💚 RICHARD RÍOS²
4336 Palavras
Abro os olhos lentamente e, logo de cara, sinto uma pontada forte na cabeça. A luz do dia invade meu quarto, fazendo com que eu estreite os olhos, tentando me acostumar com a claridade. Levo as mãos ao rosto, massageando as têmporas, tentando dissipar a dor, e me ajeito na cama.
Quando sinto algo - ou melhor, alguém - atrás de mim, o susto é instantâneo. Viro rapidamente e encontro Richard, com a cabeça caída na almofada, dormindo profundamente ao meu lado.
- PUTA QUE PARIU! - Grito, sem pensar, e logo coloco a mão na boca, sentindo o eco da minha própria surpresa.
Richard acorda com meu grito, pulando da cama de uma forma desajeitada, derrapando e caindo no chão com um barulho surdo.
- Aí... Caralho... - Ele resmunga, no chão. Está claramente desorientado e confuso, mas eu também estou.
A confusão começa a tomar conta de mim quando finalmente consigo processar a cena. Richard está... na minha cama. Na minha cama.
Merda. Merda. Merda.
Tentando recuperar o controle sobre os pensamentos, fico tentada a puxar os cobertores, mas a sensação de algo errado me impede. Tento me lembrar do que aconteceu. Eu comi pizza, bebi umas cervejas... e depois... é tudo um breu.
Eu dormi com ele?
- Merda... - resmungo, sem conseguir pensar em mais nada. - Merda... A gente... Meu Deus.
Meu corpo entra em modo automático, e as perguntas começam a surgir a mil por hora, mas eu não tenho respostas. Apenas a sensação de que algo muito fora de controle aconteceu enquanto eu estava completamente alheia.
- A gente... - resmungo olhando pra ele que agora estava de pé, a mão nas costas e uma cara de dor - Caralho... A gente... - diminuo o tom da voz - A gente transou?
- Não. - Ele responde rápido, ainda massageando as costas.
Eu o encaro, o olhar preso na tentativa de entender a situação. Richard parece tão desconfortável quanto eu, e seu rosto está marcado por uma expressão de confusão.
- Não? - Pergunto, tentando fazer sentido da resposta, ainda incrédula. - Mas... o que você está fazendo na minha cama, então?!
Ele desvia o olhar por um momento, como se estivesse procurando as palavras certas para explicar. Seu tom é mais calmo agora, mas ainda tenso.
- Você bebeu muito. - Ele responde, parecendo sincero. - Eu só... te ajudei a deitar, e depois acabei ficando aqui pra garantir que você estava bem. Acho que acabei pegando no sono, junto com você.
As palavras dele começam a se formar em minha mente, mas ainda assim, a sensação de que há algo errado me incomoda. Não consigo lembrar dos detalhes, mas a imagem de Richard deitado ao meu lado na cama está estampada na minha mente.
- Então, você não... não fez nada? - Pergunto, a voz mais baixa agora, como se quisesse ter certeza de que ele está falando a verdade.
Ele me olha por um momento, e sua expressão suaviza um pouco, como se tentasse me acalmar.
- Claro que não. - Ele responde com calma, sua voz tranquila como se estivesse tentando garantir que eu acreditasse nele. Seus olhos me encaram com um toque de preocupação, mas também com um pouco de alívio.
Eu deixo escapar um suspiro pesado, finalmente permitindo que meu corpo relaxe um pouco. Esfrego a mão no rosto, sentindo o peso do cansaço e da confusão. A dor de cabeça pulsa, mas não é nada comparado ao turbilhão de perguntas que ainda giram na minha mente.
- Tá com dor de cabeça? - Richard pergunta, ainda de pé ao lado da cama. Ele parece genuinamente preocupado, e sua voz tem um tom suave que tenta me acalmar. - Quer que pegue algum remédio? Posso pedir pro seu irmão e...
A menção do meu irmão é como um estalo na minha mente. Um pânico gelado corre pela minha espinha, e, sem conseguir evitar, as palavras saem de mim em um grito abafado, sem pensar nas consequências.
- Meu Deus, meu irmão sabe que você tá aqui?! - Minha voz é quase um sussurro desesperado, mas a preocupação é clara, e o medo de que ele descubra se espalha como uma onda dentro de mim.
Richard parece levar um segundo para processar a minha pergunta, e então, seus olhos se abrem ligeiramente mais, como se a situação tivesse acabado de se tornar ainda mais séria para ele.
