37

Hyunjin sorriu de forma triunfante.

– Agora que esse problema menor foi resolvido, permanece o maior. – Ele olhou de cima para Jimin.

– Seus problemas estão só começando – respondeu ela. – Já verificou as fronteiras recentemente? Esta noite farejei um velho inimigo que de alguma forma deveria estar fora da cidade.

O novo Príncipe se endireitou no trono.

– Quem?

Os olhos de Jimin migraram para Jisu e de volta ao novo Príncipe.

– Cabe a você descobrir.

Hyunjin levantou a mão e uma fila de soldados se adiantou, cercando Jimin.

– É hora de resolver esse problema.

Jimin se virou, analisando os olhos dos soldados.

– Então me deixe oferecer uma nova solução. Apelo ao Rei.

Novamente o silêncio ressoou na grande câmara.

Hyunjin fechou a cara.

– Seu apelo não tem sentido. Sou o senhor e mestre aqui.

– O rei da Coreia do Sul permite a existência de principados quando lhe apraz. Quando o Príncipe de Daejon o insultou, soldados imperiais invadiram a cidade e o executaram. Ainda hoje Daejon permanece sob controle Imperial.

– Isso foi há trezentos anos. O rei não interfere mais nos assuntos das cidades-Estados.

– Quando souber das circunstâncias da minha morte, ele abrirá uma exceção.

Os olhos de Hyunjin se iluminaram.

– É uma alegação atrevida.

– É algo que estou preparada para defender.

Jimin revirou um dos bolsos internos de seu blazer e retirou uma carta. Um soldado levou-a para Hyunjin, que a abriu.

– Já vi isso antes.

As sobrancelhas de Jimin se levantaram.

– Como?

– Na oportunidade ideal, vasculhei seus aposentos e a encontrei. Não duvido da autenticidade. Aeri trouxe pessoalmente do Palácio Imperial. Mas, só porque você tem uma conexão com o Rei, não significa que ele vai me causar problemas.

– Você não é Aeri – observou Jimin em voz baixa.

Os olhos de Hyunjin reluziram.

– De fato, não sou.

– Se é inteligente o suficiente para evitar uma guerra contra a Ordem dos Caçadores, deve ser inteligente o suficiente para evitar uma contra o Rei.

– O Rei nunca é visto e se comunica apenas através da sua conselheira. Fiquei realmente espantado por ele ter se preocupado tanto com você.

– Um sinal do respeito que tem por mim – respondeu Jimin. – Você leu a história de Seul. Eu era jovem quando matei o antigo Príncipe. Quem apoiou minha ascensão ao trono?

Hyunjin apertou lábios e não disse nada. Jimin continuou:

– Nenhum de nós quer guerra. Nem contra a Ordem nem entre nós mesmos, e certamente não contra o Rei.

– Se você espera que eu entregue o trono e me submeta à execução, está louca.

– Vou dizimar o exército antes de sucumbir. Você estará vulnerável a um ataque. Notícias da minha morte vão se espalhar e, além do Rei, você vai lidar com Hongjoog de Busan e possivelmente Somi de Icheon. Há muito eles desejam este território. Permita-me deixar a cidade.

– O quê? – Exclamou Hyunjin, exaltado.

– Eu me juntarei ao Rei na corte dele, louvarei sua liderança, Hyunjin, e terminarei meus dias ao lado dele.

Os olhos de Hyunjin se estreitaram.

– Você irá ao Palácio Imperial nas colinas, preparará seu exército e marchará para cá.

– Se eu sair voluntariamente, terei abandonado meu apelo ao trono. Você pode mandar mensageiros para o Rei declarando esse fato.

– Que garantias tenho de que ele não decidirá presenteá-la com o principado, já que você é a favorita dele?

– Eu não teria motivo para retornar a uma cidade da qual fugi, especialmente quando posso aproveitar os luxos que o Palácio Imperial oferece.

Hyunjin encarou Jimin por algum tempo.

– Você é uma antiga. O Rei é ainda mais antigo, mas ele não pode viver para sempre. Se eu permitir que você vá, há uma possibilidade de você derrubá-lo. Isso só aumentaria meus riscos.

