MARK SLOAN - GREY'S ANATOMY

Eu não estava acostumada a fugir, mas naquela tarde parecia que o mundo estava girando rápido demais, e eu simplesmente não conseguia acompanhar. Entrei no quarto de descanso com passos apressados, quase tropeçando nos próprios pés, e fechei a porta atrás de mim. Não me preocupei em acender a luz. Não queria ver nada. Nem o quarto, nem a mim mesma.

Apoiei as costas contra a porta por um instante, tentando respirar fundo, mas meu peito parecia apertado, como se estivesse sendo esmagado por algo invisível. Finalmente, chutei os sapatos para longe e me joguei na cama, virando de costas para a porta. Meu corpo estava tenso, e as mãos tremiam.

Fechei os olhos, mas não adiantou. Os pensamentos giravam na minha cabeça como um redemoinho, e as lágrimas que eu vinha segurando insistiam em arder. A sensação de vazio era sufocante, mas eu sabia que, se começasse a chorar, talvez não conseguisse parar.

Então a porta se abriu.

Meu corpo congelou. Por um segundo, considerei pedir que fosse embora. Não tinha energia para sorrisos educados ou conversas. Só queria ficar sozinha.

Mas então senti.

O cheiro familiar preencheu o ar: cítrico e fresco, inconfundível. Era o mesmo shampoo que eu havia usado naquela manhã, no banheiro dele.

Mark.

Antes que eu pudesse me mexer, a cama afundou levemente. Ele se sentou primeiro e, em seguida, deitou-se ao meu lado, o colchão rangendo com seu peso. O calor do corpo dele me alcançou antes mesmo de sentir o braço que deslizou pela minha cintura. O toque era cuidadoso, quase hesitante, mas firme o suficiente para me puxar suavemente para mais perto.

Ele encostou os lábios no meu ombro, deixando um beijo leve, quase imperceptível.

— Vai ficar tudo bem — murmurou, a voz baixa e cheia de ternura, talvez pensando que eu estivesse mal pelo paciente que perdi hoje, antes mesmo de entrar em cirurgia. — Me contaram sobre seu paciente...

O primeiro soluço escapou antes que eu pudesse segurar, um som baixo e trêmulo. E então tudo desabou. O choro que eu vinha segurando durante todo o dia explodiu em ondas, como se cada lágrima tivesse esperado por esse momento para cair.

Eu queria perguntar o que ele estava fazendo. Alertar que qualquer um podia entrar e ver a gente ali. Mas eu não conseguia. Eu queria continuar ali e chorar.

Mark apertou o abraço, seus braços ao meu redor como se fossem um escudo contra o mundo. Me virei em sua direção, enterrando o rosto em seu peito Suas mãos começaram a acariciar meu cabelo, os movimentos lentos e tranquilizadores.

Finalmente, entre um soluço e outro, consegui deixar escapar as palavras que vinham me corroendo por dentro:

— Mark... — respirei fundo, tentando reunir coragem para continuar. — Eu estava grávida.

Senti o corpo dele ficar rígido por um momento. Ele parou de acariciar meu cabelo, mas não me soltou.

— Eu estava grávida, e... eu perdi.

As palavras saíram mais baixas do que eu esperava, mas ainda assim, eu sentia o peso delas no ar, sobre nós dois. Meu corpo estava tenso, como se estivesse carregando algo muito mais pesado do que eu imaginava ser capaz de suportar. Eu estava finalmente dizendo em voz alta o que me corroía por dentro, e ao mesmo tempo, o simples ato de contar parecia me fazer sentir mais vulnerável do que eu jamais imaginara.

Mark aproximou o rosto da minha cabeça, o beijo suave na minha testa, foi como uma âncora. Não havia pressa em suas ações, só uma calma quase desesperada para me oferecer um mínimo de alívio. Ele estava ali, esperando que eu encontrasse o resto das palavras, o resto da explicação. Eu senti como se ele já soubesse o que vinha a seguir, mas mesmo assim, ele queria ouvir de mim.

A sensação que tive ao entrar no banheiro, com um aperto no estômago e uma ansiedade indescritível, ainda me perseguia. Eu estava sozinha, ele ainda dormia, e eu sabia que algo estava errado. A dor crescente me forçou a agir, e quando vi a poça de sangue no chuveiro, uma sensação de pânico me invadiu, fria e avassaladora.

