27

Minjeong olhou para a aliança em seu dedo anelar e tratou de fingir que sua mão não tremia. Ela estava na residência secundária da Princesa, uma elegante mansão de pedra situada em Itaewon, onde ocorreria a cerimônia de união.

Com referência ao sangue e as leis do principado, estava quase se acostumando. Mas a noção de que se tornaria Princesa Consorte naquela noite ainda era algo que levaria mais algum tempo. Dez minutos depois, deu-se conta de que a partir dali sua vida seguraria por um novo caminho.

O mais surpreendente era que não tinha o menor interesse em voltar para seu apartamento. Durante o dia organizou-se para abandonar parte da sua vida real, para separá-la a um canto de sua mente. Era como se apenas o seu trabalho no teatro ainda fosse capaz de interessá-la.

Olhou ao seu redor, pensando nas pessoas que a auxiliavam a se arrumar. Até algumas semanas atrás, ela era uma estranha no mundo delas. Uma intrometida. Embora, na realidade, ser uma pessoa deslocada não era nada novo para a musicista. As pessoas que conhecia no teatro eram boas, mas nunca tinham sido mais que colegas de trabalho, com exceção de Sunghoon e Chaewon. Eles foram o único além da música que fizera com que ela sentisse que pertencia a algum lugar.

Enquanto observava Eun cuidar do seu cabelo, deu-se conta de como sua percepção sobre a vida havia mudado. Por muito tempo o isolamento nunca a tinha incomodado antes. Ao contrário, a tinha feito sentir-se mais segura e protegida. Mas agora não deixava de parecer realizador sentir que não estava mais sozinha.

– Não tenho nenhuma joia – disse ela, olhando para o pescoço desnudo.

Ningning pegou uma capa negra com detalhes em fios de ouro sobre a cama e se aproximou dela

– Supõe-se que não deva usá-las. Bem, me deixe ver como você está.

A chinesa sorriu enquanto Minjeong dançava pelo quarto principal; o vestido de cetim vermelho resplandecia a seu redor como o fogo.

– Você está linda. – Ningning cobriu a boca com a mão. – Assim que ela a vir vai ter a mesma percepção. Está muito atraente e este é o primeiro acontecimento feliz desde... não posso recordar.

Minjeong se deteve, o traje esvoaçou até ficar quieto.

– Obrigada. Por tudo.

Ela balançou a cabeça enquanto a auxiliava a colocar a capa para a cerimônia.

– Não precisa me agradecer, só estou cumprindo com os meus deveres.

– Eu falo sério. Sinto-me como se... não sei, como se me casasse em família. E faz muito tempo desde que tive uma família verdadeira.

Um sorriso singelo surgiu no rosto de Ningning.

– Somos sua família. É uma de nós agora. E tenho certeza que cumprirá bem o seu papel.

Alguém bateu na porta.

– Está tudo bem aí dentro? – Perguntou uma voz feminina do outro lado.

Ningning se aproximou e abriu a porta, mantendo-a o mais fechada possível.

– Sim, Aeri. Os membros do Conselho já chegaram?

– Estão todos no salão principal.

– Bem. Vamos lá.

– Ningning?

– O que?

Escutaram-se palavras murmuradas em um idioma que Minjeong não compreendeu.

– Sim, Aeri – sussurrou Ningning – E depois de duzentos anos, casaria com você de novo, apesar de ficar horas no escritório e deixar suas armas espalhadas por toda a residência.

A porta se fechou, e a chinesa voltou-se para ela.

– Estão prontos para você. Vamos?

Minjeong ajeitou os cabelos que cascateavam em ondas por seus ombros e dirigiu o olhar ao anel em seu dedo.

– Nunca pensei que faria isto.

– A vida está cheia de surpresas, não acredita?

– Com certeza.

Saíram do quarto e desceram o lance de escadas que levava até o salão do principal da residência.

Tinham retirado todo o mobiliário, no lugar onde estes ficavam postados, os membros do Conselho se encontravam em fila contra a parede. Tinham um aspecto magnífico. Vestiam trajes de gala e sob as costas tinham capas negras semelhantes a que ela usava.

Houve uma exclamação geral quando a viram chegar. Os membros do Conselho se moveram inquietos, baixaram a vista. Olharam-na de novo, deixando aparecer em seus rostos sérios tímidos sorrisos. Com exceção de Jisu, que a olhou uma vez e logo desviou o olhar.

