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A Princesa estava em uma missão. Mesmo agora, enquanto transitava majestosamente pelo salão principal do Palácio Imperial, sua mente retornava a tentativa de golpe que sofrera há algumas semanas. Além disso ainda existia a ameaça da Ordem dos Caçadores invadir sua cidade. Aeri e Ningning provavelmente estavam lidando bem com a situação durante a sua ausência, mas ela não poderia ficar fora por muito mais tempo.

Fazia anos que Jimin não se reunia publicamente com os seus. Consequentemente, após sua chegada na noite anterior, fora informada que o Rei havia organizado um evento privado para reforçar sua aliança diante dos principados de maior poder dentro do país.

Ela havia esquecido como era a vida no Palácio Imperial, mas observava como os habitantes do submundo reunidos ali se deleitavam com todas as oportunidades que um evento daquela magnitude oferecia.

De vez em quando, os olhos de um ou outro cidadão se desviavam para Jimin, e ele ou ela a chamavam. Em resposta a Princesa simplesmente acenava com a cabeça, seus olhar focado unicamente em sua Princesa Consorte.

Minjeong estava linda.

Com um sorriso no rosto, ela conversava com alguns membros da corte Imperial. A saia de seu vestido de seda preta farfalhava sempre que ela se movia e sobre os ombros trazia um blazer preto e elegante. Os longos cabelos castanhos estavam soltos e ondulados, sendo ornamentados pela singela coroa dourada que usava. Sem dúvida uma beleza que se destacava mesmo diante de tantas outras.

O salão principal estava cheio. Havia desde membros da corte a cidadãos comuns. Além de alguns seletos convidados de principados vizinhos.

Jimin cumpria impecavelmente bem o seu papel como Princesa de Seul, mesmo que ser cumprimentada por cada um dos presentes ali se tornasse sufocante com o tempo.

Eram tantas opiniões. Tantas almas interessadas.

– Se me derem licença, eu preciso encontrar... uma coisa – falou ela, com um sorriso forçado.

No segundo em que se afastou de alguns convidados, viu Minjeong a observando. Ela abriu um sorriso singelo enquanto a Princesa se aproximava, caminhando pelo salão como se desfilasse numa passarela. Ela inteira era digna de uma passarela, mas o blazer preto feito sob medida e a coroa dourada em sua cabeça davam um toque especial. Ela olhou para sua consorte e abriu um sorriso.

– Desculpe ter deixado você sozinha.

Minjeong balançou a cabeça.

– Está tudo bem. Diferente do que imaginei, os membros da corte são uma excelente companhia.

– Estou impressionada, Minjeong. – Ela se aproximou cuidadosamente e passou as costas da mão no rosto dela. – Você está lidando muito bem com o seu papel desde que chegamos ao palácio.

– Eu disse que me dedicaria a isso quando você me pediu para que a acompanhasse – Minjeong sorriu, mesmo que ainda sentisse uma pontada de ansiedade diante de tudo o que havia aprendido até aquele momento.

Principalmente o fato de que Jimin era filha daquela que liderava o reino da Coreia do Sul.

– Você me conhece. Eu acho... – A Princesa parou, seus olhos castanhos atentos. – Espero que você saiba que eu jamais a traria para um lugar como esse contra sua vontade.

As duas entreolharam-se por um longo tempo e Minjeong assentiu. Jimin acariciou o queixo dela.

– Você nasceu para ser uma princesa.

O rosto de Minjeong corou.

– Eu me lembro de quando você me falou isso pela primeira vez.

– Eu estava sendo sincera, meu amor, não fingindo.

Jimin levantou o rosto dela e a beijou com delicadeza – um beijo calmo e marcante, para demonstrar sua sinceridade.

– Eu precisava de você aqui – disse ela, recuando um pouco. – Lidar com a corte imperial pode se tornar algo bem cansativo. É bom poder permanecer ao seu lado nesse momento.

– Fiquei tão surpresa quando me contou a verdade. Era como se tudo o que eu conhecia tivesse sido resignificado.

Jimin apertou o abraço e por algum tempo elas ficaram nos braços uma da outra.

Ela deleitou-se com a maciez, o calor, todo o ser dela.

– Está mesmo sendo tranquilo lidar com esse evento? – Perguntou a Princesa, afastando-se para encará-la. – Ninguém incomodou você?

– O quê?