E então o ultrassom. O olhar da médica, a tela branca e a ausência do que deveria estar lá. O silêncio em que o monitor me encarava, refletindo o vazio onde deveria estar uma batida de coração. Eu queria gritar, queria sair correndo, mas fiquei ali, imóvel, vendo o que eu já sabia, mas não queria aceitar.

O silêncio entre nós parecia estar me engolindo, pesado, enquanto eu tentava recompor minha respiração, a dor no peito dificultando qualquer tentativa de falar mais. Eu sentia o calor do corpo de Mark ao meu lado, ainda me segurando, sem pressa, sem pressões. Ele não dizia nada, mas o toque dele, suave e firme, continuava. Não sei se ele estava processando tudo o que eu tinha dito, ou se estava me deixando simplesmente chorar em paz. Eu não sabia, mas o silêncio dele, apesar de profundo, parecia acolhedor. Ele não me forçava a seguir, a continuar. Ele estava apenas ali, em silêncio, sendo o que eu mais precisava naquele momento.

Foi então que ele falou, a voz suave, mas carregada de arrependimento.

— Eu queria ter estado lá com você. — A voz de Mark cortou o silêncio, baixa e cheia de pesar. Não era uma frase qualquer, era um lamento, quase uma súplica. Ele não tentou esconder a tristeza. Era genuína, crua, e isso apenas intensificava minha própria dor.

Virei-me lentamente para olhá-lo, ainda tentando controlar minha respiração entrecortada. Meus olhos estavam inchados e vermelhos, meu rosto úmido das lágrimas. Mark me encarava com uma expressão que apertava meu coração. Não era raiva, nem frustração. Era culpa. Uma culpa que ele não tinha motivo para carregar, mas que, mesmo assim, estava ali, evidente.

— Eu... sinto muito... — As palavras saíram num sussurro, quase inaudíveis, mas era tudo o que eu conseguia dizer. Tudo o que fazia sentido naquele momento.

Estávamos juntos há quase seis meses. Para qualquer outro casal, isso podia parecer pouco tempo, mas, para nós, com todo o histórico complicado de vidas amorosas que levávamos, era uma eternidade.

Eu estava grávida. Estava. Por quase 14 semanas. Tempo demais para algo que agora parecia tão efêmero. Tempo suficiente para que Mark, naquele exato momento, começasse a juntar todos os pontos. Ele devia estar se lembrando das vezes em que passei mal e insisti que era por causa da comida do restaurante. Ou daquela noite em que chorei copiosamente com um filme que, objetivamente, nem era tão triste assim. E, claro, das manhãs em que acordei enjoada, alegando que tinha comido demais antes de dormir.

Mas, no fundo, eu também não sabia. Nem suspeitava. Até a semana passada.

Mark balançou a cabeça, sua expressão um misto de frustração e arrependimento.

— Fui um idiota. Eu devia ter percebido.

— Não. — Neguei com a cabeça, minha voz saindo baixa, mas firme. — Não, Mark. Está tudo bem...

Ele me encarou, seus olhos cheios de tristeza.

— Não, não está. — Ele insistiu, o tom dele carregando um peso que me fez apertar os lábios. — Você estava lidando com tudo isso sozinha, e eu... Eu não vi nada. Não percebi nada.

Suspirei, sentindo meu peito apertar ainda mais. Não queria que ele se culpasse, não queria que ele carregasse esse peso.

— Eu também não sabia. — Admiti, minhas palavras quase um sussurro. — Semana passada... foi quando tudo fez sentido.

Ele franziu a testa, como se tentando processar.

— Semana passada?

Assenti.

— Sim. Quando comecei a passar mal, achei que fosse estresse ou qualquer outra coisa. Nem passou pela minha cabeça que pudesse ser isso. Só fiz o teste porque queria descartar a possibilidade... A Meredith sugeriu e... — Minha voz falhou por um instante, e respirei fundo antes de continuar. — E deu positivo.

Mark fechou os olhos, inclinando-se para a frente, me abraçando ainda mais forte, como se aquilo o atingisse diretamente.

— Você devia ter me contado. — Ele murmurou, mas sem nenhuma acusação. Era mais como uma confissão do que um protesto.

— Eu sei. — Admiti, as lágrimas ameaçando voltar. — Eu sei, mas... eu não sabia como. Não sabia o que você ia pensar. Nós... a gente nem tinha falado sobre isso. Eu... — Minha voz quebrou, e ele estendeu a mão, segurando a minha com força, como se quisesse me ancorar.

