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A Princesa continuou esperando um mensageiro por mais tempo do que gostaria. Por fim apareceu Seojoon, anunciando que o Rei, em sua infinita beneficência, havia concedido a Princesa uma audiência privada.

Jimin seguiu o capitão por uma série de passagens até chegarem a uma imensa porta de metal, que estava flanqueada por dois guardas imperiais empunhando lanças.

– A Princesa de Seul para ver sua excelência. – Seojoon assentiu na direção de Jimin. Um dos guardas abriu a porta enquanto outro acompanhava ele e a Princesa para dentro.

A sala do trono Imperial era maior que a sala do Conselho e muito mais elaborada. O chão estava coberto com mosaico, e as paredes e o teto decorados com afrescos elaborados. Os afrescos retratavam a Coreia Imeperial, povoada como eram por pessoas em roupas tradicionais. Mas em uma inspeção mais próxima, cada cena incluiu a mesma figura atraente, de cabelos escuros, vestida de vermelho imperial.

– A Princesa de Seul, sua excelência. – Seulgi dirigiu-se ao "Rei" em coreano antigo, fazendo uma mensura.

A sala em si era completamente escura, com exceção de dois pilares de chama que flanqueavam uma curta escadaria de ouro que ascendia a um trono ornamentado.

A figura que estava sentada no trono vestia roupas sociais negras e mantinha um manto vermelho jogado sobre o ombro. Em sua cabeça se encontrava uma coroa de folhas de louro dourada. Os olhos dela estavam fechados, e ela ficou perfeitamente imóvel, como uma estátua.

– Você está dispensada, Seulgi. – A voz da figura era baixa, seu sotaque antigo.

A Conselheira curvou-se.

– Como deseja, sua excelência. – Ela avançou para a porta, ainda de frente para o trono, e saiu com Seojoon.

A figura apontou um dedo pálido para os guardas imperiais, que levantaram suas lanças em saudação e partiram pela porta, fechando-a atrás deles.

Jimin se ajoelhou diante do trono. Foi só então que a figura abriu os olhos.

Na aparência, Bae Joohyun era linda, tinha longos cabelos negros e olhos castanhos ardentes. Se alguém não soubesse que ela era uma vampira, poderia ter marcado sua idade em cerca de trinta anos.

– Minha filha. – Ela ajustou seu manto para abrir o braço direito. Jimin subiu os degraus para o trono. As duas vampiras se abraçaram.

Joohyun ergueu o queixo de Jimin e a observou atentamente.

– Mãe – sussurrou a Princesa.

Ela a liberou de seu abraço.

– Eu fiquei surpresa quando recebi sua mensagem.

– Peço desculpas. – Jimin desceu os degraus para ficar entre os pilares da chama. – Eu deveria ter vindo vê-la antes.

– Não se preocupe com isso. Eu sei das responsabilidades que você tem como governate. – Joohyun olhou para ela com astúcia. – Mas eu percebo que isso não é um visita familiar.

– Receio que não. Minha visita diz respeito à Ordem.

Sua criadora assentiu com a cabeça.

– Conte- me.

– Por algum tempo, a Ordem observou Seul. Agora eles estão me ameaçando e planejam uma incursão.

Joohyun arqueou uma sobrancelha.

– A Ordem planeja iniciar um conflito? Que loucura é essa?

– Acredito que estão insatisfeitos com a forma como governo a cidade. Principalmente depois dos últimos conflitos internos.

Joohyun riu com desgosto.

– Ah sim. Chegou ao meu conhecimento a tentativa desleixada de golpe de um dos membros do seu Conselho. Mas vejo que lidou bem com a situação.

Jimin desviou os olhos e colocou as mãos nos bolsos da calça.

– É sempre um prazer estar na sua companhia, mãe. Fiquei longe por muito tempo, mas pretendo corrigi isso. Há mais.

– Prossiga.

Jimin limpou a garganta.

– O conflito interno é um pretexto. Eu acredito que a Ordem deseja enfraquecer sua autoridade, e para fazê-lo, eles querem atacar Seul.

Joohyun ergueu os braços.

