ver se invasores haviam entrado na cidade. Mas não podia arriscar expor Minjeong a um perigo eminente.

Ela já estava envolvida na sua tão complicada vida. E a ideia dela pagar pelos seus erros... Jimin estremeceu.

Como sua indiferença ante os sentimentos foi reduzida a uma pequena brasa em comparação com o fogo ardente de seu amor por Minjeong? Ela achava que conhecia o amor, mas o carinho e o afeto que sentia não eram nada se comparados ao que sentia por Minjeong.

Ela sentia desespero e desejo.

O Conselho teria que ser informado sobre a infiltração de invasores na cidade, se é que já não sabiam. A rede de inteligência iria inevitavelmente descobrir a presença de quem estava por trás daquele ataque, e ela precisava garantir a segura de Minjeong, por qualquer meio que fosse necessário.

Com um grito, Jimin saltou do topo do teatro para o chão de pedra e saiu em disparada. Ela havia cumprido seu dever cuidando da segurança do principado. Agora precisava se certificar de que a situação no Yongsan Park estava sob controle. Se essa questão ganhasse ainda mais visibilidade...

Jimin não queria pensar nas consequências.

Ela correu pela ponte Bampo e por Yongsan-gu com facilidade, sabia que o responsável pelo atentado ainda estava dentro da cidade ou perto, observando as consequências de sua violência pública com alegria.

Em um instante, ela se encontrava nas proximidades do parque. Estava prestes a escalar a lateral de um edifício para ter uma melhor visão da cena do crime quando a direção do vento mudou.

Ela se imobilizou, fechou os olhos e inspirou.

O cheiro de outros da sua espécie se destacou. Nenhum dos odores era conhecido.

A Princesa subiu no telhado bem a tempo de ver um grupo de dez homens, todos armados com espadas, correrem na sua direção pelos telhados em volta. Estavam a pouco menos de um quilômetro de distância.

Ela estava desarmada.

Correu os olhos depressa pelos arredores para ver se havia outro grupo vindo pelo outro lado. Mas não.

A Princesa achou o fato um tanto curioso.

Era possível que estivessem atrás de outra pessoa. Possível, mas não provável. Um grupo de seres armados correndo na sua direção significava apenas uma coisa: assassinato.

Virou-se de frente para eles, com o corpo alerta, ainda olhando ao redor para ver se vinham outros.

O grupo pulou para o telhado do prédio contíguo ao que estavam e parou.

Mais uma vez, a Princesa considerou surpreendente aquela sua estratégia.

Um homem que parecia ser o líder do grupo se dirigiu a ela em coreano, brandindo a espada de lâmina larga:

– A Princesa de Seul, sozinha e desarmada...

Jimin examinou o grupo em busca de rostos conhecidos. Não encontrou nenhum.

Empertigou-se até alcançar sua estatura completa.

– Vocês têm um minuto para baixarem as espadas e se renderem, ou vou destruí-los.

O grupo riu, e um deles avançou até a borda do telhado para desafiá-la.

– Ficou louca? Somos dez contra uma – disse um segundo homem. Os olhos castanhos da Princesa se cravaram nos seus.

– Vocês fazem alguma ideia de com quem estão falando? Este principado é meu há séculos. Baixem as armas, ou vão morrer com elas na mão.

O grupo tornou a rir.

Outro homem fez a espada silvar pelo ar, simulando uma decapitação.

Quando os risos cessaram, o segundo homem que havia falado ergueu a espada e, com um grito, atravessou o espaço entre os dois prédios e voou para cima da Princesa.

Esta ficou parada até o homem chegar logo acima dela. Então deu um passo para o lado, agarrou a espada pelo pulso e a arrancou da mão do adversário. Os ossos do pulso se partiram como gravetos sob seus dedos.

O homem uivou de dor, soltou a espada e desabou sobre o telhado.

Jimin segurou a espada com a mão esquerda, girou o corpo e cortou o pescoço do homem. A cabeça saiu voando até cair no chão com um baque enjoativo e molhado.