– Eu vi quando o Príncipe de Daejeon se aproximou de você. Só não quero que se sinta desconfortável. Então se algo ou alguém te incomodar não existe em vir falar comigo.

– Jimin... – Ela sorriu e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha. – Você não precisa se preocupar, a noite está sendo bem agradável.

A Princesa a encarou fixamente por alguns instantes antes da sua expressão relaxar. Mas quando estava prestes a falar algo, uma voz familiar chamou seu nome.

Sem explicação, Jimin segurou o cotovelo de Minjeong e deu um passo à frente, em direção à quem a estava cumprimentando. A musicista estava prestes a perguntar o que estava acontecendo quando viu a linda vampira que vinha ao encontro delas, sua postura impecável marcando cada passo como se ela flutuasse.

– Essa é Kang Seulgi, Conselheira Imperial – sussurrou a Princesa, indicando a mulher que se aproximava. Minjeong reconheceu o rosto e os olhos imediatamente, bem como os longos cabelos castanhos-escuros que desciam por seus ombros.

– Espero que esteja apreciando o evento, sua alteza. – A Conselheira fez uma breve mensura. – E peço desculpas pela demora em vir vê-la. Se tivesse nos avisado antecipadamente da sua chegada, eu teria organizado uma recepção adequada.

– Obrigada, Conselheira Kang. – A Princesa sorriu com delicadeza. – A hospitalidade Imperial é sempre adequada. Mas você não pode me condenar por desejar ter sua presença hoje à noite.

Um sorriso surgiu nos lábios da vampira.

– Você me lisonjeia.

Kang Seulgi era coreana e, pelo menos, dois séculos mais velha que Jimin. No entanto, ela se vestia de forma semelhante à sua criadora, terno social e um um manto vermelho jogado sobre o ombro.

A Princesa ficou surpresa. Somente o próprio "Rei" usava vermelho, enquanto sua conselheira era geralmente restrita ao uso de azul. Os olhos de Jimin se estreitaram quando ela percebeu o que provavelmente estava acontecendo ali.

– Peço desculpas por interromper os seus deveres oficiais. – Disse ela, resoluta. – Meu principado passou por um momento conturbado há algumas semanas e isso impele que minha visita ao Palácio Imperial não seja apenas por cordialidade.

– Como o esperado. – Seulgi fixou o olhar em seu rosto. – Ouvi rumores sobre a sua morte pelas mãos de um dos membros do Conselho.

– Esses rumores foram exagerados.

– De fato. – Seus olhos claros se moveram para o lado, descansando em Minjeong. – Eu suponho que essa seja a bela vampira que você escolheu como sua consorte.

– Sim, você está certa. – Disse Jimin, ainda segurando o braço da musicista. – Esta é Kim Minjeong, Princesa Consorte do principado de Seul.

A Conselheira a observou perspicazmente antes de voltar seu olhar para a Princesa.

– Desde quando você se interessa por algo que não seja sua amada cidade?

– Com todo respeito, Seulgi, desde quando você se interessa pela vida particular de um aliado? – O tom da Princesa ficou afiado.

A Conselheira ficou em silêncio por um instante e depois riu, o som musical desaparecimento na grande câmara.

– Minha querida, você deve ser muito especial – disse ela, olhando para Minjeong. – Somente alguém assim conquistaria o fascínio de Yu Jimin.

Minjeong apenas sorriu em resposta, sem saber ao certo o que dizer. Era a primeira vez que se via diante da conselheira do império sul coreano e isso a deixava um tanto tensa.

– Eu imagino que você queira tratar dos negócios o quanto antes. – A Conselheira voltou a falar com Jimin. – Como você sabe, o Rei me delegou assuntos de estado. Talvez se você comunicar suas preocupações, eu possa ser de ajuda.

A Princesa assentiu.

– Obrigada.

– Peço que me acompanhe até a câmara do conselho para lidarmos com essa questão.

– Tudo bem.

Jimin se virou para Minjeong, erguendo a mão dela e beijando sua palma amorosamente.

– Venho ao seu encontro em breve.

Ela assentiu com a cabeça.

Seulgi aguardou pacientemente antes de se voltar para um dos membros do Conselho presente ali:

– Cuide para que nossos aliados tenham o que eles precisam, e lhes dê o meu cumprimentada. Os convidados devem aproveitar a noite, mas devem permanecer no salão principal até que eu retorne.

