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Dizer que Minjeong ficou surpresa com a revelação de Jimin seria um eufemismo. Ela passou o restante do dia pensando sobre a conversa que tiveram.
Escreveu dois e-mails curtos, um para o diretor Kim e o outro para a administração do Teatro Nacional, dizendo que não renovaria seu contrato após as férias. Mentiu sobre ter aceitado uma oferta para trabalhar no exterior. Torceu para que Namjoon não insistisse no assunto.
Às cinco horas da tarde, já era tarde o suficiente para sair sem levantar suspeitas sobre sua possibilidade de andar sob o sol. Jimin havia concordado que ela fosse visitar a amiga no hospital, mas insistiu para que aceitasse proteção. Dado os últimos acontecimentos, Minjeong não viu motivos para recusar.
Ela escolheu uma calça preta e um sueter cinza e se vestiu desanimada. Prendeu os cabelos em um coque na nuca, pegou o sobretudo preto sobre a cama e saiu do quarto. Quando desceu as escadas, ficou surpresa ao ver Siwon a esperando na sala de estar. Pensava que Jimin fosse reforçar sua proteção depois do que acontecera na noite anterior.
Não se deu o trabalho de lhe fazer perguntas, pois sabia que o homem não teria todas as respostas que ela gostaria. A Princesa era extremamente reservada, principalmente em relação aos empregados.
Ao sair da residência com Siwon, não viu a figura sombria observando-a do outro lado da rua.
Tampouco viu quando ele começou a seguir a BMW de longe.
Quando chegaram ao hospital, o sol já estava se pondo. Minjeong saiu do carro, puxando a gola do sobretudo para se proteger do frio, e entrou.
– Vim visitar Kim Chaewon – disse para uma das enfermeiras no andar em que Chaewon estava.
– Amiga ou parente? – A enfermeira nem sequer ergueu os olhos do computador.
– Amiga. – Minjeong se remexeu no lugar e olhou nervosa para Siwon, uma presença intimidadora em pé a poucos metros dali.
A enfermeira estava prestes a lhe indicar o quarto certo quando uma mulher parecida com Chaewon se aproximou.
– Boa noite. Meu nome é Minjeong – disse a musicista.
O rosto da mulher se iluminou ao reconhecer seu nome.
– Sou Eun, mãe de Chaewon.
– Eu, ahn... ouvi dizer que ela estava no hospital.
Eun exibia uma expressão preocupada.
– Foi atacada algumas noites atrás durante uma tentativa de assalto.
Minjeong sentiu um aperto no peito.
– Eu gostaria de vê-la.
– Ótimo. Também acabei de chegar. Venha comigo. – Eun meneou a cabeça para a enfermeira e segurou a mão de Minjeong para conduzi-la pelo corredor.
– Como ela está? – Indagou Minjeong, preocupada.
– Acho que vai ter alta amanhã. Deveria ter sido liberada hoje, mas o médico quis aguardar.
Elas seguiram pelo corredor e dobraram à esquerda. Eun parou diante da porta do terceiro quarto.
– Entre e diga oi. Eu vou depois.
– Mas você já está aqui. Tenho certeza de que ela quer ver você primeiro – protestou Minjeong, reparando que Siwon as havia seguido.
Eun apenas deu uns tapinhas no seu braço e fez um gesto indicando a porta.
Minjeong apertou o punho com mais força e entrou no quarto com cautela. Tinha medo do que iria encontrar.
Chaewon estava deitada na cama, e seu aspecto era surpreendentemente bom. Na verdade, não havia indícios de seus ferimentos anteriores: nenhum hematoma, atadura, fio preso ao seu corpo.
Parecia mais saudável do que antes, e talvez até um pouco mais jovem. Minjeong se perguntou se alguém mais tinha reparado nas mudanças.
– Oi, Chaewon – cumprimentou ela com um aceno alegre. A amiga meneou a cabeça para ela.
– Oi.
O sorriso de Minjeong hesitou.
– Sua mãe pediu para que eu viesse vê-la primeiro.
Chaewon examinou seu rosto por alguns instantes, e então baixou os olhos para suas mãos.
