33

Quando o sol se pôs, Minjeong já havia conseguido empacotar suas coisas em caixas e se sentara à sua mesa na cozinha.

Jimin havia oferecido ajuda e também a ajuda de Eun ou algum dos seus empregados, mas Minjeong não queria outras pessoas mexendo nos seus pertences.

Era estranho pensar que, tendo conhecido Jimin havia tão pouco tempo, elas já estavam casadas e morando juntas. Dada a incerteza de sua vida, Minjeong já tinha jogando a precaução pela janela há bastante tempo.

Ela não queria se separar de Jimin por uma única noite, então fazia sentido dividir seu lar, assim como sua cama. Como a Princesa apontou, a residência dela era um dos lugares mais seguros na cidade.

Minjeong examinou as paredes vazias e a parte de sua velha bengala que ainda estava apoiada ali. Não tinha ideia de como sua vida mudara tanto em questão de meses. Sem dúvida teria que culpar Jimin. Afinal, ela a levara para um mundo sombrio e fascinante do qual não conseguia mais se desprender.

Ela havia tirado algumas partituras antigas das pastas e cuidadosamente guardado. Estava ansiosa por um tempo livre do teatro para compor algo nos jardim de Jimin. Estava ansiosa para tocar uma música com ela. Essa ideia a fez sorrir.

Seu telefone vibrou com uma mensagem de texto. A mensagem era de Sunghoon.

Saindo de casa, porque faço questão de ajudar na mudança da minha amiga.

Minjeong ficou tão surpresa que quase deixou o telefone cair. Rapidamente digitou uma mensagem:

Chaewon está com você?

Em segundos ela recebeu a resposta:

Sim, ela não queria ficar de fora disso. Ainda não acredito que estava escondendo o jogo sobre sua namorada.

Minjeong bufou e colocou o celular no bolso de trás do jeans. Ficou contente por seu amigo ter decidido vir até ela, mas também estava nervosa. Não sabia como a conversa iria terminar. E só havia comentado sobre a mudança porque não teria como mentir sobre seu endereço para seus amigos.

Perguntou-se quanto tempo iria levar para que eles começassem com os questionamentos. Perguntava-se se eles não ficariam em perigo por manter essa proximidade com ela. Estava prestes a telefonar para Aeri para avisar a Jimin da novidade quando um barulho do lado de fora chamou sua atenção.

Ela caminhou pela sala até a varanda e olhou para a rua logo abaixo.

Um homem estava parado a poucos metros do apartamento dela. Ele era jovem, mal chegando aos 25 anos. E tinha um longo cabelo escuro que caía sobre os ombros. Estreitava os olhos, castanhos e observadores. Vestia-se com roupas sociais.

Ele parecia procurar por algo.

Minjeong o observou com cuidado. Era obviamente um vampiro, com a pele pálida e irretocável e uma perfeição quase etérea no rosto e na forma. Ela não o reconhecia como um dos servos de Jimin e muito menos o havia visto no Conselho. Perguntou-se onde poderia tê-lo encontrado antes.

Num reflexo, ela pegou o celular e esperou impaciente a ligação se completar.

– Aeri? – Ela disse ao telefone. – Um vampiro estranho está aqui. E não preciso pensar muito para saber o que ele pode querer nessa região.

– Não saia do apartamento – respondeu Aeri com frieza, como se ela estivesse dando um mero relato do clima. – Minha senhora está em reunião agora, mas vou avisar ela. Fique aí.

– Meus amigos estão vindo para cá.

– Não saia daí. A ajuda está indo.

Minjeong terminou a ligação, colocando o telefone na mesa da cozinha.

Independente de quem viesse ao seu auxílio, isso levaria tempo. E se o vampiro ainda estivesse espreitando quando Sunghoon e Chaewon chegassem?

Minjeong inclinou a cabeça em direção à porta da varanda, mas o vampiro havia desaparecido.

Aliviada mas cautelosa, ela saiu para que pudesse olhar para a rua. Havia clientes sentados num café do outro lado da praça e alguns turistas e estudantes passeando. Mas não havia vampiros. Ela se perguntava para onde ele havia ido.

Dez minutos depois, o interfone tocou. Ela olhou pela janela do quarto e ficou aliviada em ver Sunghoon e Chaewon parados lá embaixo.

Ela colocou o celular no bolso de trás do jeans e se aproximou da porta do apartamento. O corredor ainda estava vazio.