– A Ordem dos Caçadores deseja enfraquecer minha autoridade durante séculos. No entanto, aqui estou sentada. A solução para o seu problema é clara: remova o pretexto e fortaleça sua posição.

A Princesa baixou o olhar.

– Sim, mãe. Mas se a Ordem for bem sucedida neste assunto, o que irá fazer para impedi-los de um ataque não provocado?

Joohyun encarou o anel de sinete com o símbolo do império coreano que ela usava em sua mão direita.

– Eu fiquei cansada dessas pequenas disputas há anos. É por isso que me mantenho oculta por trás do pseudônimo de Rei e também porque designei minha conselheira para supervisionar essas questões.

– Peço desculpas, mãe. – Jimin tentou muito não expressar sua agitação. – Mas eu acredito que a tática da Ordem é fazer de Seul um exemplo, para levar os outros principados coreanos a se renderem. Se eles puderem transformar Seul em Taiwan, sem sua intervenção, o que faremos para evitar que eles dizimem os outros principados?

– Nosso inimigo não se move contra uma cidade coreana desde que assinamos o tratado.

Jimin fez contato visual com sua criadora.

– Não deixe Seul ser a primeira.

– Qual é a sua recomendação?

– Estou me aproximando da minha meia idade. Mãe, peço que você nos defenda contra a Ordem e que eu possa servir meus últimos anos como Princesa de Seul antes de assumir o trono Imperial.

Os olhos de Joohyun procuraram os de Jimin.

– Você está me pedindo como a Princesa de Seul? Ou como minha filha?

Os dedos de Jimin se fecharam em punhos.

– Sua filha, se necessário.

Joohyun franziu a testa.

– Eu não a vejo há muito tempo, Jimin. Agora você aparece, implorando por favores.

– Perdão, sua excelência. Não quero ser desrespeitosa. – A Princesa pareceu contida. – Seul é uma joia, e muitos dos nossos vizinhos a cobiçam. Viajei pouco durante o meu tempo como Princesa.

Joohyun respirou fundo, resignada.

– Você é a minha escolhida, é verdade. Como diz, Seul é uma joia. Você está certa sobre sua idade?

– Você me fez em 1534. Meus 500 anos se aproximam. Como decidiu, devo assumir o trono Imperial quando chegar nessa idade.

Sua criadora ficou pensativa.

– Surgem os séculos, séculos vão. Quando alguém os tem para sempre, a marcação do tempo parece imaterial. Como escapei da maldição e você é minha criação, talvez escape também.

Jimin balançou a cabeça com tristeza.

– Você é a grande exceção, mãe.

Joohyun continuava pensativa. Então sua expressão se iluminou.

– Eu tinha esquecido o quanto gosto da sua companhia.

– Eu também gosto da sua. – Disse Jimin.

Ela sorriu.

– Prometa que você irá visitar sua mãe ao menos uma vez por década.

– Eu prometo – disse a Princesa rapidamente.

– Bom. Não vejo nenhuma razão para você se curvar a ameaça da Ordem. Você é uma Princesa e está sob minha autoridade. Você pode continuar a governar o seu principado, mas o faça com prudência. Não é necessário despertar a fúria dos nossos inimigos desnecessariamente. – A expressão de Joohyun relaxou e ela sorriu. – Eu admito que você me deixou curiosa. Soube que finalmente tomou um rumo diferente em relação a sua vida pessoal

Por uma fração de segundos, os olhos de Jimin se arregalaram. Ela desviou o olhar para as pedras aos seus pés.

– Pode-se dizer que sim, mãe.

Joohyun examinou a cabeça inclinada de Jimin.

– Estou aqui me perguntando... – ela ajustou o anel do sinete em sua mão. – Eu lhe dei longa vida, poder, riqueza e a joia que é Seul. E nunca pedi nada em troca, exceto por fidelidade. Você é leal a mim, não é?

Jimin ergueu o olhar.

– Sem dúvida.

– E você me serve em todos os sentidos?

– Tudo, sua excelência.

Sua criadora inclinou-se para a frente em seu trono.

– Então me dê sua consorte.

As palavras em coreano antigo ecoaram na sala do trono. O cômodo ficou em silêncio. Apesar dos seus melhores esforços, o coração de Jimin bateu irregularmente.