- Seu irmão? - Ele repete, franzindo a testa. - Não... eu não acho. Eu não falei com ele. Não vejo ele desde ontem na cozinha.
A ideia de que meu irmão poderia descobrir que Richard estava aqui, na minha cama, me faz sentir um frio na espinha. Eu não consigo imaginar o que aconteceria se ele soubesse, especialmente considerando o seu ciúme por mim e... Meu Deus. Seria um caos.
- Ai, caralho... - Murmuro, levando a mão à testa enquanto minha mente tenta, inutilmente, organizar a confusão de pensamentos. A dor de cabeça lateja, como um lembrete cruel de que as coisas já estavam fora do meu controle. - Isso não devia ter acontecido. Ele... ele vai ficar puto!
A simples ideia do meu irmão descobrindo a presença de Richard no meu quarto é suficiente para fazer meu estômago dar um nó. Minhas mãos tremem enquanto as memórias da noite anterior se recusam a tomar forma. Tudo o que tenho são fragmentos desconexos e uma sensação crescente de que algo, definitivamente, saiu dos trilhos.
Richard, que está parado ao lado da cama, observa minha reação com cuidado. Ele parece hesitante, como se estivesse considerando se deveria ou não dizer algo. Quando finalmente decide agir, ele se aproxima devagar, seu olhar preocupado e atento. Sua mão toca suavemente minha perna, um gesto inesperado que me faz congelar por um instante.
- Ei, ei, ei... Calma. - Sua voz é baixa, quase um sussurro. - Seu irmão deve tá dormindo. Ainda é muito cedo.
Eu fecho os olhos por um momento, tentando absorver suas palavras e, talvez, encontrar alguma tranquilidade nelas. Mas não consigo. A tensão no meu peito só aumenta, e a vergonha misturada com o pânico me sufoca. Jogo as costas no colchão, desesperada por qualquer coisa que me faça sentir que estou no controle.
Puxo o cobertor até cobrir todo o meu corpo, criando uma barreira simbólica entre mim e a realidade que me cerca. Minha voz sai abafada pelo tecido, mas clara o suficiente para que ele entenda.
- Richard... Sai do meu quarto, por favor.
Há um silêncio. Não consigo ver sua expressão, mas sinto o peso da sua hesitação. Eu não consigo deixar que ele fique aqui. Não quando minha mente cria mil cenários na minha cabeça do que pode ter acontecido e em todos nada acaba bem.
- Tá bom. - Ele diz, a voz calma, mas com um toque de frustração. - Eu vou sair. Mas... você tá bem? Tipo... de verdade?
Eu puxo o cobertor mais apertado ao redor de mim, respirando fundo antes de responder.
- Sim - Digo rapido. - Só... preciso de um banho.
- Tudo bem. - Ele concorda, e o som de seus passos indica que ele está se afastando.
O barulho da porta se abrindo e fechando suavemente é a única coisa que confirma que ele foi embora. Quando o silêncio finalmente toma conta do quarto, eu puxo o cobertor de cima do meu rosto e encaro o teto. Meu coração ainda está acelerado, e a sensação de que algo está prestes a explodir dentro de mim permanece.
Minha cabeça lateja, minha memória falha, e eu me sinto perdida nos mil sentimentos que se acumulam no meu corpo. A vergonha e a confusão se misturam com algo mais indefinível, algo que eu tento ignorar, mas que persiste. Mesmo agora, com Richard fora do quarto, ainda sinto como se o braço dele estivesse na minha cintura. É uma sensação fantasma, como se meu corpo estivesse tentando preencher as lacunas que minha mente não consegue.
Fecho os olhos e, sem querer, começo a imaginar o que pode ter acontecido. Eu consigo visualizar a cena de forma borrada, como um fragmento perdido no fundo da memória: Richard me trazendo para o quarto, os braços dele ao meu redor enquanto eu protestava. Mas não de verdade. Não com força. Se foi como no bar, estávamos os dois rindo, entrelaçados em meio a um beijo desajeitado, enquanto eu repetia entre risos: "Isso é errado, muito errado."
E ele? Ele ria mais. Ria de um jeito que fazia parecer que nada no mundo importava além daquele momento.
Abro os olhos, sentindo meu rosto esquentar. Meu coração acelera com a possibilidade de isso não ser apenas uma criação da minha mente. Era isso que me assustava mais do que tudo: a ideia de que, mesmo sabendo que era errado, eu talvez tenha deixado acontecer porque, por um segundo, não quis que parasse. Porque eu quis. E eu odeio não lembrar.