— [Nome]... — Ele começou, a voz cheia de emoção. — Eu sei que a gente não tinha planejado isso, mas... se tivesse me contado, eu teria ficado ao seu lado. Teríamos passado por isso juntos.

Olhei para ele, tentando encontrar as palavras certas, mas nenhuma parecia suficiente.

— Eu não queria te assustar. Eu nem sabia o que eu mesma sentia. E aí... — Engoli em seco, meu olhar se desviando para as madeiras da beliche acima de nós. — E aí, tudo aconteceu tão rápido.

A voz tremia, e cada palavra parecia pesar mais do que a anterior. Mark continuava em silêncio, mas o aperto dele na minha mão dizia mais do que qualquer palavra poderia dizer. Era firme, um lembrete constante de que ele estava ali.

Quando finalmente reuni coragem para olhar para ele novamente, vi algo que partiu meu coração: seus olhos brilhavam com lágrimas não derramadas, e sua mandíbula estava tensa, como se ele estivesse segurando a emoção com todas as forças.

— Eu queria ter estado lá com você. — Ele repetiu, dessa vez com um tom ainda mais carregado de dor e culpa.

Fechei os olhos por um instante, sentindo meu peito apertar novamente.

— Eu sei... — Sussurrei, minha voz quase inaudível. E, sem pensar duas vezes, me aninhei contra ele, buscando o conforto que apenas sua presença podia me dar.

Mark envolveu meus ombros com o braço, me puxando para mais perto. Sua mão começou a deslizar pelo meu cabelo, num gesto lento e reconfortante.

Meus olhos estavam pesados, inchados do choro incessante, e eu senti meu corpo relaxar ligeiramente contra o dele. Havia algo na forma como ele me segurava — com firmeza, mas também com delicadeza — que fazia parecer que, mesmo em meio à dor, eu estava segura.

— Está com alguma dor? — Ele perguntou em um murmúrio contra o topo da minha cabeça, sua voz carregada de preocupação e um toque de fragilidade que raramente demonstrava.

Demorei alguns segundos para responder. Minha mente tentava processar tudo o que havia acontecido, enquanto meu corpo parecia exausto demais para reagir. Eu focava no movimento lento de sua mão, traçando círculos nas minhas costas, como se ele tentasse aliviar uma dor que não era só física.

— Não... — murmurei, minha voz baixa e rouca, quase inaudível. — Só... cansaço. A Addison me deu algumas medicações. Amanhã ela vai... — Tentei continuar, mas as palavras morreram na minha garganta. Não conseguia dizer em voz alta. Ainda doía. Muito.

Mark assentiu, e eu senti o movimento leve contra mim enquanto ele me puxava ainda mais para perto, como se quisesse me proteger do mundo, das memórias, de tudo.

— Você precisa descansar. — Ele disse suavemente, sem pressa. Sua voz era um sussurro, como se qualquer som mais alto pudesse me quebrar.

— Eu sei... — murmurei, fechando os olhos. Mas descansar parecia impossível. A dor, o vazio, o peso do que eu tinha perdido, tudo ainda estava ali, pulsando no fundo de mim, tornando até mesmo respirar um esforço consciente.

Mark percebeu, é claro. Ele sempre percebia. Era como se estivesse sintonizado em mim de uma forma que ninguém mais estava. Em vez de insistir, ele apenas continuou a traçar aqueles círculos lentos e ritmados nas minhas costas, o movimento quase hipnótico, tentando me ancorar ao momento presente. Seu rosto permaneceu perto do topo da minha cabeça, sua respiração quente e constante se misturando ao ar pesado do quarto.

— Eu te amo, tá bem? — Ele disse, sua voz soando mais como uma promessa do que uma simples frase. Sua mão parou por um instante, descansando suavemente no meio das minhas costas. — Eu te amo e não vou a lugar nenhum.

Meus lábios tremeram, mas nenhuma palavra saiu. Em vez disso, apertei os dedos contra a camisa dele, como se temesse que, se soltasse, ele desapareceria.

— Eu... — tentei falar, mas minha voz falhou. Então apenas assenti contra ele, permitindo que seu amor e sua presença fossem um ponto de luz em meio à escuridão que eu sentia.

Mark não exigiu nada. Ele apenas me segurou, como se soubesse que, naquele momento, isso era tudo o que eu precisava. E, talvez, ele estivesse certo.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top