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O trajeto até o Palácio Imperial era, na aparência, muito semelhante a uma viagem pelas colinas. Isso consistia em uma rede de estradas sinuosas nos arredores da cidade e imponentes florestas ocultas dos olhos humanos.
Às quatro horas daquela madrugada, Minjeong e Jimin estavam sentadas dentro de um dos três suvs pretos que eram escoltados através dos muros de pedra até a entrada do grandioso Palácio Imperial, este de arquitetura semelhante ao palácio Gyeongbokgug. As janelas cobertas por insulfilme as protegiam de olhos curiosos.
Alguns dias antes, ao voltar para a residência principal, Jimin havia instruído Minjeong a ter aulas de etiqueta com Ningning. Quando ela perguntara por quê, a Princesa havia explicado pacientemente que era chegado o momento de levá-la para conhecer a corte imperial da sua espécie.
Apesar de ansiosa, Minjeong reforçou sua determinação lembrando a si mesma que agora tinha um título ao qual honrar.
O carro seguiu por mais algum tempo até virar e parar em frente à uma grande escadaria principal.
Jimin ajustou as mangas do seu blazer, estava toda vestida de preto, e saltou do carro. Estendeu a mão para Minjeong e a ajudou a sair do veículo, segurando seu cotovelo logo em seguida.
– Você gostaria que eu agisse como mensageiro, minha senhora? – Changbin disse, fazendo uma mensura.
Seo Changbin era o atual general do exército seulita. Nascido em Seul no século XVIII, ele estava a serviço do principado desde que fora transformado. Com a atual traição do antigo general, ele era o vampiro mais qualificado para assumir sua posição a frente do exército.
Mesmo assim se mantinha em alerta na presença da Princesa, sabia que ela havia executado dois membros do Conselho por fracassarem em suas tarefas. Changbin estava se dedicando, torcendo para não ser o terceiro.
Jimin ergueu o rosto para a entrada.
– O Conselho Imperial sabe que estamos aqui. Estamos sendo escoltados desde que chegamos.
Como se esperasse uma deixa, o líder da companhia de soldados imperiais desceu as escadas e se aproximou, segurando o cabo da espada em sua cintura.
– Está é a entrada para o palácio Imperial. Diga qual o seu negócio.
– Eu sou a Princesa de Seul – respondeu Jimin, erguendo o braço para exibir o anel de sinete que ela usava na mão direita.
– Perdão, sua alteza. – O líder inclinou ligeiramente a cabeça. – Nós não tínhamos conhecimento da sua chegada ainda hoje.
– Infelizmente, precisei agilizar algumas questões. Estou acompanhada por minha guarda pessoal, juntamente da minha consorte. Estou aqui para falar com a Conselheira Kang sob negócios urgentes. – A Princesa gesticulou para o líder. – E você é?
– Capitão Park Seojoon. – Seu olhar se moveu sobre cada um dos seulitas presentes ali, como se estivesse medindo a ameaça. – Está quase amanhecendo. A Conselheira Kang está lidando com algumas questões da corte e não receberá convidados a esta hora.
– Então vamos esperar até uma hora mais razoável, dentro do palácio.
Seojoon examinou novamente o desapego. Então se virou e deu ordens a um de seus soldados, que decolou em alta velocidade. O capitão soltou o cabo da espada.
– Nós a escoltaremos para a entrada principal sua alteza, enquanto meu mensageiro envia uma mensagem a conselheira anunciando sua chegada. Mas sua escolta deve se desarmar.
– Não.
O líder olhou nos olhos da Princesa e seus próprios olhos ficaram sem foco. Ele desviou o contato visual abruptamente e girou nos calcanhares.
– Como desejar.
– Truques da mente Jedi – murmurou Minjeong quando os soldados imperiais começaram a marchar em direção à entrada do palácio.
A Princesa conteve um sorriso.
– Permaneçam vigilantes – ela sussurrou para seus soldados enquanto seguiam os imperiais. – Mantenham suas armas, mas sejam discretos.