Destrancou a porta, abriu uma fenda e botou a cabeça para fora. Aliviada porque o corredor estava vazio, ela trancou a porta atrás de si e desceu as escadas, olhando por sobre o corrimão enquanto descia para se certificar de que ninguém estava escondido na escadaria.

Quando chegou à entrada, abriu e rapidamente puxou os visitantes para dentro.

Minjeong estava prestes a fechar a porta atrás deles quando uma mão masculina agarrou a moldura da porta.

Antes que ela pudesse fechar a porta, o homem deslizou para dentro do prédio, batendo a porta atrás de si. Ele ficou parado, bloqueando a saída, com seu tamanho ameaçador e a expressão severa. Quando seu olhar encontrou o de Minjeong, ele adotou um jeito malicioso.

Num instante de horror, Minjeong percebeu a complexidade da situação em que se encontrava.

– Sunghoon, leve Chaewon para a porta dos fundos.

Minjeong se colocou entre o vampiro e seus amigos, jogando as chaves de casa para Sunghoon. Ele as pegou com agilidade.

Com um grunhido, o vampiro a agarrou pelo braço e começou a arrastá-la para a porta.

– Ei, solte-a! – reagiu Chaewon imediatamente, ficando ao lado a amiga.

Minjeong lutou, contorcendo-se numa tentativa de se soltar, mas ele a apertava dolorosamente.

Chaewon o acertou com a bengala de Minjeong, mas seus golpes pareciam ter pouco efeito além de irritá-lo. O vampiro arrancou a bengala da mão dela e a jogou a vários metros de distância. Quando levantou a mão para acertá-la, Sunghoon interveio, agarrando o braço musculoso do vampiro e puxando-o para trás.

Com um rosnado, a criatura soltou Minjeong. O vampiro recuou e socou Sunghoon no rosto, provocando um estalo repugnante que ecoou pelo corredor. Ele desabou, em meio aos gritos de Chaewon.

– Sunghoon! – gritou ela, ajoelhando-se ao seu lado. Colocou a mão no peito dele. – Ele não está respirando!

O vampiro ignorou a explosão dela e virou na direção de Minjeong.

– Chaewon, corra – disse ela enquanto recuava. – Peça ajuda.

– Solte-a! – Gritou Chaewon, de pé, mas ainda tonta, limpando o sangue de seu namorado em seu jeans preto.

Tremia de raiva.

– Não, Chaewon, corra!

Ela ignorou os apelos da amiga e pegou a bengala, brandindo-a como um taco na direção do vampiro.

– Corra! – berrou Minjeong, com o pânico se apoderando dela.

– Deixe minha amiga!

Chaewon avançou determinada. O vampiro cuspiu aos pés dela.

– Tenho ordens de limitar a bagunça. Fique onde está ou mato você.

– Não. – Minjeong se moveu e o agarrou pelo colarinho. – Vou com você. Deixe-a em paz.

O vampiro sorriu.

Ele abriu a boca para verbalizar uma resposta, mas Chaewon o acertou na lateral da cabeça com a bengala.

Momentaneamente tonto, ele se desvencilhou de Minjeong, que foi arremessada para a frente, batendo contra a parede.

– Chaewon, saia daqui!

Ela continuou golpeando o vampiro com a bengala, acertando-o onde podia, mas ele apenas afastou a arma improvisada, exibindo no rosto um largo sorriso. Quando se cansou de Chaewon, acertou-a com as costas da mão e ela desabou no chão, com sangue escorrendo do nariz, imóvel.

– Não! – gritou Minjeong, avançando em direção à amiga. O vampiro interrompeu seu movimento e a agarrou pelo braço.

– Tenho certeza de que você sabe quem eu sou – gritou, tentando se desvencilhar. – Mas parece que está decidido a criar um conflito dentro do principado.

– Você não sabe de nada – rosnou ele. – Cale a boca ou mato a outra também.

Minjeong olhou para Chaewon. Nem ela nem Sunghoon se moviam. Mas ambos os vampiros podiam sentir que Sunghoon já estava morto.

Minjeong controlou suas emoções e ficou quieta.

Enquanto o vampiro a carregava pela porta dos fundos em direção ao beco, ela se virou para ele:

– Para onde está me levando?

Ele a balançou como uma gata balança um filhote.

– Silêncio!

Levou o nariz ao pescoço dela e inalou profundamente.

– Para um lugar privado o suficiente para a vingança. Então vou descobrir exatamente que tipo de consorte você é.

