03
A Princesa fechou a porta na sala da sua grandiosa mansão em Gangnam. Por um momento havia se esquecido quão bem vivia ali. Embora fosse uma guerreira, comportava-se como uma aristocrata, e para falar a verdade, tinha certa lógica. Sua vida no submundo tinha começado como uma herdeira de alta linhagem, e ainda conservava o gosto pelo bom viver. Sua mansão era moderna, mas estava cheia de antiguidades e obras de arte. Também era tão segura quanto o seu estilo de vida exigia.
– Que agradável surpresa, minha senhora. – Ningning, sua assistente, apareceu do vestíbulo e fez uma profunda reverência. Como sempre, a jovem de cabelos ruivos vestia roupas escuras.
Ning Yizhuo estava em sua corte há cerca de 100 anos e fora integrada por intermédio da sua conselheira, o que significava que tinha a confiança necessária para assumir tal posição. Além disso, sua família tinha servido aos aristocratas e guerreiros durante muitos séculos.
– Ficará conosco muito tempo, minha senhora?
Jimin balançou a cabeça.
– Apenas algumas horas.
– Seu quarto está preparado. Se precisar de mim, estarei aqui.
Ningning se inclinou de novo e se retirou da sala, fechando as portas duplas atrás dela.
A Princesa subiu a escada até seu quarto enquanto refletia sobre os últimos acontecimentos. Havia devolvido a jovem ferida para o mundo ao qual ela pertencia. E agora estava retornando ao seu.
E que mundo... escuro, violento, destrutivo.
Ao entrar no quarto, viu o próprio reflexo e afastou da testa alguns fios desalinhados dos cabelos escuros. Apesar de o seu corpo ser agora muito mais atraente do que fora em vida, nunca passava muito tempo se olhando.
Por outro lado se pegou pensando no lindo rosto de olhos castanhos. Por causa de uma lembrança com muitos séculos de idade, havia interferido em assuntos humanos. Por causa de uma linda face de olhos fascinantes...
Esfregou o rosto com as duas mãos. Seu corpo nunca se cansava, mas a mente precisava de repouso. Naquela manhã, tudo que queria era passar algumas horas meditando tranquilamente. Só que não seria possível. Sentira a presença de Jisu assim que entrara na sua residência, e ela estava atrás dela.
– Vejo que finalmente decidiu voltar para casa. – Ela disse, movendo-se sobre a cama grande, usando nada mais que uma curta camisola de seda preta.
O céu já estava claro no horizonte. Isso significava que a jovem não mais ferida despertaria em algumas horas e retomaria sua vida. E embora ela permeasse seus pensamentos, Jimin se forçou a esquecê-la e encarou com atenção o corpo de Jisu, os seios firmes sob o fino tecido e a impecável cabeleira loira.
– Bom dia para você também, Jisu. Como sabia que eu estaria aqui?
– Adivinhei. Você passou dias fora da cidade. Sabia que uma hora ou outra precisaria se alimentar. E então viria para casa.
– Pensei que eu tivesse proibido a sua entrada na minha ausência. – Jimin disse, caminhando até a janela e puxando as cortinas. Era para o conforto de Jisu, não para o seu.
Os outros não sabiam, mas ela podia suportar a luz do sol.
Jisu repousou a cabeça sobre a mão virada e sorriu.
– E proibiu. Mas eu usei meu notável poder de persuasão e convenci um dos seus empregados a me deixar subir. Teria ido encontrá-la em Busan, mas, como você sabe, não posso transitar entre as fronteiras sem sua permissão.
A Princesa ignorou sua reclamação e estreitou os olhos castanhos.
– Você fez alguma coisa com o empregado?
– Claro que não. Ele esta perfeitamente bem. – Ela lançou-lhe uma piscadela. – Eu não iria matar um dos seus humanos. Pelo menos não sem pedir.
Jimin resmungou enquanto virava de costas. Lembrou-se da jovem de olhos castanhos encolhida em um beco, e de Jisu lhe implorando para compartilhar a “safra excepcional”. A lembrança, assim como as sensações que a acompanhavam, lhe pareceram um tanto incômodas.
– É fácil substituir empregados, mas não é prático fazer isso toda vez que um convidado se sente no direito de fazer o que lhe vier a mente enquanto estiver na minha residência.