Ela jogou a espada para a mão direita e chutou longe o corpo sem cabeça. Virou-se para o grupo com um sorriso.

– Quem é o próximo?

Houve alguns instantes de hesitação, mas só alguns instantes. Os membros restantes do grupo soltaram um grito e avançaram ao mesmo tempo.

A Princesa esperou até eles chegarem quase ao alcance de sua espada, então pulou bem alto no ar. Deu uma cambalhota, aterrissou atrás deles e cortou rapidamente a cabeça de dois dos homens com um só golpe.

Mais uma vez, chutou os corpos decapitados para longe, ignorando as cabeças que rolaram.

Seus agressores se precipitaram sobre ela.

A Princesa se defendeu e revidou, pulando para se esquivar das espadas. Em poucos instantes, havia abatido seis homens ao todo. Sobraram apenas quatro, contando com o líder.

– Baixem as espadas. – Feito um leão, ela andava de um lado para outro, empurrando os homens em direção à borda do telhado.

O líder disse um palavrão e cuspiu.

– Joonho, vá cuidar dos outros – falou, dirigindo-se ao homem ao seu lado e indicando com um gesto os cadáveres e as cabeças que coalhavam o telhado e cujo sangue escuro reluzia na semiescuridão.

O líder atacou, na esperança de dar a Joonho a abertura de que ele precisava. A Princesa se esquivou do ataque e deu um chute no peito de Joonho, forçando-o a se ajoelhar antes de arrancar sua cabeça.

Então apontou para o líder a espada ensanguentada.

– Diga-me a quem devo o prazer de sua visita antes de eu o matar.

O líder segurou a arma com mais força.

– Você continua em desvantagem numérica.

– Não por muito tempo.

O líder pulou pela borda do telhado, e seus dois companheiros foram atrás.
Calma, a Princesa olhou para eles lá embaixo.

Os dois aterrissaram ao lado do prédio, em pose de combate.

A Princesa olhou em volta para se certificar de que não havia nenhum outro grupo por perto para atacá-la. Então voou até o chão e aterrissou a alguns metros dos adversários restantes.

– Se me disserem quem os mandou, talvez eu poupe a vida de vocês.

O líder e seus companheiros avançaram em uma só linha.

– Não precisamos da sua caridade.

– Nesse caso, candidato a assassino, você está morto.

A Princesa correu na direção do líder e cravou a espada em seu peito, atravessando seu coração. Não foi um ferimento mortal, mas mesmo assim o derrubou. Jimin ouviu seu coração falhar e parar de bater.

Os dois homens restantes se aproximaram pelo outro lado, em um ataque coordenado.

Ela pegou a espada caída do líder e, segurando uma em cada mão, enfrentou os dois ao mesmo tempo.

Os dois adversários eram mais fortes do que os companheiros. A Princesa desferiu e aparou golpes, mas recusou-se a recuar, obrigando-os a assumir posições defensivas.

De repente, soltou a espada que segurava com a mão esquerda e empunhou a outra com as duas mãos. Deu um salto no ar e a desferiu com um grito bem alto, cortando o pescoço de ambos os homens.

Eles desabaram mortos, e suas cabeças saíram voando até enfim caírem na calçada.

Ainda de espada na mão, foi até o líder.

– Como vocês sabiam onde me encontrar?

O homem disse um palavrão e levou a mão ao ferimento que vertia sangue em seu peito.

Jimin lhe deu um chute rápido nas costelas, e o barulho de ossos se quebrando encheu o ar.

– Fale!

– Vida eterna ao futuro Príncipe de Busan – arquejou o homem. A Princesa apontou a espada para o céu.

– Vou despachar sua cabeça para esse tal Príncipe de Busan com um bilhete:
Da próxima vez, mande um exército.

Ela pôs um pé no peito do homem e ergueu a espada antes de baixá-la em seu pescoço.

– Estou vendo que perdi toda a diversão. – Uma voz familiar ecoou em algum lugar lá em cima.