Minjeong cogitou perguntar a Jimin o motivo do que ela acabara de fazer, mas preferiu esperar. Elas estavam em uma posição delicada, uma que ela não pioraria, chamando a atenção para si mesma.
A Princesa gesticulou para Changbin se manter próximo enquanto a guarda Imperial os levava numa rota tortuosa através do palácio. Finalmente, chegaram a entrada principal, parando sob um arco ricamente decorado.
Seojoon dirigiu-se a Princesa.
– Esperaremos a palavra da Conselheira aqui.
A Princesa encarou o capitão e assentiu.
O amanhecer estava se aproximando, e a paisagem estava mudando. Ninguém arriscaria ser destruído pelos raios de sol.
Felizmente, o mensageiro da conselheira voltou rapidamente.
Ele sussurrou algumas palavras no ouvido do capitão e se afastou.
Seojoon curvou-se.
– A Conselheira Kang recebe a Princesa de Seul e oferece saudações e hospitalidade. Nós devemos acompanhá-la aos cômodos principais do palácio.
O capitão levou-os através de um labirinto de corredores vagamente iluminados por tochas.
Minjeong respirou fundo enquanto o palpável sentimento de perigo era pressionado de todos os lados.
Ela já havia se sentido apreensiva antes quando era mais nova e vivia no orfanato, ou quando entrou pela primeira vez no mundo da Princesa. Mesmo que agora lidasse relativamente bem com tudo isso, o submundo Imperial era ainda mais sinistro do que ela podia imaginar. Tentáculos gelados de medo rastejaram sobre sua pele, apesar de estar sobre a segurança da escolta do principado.
Minjeong agarrou o braço de Jimin e se aproximou mais dela.
– Acalma-se – ela sussurrou, cobrindo suavemente sua mão com a dela e acariciando sua palma com o polegar.
A musicista se permitiu se acalmar. Jimin sempre seria sua luz no meio da escuridão. Ela moveu a mão, procurando seus dedos, desejando poder falar abertamente com a Princesa. Ela desejou que pudesse voltar para o principado o mais breve possível. Mas Jimin estava em missão e a proteção do Rei devia valer o risco de seguir para o que parecia ser a perdição.
A Princesa traçou um padrão na palma da sua mão e a soltou. Minjeong concentrou-se na memória de seus dedos e respirou profundamente, desejando que seus batimentos cardíacos diminuíssem.
O grupo seulita subiu uma escada em espiral, um círculo sem fim. Eventualmente, eles pararam.
Minjeong percebeu que eles estavam reunidos em uma passagem iluminada por tochas.
O capitão Park anunciou que deveriam se acomodar dentro dos quartos e esperar por uma mensagem da conselheira. Ele não deu nenhuma indicação de quanto tempo isso poderia levar.
A Princesa teve uma pequena troca de palavras com o capitão, que foi cuidadosamente formal. Minjeong sabia disso, o tom de Jimin dizia que ela estava com raiva por ter que esperar. Mas ela finalmente concordou com o as instruções do capitão.
Os seulitas foram conduzidos através de dois quartos, e a escolta Imperial retirou-se.
Jimin indicou para que Minjeong a esperasse no interior ricamente decorado do quarto delas. Ela permaneceu com Changbin, que estava no espaço adjacente.
– Ordene que dois dos seus soldados montem guarda na porta do quarto, qualquer aproximação indevida deve me ser reportada. Vou providenciar para que garrafas de sangue sejam entregues a vocês para se alimentarem.
Depois que o general saiu, a Princesa fechou a porta e cruzou o espaço adjacente para se juntar a Minjeong no quarto.
Ela estava parada próxima a uma lareira, a luz do fogo iluminando seu belo perfil. Sua expressão suavizou quando se aproximou.
– Minjeong... – a Princesa puxou-a em seus braços. – Sinto muito por todo esse clima tenso, mas lidar com as formalidades do império não poderia ser diferente.