A loira ficou em silêncio por alguns instantes, o desconforto que atravessara o semblante de Jimin não passou despercebido aos seus olhos.
– Você parece diferente, Jimin. Em outros tempos nem ao menos se importaria com a existência deles. – Ela disse com desdém. – Lembro-me de quando executou todos os seus empregados em um momento de fúria.
O comentário dela pairou no ar enquanto Jimin ia até o guarda-roupa em frente à cama.
– Não tenho momentos de fúria, Jisu. Executei aqueles empregados por um bom motivo, isso eu lhe garanto. – Ela tirou o sobretudo preto e o pendurou antes de ir até uma poltrona para descalçar as botas.
Jisu continuou a observá-la.
– Essa é uma das coisas que mais me fascina em relação a você. Sob alguns aspectos, você é aquela com maior ligação ao mundo humano entre nós, sob outros, é a menor.
– Tenho certeza de que existe um elogio em algum lugar nesse comentário – retrucou ela com ironia.
– Você é a nossa Mestra, mas ninguém sabe como mantém seguro seu domínio ou quem a tornou uma de nós. – A loira baixou a voz. – Nem mesmo eu sei quando você passou para o nosso lado, embora acredite que tenha sido há centenas de anos antes de mim.
– Isso é uma pergunta? – Indagou Jimin em tom sério enquanto colocava as botas ao lado do guarda-roupa, sem encarar seu olhar penetrante.
Ela baixou a voz até um sussurro suave e sedutor.
– Eu sou sua companheira. Você pode compartilhar seus segredos comigo.
A Princesa a encarou com um olhar firme.
– Você não é minha companheira, Jisu. Só ficamos quando sentimos tal necessidade. – Como para enfatizar o que dizia, ela se levantou e tirou a calça.
Jisu observou-a atentamente.
– Algo está me intrigando. Você tirou a vida de dois homens no último fim de semana para se alimentar daquela garota. Que comportamento estranho. Por que o súbito interesse por humanos? Você sabe que eles não são a nossa fonte principal.
Jimin se manteve ocupada desabotoando os primeiros botões da camisa social preta.
– Só interfiro quando é do meu interesse.
A loira rolou de bruços, deixando à mostra as lindas costas e jogou os cabelos por cima dos ombros.
- Não era do seu interesse esquartejar aqueles homens em um beco e deixar os pedaços lá apodrecendo.
Jimin a encarou na mesma hora.
– Ningning se livrou dos cadáveres.
– Você poderia tê-los afugentado ou usado o controle mental. – Ela a observou, curiosa. – Não foi só Hyunjin que achou seu comportamento estranho. Fiquei sabendo de alguns comentários entre os membros do Conselho.
A Princesa sustentou seu olhar com uma expressão fria e ameaçadora.
– Se Hyunjin quiser conversar, sabe onde me encontrar. Mas não vai gostar de como a conversa vai terminar.
Ela estremeceu e desviou os olhos.
– Eu a defendi, claro. Teria feito o que fosse preciso para conseguir aquela jovem, mesmo que isso significasse acabar com a vida dos dois homens. Ela era especial. E eles iam desperdiçar isso.
Jimin permaneceu em silêncio, e Jisu a observou enquanto brincava com o lençol.
– Que gosto tinha o sangue dela?
– Meu apetite nunca fica saciado.
Mais uma vez, a loira riu.
– Você precisa arrumar uma consorte... alguém da nossa espécie para suprir suas necessidades. Há lindas mulheres no Silent Night. Você poderia escolher quem quisesse.
Jimin escondeu seu desagrado fechando a porta do guarda-roupa. O tecido negro da camisa social aberta realçava sua pele perfeita, e Jisu a admirou, umedecendo os lábios com a língua.
– Em todos os anos desde que a conheci, você nunca teve uma companheira. Por quê?
Ela virou a cabeça um milímetro e fixou os olhos nela.
– Existiam outras responsabilidades que exigiam minha atenção. Além do mais, eu tinha você.
– Não temos nos visto com muita frequência.
Jimin apoiou um dos punhos fechados na porta do guarda-roupa e cerrou os dentes.
– Você arrumou um novo companheiro humano a cerca de um mês atrás. Onde ele está agora? Vagando pela sua casa sem absolutamente nada para cobrir o corpo?
Jisu deu uma risada baixa.