– O Rei escapou da maldição da Ordem. Ele é o mais poderoso vampiro puro sangue vivo e absolutamente inexpugnável – declarou Jimin, encarando o rival com frieza. – Mais uma razão para não o irritar.

Hyunjin tamborilou os dedos no braço da poltrona, parecendo imerso em reflexões.

– Tudo o que peço, Hyunjin, é que eu tenha passagem segura pela cidade e que Jisu, Aeri e Ningning possam me acompanhar.

Ela olhou para Jimin, surpresa.

– Jisu e as outras foram condenadas à execução – anunciou Hyunjin. – Imaginei que Hyukjae fosse se livrar dela e de você. Agora que ele fracassou, não tenho escolha. Executar a antiga Princesa pode me render a censura do Rei, mas estou disposto a correr o risco. Se a Ordem decidiu exercer mais controle sobre o Reino da Coreia, o Rei vai ter problemas maiores com que lidar. Vou argumentar que você perdeu o principado por desleixo.

Com isso, ele ficou de pé e estendeu a mão.

– Eu, Hwang Hyunjin, Príncipe de Seul, condeno Yu Jimin e Choi Jisu à morte por traição. A execução acontecerá sumariamente pelo exército seulita.

– Não teremos permissão para nos defendermos? – Desafiou Jimin.

Hyunjin sentou novamente.

– Não há juiz ou júri aqui. Já pronunciei a sentença.

Jimin se virou para o exército, com braços bem abertos.

– Irmãos e irmãs, vocês me conhecem. Sou Jimin e servi ao principado desde o século XVII. Por centenas de anos mantive Seul longe dos olhos da Ordem, enquanto outras cidades caíram. Garanti que a comida fosse farta e que os caçadores fossem mantidos fora das fronteiras. Protegi o principado quando Busan tentou nos invadir. Mas anos de paz e prosperidade não bastam para alguém como Hyunjin.

Jimin apontou com desprezo para o trono.

– Ele só ficará satisfeito com a tirania. Olhem para suas espadas, irmãos e irmãs. Olhem para aqueles a quem servem. Vão dar sua espada e sua vida para esse intruso? Esse tirano que sussura doces mentiras nas sombras enquanto a verdadeira Princesa luta para afastar o perigo?

Alguns ecos de apoio foram ouvidos.

– Ele não pode me superar no combate, então convoca meu exército para fazer o trabalho por ele. Estão dispostos a abrir mão de sua existência para alimentar sua vaidade?

– Não se enganem – alertou Jisu. – Ele terá sua cabeça. Qualquer um que represente uma ameaça será eliminado, ou seja, qualquer um acima da idade dos jovens.

Ela apontou para cada fileira de soldados.

– Isso significa todos vocês.

– Já chega – grunhiu Hyunjin. Ele apontou para o general Seonghwa, que posicionava seus soldados em volta das prisioneiras condenadas. – Pode começar, general.

Os soldados ergueram suas espadas.

– Ainda há tempo para se render – alertou Jimin. – Larguem as espadas e suas vidas serão poupadas.

Ficou costas a costas com Jisu para que ambas estivessem de frente para seus carrascos.

– Não acredito que vivi tanto para terminar na ponta de uma espada. – Ela se agachou, esperando o primeiro sinal de ataque.

– Certamente o Príncipe de Seul não é tão mesquinho a ponto de nos deixar sem armas – falou Jimin, erguendo os olhos ao trono.

Hyunjin acenou para o general.

– Dê uma espada para cada uma.

Duas espadas voaram no ar, e as prisioneiras pegaram-nas prontamente.

– Esta é sua última chance, Hyunjin – ressoou a voz de Jimin. – Acabe com esta luta antes que eu dizime o exército.

– Se eu perder soldados, crio novos.

Hyunjin fez um sinal para o general.

– Comece.

Jisu levantou sua espada com ambas as mãos, pronta para a luta.

– Ouviram isso? Não são melhores do que humanos para seu novo Príncipe. Todos vocês são descartáveis.

