35
Quando Jimin chegou ao apartamento de Minjeong, a polícia já havia cercado o lugar. Ela viu Ningning colhendo algumas informações em frente à entrada. Dois paramédicos passaram pela vampira, levando uma maca em que havia um corpo num saco.
Jimin foi tomada pela ansiedade ao sentir o cheiro da morte. Mas a pessoa
morta era um humano, não uma vampira, logo não era Minjeong.
A esperança sobrevivia.
De seu ponto de observação sobre o telhado, ela pode reconhecer o cheiro de um dos amigos dela. Nesse momento, concluiu, com um arrepio, que quem quer que os tenha atacado provavelmente o fizera para sequestrar Minjeong.
Felizmente não havia sinal do corpo dela.
Sem se importar se era vista saltando para o prédio ao lado, Jimin voou sobre o beco e correu para a extremidade do telhado. A certa distância, ela podia ver sua BMW, abandonada numa rua lateral. Policiais entravam e saíam do veículo, colocando itens em sacos.
Um sopro de vento chegou da rua abaixo, trazendo consigo centenas de cheiros. Ela fechou os olhos e conseguiu distinguir os restos do sangue, incluindo o de uma jovem mulher. Seu aroma não era familiar. Misturado a ele havia o perfume mais doce que ela já experimentara – leve, sensual, corajoso e belo.
Jimin inspirou, saboreando a fragrância, e começou a tossir com violência. O fedor de um vampiro penetrou suas narinas, fazendo desaparecer o cheiro de Minjeong. O odor do vampiro era muito familiar.
Lee Hyukjae, conselheiro do antigo Príncipe de Seul.
Alguém que deveria estar morto.
A Princesa resistiu à vontade de se entregar à fúria ou à pressa, forçando-se a esquecer o fedor e a se concentrar apenas em Minjeong. Sentiu um aperto no coração quando percebeu que Hyukjae deveria tê-la arrancado do seu apartamento, carregando-a em direção ao Arno. O mais estranho era que o cheiro da mulher desconhecida permanecia ligado aos outros dois.
O rastro era recente – passaram ali havia menos de uma hora. Mas era tempo suficiente para Hyukjae ter matado Minjeong.
Um grito de dor escapou dos lábios de Jimin, que agitou o punho para os céus. Ela correu o mais rápido que pôde pelos telhados, pulando de prédio em prédio, antes de descer até a rua para poder cruzar o rio.
Em sua busca, subiu num prédio perto da ponte Bampo, parando por um momento em um telhado tomado de corpos de vampiros. Vestiam o uniforme do exército Seulita, suas espadas espalhadas ao redor. Se esse era um dos destacamentos de caça inimigos, havia fracassado. Nenhum membro do Conselho estava entre os mortos.
E ainda assim dois cheiros de vampiro eram distinguíveis – um pertencia a Jisu. E o outro a Taeyong.
– Eu sabia – soou uma voz triunfante ao lado dela. Jisu estava parada a poucos passos.
Jimin apontou para os corpos atrás dela.
– Isso é obra sua?
– Taeyong veio me ajudar. Mas matei minha cota.
Ela sorriu.
– Os boatos sobre sua morte são exagerados.
Jimin caminhou até a beirada do telhado.
– Estou com pressa e não posso perder tempo. Estou feliz que esteja bem.
– Se está procurando sua consorte, Hyunjin deve saber o paradeiro dela.
Jimin hesitou.
– Para onde ele foi?
– Em direção à catedral, mas claro que o destino dele não era esse.
Jimin saltou para o chão e Jisu a seguiu. A Princesa lançou para ela um olhar amargo.
– Sua vida está em perigo. Estão caçando o Conselho. Deveria deixar a cidade.
Ela jogou o cabelo para trás.
– E ser morta em outro lugar? Não. Estou velha demais para me unir a outro principado. Nunca me aceitariam.
– A cabeça é sua.
Jimin partiu em grande velocidade, correndo na direção à catedral, e novamente Jisu ficou ao seu lado. A Princesa virou o rosto para ela, irritada.
– Se for encontrada comigo, vão matar você.
– Se eu estiver com você, há alguma chance de eu sobreviver.