Murmuro um palavrão e esfrego o rosto com as mãos, tentando, inutilmente, apagar os pensamentos que insistem em me atormentar junto com as memórias fragmentadas do ano passo. Meu corpo está pesado, como se cada movimento exigisse um esforço monumental, mas a sensação de caos interno me obriga a me levantar.
Com passos hesitantes, caminho em direção ao banheiro. A luz fluorescente parece intensa demais, obrigando-me a apertar os olhos. Giro o registro do chuveiro, ajustando-o para a água mais fria que consigo suportar. O som constante da água caindo ecoa pelo banheiro, abafando o zunido na minha cabeça.
Sem pensar muito, começo a tirar a roupa. Jogo tudo em um canto e, finalmente, me coloco debaixo do chuveiro.
A água fria atinge minha pele, arrancando um suspiro involuntário. O choque térmico é desconfortável, quase doloroso, mas ao mesmo tempo parece aliviar a pressão latejante na minha cabeça. Fecho os olhos e deixo a água escorrer pelo meu corpo, como se pudesse levar embora toda a confusão, vergonha e tensão.
Eu odeio a sensação gelada no corpo, mas amo a forma como ela parece despertar cada célula minha, forçando minha mente a se focar no presente, mesmo que por alguns segundos. A clareza momentânea é suficiente para que eu respire fundo e tente organizar meus pensamentos.
Depois de um tempo, já me sentindo um pouco mais humana, saio do quarto. Estou vestida com roupas confortáveis e de cabelo penteado, mas a bagunça na minha cabeça continua intacta. Respiro fundo antes de descer as escadas, tentando me preparar para o que quer que esteja acontecendo lá embaixo.
Ao alcançar o último degrau, ouço risadas altas vindo da sala. Reconheço as vozes imediatamente e sinto uma mistura de irritação e constrangimento.
Quando viro o corredor e entro na sala, vejo os três: Richard está largado no sofá como se fosse o dono da casa, Raphael está sentado na poltrona com um controle de videogame na mão, e Endrick, todo animado, está gesticulando como se explicasse algo engraçado. O barulho é insuportável para a dor de cabeça que ainda me atormenta.
- Meu Deus, vocês não têm casa, não? - Disparo, cruzando os braços e lançando um olhar severo na direção deles. Minha paciência está no limite, e ainda não são nem nove da manhã.
As risadas na sala diminuem, e os três viram a cabeça ao mesmo tempo, como se fossem um trio sincronizado.
- Bom dia pra você também. - Raphael responde sem tirar os olhos do jogo. Seu tom é carregado de sarcasmo, e isso só me irrita mais.
- Estamos virados. - Endrick sorri, completamente sem vergonha, como se passar a noite inteira ali fosse a coisa mais normal do mundo. - Mas relaxa, todo mundo já foi embora.
- Legal. - Respondo, já caminhando em direção à ilha da cozinha. Meu tom seco deixa claro que não estou impressionada. - Vocês deviam fazer o mesmo.
Minha cabeça ainda lateja, e tudo o que eu quero é paz, mas, claro, isso parece pedir demais.
- O que aconteceu? - A voz de Endrick me faz parar no meio do caminho. Ela está cheia de uma curiosidade mal-intencionada. - O Richard não fez o trabalho dele direito ontem?
Minhas costas travam, e eu giro lentamente sobre os calcanhares, encarando Endrick como se ele tivesse acabado de cuspir fogo. Meu olhar vai direto para Richard, que agora está mais tenso, com os braços cruzados e uma expressão séria.
- O que você quer dizer com isso? - Minha voz sai mais alta do que eu pretendia, e minha irritação escapa pelas palavras.
Endrick solta uma risada, claramente se divertindo com o efeito que causou. Ele se inclina um pouco para frente, como se estivesse prestes a compartilhar algum segredo escandaloso.
- Cara, cala a boca. - Richard finalmente fala, o tom de aviso na voz. Ele parece desconfortável, mas Endrick ignora completamente.
- Todo mundo viu vocês sumindo juntos da festa. - Endrick diz com um sorriso travesso, claramente se divertindo com a situação. - E adivinha só? Só encontrei os dois agora de manhã, e juntos.
A atmosfera na sala muda imediatamente. Sinto o sangue subir à minha cabeça e meu rosto queimar, mas tento manter a compostura. Não estou nem um pouco preparada para essa conversa logo de manhã.