O general berrou uma ordem e o exército avançou por todos os lados.

Jimin e Jisu se viram num redemoinho de movimentos, atacando e bloqueando a cada volta, mas sua desvantagem numérica era desesperadora.

A cada soldado morto, outro tomava seu lugar. Enquanto isso, o novo Príncipe continuava no trono, observando seu exército diminuir.

Jimin sabia que eram muitos soldados. Ela era uma antiga, mas mesmo assim não conseguiria derrotar todos. Jisu era mais forte do que qualquer um individualmente, mas juntos eles a sobrepujariam e ela não teria ninguém dando cobertura.

Jimin deixara Minjeong partir sem beijá-la. Sem convencê-la de que ela mantinha a promessa de proteger a ela e à sua amiga, mesmo que isso significasse deixá-la nas mãos do inimigo. Agora ela nunca mais poderia olhar nos olhos dela e se explicar.

Com vigor renovado, Jimin atacou, forçando a linha de soldados a dar um passo para trás.

Às costas dela, Jisu cambaleava. Ela caiu, sua espada deslizando pelo chão e parando fora de alcance.

Uma fila de soldados avançava e um levantou o braço para cortar sua cabeça. O golpe foi interceptado a centímetros do pescoço de Jisu pela espada de Jimin.

Um soldado percebeu a oportunidade e correu atrás dela, mirando sua cabeça. Rápida como um raio, Jimin se virou, inclinando-se para trás e evitando o metal que cintilava pelo ar, passando por pouco de seu próprio pescoço.

Ela empunhou a espada, mas, antes que pudesse atacar, a cabeça do soldado caiu dos ombros e seu corpo desabou.

Aeri estava atrás dela, com uma espada em mãos.

Foi então que Jimin viu um fluxo de cidadãos armados lutando contra os soldados que a cercavam. Mais atrás, metade do exército já havia retrocedido, abandonando o conflito.

Uma mulher jogou uma espada para Jisu, que se levantou e girou como um vórtice de cabelos loiros.

– Abaixo o traidor! – gritou Jimin. – Às armas, cidadãos de Seul!

Os civis leais comemoraram quando ela abriu caminho em direção ao trono, subindo dois degraus por vez até ficar na frente daquele que a havia deposto.

– Guardas, matem-na! – gritou Hyunjin.
Mas os guardas ignoraram sua ordem, largando as espadas. O metal retiniu no chão de pedra.

Jimin fez uma pausa diante de seu antigo companheiro.

– Você deveria ter cedido ao meu apelo, Hyunjin.

– Foi um risco calculado.

Hyunjin olhou para o salão. As lutas haviam terminado e todos observavam a cena que se desdobrava diante do trono.

– Vivi uma vida longa, com alguns arrependimentos. – Ele olhou amargamente para a espada de Jimin. – Eu me arrependo de ter subestimado a lealdade dos cidadãos a você.

– Um erro que não vai cometer novamente.

Hyunjin olhou para a Princesa.

– Não creio que consiga persuadi-la a ter misericórdia.

Jimin contraiu os lábios.

– Não conheço essa palavra.

A cabeça de Hyunjin voou para o chão e aplausos tomaram o salão.

Jimin puxou o anel com sinete que estava no dedo do corpo sem cabeça e empurrou o cadáver de lado. Recolocou o anel em seu dedo e ficou de pé, braços levantados.

– Cidadãos de Seul, o traidor está morto.

\[...]

– Uma sorte que a situação foi controlada antes de chegar ao conhecimento da Ordem dos Caçadores – declarou Jisu, sozinha com a Princesa na câmara vazia do conselho. – Eles com certeza teriam invadido a cidade. Os caçadores destruíram tudo pelo caminho, e Hyunjin matou três humanos na Ponte Bampo, deixando seus corpos apodrecendo.

A Princesa se manteve discreta enquanto inspecionava o resultado da batalha. Conseguiram regenerar grande parte do exército, reunindo corpos com as cabeças cortadas e usando sangue vampiro para reanimá-los. Os corpos e as cabeças daqueles que a Princesa desprezava haviam sido removidos da câmara e agora queimavam numa fogueira fora da cidade.