– Então seja útil e reúna os cidadãos leais. Talvez tenhamos que lutar contra nosso próprio exército.
Ela cerrou os dentes, decidida.
– Depois de pagar minha dívida.
Jimin virou uma esquina, seguindo o cheiro em direção ao prédio que abrigava o Silent Night.
– Que dívida?
– Você salvou minha vida certa vez. Vou resgatar sua consorte, depois cuidarei da minha própria pele.
A Princesa parou.
– Não é do seu feitio se preocupar com os outros.
– Não é do seu feitio se deixar levar pelos encantos de uma mulher, mas ainda assim está correndo como se sua existência dependesse disso. É óbvio que você a valoriza. Ao ajudá-la, posso saldar minha dívida. Além disso, desejo matar Hyunjin há quase um século. Quem quer que o esteja ajudando vai ter o mesmo destino.
A expressão de Jimin endureceu.
– Se ele tocar em Minjeong, serei eu quem irá matá-lo.
Jisu sorriu.
– Então me permita o prazer de estar presente em sua execução. Preciso de uma nova decoração para minha porta da frente. A cabeça de Hyunjin deve servir.
Jimin balançou a cabeça, mas não tentou desencorajá-la.
– Ele a levou para dentro. – Ela apontou para a porta lateral. – Talvez seja uma armadilha. Vamos ter que entrar pelo túnel.
A Princesa foi na direção oposta, e Jisu correu em seu encalço.
– Não há túnel para o Silent Night.
– Prepare-se para ser surpreendida.
Jimin entrou num prédio próximo e desceu uma escadaria, dando voltas na escuridão até chegar a uma porta de madeira trancada com um cadeado de ferro. Com um movimento, quebrou o cadeado e abriu a porta.
Enjoada, Jisu levantou sua saia e a seguiu por uma passagem escura e úmida tomada de ratos.
– Mudei de ideia. Não sou nobre o suficiente para saldar minhas dívidas.
Jimin a ignorou, acelerando o passo. Sem uma palavra, ela virou duas vezes à esquerda e parou em frente a outra porta trancada.
– Isso vai nos levar para uma das salas.
– Reze para que não esteja sendo usada – murmurou Jisu enquanto ela quebrava o cadeado.
Subiram por uma escadaria sinuosa que dava em um alçapão. Uma música alta e ritmada pulsava ao redor delas, avisando que estavam debaixo do clube.
– Pode haver soldados. Está armada? – sussurrou Jimin, dirigindo a atenção para sua companheira.
– Estou. E você?
– Estou.
Jimin levantou o alçapão menos de um centímetro, concentrando-se enquanto as dobradiças da porta rangiam. Ela podia ver uma luz fraca de velas, mas nada mais. O alçapão abria debaixo de uma cama.
– Permita-me que entre primeiro – sussurrou Jisu. – Frequento o Silent Night e não vou chamar atenção.
– Você é procurada por traição. Vão executá-la imediatamente.
– É por isso que deve me seguir de perto, minha Princesa. – Ela tocou o rosto dela. – Podem ser meus momentos finais.
– Não é do seu feitio ser sentimental.
– A morte causa estranhos efeitos colaterais.
Jisu fez um gesto com a cabeça e Jimin empurrou a porta do alçapão. Ela rastejou pelas tábuas do piso, então espiou debaixo da cama.
A sala estava vazia.
– Siga-me.
Jisu rastejou embaixo da cama e depois se levantou, tirando o pó de seu vestido carmim e estalando a língua.
– Que pena. Eu gostava deste vestido.
Jimin a seguiu até a porta e abriu uma fresta.
Havia outras salas ao longo do corredor vazio. Ela teria que entrar e tentar captar o odor de Minjeong o mais rápido possível.
Esperava que não fosse tarde demais.
– Pode deixar que eu vou.
Jisu passou por baixo do braço dela.
– Se eu for vista, posso inventar uma história e escapar do perigo.
Relutante, Jimin recuou, observando pela fresta Jisu andar pelo corredor na ponta dos pés, finalmente apontando para uma porta fechada. Antes que a Princesa conseguisse se juntar a ela, Jisu bateu à porta.
– Jisu! – sussurrou ela.
A vampira lançou-lhe um olhar astuto e virou o rosto para a porta. Nada aconteceu. Jisu bateu de novo.
