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Pouco antes do sol nascer, Minjeong estava sentada em um sofá baixo na sacada do quarto, que oferecia uma vista das colinas à medida que se estendiam dos dois lados da paisagem. Ela se perguntou como seria ver o sol se pondo lentamente abaixo do horizonte. Provavelmente seria uma visão de tirar o fôlego.

– Eu trouxe uma bebida para você. – Jimin se aproximou por trás e entregou-lhe uma taça de vinho branco. – É de um vinhedo local.

– Obrigada. – Ela tomou um gole do vinho e achou refrescante.

Jimin se sentou ao seu lado.

– Me desculpe por demorar tanto. Acabei me encontrando com a Princesa de Icheon e ela fez um convite para uma visita em seu quarto.

– Você quer que eu vá com você?

Ela franziu a testa.

– Claro. Esse encontro vai ser bom para prepará-la para o evento de amanhã a noite.

Minjeong ficou em silêncio.

– Não se preocupe. – Jimin beijou-a levemente, deslizando alguns fios de cabelo do seu rosto. – Somi ficará curiosa sobre você, o que significa que precisamos estar alertas. Mas ela é minha aliada mais próxima e definitivamente não vai colocar isso a perder.

– Tudo bem. – Ela desviou de todas as perguntas de acompanhamento apontando para Jimin que estava sentada de costas para a paisagem. – Você está de frente para a vista errada.

– Eu gosto de onde estou.

Minjeong balançou a cabeça, sorrindo.

– Você é cheia de surpresas. Ainda não consigo acreditar que é a herdeira direta ao trono.

– Você também é cheia de surpresas. – Jimin baixou a voz. – Como vamos nos encontrar com a governante de outro principado, ordenei a Changbin que nos acompanhasse. Ninguém ousaria criar um conflito dentro do Palácio Imperial, mas devemos manter nossa segurança enquanto estamos aqui.

– Entendido. – Minjeong se aproximou dela, e Jimin se inclinou, passando um braço por seus ombros de forma protetora.

– A amante de Somi estará presente hoje à noite. Talvez vocês duas se deem bem.

Minjeong congelou.

– Por que você acha que nos daríamos bem?

– Porque conheço Somi bem o suficiente para saber que ela não vai querer tratar de assuntos de Estado na presença de uma amante. Então vou precisar que você faça companhia a ela enquanto lido com isso.

Levou um momento para a tensão nos ombros de Minjeong diminuir.

– Você planejou isso?

– O principado de Icheon é aliado de Seul há muitos séculos. Então é natural que Somi e eu tenhamos questões em comum para discutir.

– Mesmo? E a amante dela?

A Princesa respirou fundo.

– O que você quer dizer?

– Você sabia que Somi havia trazido uma amante como acompanhante?

– Não – ela respondeu suavemente. – Mas também não estou surpresa. Somi é conhecida por ter muitos amantes, mas nunca elegeu nenhum a posição de consorte.

Minjeong ergueu o rosto, seus olhos nos dela.

– Eu definitivamente não teria lugar no principado dela.

Jimin sorriu.

A musicista a encarou.

– Por que você está sorrindo?

– Você não tem medo de falar o que pensa. Eu admiro isso.

Ela revirou os olhos, mas estava sorrindo.

– Quanto tempo falta para esse encontro?

– Uma hora. Isso é tempo suficiente?

– Sim. O encontro será formal?

– Não. Eu vou usar calças e uma camisa, mas sem blazer ou gravata. Um vestido simples seria apropriado.

– Tudo bem.

Minjeong depositou um beijo nos lábios dela e entrou no quarto.

\[...]

Jeon Somi se dirigia às convidadas em coreano formal, essa tinha sido a linguagem da conversa durante a noite. Ela era uma vampira linda, e era o elemento das lendas.

A beleza que tinha em vida, havia sido composta de cem vezes quando ela se tornara uma vampira. Agora ela possuía o rosto e a forma de uma deusa. Seus cabelos loiros cascateavam sobre seus ombros. Seus olhos castanhos brilhavam com inteligência, e ela usava um anel de sinete com o símbolo do principado de Icheon.

Como Jimin, Somi usava uma camisa social cinza e calças mais escuras. E mesmo fora do seu domínio, Minjeong percebeu que ela falava e se movia com autoridade.

– Encontrar-me com você no palácio foi algo inesperado. – A princesa de Icheon moveu os olhos sobre a vampira sentada à sua frente.

Jimin sorriu de lado.

– Você não pode me condenar por desejar participar de um evento dessa magnitude, Somi.

Os lábios rosados da vampira se moveram em um sorriso.