E havia alguém mais no recinto.

Uma pessoa alta vestida de preto da cabeça aos pés.

Mas onde estava Jimin?

Ningning a guiou até ela se encontrar em frente aos vampiros. Aeri deu um passo adiante.

Minjeong respirou fundo, tentando ganhar forças, mas ao ver o seu sorriso se sentiu um pouco mais tranqüila.

Sua voz era modulada, e a vampira escolhia suas palavras cuidadosamente:

– Falaremos sempre com calma, para que possa entender. Está preparada para começar?

Ela assentiu.

– Minha senhora, pode vir – disse em voz alta.

Minjeong olhou por cima do ombro e levou a mão à boca.

Jimin apareceu na soleira da porta do corredor. Estava resplandecente, usava um blazer sob medida e uma capa negra com o brasão do principado de Seul bordado em fios dourados. Uma longa adaga com cabo prateado estava pendurada a seu lado e na cabeça uma singela coroa de rubis fixados em ouro.

Avançou a passos largos, movendo-se com aquela elegância que a encantava, enquanto seus longos cabelos negros se agitavam sobre seus ombros.

Só tinha olhos para Minjeong. Quando ficou ante ela, sussurrou:

– Fiquei sem respiração ao vê-la.

Ela conteve as lágrimas.

O rosto de Jimin parecia preocupado quando estendeu as mãos.

– Meu amor, qual é o problema?

Minjeong balançou a cabeça, mas não pôde articular palavra. Sentiu que Ningning tocava de leve sua mão.

– Ela está bem – disse a chinesa. – Confia em mim, está bem. Não é certo?

Minjeong assentiu, respirando fundo.

– Sim.

Jimin tocou seu rosto com as pontas dos dedos.

– Podemos parar tudo.

– Não – Ela respondeu imediatamente – Amo você, e vamos nos casar.

– Parece que não restam dúvidas – disse um dos membros do Conselho em tom respeitoso.

Quando recuperou o controle de si mesma, a Princesa olhou para Aeri, e lhe fez um gesto para que continuasse.

– Faremos a apresentação à Escriba do Império – disse a conselheira.

Jimin segurou a mão de Minjeong e guiou-a até a figura vestida de preto.

– Escriba, esta é Kim Minjeong, minha escolhida e com quem compartilho um vínculo de sangue...

A apresentação continuou durante um momento. Quando Jimin se calou, a figura a sua frente sorriu de forma suave e estendeu a mão para Minjeong.

– Venha aqui.

Jimin se afastou, mas permaneceu perto.

Minjeong se aproximou da figura, preocupada com cada um de seus movimentos. Sentiu-se inspecionada.

– Esta Princesa pede que aceite ser sua consorte, minha jovem. Aceitará isso se ela for digna?

– Ah, sim. – Minjeong olhou para Jimin. Ela ainda estava tensa. – Sim, eu aceitarei.

A figura assentiu.

– Princesa, esta jovem a respeitará. Dará prova de seu valor por ela?

– Eu o farei – a profunda voz de Jimin ressonou na residência.

– Se sacrificará por ela?

– Eu o farei.

– A defenderá contra aqueles que pretendam lhe fazer mal.

– Eu o farei.

– Me dê sua mão, minha jovem.

Minjeong a estendeu indecisa.

– Com a palma para cima – sussurrou Jimin.

Ela girou o punho. As figura lhe cobriu a mão. Sentiu uma estranha sensação, como uma pequena descarga elétrica.

– Princesa.

Jimin estendeu a mão, que também foi encoberta pela figura.

– Ah – disse ela. – Esta é uma boa união. Uma excelente união.

Suas mãos caíram, e Jimin a rodeou com seus braços e a beijou.

Os presentes começaram a aplaudir.

Minjeong se agarrou a ela tão forte como pôde. Já tinha acontecido. Era real. Estavam...

– Quase terminamos, Minjeong.

Jimin deu um passo atrás, desfazendo o nó de sua capa. O tecido foi posto de lado enquanto ela tirava o blazer que vestia, revelando a camisa social preta.

Ningning ficou a seu lado e tocou seu ombro.

– Tudo sairá bem. Só seja paciente.

Minjeong, olhou ao redor nervosamente enquanto Jimin se ajoelhava ante a figura vestida de preto e erguia o braço esquerdo desnudo. Aeri trouxe uma mesa pequena sobre a qual havia uma terrina de cristal cheia de um líquido negro, uma jarra de água e uma caixa fechada.