– Em comparação com tudo o que lhe dei, o pedido para ter sua consorte é muito pequeno. – O olhar de Joohyun estava atento, mas seu corpo permanecia relaxado.

– Sim, mãe. – Jimin escondeu o rosto curvando-se.

– Excelente – Ela recostou-se no trono. – Seulgi me disse que sua consorte está aqui, no palácio, e que é uma jovem deveras atraente. Eu a quero.

A mente de Jimin acelerou quando ela calculou como poderia tirar Minjeong do palácio antes de Joohyun perceber o engano. Seria muito arriscado tentar fugir naquele momento, mas ela teria que correr o risco. A Princesa se manteve calma e virada em direção à porta, esperando que sua criadora não pudesse sentir sua ansiedade. Ela abriu a porta, e os guardas imperiais a encararam do outro lado.

– Jimin – a voz de Joohyun ecoou no corredor.

A Princesa se virou, sempre devagar.

– Você pode fechar a porta. – Joohyun acenou para que ela se aproximasse do trono mais uma vez.

Confusa, ela fez o que pediu, depois parou diante dos degraus e se ajoelhou.

O olhar de Joohyun se moveu para as mãos de Jimin antes de se mover para os olhos dela.

– Eu percebo a força do seu apego a mim, Princesa de Seul. Mas também percebo fraqueza. Seja sincera comigo. O quanto você valoriza sua consorte?

– Mais do que à minha própria vida, mãe.

Joohyun fechou os olhos.

O corpo inteiro de Jimin ficou tenso. Ela quase podia sentir seus ossos se dobrando sob a tensão de seus músculos.

– Venha aqui, minha filha. – Joohyun abriu os olhos e se levantou.

A Princesa subiu os degraus e sua criadora a abraçou.

Joohyun acariciou sua cabeça, passando os dedos pelos cabelos longos e escuros.

– Não irei me opor ao relacionamento que mantém com sua consorte – ela sussurrou. – Mas como sua mãe, peço para que seja cautelosa em relação a isso. Não permita que sua fraqueza fique em evidência diante dos seus inimigos.

Ela soltou Jimin com uma pequena carícia, e a Princesa retirou-se dos degraus.

– Eu falo com Seulgi sobre nossa conversa. Você é livre para aproveitar o resto da noite no palácio ou para retornar com sua consorte para Seul.

– Obrigada, mãe. – Jimin se ajoelhou no chão, o alívio percorrendo-a.

– Irei lhe auxiliar com a questão relativa à Ordem se assim for necessário. Mantenha-me informada sobre isso.

Com isso, Jimin levantou a cabeça.

Sua criadora a estava observando atentamente.

– Já vi muito desde o segundo século. Os reinos levantam-se e caem; A força de nossos inimigos cresce e diminui. Mas eles não podem me destruir, e isso eles sabem. – O olhar de Joohyun afiou-se enquanto ela o fixava em sua filha. – Talvez você escape da maldição. Talvez não. Só o tempo irá dizer. Eu concordei com este favor. Você prometeu um serviço infalível. Nos anos que lhe restam antes da acessão ao trono Imperial, eu exijo obediência absoluta.

– Sim, mãe.

– Bom. Peça a Seulgi para vir me ver.

Jimin curvou-se e recuou para a porta, observando como sua criadora olhou para o afresco mais uma vez antes de fechar os olhos.

\[...]

A Princesa foi totalmente descoberta. Ela teve que resistir ao impulso de percorrer os corredores do palácio, puxar Minjeong para dentro de seus braços e ir embora. Mas os olhos da sua criadora estavam sobre ela, isso era certo. Então ela se forçou a seguir Seojoon em uma moderada caminhada enquanto o capitão a conduzia de volta ao salão principal onde Minjeong esperava.

Jimin havia alcançado seu objetivo. Ela garantira o apoio da vampira mais poderosa da Coreia do Sul, se não do mundo. Mas, sem dúvida, deveria permanecer alerta. Joohyun podia estar cansada da vida pública, mas ela não era uma tola. Embora apoiasse o seu relacionamento, quanto antes tirasse Minjeong do palácio, melhor.