Ele riu do desagrado dela e a colocou debaixo do braço, agarrando a lateral do prédio enquanto se preparava para subir.

\[...]

Havia algo inquietante no ar.

Jisu estava no topo do Teatro Nacional, observando a cidade, com o
rosto virado para o sul. Fechou os olhos e inspirou, permitindo que sua mente distinguisse a miríade de cheiros que circulavam.

Em outros aspectos, era uma noite perfeitamente normal de inverno.
Turistas e moradores locais passeavam pela praça e perto do teatro. Vampiros se moviam furtivamente entre eles, observando dos telhados ou escondidos nas sombras.

Mas os sentidos de Jisu, que foram aperfeiçoados ao longo de sua longa vida, haviam sido atiçados.

Ela abriu os olhos e viu uma movimentação sobre os prédios perto do Arno – um vampiro alto correndo. O cheiro em suas roupas atingiu suas narinas com força. Seus lábios se contraíram num rosnado e ela saltou para o telhado de um prédio abaixo, correndo assim que fez contato com as telhas.

Vários outros saltos, e ela conseguiu entrar no meio do caminho, esperando que ele aterrissasse na frente dela.

– De volta a cidade, Hyunjin? – Disse ela, com um sorriso calculado para seduzi-lo.

– Vá transar por aí.

Hyunjin apertou os punhos com mais firmeza, preparando-se para pular para o prédio adjacente.

Ele tinha o cheiro de dois sangues no corpo. O primeiro era atraente, mas comum. Mas o outro era facilmente reconhecível. Era a razão pela qual o interesse de Jisu fora despertado.

Ela estalou a língua.

– Parece que você é sua irmã tiveram problemas durante a missão. Mas eu não continuaria com isso se fosse você.

Hyunjin simplesmente rosnou e encarou a vampira com mais firmeza.

– Ela vai matá-lo por traição.

– A Princesa está morta, e se não está, estará em breve. – Hyunjin riu. – Eu cuidaria da minha própria cabeça se fosse você. Pode perdê-la em breve.

Hyunjin correu até a extremidade do prédio e pulou para o próximo. Jisu o observou acelerar até desaparecer de vista, perto da catedral. Uma pontada de medo revirou seu interior.

Ela se perguntou se ele tinha falado a verdade – se algo havia acontecido com a Princesa. Certamente, se houvesse um golpe, ela teria visto ou escutado algo.

Estava prestes a segui-lo quando escutou um ruído alto atrás de si. Ela se virou e viu surpresa cinco de seus irmãos parados perto da beirada do telhado. Estavam todos armados com espadas.

Ela se endireitou.

– Sou Lady Jisu, do Conselho. O que isso significa?

– Sabemos quem você é – grunhiu um dos soldados, empunhando a espada.

Ela suspirou e revirou os olhos. Não era assim que ela imaginava encontrar seu fim. Arregaçou as mangas do vestido e posicionou as pernas. Então, com uma arrogância nascida de muitas vitórias, tirou uma fina espada curva das costas.

Empunhou a arma com ambas as mãos.

Três soldados avançaram, um pelo meio e um de cada lado numa tentativa de atacá-la pelo flanco. Ela se livrou do soldado à sua direita primeiro, decapitando-o com um único golpe.

Os movimentos de Jisu eram rápidos e elegantes. Seu cabelo loiro rodopiava no ar, enquanto ela encarava os outros dois soldados. Ela duelou com ambos, evitando seus golpes até conseguir desarmar um deles. Ela o matou rapidamente antes de cuidar do companheiro dele.

O soldado maior se aproximou em seguida. Tinha mais habilidade do que os outros e sabia que não devia dar a mínima abertura a ela.

Jisu tentou passar-lhe uma rasteira, mas fracassou. Fez uma tentativa de desarmá-lo, mas ele conseguiu desferir um golpe no lado esquerdo dela, perfurando-a entre as dobras carmim de seu vestido para atingir seu corpo.

O ferimento a surpreendeu.

Instintivamente, ela colocou a palma da mão sobre o ferimento. Mas foi um erro, já que sua espada exigia duas mãos.

O espadachim cortou seu pulso e ela derrubou a espada, com sangue escorrendo de suas veias.

– Lady Jisu – anunciou ele, apontando a lâmina na direção do pescoço dela –, você foi condenada à morte por traição.

– Traição contra quem? – Perguntou ela, agarrando o próprio pulso. – Fui leal a Princesa.

– Exatamente. A Princesa foi desleal com Seul, permitindo que seu controle fraquejasse quando a Ordem se prepara para atacar. Por esses crimes, você será executada.