Raphael, que até então estava completamente absorto no jogo, finalmente desvia o olhar e solta, sem pressa:
- Vocês dois sumiram pouco depois do Joaquim sumir com aquela loirinha. - A expressão dele é curiosa, mas a frustração é visível. Como se estivesse tentando entender as peças do quebra-cabeça.
Eu dou uma olhada rápida para Richard, mas ele parece mais calmo do que eu, o que me irrita ainda mais. Tento controlar a respiração, mas a sensação de estar em um filme ruim não passa.
- Relaxa, todo mundo já entendeu. - Endrick dá de ombros com um sorriso. Ele está confortável demais na situação. - Vocês brincaram e tal, nada demais.
O que mais me incomoda é a ideia de que ele acha que pode falar sobre isso tão abertamente. Eu não tenho paciência para isso.
- Você é idiota ou tá fingindo? - Pergunto, minha voz saindo mais cortante do que eu gostaria. O ódio borbulha dentro de mim, e cada palavra que sai da boca de Endrick me faz querer explodir.
Richard, finalmente, decide intervir. Ele se aproxima de Endrick com passos firmes, a paciência visivelmente no limite.
- Eu só fui ajudar ela a subir pro quarto, cara. Deixa de ser imbecil. Você viu que ela não tava bem. - A voz dele é mais grave do que o habitual, um aviso claro para Endrick não continuar com esse jogo.
Endrick ri de forma sem graça, mas não parece se importar com o que Richard acabou de dizer.
- Ajudou tanto que passou a noite lá? - Ele solta, zombando, como se sua piada fosse a grande sacada do dia.
Eu aperto as mãos para não gritar. Tento me controlar, mas é difícil. No exato momento em que estou prestes a responder, uma voz familiar surge da escada:
- Quem passou a noite onde? - Joaquim aparece, com os olhos semiabertos e o cabelo bagunçado de sono. Ele olha para a cena como se estivesse perdido no meio de um pesadelo.
Raphael, ainda sem desviar a atenção do jogo, responde com rapidez:
- Ninguém. - Ele solta com a rapidez de quem quer evitar qualquer outra pergunta.
Eu respiro fundo, dando um passo em direção à cozinha. Sinto que a paciência que me resta está se esgotando. Antes de entrar na cozinha, eu escuto Richard murmurar algo para Endrick, mas não consigo entender o que é. Só sei que, pela primeira vez, Endrick parece desconfortável, como se a brincadeira tivesse saído um pouco de controle.
Com um suspiro profundo, decido que preciso de algo para acalmar os nervos. Vou fazer café. Meu corpo ainda está tenso, e a raiva não parece querer desaparecer tão facilmente, mas eu tento manter a calma.
- Vou fazer café. - Falo, tentando soar mais tranquila do que realmente estou. - Alguém quer?
Ninguém responde. O silêncio que se segue é pesado, e eu sinto a pressão aumentar. Tento focar na cafeteira, me forçando a respirar devagar, ainda sentindo o martelo na cabeça.
- Joaquim, onde tem remédio de dor de cabeça? - Pergunto, minha voz um pouco mais baixa, tentando disfarçar a irritação que ainda lateja dentro de mim.
Vejo meu irmão se aproximando dos armários, ainda com a cara de sono, os olhos semicerrados enquanto procura pelo que eu pedi.
- Bebeu demais? - Ele pergunta, com a voz arrastada, claramente ainda tentando acordar de verdade.
Eu dou de ombros, forçando um sorriso sem graça, mas sei que ele vai perceber logo que não é só a ressaca que me incomoda.
- Algo assim - respondo, sem querer entrar em mais detalhes.
Joaquim encontra o remédio e se vira para me entregar.
- Aqui. Toma esse café sem açúcar, ok? - Ele diz, com uma leve careta, sabendo que é horrível.
Agradeço rapidamente, pegando o remédio e engolindo com um copo d'água. Tento me manter em silêncio enquanto o barulho da cafeteira começa a encher o ambiente, a sonoridade quente e constante ajudando a disfarçar o caos que ainda pulsa ao meu redor. Os quatro meninos estão absortos na conversa na sala, mas eu não quero participar, apenas me concentrar na calma temporária que tento sentir.
Fecho os olhos, me deixando guiar pela sonoridade da cafeteira, mas meu momento de paz não dura muito. O som das xícaras sendo colocadas sobre a bancada me faz saltar levemente, e ao olhar para o lado, vejo Richard mexendo nos armários à procura de uma para si.