A figura se deteve junto a Jimin.

– Está de acordo?

– Sim.

Com um brilho prateado, a figura expôs uma agulha de metal. Ela a mergulhou no líquido negro e se inclinou sobre o braço de Jimin.

Minjeong arregalou os olhos, e se inclinou para frente enquanto a lâmina descia.

– Não...

Ningnig a manteve em seu lugar.

– Fique quieta.

– O que está...?

– Está se casando com uma princesa do reino vampiro – sussurrou Ningning em tom sério. – Ela está dando a você seu corpo e todo seu ser. Esse é o propósito da cerimônia.

A figura continuava a gravar a marcação ritualistica sobre a pele de Jimin. Minjeong respirou fundo quando viu um fio de sangue correndo por sua pele.

– Não precisa fazer isto para provar seu valor para mim.

– Você a ama? – Perguntou Ningning.

– Sim.

– Então deve aceitar suas tradições.

A figura continuou mergulhando a agulha no líquido negro e marcando a pele de Jimin. Quando terminou, Aeri pegou a jarra de água e derramou o líquido sobre o antebraço da Princesa.

Minjeong permaneceu em silêncio enquanto observava. Não podia imaginar aquela sensação, mas além de fechar seus punhos, Jimin não emitiu nenhum só grito. Enquanto suportava a dor, os membros do Conselho grunhiram de aprovação.

A figura se inclinou e abriu a caixa, deixando a mostra uma coroa semelhante a que a Jimin usava.

– Levante-se – disse.

Ela se ergueu, os braceletes duplos tatuados em seu antebraço ficando visíveis enquanto voltava a amarrar sua capa.

A figura lhe apresentou a caixa.

– Leve isto a sua consorte como símbolo da sua união, assim saberá que é digna dela e que seu corpo, seu coração e sua alma estão agora a suas ordens.

Jimin deu meia volta. Ao aproximar-se de Minjeong explorou ansiosamente seu rosto. Estava bem, ou mais que isso, resplandecia de amor.

Parada em frente a ela, inclinou a cabeça e lhe ofereceu a caixa.

– Aceita-me como sua? – Perguntou, seus intensos olhos castanhos cintilavam.

As mãos dela tremeram quando aceitou a caixa.

– Sim, eu aceito.

Jimin colocou a coroa sobre a cabeça de Minjeong, e ela se jogou em seus braços, tomando o cuidado de não tocar em seu antebraço esquerdo.

Os membros do Conselho iniciaram um cântico em voz baixa, uma suave melodia que ela não conhecia.

– Está tudo bem? – Perguntou a Princesa ao seu ouvido.

Minjeong assentiu com a cabeça.

– Gostaria de saber o que as marcações significam – disse ela, enterrando a cabeça no ombro dela.

Jimin riu suavemente.

– A união de duas pessoas pela eternidade.

O cântico aumentou de volume, entoado pelas profundas vozes mistas.

Minjeong olhou os membros do Conselho, os atraentes e ferozes vampiros que agora eram parte de sua vida. Jimin a manteve em seus braços. Juntas, apreciaram aquele ritmo que enchia o ar. Prestando aquela homenagem, os membros do Conselho pareciam uma só voz, um único e poderoso ser.

\[...]

– Não imaginava que a cerimônia seria daquela forma. – Disse Minjeong enquanto entrava na sala da residência de Jimin horas mais tarde naquela noite.

Atrás dela, a Princesa acendeu as luzes.

– Por que não me contou nada? – Minjeong lançou a ela um olhar curioso.

– Eu queria que você tivesse uma experiência completa de como funcionam certas coisas no nosso mundo.

Ela indicou um dos sofás na sala, e Minjeong se sentou.

Jimin foi até o canto, onde ficava um dispositivo de som. Em pouco tempo, o ambiente se encheu de música.

Minjeong reconheceu a melodia atual.

– Pensei que você não escutasse música moderna – disse ela.

– Fui convencida a expandir meus horizontes. – A Princesa sorriu ao se aproximar dela. – Posso lhe oferecer algo para beber?

Ela olhou em direção ao bar.

– Vinho tinto, por favor.

Jimin se curvou e foi até o bar. Quando voltou, trazia uma garrafa de vinho e duas taças equilibradas em uma bandeja. Serviu uma para ela e outra para si.

