06
Abalada e com raiva, a Princesa andava pelas ruas movimentadas de Seul. Sua noite não correra conforme o planejado. Pelo contrário: ela tivera de revisitar um de seus erros mais recentes e mais sérios. E a jovem havia se mostrado um erro ainda mais atraente do que na sua lembrança.
Agora a jovem ferida tinha sido curada, e quem estava vulnerável era ela. Ouvira verdade na voz dela quando lhe prometera guardar os segredos, mas sabia como era fácil enganar os humanos. A mente dela era forte demais para controlar sem fazê-la beber do seu sangue. E Jimin não queria transformá-la por esse simples motivo.
Se Hyunjin ou Jisu a encontrassem...
Ela estremeceu.
O cheiro de Minjeong estava disfarçado pelo que ela lhe fizera ingerir para salvar sua vida. Em breve sua verdadeira safra ficaria novamente detectável. Jimin havia lhe dado de presente um de seus bens mais preciosos, mas sabia que este decerto atrairia atenção. Teria de bancar o anjo da guarda até ela enfim estar segura.
Mais uma vez, a visão de um um grupo de pessoas ensanguentadas e feridas ardeu diante de seus olhos. E mais uma vez ela decidiu adiar esse desfecho.
Fosse qual fosse o seu compromisso com a jovem, restava o problema de Seokjin e de Namjoon. A mente do diretor era suscetível a influências, e, portanto, a sua lembrança de partes do concerto há um ano fora apagada com facilidade. Apesar de seu envolvimento com o publicitário, ela não via motivo para interferir. Ter o diretor do Teatro Nacional sob seu controle tinha vantagens claras.
Restava, contudo, o problema de Seokjin. O nome Yu Jimin precisava ser apagado de sua lembrança e de qualquer vínculo com o Teatro Nacional. Mas a mente de Seokjin não podia ser controlada.
Ela teria que observar as ações dele de perto.
Ao entrar em uma rua estreita, Jimin soube imediatamente que a seguiam e quem era. O aroma desagradável os delatavam com facilidade.
Sorriu amplamente, abriu seu longo sobretudo e tirou uma pequena adaga. A arma feita de aço inoxidável se acomodava perfeitamente à palma de sua mão. A Princesa não alterou o passo, embora seu desejo fosse ocultar-se rapidamente na escuridão. Estava ansiosa por um confronto depois de tudo o que tinha acontecido na última hora, e aquele membro da Ordem tinha chegado no momento certo.
Matar um dos seus caçadores era precisamente o que necessitava para eliminar seu mal-estar. À medida que o atraía para a densa escuridão, o corpo de Jimin ia se preparando para a luta, seu coração batia pausadamente, os músculos de seus braços e coxas se contraíram. Percebeu o ruído de uma arma sendo desembainhada e calculou a direção do ataque. Apontava para o seu pescoço.
Com um rápido movimento, girou sobre si mesma no momento em que a lâmina cortava o ar. Inclinou-se e lançou a adaga, que com um brilho prateado traçou um arco mortífero. Acertou o caçador exatamente no pescoço, cortando-lhe a garganta. A espada que empunhava caiu no chão, chocando ruidosamente contra o pavimento.
O homem segurou o pescoço com ambas as mãos e caiu de joelhos. Jimin se aproximou dele, revistou-lhe os bolsos e guardou a carteira e o telefone que levava.
Depois puxou a adaga do seu pescoço. Sentia que a luta não tivesse durado mais, mas a julgar pela aparência jovem e o ataque relativamente torpe, tratava-se de um novato. Com um rápido empurrão, colocou o caçador de barriga para cima, atirou a adaga ao ar, e segurou o punho com um rápido giro de pulso. A lâmina se afundou na carne, atravessou o osso e chegou até o negro vazio onde estava o coração.
Com um som apagado, o homem se desintegrou em um brilho de luz. Jimin limpou a lâmina em suas calças, deslizou-a para dentro da capa e ficou de pé, olhando ao seu redor. A seguir, desapareceu na escuridão.
\[...]
Quando chegou a sua mansão mais tarde naquela noite, sentia-se esgotada. Fechou a porta do seu quarto com a chave, despiu-se, tomou banho e logo voltou nua ao quarto. Então caminhou até o guarda-roupa e tirou um conjunto limpo de roupas pretas. Havia convocado uma reunião com os membros do Conselho e certamente seus convidados já a aguardavam no salão principal.