– Confesso que me senti apreensiva enquanto éramos conduzidas até os quartos. – Minjeong mergulhou seu rosto em seu pescoço, abraçando-a com todos os seus poderes.
Jimin pressionou os lábios em suas têmporas.
– Você não está errada em se sentir assim – Ela se afastou para poder encarar seus olhos castanhos. – Embora minha criadora seja minha aliada, como todos os vampiros, ela é caprichosa e não é de confiança. Estamos cercados por potenciais inimigos. A menor palavra não protegida pode significar a morte de todos nós.
Os olhos de Minjeong se arregalaram.
– Mas... mas ela nunca a mataria.
– Mesmo eu executei aliados.
Antes que Minjeong pudesse responder, ela fez um gesto para a cama que estava no centro do quarto.
– Descanse. Vou providenciar para que comida e bebida sejam enviadas para cá. Mas não deixe este quarto. – Ela fez uma pausa, seus olhos movendo-se sobre o rosto. – Nós podemos ficar aqui por algum tempo.
\[...]
Kim Hongjoong estava no terraço excepcional de sua mansão em Busan e olhou para os edifícios iluminados. Ele tomou um gole de vinho e se perguntou como todos os seus planos tinham seguido por um novo caminho.
Hyunjin terminara as coisas de uma maneira muito pública. Sua raiva aumentou quando ele se lembrou do relatório que recebera uma semana antes. O vampiro estava abaixo de seu desprezo por tal exibição narcisista, mas ele ainda estava zangado. Por muito pouco ele não colocará tudo a perder, embora Hongjoong estivesse relutante em admitir isso.
Ele caminhou até a beira do terraço e se inclinou sobre o corrimão. Podia ouvir os passos de substituição dos soldados do lado de fora, simplesmente para ficar de olho nele.
Hongjoong bebeu sua bebida. Corrupção poderia ser seduzida e atraída para o público com algumas sugestões bem colocadas.
Enquanto sua raiva recuava, ele estava consciente dos efeitos positivos que a tentativa de golpe de Hyunjin havia lhe proporcionado. Nem tudo tinha corrido como o planejado, mas isso tampouco afetara seu objetivo principal
Há cerca de uma semana, seu reinado havia marcado um ponto rumo à conquista, e ele tinha sido o artífice de semelhante façanha. Apesar das falhas, Hyunjin tinha sido de grande ajuda. Como membro do Conselho de Seul havia lhe fornecido informações valiosas ao longo dos últimos anos.
Era uma maldita pena que Hyukjae não tivesse ficado vivo para testemunhar o seu triunfo, mas seu desejo por vingança tinha servido bem a causa.
Hongjoong tentou recordar do fracasso do antigo Príncipe de Busan. Certamente, aprendera com aquilo e quando a Princesa o designou para assumir a cidade tinha esperado assumir o posto de Príncipe, não apenas de um mero conselheiro. Pensou inclusive que lhe dariam mais regalias, talvez uma ampliação de sua área de influência, talvez um poder de atuação mais extenso.
Mas a recompensa..., a recompensa tinha sido menor que o esperado.
Quando Hyunjin o procurou e comentou sobre sua insatisfação com o atual governo de Seul, seu primeiro impulso foi mobilizar o exército de Busan e avançar pelas fronteiras. Mas isso não teria sido sensato. Um líder organizava seus pensamentos antes de agir; não se apressaria a subir ao pedestal para ser adorado. O ego, depois de tudo, era a raiz de todo o
mal.
Por isso, em lugar de alardear como um imbecil, tinha trabalhado nas sombras, usando de todas as ferramentas que dispunha. E com o resultado do conflito interno em Seul soube que era chegada a hora de começar a se mover.
Quando a porta que conduzia ao terraço se abriu bruscamente, ele girou a cabeça imediatamente. Era Yang Jeongin, e trazia um relatório em mãos.
Hongjoong arqueou uma sobrancelha.
– Eu não o dispensei dos seus serviços por hoje, Jeongin?
– Sim, meu senhor. – Jeongin inclinou a cabeça – Mas queria vir de qualquer modo.