– Companheiros humanos não têm energia suficiente. Quase o matei em uma semana. Então deixei ele dormir por um tempo.
– Ah, sim. Humanos também precisam dormir. – Jimin disse, se aproximando de onde ela estava. – Quer dizer que você saboreou o corpo dele à noite, e agora chegou para saborear o meu durante o dia. Me sinto lisonjeada pelo seu apreço pessoal.
A Princesa virou o rosto na sua direção.
– Nada se compara à nossa espécie. E você sempre foi... atenciosa. – Os olhos castanhos dela se demoraram em seu torso esguio antes de irem se pousar em suas coxas firmes. – Tenho certeza de que nunca lhe faltou companhia feminina quando você era humana. Devia ter uma legião de jovens em frente à sua casa, implorando para serem seduzidas.
Jimin se moveu tão depressa que o movimento foi um borrão, seus olhos escureceram e quase a imobilizaram sobre a cama.
– Cale-se, Jisu – rosnou.
Ela ergueu as mãos, desculpando-se.
– Peço perdão. Esqueci que você viveu em uma época onde isso era estritamente proibido.
– Exatamente – A lider disse em tom sério, apoiando os punhos na cama e se curvano por cima dela. – Agora me diga, você pretende passar o dia inteiro falando, ou veio se apossar da minha cama com algum outro objetivo?
Jisu estendeu a mão e a segurou pelo pulso, um toque suave e sensual.
– Você está em Seul há muito mais tempo do que qualquer um de nós, e protege muito bem seu passado. Não me culpe por ter um lapso de memória. Sei tão pouco sobre você...
Jimin a encarou, sem mudar o semblante.
– Parece que me conhece o suficiente para querer ficar comigo. Você entrou na minha casa, vestiu essa roupa e se enfiou nos meus lençóis. Vamos com isso?
– Um instante, minha senhora. – Ela lhe abriu um sorriso paciente. – Você viveu em uma época em que as mulheres eram obrigadas a se casar e a formar família. Talvez ainda esteja presa a essa possibilidade. Me diga, é por isso que nunca escolheu uma consorte?
A lider se desvencilhou dela.
– Muito poucos da nossa espécie sobrevivem à mudança com a consciência intacta. E eu não vou sair transformando mulheres deliberadamente até encontrar uma companheira digna.
Jisu estreitou os olhos para tentar ler sua expressão. Então balançou a cabeça.
– Nenhuma amante humana, nenhum encontro no Silent Night e nenhuma consorte. É claro que você está brava e precisando se liberar. Não se pode viver só de sangue.
- Se está tão preocupada assim com as minhas necessidades sexuais, deveria fazer alguma coisa a respeito. - Seu tom foi incisivo. - Se não parar de falar, vou providenciar para que se cale.
– Estou tentando ajudar. Somos amigas, não somos? Depois de tantos anos? – Ela deu um belo sorriso e chegou para o lado de modo a abrir espaço junto a si.
Com um movimento rápido, Jimin avançou na direção dela.
– Amigas? Não. Mas você com certeza se tornou uma aliada bem-vinda. – Ela correu o olhar de cima a baixo por seu corpo, pousando-o nos seios.
Jisu deu um suspiro e revirou os olhos.
– Acho que isso é o máximo que posso esperar de alguém como você. Que bom que decidi me juntar ao seu principado no século XIX.
– Chega. – Jimin se moveu depressa e estendeu o corpo sobre o dela.
– Até que enfim – sussurrou Jisu, pressionando os lábios em seu pescoço. Jimin agarrou a barra da camisola e a puxou por seus braços. Então subiu e desceu as mãos por seus flancos, cravando as unhas em sua pele perfeita.
Seu toque a fez ronronar feito um gato, e ela ergueu o seio direito até sua boca aberta e ávida.
A Princesa lambeu, dando várias voltas no mamilo com a língua antes de cravar-lhe os dentes. A sensação a fez se arquear na cama, erguendo o outro seio para chamar sua atenção.
Ela repetiu o movimento antes de fechar a boca e sugar.
Jisu gemeu e jogou a cabeça para trás. Jimin levantou a coxa e envolveu o quadril com a perna dela antes de penetrá-la com os dedos. Jisu gemeu quando ela começou a arremeter.