– Saia daqui! – gritou uma voz masculina de dentro.
Bateu uma terceira vez, impaciente.
– O que é? – berrou o vampiro, escancarando a porta.
Jisu já havia sacado a espada e, logo que viu o rosto do vampiro, a girou. Infelizmente, a arma pegou-o de raspão, deixando seu pescoço apenas parcialmente cortado.
A Princesa não perdeu tempo, passou por ela e derrubou o vampiro que certa vez mandara ser executado. Jisu fechou a porta e bloqueou-a com o corpo.
– Jimin!
Ela ergueu a cabeça e viu Minjeong parada ao lado da cama. Tinha um corte no rosto. A raiva de Jimin se inflamou.
Ela golpeou o queixo de Hyukjae, que estava caído no chão.
– O que você fez com ela?
Hyukjae ficou de pé num salto.
– Você não é a mestre aqui. Seu reinado acabou.
Jisu interveio, cortando as pernas de Hyukjae e derrubando-o. Jimin agarrou a cabeça e, com um rápido puxão, aumentou o corte que havia sido aberto.
– O que você fez com ela? – Perguntou por entre os dentes.
Hyukjae começou a rir.
– Ele estava certo. Você se importa mais com sua consorte do que com a cidade. Foi por isso que conseguiu se apoderar do exército. Você está tão ocupada com sua companheira que ignora o que ocorre sob seu nariz.
Jisu esfregou as mãos no vestido.
– Vamos matá-lo. Precisamos partir antes que alguém nos fareje. Embora eu não entenda como ele está vivo depois da queda do antigo Príncipe.
Hyukjae conseguiu ficar de pé, mas ela se esquivou dele, dando um chute rápido em suas costelas. Ele grunhiu e se dobrou, pressionando a barriga.
– Você não vai sobreviver – disse ele sem ar. – Vai perder tudo.
– Uma última pergunta – anunciou Jimin e levantou o queixo de Hyukjae com a espada. – Onde está Yeji?
Os olhos de Hyukjae ganharam uma estranha luz.
– Morta. Ela é o irmão nunca chegaram a Taiwan.
– Posso? – Perguntou Jisu, segurando a espada.
Jimin assentiu.
– Finalmente.
Ela respirou. Girou a espada com ambas as mãos, decapitando Hyukjae. Caminhou até a cabeça dele, da qual ainda pingava sangue, e a ergueu.
– Não era o que eu esperava, mas vai ficar bom. Agora que cumpri minha parte, vou deixá-la.
Ela fez uma reverência para Jimin.
– Não se vá, Jisu. Preciso de você.
Minjeong respirou fundo enquanto sentava na cama, levando as mãos a cabeça. Jimin foi até ela, colocando seu casaco sobre seus ombros. Guardou a espada.
– Está ferida?
Ela balançou a cabeça, embora um corte ainda fosse visível em sua face.
– Ele... – Jimin se interrompeu, analisando o corpo dela, claramente sem traumas.
– Não – ela conseguiu dizer. – Ele disse que você tinha morrido.
Jimin pegou o rosto dela em suas mãos.
– Mas não morri. Estou aqui e você está a salvo.
Ela a beijou firmemente, seu hálito frio misturando-se ao dela.
– A cidade caiu nas mãos de um traidor. Devemos voltar à minha residência. – O olhar de Jimin se moveu para a mulher na cama. – É sua amiga?
– Sim.
Minjeong se virou para a cama, examinando a forma pálida de Chaewon.
– Acho que o nariz dela está quebrado – falou. – Ela vai ficar bem?
– O coração dela está batendo e ela está respirando. Vai melhorar com sangue de vampiro.
Jimin se virou para Jisu, que negava com um gesto de cabeça.
– Já saldei minha dívida. É hora de partir antes que alguém perceba que estamos aqui.
– Ela vai sarar mais rápido se você a ajudar.
– Então alimente-a.
– Jisu – rugiu a Princesa.
As duas vampiras se encararam por um tempo.
– Se eu fizer isso, quero um favor em troca. – Disse Jisu.
A expressão de Jimin se tornou ameaçadora.
– Um favor modesto em troca de uma quantidade modesta de sangue.
