🪩 PEDRO (PIG)¹ - Especial Ano Novo
Pedido: wiet4926
[Falta colocar a fotinha do edit aqui mas ainda não fiz]
Estava na casa do Chico novamente. Esse lugar sempre teve algo de especial para mim, um refúgio onde eu podia escapar das discussões constantes dos meus pais. Sempre que o clima em casa se tornava insuportável, eu pegava um ônibus e vinha passar uns dias com ele. Era como se aqui o mundo desacelerasse, permitindo que eu respirasse.
Cheguei no dia 23, planejando passar apenas o Natal e retornar para casa antes do Ano Novo. Mas os dias passaram, e a ideia de voltar para o caos familiar parecia insuportável. Assim, decidi ficar mais um pouco. Agora, era dia 30, e eu estava jogada no sofá da sala, com o controle remoto na mão, passando pelos canais de TV sem realmente prestar atenção em nada.
A casa estava em silêncio, exceto pelo som baixo do programa qualquer que deixei rodando. Chico tinha saído há cerca de meia hora para comprar algo para o almoço. A geladeira tinha se tornado um território desolado nos últimos dias, habitado apenas por algumas garrafas de água e uma sobra de torta de Natal que ninguém parecia querer comer.
Minha mente vagou para os últimos dias. Passar o Natal aqui tinha sido uma mistura de simplicidade e paz. Nada de grandes festas ou longas reuniões familiares – apenas Chico, eu, os amigos dele e um peru que quase queimamos porque esquecemos o tempo enquanto assistíamos a um filme. Sorri sozinha ao lembrar disso.
De repente, o som da porta sendo destrancada me tirou dos pensamentos. Chico entrou, equilibrando sacolas nos braços.
— Voltei! E, olha, espero que esteja com fome, porque comprei mais do que devia, como sempre. — Ele colocou as sacolas na mesa da cozinha e olhou para mim com aquela expressão de quem sabia que tinha exagerado, mas não se arrependia.
— Você comprou alguma coisa decente ou vai me entupir daquelas lasanhas pré prontas que estavam na sua geladeira antes do natal? — perguntei, rindo, enquanto me levantava do sofá. — Sem contar aquele fricassê terrível que você fez e do yakissoba...
— Ei, admite que eu cozinho bem! — Ele fingiu estar ofendido, estreitando os olhos para mim, mas logo se entregou ao riso. — Tá bom, talvez eu tenha exagerado na pimenta daquela vez, mas dessa vez vai dar certo. Confia.
— Confio nada, Chico — provoquei, pegando uma das sacolas enquanto seguia para a cozinha.
Ele me acompanhou com um sorriso despreocupado, e começamos a tirar os itens das sacolas juntos. Era uma mistura de coisas básicas com algumas escolhas bem típicas dele: temperos exóticos, um pacote de massa fresca e, para minha surpresa, uma garrafa de vinho barato.
— Vinho, Chico? A gente vai almoçar chique agora?
— Não é chique, é estratégico. A gente vai precisar de algo para brindar quando meu prato ficar perfeito. — Ele piscou, claramente orgulhoso da ideia, e eu ri, balançando a cabeça.
Enquanto organizávamos tudo, a conversa seguia leve e descontraída, cheia de piadas e provocações. Mas, de repente, o clima pareceu mudar, como se o ar tivesse ficado mais pesado. Eu senti antes mesmo de ouvir a pergunta, e a confirmação veio quando a voz de Chico ecoou pelo pequeno espaço da cozinha.
— Seus pais não ligaram? — A pergunta saiu cuidadosa, quase como se ele estivesse pisando em terreno desconhecido.
Meu sorriso vacilou por um instante. Olhei para a panela que segurava, agora imóvel sobre a bancada, antes de soltar um suspiro e dar de ombros.
— Não. Nem uma mensagem. — A resposta saiu mais dura do que eu pretendia, mas não consegui evitar.
Chico parou o que estava fazendo e me olhou com aquele jeito sério e atento que ele usava raramente, mas eu sempre tinha a sorte de receber.
— Você falou com eles, pelo menos? — Ele perguntou, a voz agora mais baixa, como quem sabe que a resposta não seria fácil.
— Falei antes do Natal. Foi... rápido. — Suspirei, mantendo o olhar fixo na bancada. — Meu pai não parece ligar muito... Talvez o fato de eu não ser exatamente filha dele tenha algo a ver.
A confissão escapou antes que eu pudesse me conter, deixando um peso silencioso no ar. Chico parou de mexer nos ingredientes, o olhar imediatamente voltado para mim, mas eu continuei, como se precisasse terminar antes de perder a coragem.