Quando Jimin desceu as escadas até o subterrâneo, tinha recuperado o controle. Percorreu o corredor que dava acesso ao conselho.
Como esperado, a sala estava às escuras. O submundo não tinha energia elétrica, de modo que tochas ardiam em nichos das paredes e rebuscados candelabros de ferro iluminavam o espaço cavernoso. Sombras estremeciam pelos rostos dos seres ali reunidos.
Um fato interessante era a notável ausência de ratos nos túneis.
A Princesa entrou na sala pela grande porta dupla; sua capa de veludo preto esvoaçava atrás dela. Ela caminhou até um trono dourado em cima de uma plataforma elevada.
Não parecia contente.
– Está iniciada a reunião do Conselho – Aeri bateu com um cetro alto na ponta do qual havia uma flor de lis de ouro esculpida.
Com esse anúncio, os 3 outros membros do Conselho se adiantaram e sentaram em cadeiras de madeira altas estofadas de veludo vermelho. Agrupadas em volta de uma imponente mesa de mogno redonda, elas estavam viradas para a frente em direção ao trono onde Jimin sentara.
Ela os cumprimentou, impaciente.
Aeri sempre era a primeira a chegar. Tinha os olhos acesos, a determinação fazia o castanho-claro brilhar de maneira tão vívida que até a Princesa pôde captar o brilho. Uchinaga Aeri era japonesa de nascimento e prima distante da família Yu. Nascida no século XVII, havia sido transformada aos 23 anos. Seus cabelos loiros chegavam à altura das costas, e ela tinha quase a mesma altura da Princesa, mas era mais jovem e bem menos poderosa.
Enquanto Aeri se encaminhava para o seu lugar junto aos outros, Lee Taeyong cruzou as mãos sobre a mesa. O cabelo negro que penteava de forma impecável dava-lhe um aspecto mais atraente que o habitual, embora fosse a tatuagem ao redor de seu olho esquerdo o que realmente o colocava no campo do assustador. Essa noite vestia uma jaqueta de couro e como sempre, luvas negra de condutor.
Seguiu-lhe Choi Jisu. Tinha suavizado sua atitude arrogante em deferência ao encontro com a Princesa na manhã passada. Jisu era uma mulher atraente, poderosa e uma lenda sensual no mundo ao qual pertenciam. Qualquer um que a conhecese, tanto os seus como os humanos, faziam de tudo para despertar o interesse dela. Pelo menos até que vislumbrassem seu lado obscuro.
Hwang Yeji era a última. Com seus cabelos ruivos e olhar felino, ela poderia facilmente estar desfrutando da companhia de atrizes e modelos no mundo humano, mas se mantinha fiel a sua origem. Só havia um único lugar ao qual sentia que pertencia e este era onde estava no momento.
– Onde está seu gêmeo? – Perguntou a Princesa.
– Hyunjin está a caminho.
Que Hyunjin chegasse por último não era nenhuma surpresa. Ele era um violento perigo para o mundo. Um maldito que entrava em conflitos desnecessários em todas as horas vagas. Por capricho, apesar de seu rosto de olhar marcante e seu cabelo ruivo, tinha um aspecto tão aterrador como realmente era, de modo que as pessoas estavam acostumadas a se afastarem de seu caminho.
Raptado de sua família quando era uma criança, tinha acabado como escravo de sangue, e o mau trato nas mãos de sua ama tinha sido brutal em todos os sentidos. Yeji levou quase um século para encontrar a seu gêmeo, e Hyunjin tinha sido torturado a ponto de ser dado por morto antes de ser resgatado.
Com toda certeza, ele era o mais perigoso dos membros do Conselho. Depois do que tinha suportado, não lhe importava nada nem ninguém. Nem sequer sua irmã.
Sim, o Conselho era um grupo cortes. O único que se interpunha entre a população do submundo, humanos e os caçadores.
Cruzando os braços, a Princesa passou o olhar pela sala, observando a cada um dos seus companheiros, pensando em suas forças, mas também em suas fraquezas. Com o recente atentado contra sua vida, recordou que, embora os seus tivessem capacidade de enfrentar os caçadores, havia muito poucos irmãos lutando contra uma inesgotável e autoregeneradora reserva deles.