O vampiro se moveu para cumprir as ordens enquanto a conselheira e sua convidada se retiravam.

– Estou realmente surpresa com a decisão que você tomou – disse a Conselheira quando elas saíram para o corredor. – Pensei que fosse terminar os seus dias de forma solitária.

Seulgi era observadora e perspicaz com as palavras.

Jimin estava bem ciente disso. Ela a conhecia há muitos séculos e sabia exatamente como agia em relação aos aliados dos império, fossem eles próximos ou não.

Durante sua existência como vampira, Jimin esteve no Palácio Imperial em mais de uma ocasião. Seulgi era mais receptiva com aqueles que despertavam o seu fascínio e interesse. Por um motivo em particular, a relação que mantinha com a Princesa era uma de suas preferidas, e foi por isso que ela a acompanhou até a câmara particular do Conselho com uma pontada de preocupação.

– Dado o seu problema com a tentativa de golpe, estou surpresa que você tenha se juntado a nós essa noite. – Seulgi entrou na sala logo após Jimin e ficou alguns instantes admirando a enorme prateleira de livros que tinha ali.

– Hyunjin causou uma comoção desnecessária entre o meu povo quando aplicou um golpe desleixado. Estou aqui hoje para provar o meu poder como governate diante dos demais principados – Jimin disse suavemente.

A Conselheira sorriu.

– Eu sempre posso contar com você para controlar a situação de forma adequada. Devo providenciar para que essa informação chegue aos principados menores?

– Aprecio o seu interesse em prestar auxulio, mas não há necessidade para isso. Como você disse, toda a situação interna foi controlada há cerca de uma semana. E eu gostaria de ver o Rei.

– Como você sabe, o Rei me delegou para assuntos de estado. Se você precisar de orientação, posso oferecê-la. Dentro de uma consulta com minha senhora, é claro.

Seulgi caminhou até um sofá baixo e sentou-se, arrumando-se para um melhor efeito. Ela se mostrava como uma figura deslumbrante, com seu longo cabelo castanho e roupas sociais.

Mas os pensamentos da Princesa foram de outra maneira envolvidos. Na verdade, tudo em que podia pensar era em Minjeong, e ela queria muito voltar para o lado dela.

Jimin ainda pensava sobre o risco que correu de perdê-la durante a tentativa de tomada do seu principado. Talvez suas escolhas tivessem levado a um resultado diferente, talvez não. Mas pelo menos elas estavam juntas agora.

– Sua sabedoria não está em questão, Seulgi. Mas você sabe da verdade por trás da minha origem. Agradeceria se deixássemos as formalidade de lado por enquanto. Eu sou filha daquela que atende pelo nome de Rei e quero vê-la.

A Conselheira conteve um sorriso.

– Você realmente não mudou nada, Jimin. Venha, deixe-me oferecer uma bebida.

Ela acenou para que a Princesa se sentasse ao seu lado e serviu vinho em dois cálices de prata ornamentados que descansavam em uma mesa lateral.

As vampiras se saudaram e beberam.

– Você sabe que sua mãe não faz audiências públicas há muitos anos – A expressão de Seulgi ficou um pouco mais séria. – Mesmo quando proporciona eventos como o de hoje, sou eu a pessoa designada para represenrá-la.

– Eu respeito o desejo dela em lidar apenas com as questões internacionais, mas estou tendo problemas com a Ordem dos Caçadores – Ela disse, recostando-se no sofá.

– Como você é antiga, sabe que o Rei não mantém relações com a Ordem desde que o tratado foi assinado. Eles perseguem os seus objetivos e nós buscamos os nossos.

– Como deveria ser. Mas Seul está sendo ameaçada. Seria loucura para mim entrar em um tratado sem o conselho do Rei.

Seulgi ergueu a cabeça.

– Seul entrando em seu próprio tratado com a Ordem dos Caçadores? Isso seria imprudente.

A Princesa colocou o cálice sobre a mesa.

– Por isso que eu preciso do conselho da minha mãe. A Ordem está em movimento. Eles estão olhando meu principado, esperando por uma oportunidade.

– Minha senhora nunca permitiria isso.

– Os tratados são feitos e quebrados; Os traidores estão em todos os lugares. – Seus olhos castanhos se encontraram com os dela. – Eu digo isso como uma aliada, Seulgi: seja cautelosa. Seja vigilante.