- Não lembra de nada de ontem mesmo? - Ele pergunta baixo, sem me olhar nos olhos, mas com uma calma que só faz aumentar a tensão no ar. Está mais interessado em pegar açúcar do que em me encarar diretamente.
Eu dou de ombros, tentando esconder o desconforto.
- Não. - Respondo em um suspiro, sentindo a cabeça pesar um pouco mais. - Vai, pode falar... Passei vergonha, né?
Richard finalmente desvia o olhar para mim, mas ele ainda está mais focado no que está fazendo do que em mim. Ele hesita por um momento, antes de dar uma resposta que me faz estremecer de leve.
- Quase caiu lá fora. Quase chorou quando trouxe você pra cá. E... - Ele hesita por um momento, como se não soubesse o que dizer em seguida. - Você ronca.
Aquela revelação me atinge de uma forma estranha. Uma mistura de vergonha e alívio toma conta de mim. Não era isso que eu esperava ouvir, mas, de alguma forma, é suficiente para me arrancar uma risada pequena, abafada. Eu tento disfarçar, mas não consigo deixar de me sentir levemente envergonhada.
- Sério? - Pergunto, arqueando uma sobrancelha, com uma expressão que mistura incredulidade e um pouco de irritação. Mas a surpresa no meu tom mostra que, no fundo, eu não consigo me incomodar tanto com isso.
Richard me olha por um momento, seu olhar mais descontraído agora. Ele dá uma risada fraca, como se estivesse tentando aliviar a tensão.
- Não. - Ele diz, com um sorriso malicioso no rosto, e isso só aumenta minha irritação.
Reviro os olhos, tentando manter a compostura. Com as mãos um pouco tremulas, tiro a cafeteira do lugar, já com o café pronto. Mas antes que eu possa servir, Richard pega a cafeteira das minhas mãos, servindo o café nas xícaras com a calma de quem não tem pressa.
- Você pediu pra eu te beijar... - Ele fala mais baixo, como se temesse que alguém estivesse ouvindo. Seu tom de voz agora é mais baixo, mais sério.
Eu paro por um segundo, as pernas quase cedendo de leve. Ele me entrega a xícara, mas sem açúcar, como se isso fosse a parte mais importante da conversa.
- Mas, como eu disse de manhã, não aconteceu nada. - Ele completa, desviando o olhar, provavelmente tentando me dar algum espaço para reagir.
Meu coração acelera um pouco, mas não sei exatamente como me sinto. Ele parece sincero, ou pelo menos está tentando ser.
Eu fico em silêncio, os olhos fixos na xícara de café nas minhas mãos, enquanto a fumaça sobe e se dissolve no ar. Tento me concentrar no sabor amargo, mas a mente está cheia de perguntas que não sei como responder. O peso da situação me deixa paralisada por um momento.
- Desculpa... - Finalmente, a palavra sai da minha boca, sem saber se é realmente necessária, mas, de alguma forma, parece a coisa certa a se dizer.
Ele ri baixo, um pouco sem graça, aquele som nasal que eu já conhecia bem. Ele então me encara, seus olhos agora mais suaves, enquanto segura três xícaras nas mãos. Há algo nele que não consigo decifrar, mas é diferente do que eu esperava.
- Não pede desculpa por querer o mesmo que eu. - Sua voz é calma, mas tem um peso que me faz parar por um segundo.
Eu congelo, sentindo um calor subir pelo meu rosto. Ele não parece incomodado, não parece ter medo do que pode significar. Suas palavras soam como se, no fundo, ele estivesse confessando algo também, mas com uma naturalidade que me deixa desconcertada.
Eu fico sem reação, o café esquentando minhas mãos, mas a sensação de desconforto que antes estava ali agora parece um pouco mais difusa. Não sei o que responder. As palavras escapam de mim, como se a coragem que eu estava tentando reunir evaporasse diante da sinceridade de Richard.
- Eu... - Tento começar, mas as palavras ficam presas. O que eu posso dizer agora? O que ele espera de mim?
- Café passa rapidinho a ressaca. - Ele diz de forma casual, quase como se não houvesse tensão alguma entre nós, antes de se virar e sair da cozinha, levando os cafés nas mãos.
Eu assisto enquanto ele se afasta, sem saber exatamente o que fazer com o que acabou de acontecer. As palavras dele são simples, mas, em algum lugar, parecem ser uma espécie de desculpa disfarçada, uma forma de aliviar o peso que havia na sala até então.