Porque eram testemunha de que havia muitos humanos com interesse e aptidões para o assassinato. A balança simplesmente não se inclinava a favor da raça. Ela não podia evitar o fato de que os seus não viviam eternamente, que eles podiam ser assassinados ou amaldiçoados. E que o equilíbrio podia quebrar-se em um instante a favor de seus inimigos.
Se a Princesa fosse outra classe de governante, como seu antecessor, que desejava ser adorado e reverenciado, talvez o futuro tivesse sido mais prometedor. Mas Jimin era tão lutadora quanto líder, se desenvolvia melhor com uma espada na mão e estando a frente de tudo o que acontecida no seu principado do que sentada, sendo objeto de adoração.
Concentrou-se de novo nos seus companheiros. Quando eles lhe devolveram o olhar, notava-se que esperavam suas instruções. E aquela consideração a deixou orgulhosa.
– Tomei o atentado contra minha vida como um ataque pessoal – disse. Houve um surdo grunhido de aprovação entre seus companheiros.
Jimin tirou a carteira e o celular do membro da Ordem de Caçadores que tinha matado.
– Tirei isto de um caçador que tropeçou comigo nesta mesma noite próximo a ponte Bampo. Quem quer fazer as honras?
Lançou-os ao ar. Jisu pegou ambos os objetos e passou o celular a Yeji. Jimin cruzou as pernas e se recostou no trono.
– Me fale sobre as patrulhas, Taeyong.
– As patrulhas estão funcionando, minha senhora. Mas precisamos aumentar o monitoramento da fronteira para nos protegermos das incursões. Isso significa que vamos ter que recrutar gente nova para podermos promover os jovens.
– Irei convocar uma reunião para cuidarmos desse assunto. – Ela disse em tom sério. – Quanto ao problema atual, teremos que sair em caçada de novo.
– Tem toda a razão – grunhiu Taeyong. Houve um movimento metálico e logo o som de uma faca ao cravar-se na mesa. – Temos que prendê-los onde treinam, onde vivem.
O que significava que os seus teriam que fazer um reconhecimento nas fronteiras. Os membros da Ordem dos Caçadores não eram estúpidos. Alteravam seu centro de operações com regularidade, mudando constantemente suas instalações de recrutamento e treinamento de um lugar a outro. Por este motivo, os habitantes do submundo consideravam que era mais eficaz agir como chamarizes e lutar contra todo aquele que fosse atacá-los.
Ocasionalmente, o Conselho tinha realizado algumas incursões, matando dúzias de caçadores em uma só noite. Mas essa classe de tática ofensiva era rara. Os ataques a grande escala eram eficazes, mas também apresentavam algumas dificuldades. Os grandes combates atraíam à polícia, e tratar de passar inadvertidos era vital para todos.
– Aqui tem uma carteira de motorista – murmurou Jisu. – É local.
– Qual é o nome? – Perguntou Jimin.
– Park Taeho.
Yeji soltou uma maldição enquanto examinava o telefone.
– Aqui não tem muito. Só alguma coisa na memória de chamadas, umas marcações automáticas. Averiguarei no computador quem ele chamou e que números foram marcados.
A Princesa cerrou os dentes. A impaciência e a ira naquele momento eram um coquetel difícil de digerir.
– Não preciso dizer a você para trabalhar o mais rápido possível. Não há maneira de saber se o caçador que eliminei esta noite estava sozinho, sendo assim temos que limpar completamente toda a zona. Temos que eliminar todos os que encontrarmos, mas com a cautela necessária para evitar problemas futuros.
A porta principal se abriu de repente, e Hyunjin entrou na sala. Jimin o encarou com um olhar frio.
– Obrigado por se juntar a nós, Hyunjin. Esteve muito ocupado com suas amantes?
– Que tal se me deixasse em paz, minha senhora?
Hyunjin se dirigiu a sua cadeira e permaneceu afastado do resto.
– Onde você vai estar, Princesa? – Perguntou Aeri suavemente.
A calma Uchinaga Aeri. Sempre tratando de manter a paz, foi mudando de assunto, intervindo diretamente ou, simplesmente, pela força.
– Nas proximidades. Permanecerei nas proximidades. Se o caçador que me atacou não estava sozinho e seus aliados estão interessado em jogar um pouco mais, quero estar disponível e fácil de encontrar.