– Claro. Como você está?
– Bem, obrigada. – Ela indicou a cama de hospital com um gesto. – E você?
– Pronta para ir para casa. – Sua amiga fez uma careta. – Dizem que a minha recuperação foi milagrosa, mas mesmo assim estou com pressa de sair daqui.
Minjeong engoliu, sentindo a garganta seca.
– Ouvi sobre o seu incidente. Sinto muito.
Os olhos de Chaewon encontraram os da amiga.
– É estranho... A última coisa de que me lembro é de combinar de ir com Sunghoon a sua casa para te ajudar com a mudança. E depois acordei no hospital com a notícia de que ele não tinha resistido.
Minjeong baixou o olhar para as mãos enquanto tentava freneticamente achar uma mentira verossímil.
– Os médicos diseram que você sofreu uma concussão, isso explica a perda de memória.
Chaewon deu de ombros.
– Sei disso. Mas ainda sinto como se algo importante tivesse sido apagado da minha mente, sabe?
Minjeong observou o rosto de sua amiga.
– Você gostaria de lembrar? É isso que você quer?
Chaewon deu um sorriso triste.
– O que importa o que eu quero? Isso não vai mudar o fato de que ele não está mais aqui. Estou falando apenas sobre entender o que realmente aconteceu.
– Você foi informada sobre isso.
– Você sabe que não é a mesma coisa.
– Chaewon... – murmurou Minjeong.
Chaewon fitou a amiga nos olhos, e, por um momento, Minjeong pensou ter visto compreensão.
– Olha, vamos deixar esse assunto de lado.
Uma pontada de dor atravessou o estômago de Minjeong com as palavras da amiga.
– Eu vou sempre estar aqui – Ela disse em tom gentil. – Está ouvindo? Se precisar de alguém com quem conversar.
– Obrigada. Eu sempre soube que, se eu estivesse com problemas, você me ajudaria.
– Tenho certeza de que você faria o mesmo. – A voz de Minjeong se embargou, e ela desviou o olhar.
– Vai ficar tudo bem. – Chaewon sorriu, tentando conter as próprias emoções. – Me desculpe por não estar sendo uma boa companhia agora. Eu sei que Sunghoon era seu amigo.
– Chaewon... – Minjeong conseguiu dizer.
– Sinto muito.
– Eu também – disse ela.
Chaewon ficou em silêncio, como se esperasse alguma coisa.
Minjeong levou alguns instantes para perceber que sua amiga estava esperando ela dizer algo.
Enrubesceu. Ela não sabia o que mais poderia dizer naquele momento. Não estava sendo fácil para ela lidar com a morte do amigo, mas tinha certeza que a dor de Chaewon era infinitamente maior. Sua amiga havia perdido parte do seu brilho, da sua atitude especial. Uma tristeza a invadiu.
Minjeong se forçou a permanecer alegre.
– Bem, que bom que está se sentindo melhor. Vi sua mãe no corredor. Quer que eu a mande entrar?
– Por favor. Obrigada pela visita. – Chaewon lhe lançou um sorriso acanhado, que ela retribuiu.
– De nada. Tchau, Chaewon.
Minjeong saiu do quarto com um passo desengonçado. Ao ver Eun no corredor, falou:
– Ela quer vê-la.
– Mas você deveria ficar mais. Venha comigo. – Eun fez menção de segurar sua mão, mas Minjeong balançou a cabeça.
– Desculpe. Tenho um jantar. Mas fico feliz que ela esteja bem e vá ter alta.
– Obrigada. – Eun a beijou nas faces outra vez antes de acenar uma despedida.
Minjeong meneou a cabeça para Siwon, e os dois foram até o elevador. Mas ela não derramou uma só lágrima antes de ficar sozinha.
\[...]
Ning Yizhuo era a mais recente membro da corte de Seul. Ela era muito mais jovem do que a Princesa e os outros membros do Conselho. Mas havia sido de grande importância durante a tentativa de golpe, o que resultou na sua promoção.