– Interessante. – O conselheiro se afastou do corrimão e se aproximou do vampiro mais novo. – Eu gosto do seu sentido de responsabilidade. Fará algo por mim em breve...
Jeongin ergueu a cabeça, incrédulo do que estava ouvindo.
– Isso significa que o seu objetivo permanece intacto?
Ele assentiu com a cabeça.
– Eu não vou desistir até ter a realização do meu plano. – disse, colocando a mão no seu ombro. – Agora, quais as novidades?
Jeongin respirou fundo.
– A polícia estava investigando o caso do assassinato daquele humano. Parece que alguns membros do Conselho estavam preocupados, mas a Princesa ordenou que a inteligência cuidasse disso.
– Interessante.
– Há mais, meu senhor.
– Conte-me.
Ele desdobrou o relatório que tinha em mãos e leu rapidamente.
– Nosso informante disse que o caso do assassinato tem relação com a consorte da Princesa. Hyukjae causou uma comoção quando a raptou em nome de Hyunjin.
Hongjoong sorriu.
– Essa consorte parece ser muito popular. Derrete ouro e prata?
Jeongin riu, passando a mão em seus cabelos escuros.
– Não, mas mais uma vez, há mais. Parece que ela e a Princesa estão fora da cidade nesse momento.
O conselheiro arqueou a sobrancelha.
– Em um momento crítico como esse? Como isso é possível?
– Infelizmente não tenho muito mais sobre essa questão, mas ela pode ter saído em visita a algum principado vizinho. Depois do conflito com Hyunjin e a ameaça da Ordem, seria bom reforçar suas alianças.
– A Princesa nunca seria tão descuidada.
– Ah, mas sabemos que ela tem uma aliança forte com a Princesa de Icheon.
– Isso não seria suficiente para que ela saísse de Seul em um momento como esses.
– Não. – Jeongin esfregou seu queixo. – Isso é bastante intrigante.
– E interessante. – Hongjoong o encarou com seus olhos castanhos sombrios. – Finalmente chegou o momento de fazermos o nosso movimento.
– De que maneira?
– Na forma como os seres humanos sempre foram úteis, como uma ferramenta para a nossa agenda.
O vampiro mais novo se afastou.
– O golpe falhou, meu senhor. A Ordem dos Caçadores não vem, e a Princesa de Icheon retirou suas tropas das fronteiras. Se formos pacientes, o tempo da Princesa vai decorrer e ela irá enfraquecer. Então podemos atacar.
– Jeongin, não vamos esperar que a Princesa ganhe seus mil anos.
– Não acho que seja o momento ideal para tentarmos outro golpe – disse ele. – Se Hyunjin ou Hyukjae tivessem falando algo, nós teríamos sido descobertos.
– Não haverá um golpe.
Seus olhos castanhos se estreitaram.
– Então, como você sugere que agarremos o trono?
– Nós permitimos que nossos inimigos disponham a Princesa, e depois assumimos o controle.
– O que faz você pensar que sobreviveríamos a uma guerra contra Seul? Ou Icheon?
– Ah, essa é a beleza do meu plano. Não provocamos uma guerra. Nós simplesmente motivamos nossos inimigos a assassinarem a Princesa.
Ele atravessou a sala.
– Essa foi a estratégia do antigo Príncipe de Busan. Veja como foi bem sucedido.
O Conselheiro endireitou a coluna vertebral.
– Sou mais esperto do que aquele tolo.
– A boatos de que a Princesa foi criada pelo Rei. Ela tem sua proteção. Ninguém se moverá contra ela agora.
– Agora, talvez não. – Hongjoong sorriu. – Mas não temos garantia de que esse boato seja verdadeiro e com o tempo apropriado... – Ele gesticulou para cima. – Teremos uma explosão.
Jeongin olhou para ele com desconfiança.
– O que você está planejando, meu senhor?
Os olhos do Conselheiro brilharam.
– Uma fogueira de vaidades.
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