Quando os membros do Conselho se foram, Jimin tirou sua capa e colocou a jaqueta. Deu-se conta então do rumo que as coisas estavam tomando atualmente. Governar seu principado nunca foi uma tarefa simples, mas isso tampouco a deixava pensativa a cerca de suas obrigações como líder.
Dez minutos depois, Jimin voltou para a residência principal.
– Ningning? – chamou em voz alta.
– Sim, minha senhora? – A assistente parecia grata por tê-la chamado.
– Você tem algum compromisso para essa noite?
– Nenhum. Necessita dos meus serviços?
Jimin assentiu com a cabeça.
– Preciso que consiga mais informações sobre Kim Seokjin.
– Irei trabalhar nisso. Deseja algo mais antes de sair?
Jimin balançou a cabeça.
– Talvez quando voltar? – Insistiu Ningning em tom baixo.
Se fosse qualquer outro dos seus, a Princesa teria ficado mais do que grata em colocá-lo em seu devido lugar, mas com Yizhuo sua atitude era diferente. Talvez pela relação que ela mantinha com Aeri, via na chinesa algo próximo a uma amiga.
– Tudo bem. Obrigada.
A assistente sorriu com satisfação.
Jimin deu a volta e se dirigiu à porta.
– Minha senhora?
– Sim? – Perguntou.
– Tenha cuidado lá fora.
Jimin se deteve e olhou por cima de seu ombro. Ningning parecia realmente preocupada com seu bem estar.
Era tremendamente estranho ter alguém esperando-a ao voltar para casa. Saiu da mansão e caminhou até uma motocicleta parada ali. Um relâmpago cintilou no céu, antecipando a tormenta que podia cheirar formando-se ao sul.
\[...]
Mais tarde naquela noite, duas figuras sombrias discutiam no alto do edifício do Teatro Nacional.
– Estou dizendo, a hora é agora! – Hyunjin levantou a voz, e sua figura imponente avançou pela escuridão.
Seu companheiro ergueu a mão para contê-lo.
– Tenha paciência.
– Nós já tivemos paciência suficiente. Vamos matá-la hoje à noite.
O outro deu um suspiro dramático.
– Será que você não aprendeu nada com a primeira tentativa de Busan? Vai ser preciso mais do que nós para derrubá-la, sobretudo se algum dos outros ficar do seu lado.
Hyunjin sacou a espada.
– Nós não somos exatamente jovens. Quem garante que os outros vão defendê-la? Eles devem estar tão ansiosos quanto nós para assumir o controle.
– É justamente por causa disso que precisamos ter certeza das nossas alianças. Agora não é hora para atitudes precipitadas, principalmente se você correr o risco de se descontrolar. A Princesa é mais poderosa do que você pode imaginar.
Hyunjin soltou um palavrão e brandiu a espada no ar.
– Discordo.
– Então você é um tolo. Nem mesmo eu conheço a extensão total do seu poder. Não quero descobrir se for só para perder a cabeça.
– Temos que esperar até os 1000 anos dela se esgotarem?
– Não seja pessimista. Cometi um erro quando me aliei ao antigo príncipe de Busan. Agora estou trabalhando numa parceria com cúmplices mais fortes. E há sempre os caçadores.
Hyunjin embainhou a espada.
– Agora você está dizendo bobagem. Não é possível se aliar aos caçadores. E por que você iria querer trabalhar com eles?
O outro abriu vagarosamente um sorriso.
– A Princesa é uma antiga. Os caçadores vão ficar muito felizes em ter o seu sangue. Se nós a entregássemos, provavelmente assinariam até um tratado para deixar a cidade em paz.
– As nossas fronteiras andaram meio porosas ultimamente. Se um bando de caçadores aparecesse, criaria um caos. O Conselho vai responsabilizar a Princesa. Sem contar que nossa nobre líder cometeu alguns erros nos últimos tempos... erros que ameaçam deixá-la vulnerável.
Hyunjin repousou a mão no cabo da espada.
– O Conselho está cheio de aliados dela.
– E de possíveis rivais. Eles sabem que o seu reino não vai durar para sempre. Tudo que lhes falta é um líder disposto a depô-la, e um pouco de motivação. Tenha paciência, Hyunjin. A cidade em breve vai ser nossa.
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