Após se despedir de Seojoon, a Princesa entrou no salão principal a procura da sua companheira. Quando um grupo de convidados se dissipou levemente, ela finalmente a viu. Minjeong não parecia de sentir desconfortável como havia imaginado.

Jimin relaxou, mas só até seus olhos vagarem para o vampiro com quem ela conversava. Pelo modo como o olhar dele não se restringia ao rosto dela, a Princesa sabia que não era a única a ter gostado do seu visual. Sentiu uma pontada quente e amarga nas costas, e identificou como um sentimento já conhecido.

Ciúme.

Ela se aproximou e apoiou a mão em suas costas. Minjeong olhou para seu rosto, parecendo se divertir. A musicista sabia exatamente o que ela estava fazendo: reivindicando-a.

– Oi — Minjeong disse baixinho.

– Oi

O vampiro teria que ser cego para não perceber o que estava acontecendo.

Elas trocaram um olhar demorado antes que Minjeong abrisse um sorriso social.

– Jimin, esse é Kim Seungmin. Ele é Príncipe Consorte do principado de Daejeon.

– Ah, é? – Ela disse, arqueando uma sobrancelha. – É um prazer finalmente conhecê-lo.

– O prazer é todo meu, vossa alteza – Seungmin respondeu, fazendo uma breve mensura. Ele era simpático, mas perdeu o interesse ao se ver diante de alguém como a Princesa.

Depois de alguns minutos de uma conversa relativamente amistosa, ele se juntou ao seu Príncipe, deixando as duas vampiras sozinhas.

Jimin sorriu, segurando o braço de Minjeong e a conduzindo até uma área externa. O céu noturno era iluminado exclusivamente pelo luar, este que banhava tudo a sua volta com um brilho prateado.

– Tenho que dizer que o Império sabe como fazer um evento. – comentou a musicista.

– Não acha pretensioso demais? – Perguntou Jimin.

Minjeong sorriu.

– Um pouco. Mas também é bem interessante.

Não havia nenhuma nota de escárnio em sua voz. Porque, ainda que tudo fosse ostensivo, e exagerado, de certa forma aquele também era o seu mundo agora.

– O Rei está do nosso lado. – Disse Jimin, acariciando o rosto de Minjeong. – Nós devemos ir embora o mais breve possível. Quanto mais cedo o Conselho de Seul souber que temos o apoio do império, melhor.

– Como o sol vai nascer em algumas horas, imaginei que você só fosse querer retornar para nossa residência na próxima noite.

Ela balançou a cabeça.

– Não. Por mais que o clima no Palácio Imperial esteja agradável no momento, ainda é perigoso estender nossa estadia aqui.

O olhar de Minjeong caiu em suas mãos quando seu corpo ficou tenso.

– Eu pensei que o Rei havia concordado em nos ajudar.

– E concordou.

Ela franziu a testa.

– Então, por que ainda estamos em perigo?

Como por instinto, Jimin olhou ao redor de onde estavam. Mas ela e Minjeong estavam sozinhas.

– Minha criadora parece ter se interessado por você. Ela pediu para conhecê-la.

Minjeong deu um passo para trás.

– Eu não quero encontrá-la.

– Não, você não vai. – Jimin passou a mão em seus cabelos.

– Ela nos manterá aqui?

– Não, somos livres para ir embora. Então vou providenciar nossa partida imediatamente.

Minjeong ficou parada. Então colocou a mão na parte de trás do pescoço de Jimin, puxando sua testa contra a dela.

– Obrigada.

A Princesa não respondeu.

– Eu amo você – ela sussurrou.

– Eu também amo você – Jimin envolveu seus braços ao redor dela, puxando-a contra seu corpo.

– Obrigada por sempre me proteger. – Minjeong beijou o canto de sua boca antes de pressionar os lábios nos dela. – Eu confio em você.

– Você é a única confiança que existe no meu mundo – Jimin falou contra sua boca. – Eu não confio em ninguém mais.

Ela a beijou profundamente, inclinando a cabeça. Tão rapidamente, ela a soltou, beijando sua testa.

– Nós precisamos ir.

– Tudo bem.

Minjeong segurou sua mão e as duas seguiram em direção ao corredor.

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