– Por qual autoridade?

Ela ganhava tempo, seus olhos castanhos examinando o telhado em busca de uma possibilidade de fuga.

– A autoridade do novo Príncipe.

O soldado levantou o braço, preparando-se para atacar.

– Não posso saber o nome do novo senhor?

Jisu caiu de joelhos.

– Não – respondeu o soldado e levantou o braço ainda mais alto.

Então seu braço e sua espada voaram pelo ar, aterrissando com um pequeno baque no telhado.

O soldado gritou surpreso enquanto sangue jorrava do ferimento aberto. Ele se virou para procurar seu atacante, mas uma espada zumbiu pelo ar, separando sua cabeça do torso.

Jisu observou fascinada, em silêncio, um vampiro vestido num sobretudo escuro rapidamente acabar com os dois soldados restantes antes de encará-la.

Ela deu um passo para trás. O cheiro daquele ser era confuso e desconhecido. Olhou ao redor desesperada em busca de sua espada e descobriu que estava longe demais.

– Não irei sem lutar – disse ela, mostrando os dentes e se agachando. O vampiro se aproximou.

– Taeyong – ofegou ela, colocando a mão no pescoço.

– Acabo de salvar sua vida, minha dama. É assim que me agradece?

Ele abriu um sorriso diabólico. Com um grito, ela o abraçou e o beijou.

– Muito melhor.

Ele se abaixou para examinar a lateral e o pulso dela.

– Foi ferida. Está tudo bem?

– Um ferimento superficial – garantiu ela, que puxou o tecido do vestido e enfiou um dedo no rasgo. – Já está fechando.

Fez um movimento similar com o pulso, limpando o sangue de sua pele pálida.

– Fico feliz.

Taeyong se moveu para beijá-la novamente, mas ela o empurrou, torcendo o nariz.

– Você está com um cheiro estranho.

– Obrigado. – Ele fez uma reverência zombeteira. – Usei vários sangues para mascarar meu cheiro.

– Precisa se banhar em indesejáveis? Mal posso suportar esse cheiro.

Ele riu.

– Foi por isso que pude surpreender o bando de assassinos que atacou você.

– Achei que estava cuidando das fronteiras.

– Decidi ficar por perto e ver o que poderia descobrir.

Taeyong olhou para os corpos dos cinco soldados.

– Parece que a Princesa foi deposta.

– Não posso acreditar nisso. Hyunjin não é poderoso o suficiente para vencê-la numa luta justa.

– O exército é. Quem disse que a luta foi justa?

Jisu balançou a cabeça.

– O exército é leal a Princesa.

– Hyunjin poderia facilmente convencê-los, especialmente com os boatos de que a Ordem iria invadir.

Taeyong examinou os telhados adjacentes, buscando qualquer sinal de movimento.

– Ele deve estar matando seus rivais do Conselho.

– Não vale a pena nos preocuparmos com isso. Hyunjin está em boa saúde. Eu o vi há alguns minutos. Ele deveria estar numa missão em Taiwan com a Yeji. Pelo cheiro de sangue em suas roupas, claramente fracassou.

– Então Hyunjin deve ter um aliado importante. Uma aliança estranha, na verdade. A Princesa deve ter morrido se Hyunjin foi capaz de movimentar os soldados. Por que ele se importou com isso?

– Porque Hyunjin cobiça o poder.

Os olhos de Taeyong encontraram os dela.

– A não ser que seja uma armadilha.

– A Princesa é inteligente o bastante para dar mais valor a Seul do que a membros do Conselho.

Jisu se esticou para beijá-lo novamente.

– Devo minha vida a você.

– Uma dívida que muito me alegra.

Ele a beijou também, envolvendo sua cintura.

– Deveríamos limpar essa bagunça? Com certeza atrairá atenção.

O olhar de Jisu pousou desdenhoso sobre seus irmãos mortos.

– Quero que essa pessoa saiba que fracassou.

– Vão enviar mais soldados.

– Vão ter que me pegar primeiro. Terei o cuidado de me esconder melhor dessa vez.

Ela o soltou e pegou a espada, colocando-a na bainha antes de escondê-la às costas.

– Não morra antes de eu ter a chance de provar de você novamente.

Jisu deu um sorriso malicioso, limpando a espada nas roupas de um dos soldados mortos.

Jisu se curvou numa mesura exagerada.

– Digo o mesmo, Sir Taeyong.

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