– Você me parece bem para quem morreu nas mãos do nosso velho amigo Hyunjin.

– Devo assumir que esse rumor era o motivo pelo qual o exército de Icheon estava postado na fronteira de Seul?

– De fato. – Seus olhos castanhos se fixaram em Jimin. – Eu reuni meu exército na fronteira simplesmente como uma precaução. Como você sabe, Hyunjin e eu não estávamos no melhor dos termos. Assim que descobri que minha aliada mais próxima continuava a ser você, eu ordenei às tropas que se retirassem.

A Princesa assentiu.

– Obrigada.

– Com respeito às questões de Estado, gostaria de aproveitar essa oportunidade para discutirmos isso – Ela sorriu. – Peço que me acompanhe a um lugar mais reservado.

Somi se levantou do sofá onde estava sentada e estendeu a mão para Yuna enquanto ela se firmava em seus saltos altos.

– Aproveite a companhia da consorte de Seul. Vou pedir a um criado que traga vinho.

Yuna sorriu e beijou-a, envolvendo os braços em volta do pescoço dela.

Minjeong desviou os olhos da exibição íntima quando Jimin estendeu a mão e ajudou-a a se levantar.

– Minha consorte – ela murmurou quando levou sua mão aos lábios. A Princesa não quebrou o contato visual enquanto beijava sua palma e o interior de seu pulso. – Eu venho acompanhá-la em breve.

Com o canto do olho, Minjeong pôde ver Yuna e Somi as observando.

Ela tocou a bochecha de Jimin com uma leve carícia.

– Não me deixe esperando por muito tempo.

O braço dela deslizou ao redor de sua cintura e ela acariciou suas costas com as pontas dos dedos. Os nervos de Minjeong despertaram para a vida sob seu toque e ela estremeceu, os olhos fixos em sua boca. Ela queria beijá-la.

Jimin devia ter sentido sua reação, pois levou os lábios ao seu ouvido e sussurrou:

– Em breve.

Ela se afastou, seus olhos castanhos brilhando. Minjeong respirou fundo e observou as duas princesas se retirarem para o cômodo adjacente antes de voltar a se sentar.

A musicista usava um vestido de azul que ia até a parte inferior da coxa. Embora os saltos altos não fossem necessários, ela havia optado por eles.

– Há quanto tempo você está com ela? – Yuna reclinou-se contra as almofadas, seu vestido dourado lhe dava ares de uma rainha.

– Há alguns meses. – Respondeu Minjeong.

Um criado apareceu com uma garrafa de vinho. Ele as serviu antes de desaparecer de volta para o cômodo adjacente, onde as vozes baixas das vampiras mal podiam ser ouvidas.

– Felicidades. – Yuna ergueu a taça, e Minjeong retornou sua saudação.

Shin Yuna parecia ser alguns anos mais nova que Minjeong. Ela era bonita, com longos cabelos negros e intensos olhos castanhos.

– A posição dela incomoda você?

Assustada, Minjeong quase engasgou. Ela engoliu o vinho rapidamente.

– Não, por que deveria?

– Ela é a Princesa do maior principado da Coreia do Seul. Eu suponho que isso lhe dê um ar perigoso que é meio atrativo. Governantes vampiros tendem a ter essa presença naturalmente. – Ela fixou Minjeong com um olhar desafiador.

A musicista deu de ombros, porque não sabia o que dizer.

– Bom, eu não estou em posição de questionar nada – continuou Yuna. Ela gesticulou para o seu anel. – Eu sei que consortes usam isso como símbolo de proteção, mas quando eu o vi me perguntei qual seria a sensação de ser elegida a tal posição. Você participa das decisões do principado?

– Não, eu não tenho nenhuma relação direta a forma como Jimin governa Seul. – Minjeong espelhou os movimentos de Yuna. – Você participa de tais decisões?

A vampira sorriu.

– Nunca. Sou apenas uma amante, minha Princesa jamais permitiria que eu participasse das reuniões do conselho.

Minjeong suprimiu uma reação.

– Você almeja o título de consorte?

– Sim. Mas estou tentando não criar expectativas sobre isso. – Yuna relaxou no sofá e a encarou com uma expressão especulativa. – Sua princesa é boa para você?

– Muito. – Minjeong sorriu.

Yuna olhou para ela. Então ergueu o olhar para a área da varanda onde Jimin e Somi estavam conversando calmamente, ambas seguravam taças do que parecia vinho, e a Princesa de Icheon trazendo um sorriso no rosto.

– Eu gostaria que ela me escolhesse – murmurou Yuna para si mesma.

Quando ela não continuou, Minjeong permaneceu em silêncio, tentando descobrir o que dizer em seguida.