– Tenho sua palavra? – Insistiu Jisu, ainda segurando a cabeça cortada de Hyukjae.
– Desde que seu pedido seja modesto, não vou recusar.
– Ótimo – retrucou ela.
Caminhou até a cama e estendeu o pulso.
– Espere – pediu Minjeong, colocando as mãos de forma protetora sobre Chaewon. – Jimin, eu preferiria que ela tivesse o seu sangue. Ou talvez o meu.
– Não – respondeu ela firmemente.
– Por que não?
– Por que ela não quer que sua amiga se ligue a ela. E você ainda é uma recém transformada, seu sangue não é tão forte como o de um antigo.
Jisu lançou a Minjeong um olhar fulminante.
– Isso é verdade? – Quis saber Minjeong.
Jimin assentiu.
– Não gosto da ideia de Chaewon se ligando a ela.
Minjeong fez uma careta.
– Você vai gostar o suficiente quando os ferimentos dela forem curados – retrucou Jisu. – Sua ingratazinha ordinária.
– Jisu! – repreendeu a Princesa. Ela pegou a mão de Minjeong e passou um polegar sobre a palma. – Vai ficar tudo bem, eu prometo. Jisu só vou alimentá-la um pouco, o suficiente para curar seus ferimentos e talvez sua mente. Ela provavelmente dormirá em paz por várias horas.
– Tudo bem.
Minjeong apertou a mão dela. Jimin levantou o olhar para Jisu e, quando ela assentiu, enfiou a unha do polegar no pulso dela para fazer um corte. Abriu a boca de Chaewon e posicionou o punho da outra vampira sobre ela.
Minjeong ficou de costas para a cena.
– Agora está feito, vou embora – anunciou Jisu alguns minutos depois. – Não precisa agradecer, querida.
Minjeong se virou e encontrou Jisu olhando para ela com desprezo antes de sair da sala, carregando seu troféu. Chaewon ainda estava na cama, de olhos fechados. Lentamente, seus hematomas começaram a sumir e sua respiração se tornou mais regular.
Jimin a examinou.
– Ela está se curando. O sangue vai continuar a trabalhar por algum tempo. Não deve se lembrar do que aconteceu, mas isso será uma bênção.
– Obrigada.
– Entendo que você não queria o sangue de Jisu circulando em sua amiga, mas é melhor assim.
Ela envolveu Minjeong em um abraço.
– Nunca dividi meu sangue com ninguém além da minha criadora e você.
Minjeong colocou os braços ao redor do pescoço da Princesa, apoiando o queixo no ombro dela.
Lágrimas começaram a brotar nos olhos dela.
– Eu tive tanto medo de não ver você novamente. Tive mais medo disso do que de ser morta por aquele vampiro.
Jimin a apertou contra o peito.
– Cada hematoma, cada ferimento, é minha culpa.
– Não assuma a culpa dos outros, mas, por favor, não me deixe aqui sozinha.
Precisamos ficar juntas.
– Vou protegê-la. Eu juro.
Ela se abaixou e a beijou. Minjeong se apoiou nela.
– Meu amigo... Ele foi morto no meu prédio. Eu não fui capaz de fazer nada enquanto isso acontecia.
Jimin olhou para ela com ar sério.
– Vi a polícia removendo o corpo.
Minjeong cobriu a boca com a mão, desviando o olhar para Chaewon.
– Eles estavam tão felizes.
Jimin apertou a mão dela.
– Você não tem culpa do que aconteceu, ok? Vou ver o que posso fazer sobre isso. Mas agora precisamos levar você e sua amiga para a minha residência. Tudo bem?
– Sim. E você? Onde estará segura?
– O traidor tomou controle do exército. Vou ter que lutar contra ele para recuperar a cidade. Mas não farei nada até você estar a salvo.
Jimin olhou atentamente para Minjeong antes de prosseguir:
– Há um túnel secreto. É uma caminhada longa, mas vai nos levar direto à minha residência.
Ela pegou Chaewon em seus braços. Então foi em direção à porta, esperando que Minjeong girasse a maçaneta. Quando saíram para o corredor, viram Jisu acompanhada por vários vampiros uniformizados.
– Desculpe-me – sussurrou ela.
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