— Não é como se minha mãe também se importasse muito. Mas tudo bem, eu sei que eles têm coisas mais importantes para lidar. — Tentei forçar um tom casual, disfarçando o aperto no peito, mas sabia que Chico não compraria a tentativa de minimizar.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos, a testa levemente franzida. Então, largou a faca na pia e se virou completamente para mim.
— Ei. — Sua voz era firme, mas não dura, chamando minha atenção. Quando finalmente o encarei, ele cruzou os braços, me estudando com um olhar sério. — Não tenta fazer isso parecer normal, porque não é.
— Não tô tentando, só... não quero pensar nisso agora. — Desviei o olhar, sentindo um calor incômodo subir pelo rosto.
— Mas você pensa. — Ele deu um passo à frente, apoiando-se na bancada ao meu lado. — Você tenta esconder, mas tá aí. E isso não é justo. Não pra você.
As palavras dele, embora suaves, atingiram algo dentro de mim, algo que eu vinha tentando ignorar há muito tempo.
— O que você quer que eu faça, Chico? Que eu ligue e peça atenção deles? Que eu implore por algo que nunca vai acontecer? Eles não se preocupam comigo, estão ocupados destruindo o casamento deles. — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, carregada de frustração e cansaço. — Eu sei me virar sozinha, sempre soube. Não ligo de estar longe deles, é até aliviante.
Chico me encarou por um instante, com aquela expressão que misturava paciência e preocupação. Ele não respondeu de imediato, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras antes de falar.
— Talvez seja mesmo um alívio ficar longe, não vou discutir isso. — Ele cruzou os braços, me observando com aquele olhar sério, e apoiou-se na bancada ao meu lado. — Você podia se mudar pra cá...
Eu soltei uma risada curta, quase automática, como se ele tivesse acabado de contar uma piada absurda.
— Eu morando em Niterói? Tá louco?
Chico arqueou uma sobrancelha, claramente não achando graça na minha reação.
— E por que não? A galera gostou de você, principalmente o Pig e o Alvinho. — Ele fez uma pausa, jogando o argumento seguinte com precisão cirúrgica. — Você tá desempregada aos 30. Não gosta de morar em São Paulo... Só vejo vantagens.
As palavras dele ficaram pairando no ar, e de repente o assunto parecia menos absurdo do que eu queria acreditar. Cruzei os braços e me virei para ele, tentando disfarçar o desconforto.
— Tá, e eu ia fazer o quê aqui, Chico? Vender mate na praia? — perguntei, arqueando uma sobrancelha, com um tom de provocação.
Ele deu de ombros, mas o sorriso travesso no rosto entregava que estava longe de desistir.
— Sei lá, a gente tá precisando de alguém pra ajudar nos bastidores do canal. — Ele fez uma pausa estratégica, observando minha reação antes de continuar. — Você já trabalhou numa agência de filmmaker...
Eu soltei uma risada alta, sincera, achando que ele estava brincando. Mas quando olhei para ele novamente, percebi que não era uma piada. Chico estava falando sério.
— Não, Chico. — Balancei a cabeça, ainda tentando processar a ideia. — O canal de vocês é enorme! Vocês recebem patrocínio de empresas gigantes. É pressão demais pra mim.
— Ah, para com isso, Lorena. — Ele revirou os olhos, claramente não aceitando minha desculpa. — Você trabalhou na gravação daquele comercial do Pão de Açúcar uma vez, lembra? Eu lembro muito bem. Você arrasou.
— Isso foi anos atrás! — retruquei, cruzando os braços. — E era só um freela. Eu nem sabia direito o que estava fazendo na época.
— Besteira. — Chico acenou com a mão, como se minha insegurança fosse insignificante. — Você sempre soube se virar. Além disso, no canal é tudo em equipe. Não é como se fosse tudo nas suas costas. E, convenhamos, você ficaria ótima organizando nossa bagunça.
— Nossa bagunça? — repeti, incrédula. — Você tá literalmente me convidando pra entrar no caos que é o Aqueles Caras. É tudo improvisado, vocês fazem desafios malucos, precisa lidar com vários convidados e...
— Justamente! — Ele sorriu ainda mais, claramente adorando minha hesitação. — Por isso precisamos de alguém como você. Alguém que consiga manter a coisa minimamente organizada. Você sempre foi boa nisso, Lorena. E, além do mais, ia ser divertido.
— Não sei, Chico... — Eu suspirei, tentando ignorar a pequena chama de curiosidade que começava a acender dentro de mim. — Parece loucura.
Ele riu e apoiou-se na bancada, me olhando com a mesma confiança de sempre. — Você não gosta de São Paulo, tá desempregada e morando com seus pais, e aqui em Niterói você tem amigos. Tem a mim.