Ela havia executado o general Seonghwa e seus oficiais, substituindo-os por soldados menos graduados que haviam jurado lealdade. Ficaria mais atenta ao exército dali em diante.

Com a menção à Ordem, Jimin ficou agitada. Hyunjin não tivera tempo de tonar público a tentativa de golpe, mas ainda era possível que isso chegasse ao conhecimento dos seus inimigos.

– Sei bem que não somos dignas de milagres – observou Jisu, ficando na frente da Princesa para que ela não pudesse mais ignorá-la. – Ainda assim, não posso deixar de acreditar que você tenha recebido um hoje.

O corpo de Jimin enrijeceu.

– Eu não alegaria isso. Agora vem a difícil tarefa de reconstruir a cidade.

A Princesa olhou para ela severamente.

– Você lutou ao meu lado hoje, e sou grata. Mas ainda me pergunto se não reuniu os soldados no Silent Night.

– Claro que não! Já estavam a postos no clube. Eles nos farejaram no corredor e, quando saí da sala, me encurralaram.

– Você mente bem, Jisu. Não pensou em mentir para afastá-los.

– Eles sabiam que Hyukjae estava com sua consorte. Sabiam que você estava na sala. Mentir não serviria de nada. Você me viu quando entrou no corredor. Eles já tinham me desarmado. Ainda preciso resgatar minha espada.

Os olhos de Jimin se estreitaram enquanto ela se concentrava no som do coração de Jisu, buscando qualquer indicação de dissimulação.

– Temos sido aliadas, Jisu. Mas as alianças mudam. Se me trair, mato você.

Jisu fez uma reverência, evitando os olhos dela.

– Entendido, minha senhora.

Jimin se aproximou da porta e estava prestes a sair quando ela a chamou.

– O que havia na carta que você mostrou a Hyunjin?

Jimin refletiu sobre a pergunta dela por um momento antes de responder.

– O Rei escreveu um post-scriptum de próprio punho.

– Um post-scriptum não é o bastante para fazer Hyunjin parar.

– Ele escreveu: “Congratulações, minha amada filha, a quem estimo muito.”

Jisu pareceu surpresa.

– O Rei é o seu criador?

Os olhos castanhos de Jimin reluziram.

– Criadora.

– Como assim?

– Rei é apenas o título que usamos para se referir a ela. Uma forma de manter sua verdadeira identidade oculta daqueles que não são dignos de conhecê-la.

Jisu deu um passo para trás, temerosa.

– É verdade que ela tem mais de mil anos? Que escapou da maldição?

– Ela tinha exatos mil anos quando me transformou.

– Como é possível? A maldição afetou todo mundo. Aqueles que tinham mil anos foram acometidos de loucura imediatamente.

– Nossa existência parece estar repleta de... exceções.

Jisu olhou para ela com novos olhos.

– Você tem tanto poder. Por que não tomou os principados da Coreia do Sul?

Jimin apertou os lábios.

– Esqueceu a minha idade. A maioria dos principados não existiam naquela época.

– Você poderia ter feito do país o que quisesse.

– Permaneci em Seul em busca de beleza e esperança.

– Beleza? – repetiu ela, franzindo a testa. – Talvez não tenha procurado o suficiente.

– Pelo contrário, fui recompensada com ambas. Agora preciso ir vê-la.

Jimin saiu para o corredor com passos rápidos e seguros. Sim, ela havia salvado a cidade que amava, mas, ao tentar proteger sua mulher, ela a havia colocado em grave perigo. Fizera isso mesmo quando Minjeong implorou para ficar com ela, sabendo que ambas provavelmente morreriam.

A mulher com os belos olhos castanhos e a enlouquecedora alma corajosa.

Ningning havia retornado a residência principal e conseguira controlar a situação por lá. Estava claro que Minjeong e sua amiga estavam seguras. Mas isso não apagava a angústia que Jimin sentia naquele momento.

Ela precisava vê-la.

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