Sigo seus passos com os olhos, e a tensão vai se desfazendo lentamente. Tento me concentrar no cheiro do café, esperando que ele me ajude a clarear a mente.
Meu olhar automaticamente se volta para a entrada da sala, onde a loirinha, Stefanie, aparece com os cabelos desarrumados e um sorriso preguiçoso.
Ela entra na sala com aquele sorriso despreocupado de quem acabou de acordar, mas parece à vontade, como se estivesse ali desde sempre. Percebo que ela olha para mim com uma expressão de surpresa, mas logo recupera a compostura, como se tudo estivesse normal.
- Bom dia, gente! - Sua voz ainda está carregada de sono, um pouco rouca, mas não deixa de ser simpática. Ela olha para mim com curiosidade. - Nossa, você é a Valentina? Joaquim falou muito de você.
Eu paro por um segundo, surpresa com a menção do meu nome. O que ele contou sobre mim? E por que ela está tão à vontade aqui? O tom da conversa parece leve, mas a sensação de desconforto me atinge de forma rápida.
Antes que eu tenha tempo de responder, Endrick, que já estava observando tudo com seu sorriso de quem adora uma bagunça, aproveita a oportunidade para começar sua rotina de piadas.
- É, claro, todo mundo dormiu tão bem nas camas e nos quartos, né? - Endrick começa, agora com uma voz claramente irônica, exagerando na falsa inocência. Ele finge um ar de surpresa, enquanto olha para todos ao redor. - E ninguém aqui estava acompanhado, certo? Todo mundo fingindo que nada aconteceu. Nem parece que deixaram eu e Raphael dormindo sozinhos no sofá.
A piada atinge o ponto certo, mas o impacto não é exatamente o que Endrick esperava. Meu interior congela. O olhar de Richard se encontra com o meu, e eu vejo claramente o que ele pensa: que merda, o que ele está fazendo? Eu queria desaparecer ali, ou pelo menos ter uma explicação melhor do que simplesmente fingir que nada aconteceu. Mas ao contrário de mim, Richard mantém a postura tranquila, como se tivesse se preparado para qualquer coisa.
Joaquin, por sua vez, não parece compreender a primeira parte da brincadeira. Seu olhar se volta para mim rapidamente, depois para Endrick, confuso. Ele sente a tensão e começa a juntar as peças, mas seu rosto ainda está cheio de incertezas.
- Como assim? - Joaquin pergunta, com um tom calmo, mas a incredulidade começa a tomar conta de sua voz. Ele está tentando entender onde Endrick quer chegar, mas fica visível o quanto ele está se incomodando com a direção da conversa. - E Richard e minha irmã?
Endrick, percebendo a cagada que fez, rapidamente tenta mudar de assunto e evitar mais perguntas, tentando a todo custo dissipar a tensão no ar.
- Valentina foi dormir cedo - ele começa, desvia o olhar de Joaquin, tentando passar uma impressão de desinteresse. - Richard capotou na cadeira de praia lá fora... Você sumiu logo no começo da festa. A gente foi só zoar, nada demais.
Eu respiro aliviada, o peso de um possível segredo sendo guardado, pelo menos por enquanto. Sinto meu corpo relaxar um pouco ao perceber que ele não vai contar mais do que isso. Joaquin ainda olha para Endrick com desconfiança, mas o desconforto vai diminuindo aos poucos, mesmo que ele ainda não tenha entendido totalmente o que está acontecendo.
- Você tomou quantos energéticos? - Joaquin pergunta de forma ríspida, dando um suspiro pesado. Ele parece tentar focar em algo mais trivial, como se não quisesse dar mais atenção ao assunto incômodo. - Está falando demais.
Endrick não perde o ritmo e responde com um sorriso, mas ele está claramente mais cauteloso agora. Ele sabe que foi um pouco longe demais e tenta minimizar a situação.
- Quase todo seu estoque - ele brinca, tentando soar mais leve, mas o sorriso forçado revela que ele percebe a tensão.
Joaquin revira os olhos, e finalmente parece relaxar um pouco, embora ainda pareça um pouco irritado com a conversa. Ele toma um gole de café, tentando dar mais atenção ao que realmente importa no momento.
- Cara, você tem que parar com isso. - Joaquin diz, ainda com a expressão séria. - Fica fora de controle.
O ambiente fica um pouco mais tranquilo, o que me dá escape para terminar meu café e voltar para o quarto.
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