Foi um ato agitado, frenético, típico da sua espécie. A força da líder era tamanha que ela era capaz de se sustentar acima dela com apenas um braço, enquanto não parava de penetrá-la repetidas vezes.
Jisu levantou o quadril para ir de encontro às arremetidas. Jimin explorou com a mão livre os seios dela antes de recuar e substituir a mão pela boca.
Jisu gemeu de prazer e tentou encontrar a boca dela para um beijo, mas ela a pegou no colo e pulou da cama, pressionando suas costas na parede.
A loira tentou beijá-la de novo, mas ela outra vez se esquivou, roçando os lábios ao longo do seu pescoço.
Sentiu-a próxima do orgasmo e meteu com mais força. Como sempre acontecia na sua espécie, o orgasmo dela durou vários minutos.
Ao terminar, Jisu a arrastou de volta para a cama e subiu em cima dela, movendo-se tão depressa que seu corpo cintilou no ar. Ela rosnou, mostrou os dentes e se curvou para cravá-los no seu pescoço.
Em um instante, Jimin a virou de costas e imobilizou-lhe os braços acima da cabeça.
– Não – rosnou, com uma centelha de raiva nos olhos castanhos.
Jisu não teve outra escolha senão assentir com a cabeça enquanto ela se afastava. Eram quase da mesma altura, mas Jimin era mais velha e muito mais poderosa. Podia acabar com ela facilmente e tirar seu corpo da cidade para queimá-lo até tornar-se irreconhecível. Ninguém jamais saberia.
Ela a encarou com os olhos arregalados, em pânico, prendendo a respiração.
A Princesa se sentou na cama e fechou os olhos enquanto passava as mãos pelos cabelos.
– Não acredito que você teve tamanha ousadia.
– Deixe-me ser sua consorte – sussurrou Jisu enquanto os efeitos do orgasmo e o prazer continuava a correr por seu corpo. – Vamos governar Seul juntas. Beba de mim, e eu beberei de você.
Ela expôs o pescoço e o que havia sob a superfície da pele.
Jimin abriu os olhos devagar e a encarou com frieza.
– Por favor – implorou ela.
A Princesa se levantou e caminhou até o guarda-roupa. Jisu se sentou, passando uma mão trêmula pela garganta.
– Do que você tem medo, Jimin? Da conexão que a troca de sangue proporciona?
Jimin a olhou com fúria.
– Não venha com apelações insinceras. Sua honestidade é uma das poucas coisas que sempre admirei em você.
A loira a encarou, mas não disse nada.
Jimin tirou do armário um conjunto limpo de roupas pretas e andou até a cama.
– Minha residência está ao seu dispor até o pôr do sol. Vou instruir os criados. Tome cuidado para não matar nenhum.
Jisu a estudou; seus longos cabelos escuros em volta do belo rosto oval. O corpo perfeito por baixo da camisa social.
– Pensei que tivéssemos progredido um pouco ao longo dos últimos séculos. Me enganei.
Jimin respirou fundo.
– Não minta para mim. – Disse em tom sério. – Tudo que você faz é calculado.
– Não nego, mas nesse caso estou lhe fazendo um favor. Nós ganhamos a guerra contra Busan, mas quanto tempo vai durar a paz? E o atentado contra a sua vida? Ainda não descobrimos quem ajudou nossos inimigos a invadirem nossas fronteiras. Você precisa escolher uma esposa, nem que seja apenas para fortalecer e proteger sua posição. Sou uma de suas amigas mais antigas. Sou a escolha óbvia.
Jimin a encarou, estudando seu rosto e sua expressão com uma hostilidade contida. Jisu afastou os lençóis e ficou em pé na sua frente.
– Você precisa pensar no futuro. Quantos anos tem? Quem sabe quanto tempo ainda lhe resta antes do...
– Chega – interrompeu ela. – Nossos encontros não foram frequentes, como você disse, mas foram justos. Até hoje.
A Princesa demorou alguns instantes admirando seu corpo, a brancura da pele, as curvas delicadas e as pernas perfeitas. Balançou a cabeça.
- Sua performance era desnecessária. Eu teria lhe dado a mesma resposta se você tivesse me abordado na rua. Somos aliadas, Jisu, não amantes. E de agora em diante é só isso que vamos ser. Não volte aqui.
Com isso, ela saiu do quarto.
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