A Princesa ergueu o rosto e se deparou com Jisu, que pulou do telhado do edifício até o chão.

Ela encarou os cadáveres e as cabeças com um olhar de desagrado.

– Que bagunça, Mestre.

– Jisu. – Ainda segurando a espada suja de sangue, Jimin meneou a cabeça para ela.

Como sempre, estava vestida de forma impecável. Seus cabelos compridos caíam pelas costas e os olhos castanhos excepcionais cintilavam no belo rosto.

Ela chutou uma das cabeças e se curvou para examinar seus traços.

– Não estou reconhecendo. É um dos seus?

– Soldado de Busan. – Jimin baixou a espada e correu os olhos pela carnificina. – Ou pelo menos foi o que eles deram a entender.

Os olhos castanhos dela encararam os seus.

– Busan? Tem certeza?

– Não. Conheço o círculo íntimo de Hongjoog. Esses homens eu não conhecia.

Ela torceu o nariz.

– Não são caçadores. Será que podem ser mercenários?

– É possível. – A Princesa moveu a espada, pousou-a com a ponta sobre o calçamento e se apoiou nela, pensativa.

– Você poderia ter poupado um, para interrogá-lo. – Jisu abriu um sorriso. – Já faz um tempo que não saboreamos uma boa tortura.

– Duvido que a tortura tivesse conseguido extrair algo de útil. Para torturá-los de modo eficaz, teria sido preciso entregá-los à Ordem.

O sorriso desapareceu dos belos traços de Jisu, e ela olhou por cima do ombro. Um levíssimo calafrio fez sua forma esbelta estremecer.

– Prefiro ser amaldiçoada do que me mancomunar com aqueles monstros. Estava me oferecendo para praticar eu própria a tortura.

A Princesa se permitiu um esboço de sorriso.

– Agradeço.

– Será que estavam atrás de informações?

Ela gesticulou para os cadáveres no chão e apontou para o telhado.

– Dez homens armados para acertar um único alvo? Não. Eles queriam matar.

Jisu balançou a cabeça; agora via aquela cena sangrenta com novos olhos.

– Estou surpresa que tenham mandado tão poucos.

A Princesa se empertigou.

– Talvez haja outros. Chame Ningning e Taeyong. Instrua-os a registrar imagens dos rostos antes de queimarem os corpos, e passe as informações para Yeji. Talvez a rede de inteligência possa descobrir a identidades deles.

Ela fez uma mesura.

– Sim, Mestre.

– Prepare-se para uma reunião do Consilium.

– Como quiser, mas será mesmo necessário? Eles já estão mortos.

A Princesa a encarou com um olhar sério.

– Eles invadiram o meu principado.

– Estamos sitiados?

– Não vou esperar para descobrir. O Conselho vai se reunir hoje à noite para debater a arte da guerra. – Seus lábios se contraíram. – Tenho certeza de que Aeri vai achar a conversa bem familiar.

Jisu bufou.

– Todos nós vamos.

– Verdade. Já faz tempo que não temos uma conflito externo. E esse definitivamente não é o momento ideal para isso, mas nao pretendo ser derrotada. – Jimin ergueu o queixo. – Vá, Jisu. Depressa.

Ela fez uma nova mesura. Antes de se retirar, porém, aproximou-se dela com cautela.

Estendeu a mão para tocar sua manga, mas retirou-a quando viu seus dentes e o brilho do seu olhar.

– Que bom que você está viva – sussurrou, e seus olhos se escureceram por um instante.

A Princesa deu um meneio seco de cabeça.

Com um leve sorriso, ela se virou e escalou o prédio antes de sumir no telhado.

Enquanto ajeitava as abotoaduras e observava o massacre aos seus pés, a Princesa afastou da mente qualquer pensamento sobre o incidente de mais cedo.

O assassinato de um humano eram uma coisa, mas uma invasão ao seu principado era outra bem diferente.

A Princesa agora estava concentrado em uma vingança bem mais política.

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