– Vai dar uma de humana hoje? – Perguntou Minjeong quando ela lhe entregou a taça.

– Gosto de tinto.

Ela se sentou ao seu lado no sofá, e as duas brindaram. Minjeong provou do vinho. Era excelente.

– Você não quis ficar muito tempo na companhia dos membros do Conselho.

– Não me pareceu conveniente. – Ela deu um gole no vinho com um gesto exagerado.

– Por que não?

– Digamos que nos entendemos melhor quando estamos lidando com questões de Estado.

– Notei que aquela mulher, Jisu, não parecia exatamente contente durante a noite.

Jimin girou o conteúdo da taça com uma expressão deliberadamente neutra.

– Ela tem seus motivos pessoais para isso.

Minjeong arqueou uma sobrancelha.

– Que seriam?

A Princesa relanceou os olhos para os dela e pôs a taça sobre a mesa à sua frente.

– Segundo seus termos, ela seria o mais próximo que tenho de uma ex.

– Achei que você tivesse dito que nunca havia tido uma companheira. – Os olhos castanhos dela exibiam uma expressão de alerta.

Jimin tentou esconder a surpresa com a raiva crescente de Minjeong, mas não conseguiu.

– E realmente não tive. Jisu é ávida pelo poder, é manipuladora, mas é incapaz de amar outra pessoa. O que acontecia entre nós não significava nada. – Ela respirou fundo e ergueu o braço para pousá-lo no encosto do sofá. – Minjeong, reconheço que podia ter lhe falado sobre isso antes, mas não me condene pelo meu passado. Meu coração pertence apenas a você. Espero que acredite em mim.

– Acredito, sim. – Ela se concentrou na taça de vinho. – Muito.

E era verdade.

Enquanto pousava sua taça na mesa, a musicista se sentiu ridícula por estar com ciúmes do passado dela depois de toda a prova de amor que ela havia lhe dado naquela noite.

– Minjeong. – Ela levantou a mão dela e encostou as costas nos próprios lábios. – Olhe em volta. Quem está aqui?

– Só nós.

– Justamente. Você é a única com quem quero compartilhar o meu mundo.

– Você é uma vampira que não facilita as coisas, sabia?

Ela se inclinou para a frente e sussurrou no ouvido dela:

– Sabia.

Sem cerimônia, Jimin a pegou no colo e a levou até o outro lado da sala. Quando Minjeong se equilibrou sobre os dois pés, puxou-a para junto de si.

A música continuou, uma música suave, que induzia movimentos lentos. Jimin a segurou bem apertado, e elas começaram a se mover.

– Não sabia que vampiros dançavam. – Minjeong não conseguiu disfarçar o quanto estava achando aquilo divertido.

Jimin sorriu.

– Você dança bem – comentou ela.

– Não muito. – A musicista enrubesceu. – Fiz aulas de dança quando era pequena.

– Dá para perceber às vezes nos seus movimentos. Muito elegantes.

Ela abafou uma risada. Ninguém nunca a havia chamado de elegante desde o incidente.

– Eu nunca te falei, mas tenho uma visão de nós duas voando por cima dos telhados.

– Talvez não seja uma visão. Pode ser uma lembrança da primeira vez em que a trouxe para minha casa. – Jimin sorriu. – Quando decidir que quer correr, irei lhe mostrar um dos meus pontos preferidos na cidade.

– Você faria isso mesmo?

– Sou capaz de fazer tudo pela minha esperança.

Minjeong viu desejo e paixão no rosto dela; a intensidade do seu olhar era surpreendente.

– Me beije, Jimin.

A Princesa baixou os lábios até os dela.

Minjeong pôde sentir seu afeto e sua necessidade, seu foco e sua atenção.

Envolveu-a com os braços. Ela sustentou seu peso e a ergueu de leve. Quando o beijo retrocedeu, a musicista se afastou e sorriu.

– Obrigada.

– Por quê?

– Por esse beijo. Senti até no coração.

Jimin roçou os lábios na sua testa.

– Me leve para a cama – sussurrou Minjeong.

– Agora?

– Sim.

– Tem certeza? – Ela acariciou sua bochecha com as costas dos dedos. Minjeong assentiu com a cabeça.

Ela a tomou nos braços e caminhou rapidamente até a escada que dava acesso aos quartos.

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