Mesmo assim, quando a Princesa a convocou ao seu escritório particular, Ningning temeu que seus serviços estivessem prestes a ser dispensados. Ela só conseguiu se acalmar quando descobriu que Jimin só queria discutir sobre a sua mais recente missão.
– Estamos lidando com a situação. – O sotaque mandarim de Ningning foi muito mais pronunciado quando falou nervosamente com a Princesa.
Jimin havia acabado de recuperar o controle de seu principado e estava no seu escritório particular com sua ex-assistente, fora do alcance dos olhos e ouvidos curiosos. Um conjunto de velas que tremeluziam em um canto era a única fonte de iluminação no espaço escuro.
– Onde está o corpo? – A Princesa perguntou enquanto observava sua adaga sobre a mesa.
– Com a polícia. Houve uma autópsia. – Ningning hesitou.
A Princesa se dirigiu a ela com um olhar sério.
– E?
– Yeji me passou o relatório. A rede de inteligência humana está preocupada com o rumo do caso. Embora tenhamos conseguido manipular a investigação, ainda existe a possibilidade de que tentem reivindicar uma conexão entre a morte do músico e o que aconteceu naquela noite.
A Princesa rangeu os dentes.
– Se isso acontecer podemos ser expostos. Instrua a rede para reivindicar o caso assim que possível. Eles devem arquivá-lo até que eu lhes dê mais instruções.
Ela se afastou da mesa, levando a mão ao queixo enquanto caminhava pelo seu escritório. Diante dos últimos acontecimentos aquele era o menor dos seus problemas, mas ela encerraria essa questão o mais breve possível.
Jimin respirou fundo.
– Envie um comunicado meu a Taeyong. Peça para que ele monte o exército e ordene que fiquem de guarda ao longo das fronteiras. A palavra da tentativa de golpe se espalhará. É possível que mesmo um dos nossos aliados tome essa oportunidade para nos atacar. Devemos estar preparados.
Ningning fez uma mensura.
– Sim, minha senhora.
– Diga aos leais que o tesouro será aberto para recompensá-los. Você e Jisu devem supervisionar a distribuição, e eu confio em você para manter sua generosidade moderada.
A Princesa colocou a mão no punho de sua adaga.
– Você acabou de ser promovida ao Conselho. Tenho certeza de que está ciente das suas responsabilidades, mas não pretendo sobrecarregá-la. No momento preciso que auxilie os outros membros do Conselho com o que for necessário, mas em breve lhe designarei para um cargo específico.
– Eu entendo, minha senhora. – Disse Ningning em tom calmo. – Se me permite a palavra, eu sou grata pela confiança que está depositando em mim.
A expressão de Jimin se suavizou.
– Você está no meu principado há muitos anos e durante todo esse tempo sempre se mostrou digna da minha confiança. Com o resultado da sua última missão, tive certeza quanto a tomar minha decisão.
A chinesa conteve um sorriso.
– Irei provar o meu valor para o Conselho.
– Eu tenho certeza disso. E é por isso que eu preciso que você vigie atentamente Jisu e descubra se ela ainda é uma aliada digna. Eu irei cuidar da situação externa, tentando evitar uma guerra com a Ordem.
Ningning mexeu com as mãos.
– Peço perdão, minha senhora. Eu pensei que a resolução da situação atual seria suficiente para aplacá-los.
A expressão da Princesa ficou sombria.
– O conflito com Hyunjin abriu muitos precedentes. E existem outros perigos.
Um olhar passou entre as duas vampiras.
– Espero que a guerra seja evitada, minha senhora.
– Podemos esperar, Ningning, mas ao longo dos séculos aprendi a não entregar meu destino à esperança. Envie minhas ordens a Taeyong e seja cautelosa. Ainda podem existir traidores entre nós.
– Sim, minha senhora.
– E peça a Aeri que venha me encontrar imediatamente.
Ningning fez uma reverência e saiu apressada do escritório da Princesa.
Assim que se viu sozinha, Jimin voltou a se recostar na mesa. Ela faria o que fosse necessário para evitar confrontos com a Ordem dos Caçadores. Enquanto planejava como agir, seus pensamentos vagaram para certa jovem, perguntando-se como ela iria se virar se o inimigo mais perigoso delas entrasse na cidade.