– Estou feliz que você esteja bem.

– Eu também estou. E irei torcer para que você também conquiste sua felicidade.

– Obrigada. – Yuna apontou para a garrafa. – Vamos terminar isso para que possamos pedir outra garrafa.

Minjeong sabia que não devia tentar acompanhar o ritmo de bebida de Yuna, ainda que isso não tivesse efeito algum sobre seu corpo. Então ela apenas aproveitou a companhia dela e agradeceu quando, uma hora depois, pode voltar para o quarto com Jimin.

Changbin as acompanhava de perto, mas permanecia em silêncio. Como Minjeong havia testemunhado, o mundo em que Jimin habitava era um em que a confiança estava totalmente ausente. Mesmo para àqueles que se consideravam aliados.

A Princesa agradeceu pelos serviços do comandante, mas estava distante enquanto fechava a porta do quarto. Minjeong estava prestes a perguntar se o encontro com Somi não havia saído como planejado quando Jimin a envolveu em seus braços.

– Eu sabia que ter você aqui comigo seria a decisão certa a se tomar.

– O que eu fiz? – Perguntou Minjeong, surpresa com aquela reação.

Ela se afastou um pouco, mas manteve os braços ao redor dela.

– Há séculos eu lido com essas questões de Estado, mas em raras ocasiões me senti impelida a permanecer mais tempo que o necessário na companhia de outros governantes.

– Você sente que isso é desgastante?

A Princesa assentiu e seus olhos procuraram os dela. Jimin se inclinou para mais perto, apenas alguns centímetros.

– Mas ter você em meus braços é todo o conforto de que preciso – sussurrou ela.

Minjeong podia sentir sua respiração em seu rosto.

Jimin afrouxou um pouco o seu aperto, e suas mãos descansaram no peito dela, no espaço entre os dois lados da camisa desabotoada, revelando suas clavículas. A musicista podia sentir o perfume dela, o aroma que sempre a fascinava.

A Princesa deslizou uma mão pela suas costas para cobrir o espaço logo acima de onde a saia de seu vestido começava. Ela flexionou a mão, e Minjeong sentiu o calor de seu contato ondular em sua espinha.

Sua outra mão empurrou alguns fios de cabelos para longe de sua bochecha.

– Eu não tive a chance de lhe dizer como você está bonita esta noite.

Envergonhada, ela queria desviar o olhar, mas descobriu que não podia.

Suas sobrancelhas escuras se uniram.

– Você é muito mais do que um rosto bonito. Mas eu não posso deixar de elogiar sua beleza.

Minjeong não respondeu.

A Princesa segurou sua bochecha.

– Você encantou Somi e Yuna. Seu charme fez com que ela confiasse em você.

– Às vezes o título que você carrega abre um novo leque de possibilidades.

Jimin sorriu.

– Eu acho que é mais do que apenas o seu titulo de Princesa Consorte. É você.

Minjeong se inclinou contra a palma dela, mas permaneceu em silêncio.

– O que você achou de Somi e Yuna? – Perguntou Jimin.

– Eu não julgo.

– Eu não estou pedindo uma avaliação moral.

Minjeong a encarou fixamente.

– Yuna está apaixonada, mas ela tem que se resignar ao posto de amante sem a perspectiva de que se torne uma consorte.

– Somi se importa com ela.

– Talvez ela se importe. Mas não parecia verdadeiramente apaixonada. – Minjeong deu os ombros. – Não é da minha conta, mas esse não é o tipo de vida que eu quero.

A Princesa ficou em silêncio por alguns instantes antes de dizer:

– Minjeong, há muita corrupção no meu mundo. Mentiras, traição, maldade. Você não sabe o quão amável é estar na presença de alguém verdadeira e honrada.

Ela riu baixinho. Jimin adorava lhe fazer tais elogios, mas ela nunca se acostumada.

– Eu gosto de ouvir você rir. – Jimin a puxou contra seu peito. – Olhe para esses olhos. Qualquer um poderia se perder em olhos como esses.

Minjeong fechou os olhos quando ela levou o nariz ao seu pescoço.

Houve uma pausa, que pareceu durar para sempre. Então a musicista sentiu lábios pressionando contra sua bochecha.

Jimin repetiu o beijo em outro lado da face antes de lhe beijar. Os lábios dela estavam firmes e determinados enquanto se espalhavam sobre os seus.

Minjeong envolveu os braços em volta do pescoço dela e retribuiu o beijo. Pensamentos de propriedade e conduta foram completamente esquecidos. Havia apenas Jimin, ela e a perspectiva de tudo o que fariam enquanto estivessem sozinhas naquele quarto.

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