Seus olhos claros arregalaram.

– O que você não está me dizendo?

– Eu lhe digo o que você já conhece, a Ordem dos Caçadores ficou parada enquanto Busan e Seul passavam por uma guerra, esperando que nós destruíssemos um ao outro. Quando isso não aconteceu, eles viraram os olhos para a minha cidade. Estou tomando todas as medidas para garantir a paz. Mas não tenho confiança de como essa paz se dará.

Seulgi inclinou a cabeça, absorvendo as informações.

– Se a situação é tão carregada quanto você diz, por que saiu da sua cidade agora?

A Princesa respirou fundo.

– Como eu disse, estou garantindo ao meus semelhantes que o principado de Seul permanece firme diante das ameaças. Além disso, precisava de uma audiência com minha mãe.

– Eu irei providenciar isso. – Ela disse suavemente.

– Eu agradeço. Minha única preocupação é com Seul. Uma vez concluída a minha audiência, volto para a minha cidade e você terá que lidar com um palácio cheio de governantes a procura de alguma vantagem para seus principados.

– O lado negativo de ser a responsável pelas questões de Estado – Ela franziu o cenho. – Se chegasse a você a notícia de que a Ordem deseja o Palácio Imperial, você me contaria?

– Sim. – Jimin olhou para ela com cuidado. – Posso esperar o mesmo de você?

– Como sempre. Você é uma excelente aliada e vizinha. Uma pena que nem todos os príncipes da Coreia do Sul são assim. – Ela fez uma pausa, pensativa. – Dá última vez em que você entrou em contato, imaginei que fosse fazer uma visita.

A Princesa deu de ombros.

– Essa era minha intenção, mas tive outras prioridades.

– Eu entendo. Meus espiões me disseram que você estava se responsabilizando pela proteção de uma humana. Confesso que eu achei isso curioso.

Jimin ajeitou suas abotoaduras e se levantou.

– Com todo o respeito, Seulgi, estou ansiosa para me encontrar com minha mãe. Sou grata pela sua amizade, como sempre. E prometo a minha amizade em troca.

– Certamente minha senhora aceitará vê-la. Ela sempre abre exceções quando nos referirmos a você – A Conselheira se levantou, seus longos e lisos cabelos cascateando por seus ombros. – Venha nos visitar com sua consorte quando a situação for mais favorável para você. Providenciarei para que a recepção seja mais agradável.

Jimin desviou o olhar para esconder seu desinteresse diante daquela ideia.

– Aprecio sua oferta de apoio e irei me lembrar disso no momento oportuno. Quanto à sua outra oferta, você me honra com sua atenção, mas não devo deixar a cidade por um bom tempo. Seul precisa mim.

A Conselheira levou a mão ao queixo enquanto a estudava com olhar.

– Houve um tempo em que você não recusaria um convite como esse. – Ela disse, pensativa. – Alguma coisa mudou.

Jimin forçou um sorriso.

– Você certamente me conhece, Seulgi. Séculos de existência me fizeram perder o interesse em alguns costumes da nossa espécie.

– Não vamos mentir uma para a outra. Não sobre isso. – Ela se encaminhou até a porta. – Eu não acho que as questões de Estado são o motivo da sua indiferença.

Jimin endireitou-se.

– Eu não sou indiferente.

– Ah, minha velha amiga, isso é uma mentira. Eu já vi você distraída antes, mas isso é outra coisa. Você está completamente apaixonada. – O rosto bonito dela tornou-se sério. – Eu conheço a nossa espécie muito bem, Jimin. Nós não amamos com facilidade. Até mesmo o fascínio pode acabar com o tempo. Mas quando o fazemos, o sentimento pode superar até mesmo a ligação de sangue – Ela fez uma pausa, como se esperasse que a Princesa fosse responder.

Ela simplesmente ficou de pé, preocupada de ter sido descoberta.

Seulgi gesticulou em direção à porta.

– Irei cuidar da sua audiência, um soldado virá acompanhá-la em breve. Que sua bela cidade permaneça segura e que sempre possamos ser aliadas.

O rosto de Jimin ficou sombrio. Ela recuou, parada na entrada.

– Obrigada, Seulgi.

Ela acenou com os dedos e então saiu.

Quando Jimin se viu sozinha, sentiu que não havia feito um bom negócio. Na verdade, foi mais do que desconfortável nessa realização.

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