– Você queria me ver? – Perguntou Aeri, entrando no seu escritório. Exibia uma expressão concentrada enquanto observava a postura da soberana.
– Quais são as novidades do império? – Jimin colocou a mão sobre sua adaga, como se assim pudesse diminuir a ameaça que se aproximava.
– Como de costume, o Rei parece operar sem a interferência da Ordem. Se você se lembra, um enviado disse pessoalmente a mim que o apoio do império termina quando o envolvimento da Ordem começa.
– Estou ciente disso. – A mão da Princesa se fechou sobre o cabo da adaga. – Também sei que o império é aliado de Seul.
Aeri assentiu com a cabeça, uma vez que também estava ciente da sua origem e das implicações que isso trazia.
– Mesmo assim – continuou a Princesa –, não queremos a Ordem aqui.
– Não, minha senhora. Se me permite?
A Princesa acenou na direção da Conselheira.
– Obrigada. A guerra contra os Busan foi discreta. A Ordem ouviu sobre ela, mas não interferiu, provavelmente porque estavam satisfeitos com o fato de que dois principados travavam uma guerra.
– Obviamente – comentou Jimin secamente.
– Mas o incidente com os caçadores atraiu atenção internacional. Depois houve os corpos encontrados no rio. E mais recentemente o conflito com Hyunjin.
– Estou bem ciente da nossa história mais recente, Aeri. Tem algo novo para acrescentar?
Aeri estudou a expressão da Princesa, respirando fundo.
– Perdoe-me, Jimin. Mas desde o conflito com Hyunjin tenho me questionado sobre a possibilidade de que ele e Hyukjae estivessem sob o comando de alguém. Não me parece sensato que apenas eles dois se julgassem capazes de assumir o controle total do principado de Seul.
– Tenho pensado nessa possibilidade também. – refletiu a Princesa. – O submundo de Seul próspera enquanto tantos outros caem. Isso desperta o interesse dos meus inimigos.
– E se o verdadeiro objetivo for despertar a atenção da Ordem e aproveitar a oportunidade para tomar a cidade? Lembre-se do que eles fizeram em Taiwan.
A Princesa foi tomada de repulsa. Ela se lembrava dos relatos de como a Ordem havia entrado em Taiwan e massacrado a maior parte dos seus habitantes sobrenaturais como punição por assassinatos indiscriminados. Foi um verdadeiro genocídio.
– Jimin? – A voz de Aeri irrompeu as reflexões da Princesa. Ela arrumou sua postura.
– Esboce suas análises e recomendações. Vou avaliá-las e convocar uma reunião do Conselho em breve.
– Como desejar.
– E quanto ao mensageiro que enviei ao império. Quais são as novidades?
Aeri tirou uma pequeno envelope de dentro do blazer e o entregou para a governante.
– Como você pode ver, a Conselheira Real enviou a mensagem imediatamente. O Rei aceitou o nosso pedido inicial de uma visita.
A Princesa abriu o envelope e leu a mensagem rapidamente.
– Está certa da veracidade dessa mensagem?
– Sim, minha senhora. Como você pode ver, o Rei está organizando um evento privado para reforçar sua liderança a frente dos cinco principados principais e requisita sua presença no Palácio Imperial dentro de alguns dias.
– Isso muda um pouco meus planos.
– Certamente você irá encontrar alguns governantes no palácio, mas isso pode ser vantajoso para nós. Sua presença no Palácio Imperial vai reforçar o domínio e poder que o principado de Seul exerce dentro do reino da Coreia de Seul.
– Comece a providenciar as formalidades em relação a isso.
– Sim, minha senhora.
Jimin virou a cabeça, prendendo Aeri com seu olhar.
– E durante minha ausência, assuma o controle da situação dentro do principado. Ningning irá auxiliar você com o que for necessário.
Aeri fez uma reverência.
– Claro, minha senhora.
– Está dispensada.
A Princesa passou a mão no queixo enquanto observava a conselheira partir. Então guardou o envelope dentro do blazer, abriu a porta e saiu para o corredor.
Estava na hora de voltar ao Império.
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