O tom sincero dele me desarmou por um momento, mas ainda assim, minha mente buscava razões para não levar a ideia a sério.
Fiquei em silêncio, encarando a bancada enquanto tentava processar tudo. Niterói, o Aqueles Caras, essa vida mais descontraída... Era uma proposta inesperada, mas talvez fosse exatamente o que eu precisava.
— Vou pensar no caso. — Finalmente respondi, tentando não parecer muito empolgada.
— Isso já é um começo. — Chico sorriu, satisfeito, antes de se virar para a panela no fogão. — Agora, vamos fazer logo isso, daqui algumas horas a gente tem que estar na casa do Maciel pra ajudar a arrumar as coisas para amanhã.
O tempo passou e, quando percebi, o céu já começava a se tingir de laranja e roxo. Estávamos no quintal da casa do Maciel, e, como era de se esperar, ninguém estava realmente arrumando nada. Uma mesa improvisada tinha sido montada com cadeiras de plástico ao redor, várias garrafas de cerveja abertas e latas vazias espalhadas pelo chão.
O clima ao redor da mesa era de pura expectativa. A sala inteira estava prestando atenção na partida final de coup, com apenas eu e Pig disputando a vitória. Alvinho e Beltrão estavam largados no sofá, assistindo com a atenção dividida entre o jogo e seus celulares, enquanto Maciel e Chico estavam claramente se divertindo com a tensão crescente entre nós dois.
Eu puxei três moedas para o centro da mesa, um sorriso travesso nos lábios enquanto batia de leve as unhas na madeira.
— Duque.
Pig me encarou por um instante, inclinando-se ligeiramente para frente, seus olhos estreitados em falsa desconfiança.
— Duque? Você? — Ele perguntou, deixando um sorriso escapar. — Tá com uma cara de quem tá blefando, Lorena.
— E você tá com cara de quem não vai fazer nada a respeito, Pig. — Provoquei, cruzando os braços. — Vai duvidar ou não tem coragem?
Ele soltou uma risada curta, mas não tirou os olhos de mim.
— Não vou duvidar.
Chico, que até então estava calado, aproveitou o momento para entrar na conversa.
— Peraí, Pig. Desde quando você joga assim? Não vai duvidar?
Pig deu de ombros, tentando parecer despreocupado.
— Só tô variando a estratégia.
Maciel soltou uma gargalhada e olhou de Pig para mim, claramente se divertindo com a situação.
— "Variar a estratégia"? Sei. Tá jogando diferente ou só tá querendo impressionar a Lorena?
— Cala a boca, Maciel. — Pig respondeu rapidamente, desviando o olhar para as cartas na mão. Mas o rubor que subiu para o rosto dele entregava alguma coisa.
Eu arqueei uma sobrancelha, um sorriso provocador se formando.
— Espera aí. — Inclinei-me ligeiramente para frente, apoiando os cotovelos na mesa. — Você tá me deixando ganhar, Pig?
Ele me encarou, como se estivesse tentando encontrar a melhor resposta para escapar.
— Claro que não. — Disse rápido demais, a voz levemente defensiva.
— Então duvida.
Pig recostou-se na cadeira, cruzando os braços enquanto me analisava como se tentasse decifrar um enigma.
— Sou o assassino. — Ele empurrou três moedas para o centro da mesa, inclinando-se para frente com um sorriso provocador. — E eu mato você.
Eu ri, jogando a cabeça para trás.
— Não mata, não. — Respondi, voltando a encará-lo com um brilho nos olhos. — Eu tenho a condessa.
— Você só tem uma carta na mão, Lorena. — Ele apontou com o queixo para meu baralho praticamente vazio. — E não é a condessa.
— Duvida, então. Ou você só tá com medo de estar errado?
Pig ficou quieto por um momento, os olhos presos aos meus, como se tentasse me desarmar com o olhar.
— Duvido.
Com um movimento lento e quase teatral, virei minha carta na mesa, revelando a condessa.
— Eu avisei.
Pig balançava a cabeça, incrédulo, enquanto passava a mão pelos cabelos, desajeitado como alguém que acabara de ser desarmado.
— Tá bom, você ganhou. — Ele admitiu, recostando-se na cadeira com um sorriso torto.
Antes que eu pudesse responder, Chico se inclinou por trás de mim, bagunçando meu cabelo de propósito, um gesto cheio de provocação que fez todo mundo rir.
— Uma grande mentirosa. — Ele decretou, apontando para mim como se fosse o júri de um tribunal.
— Sua prima, né? — Beltrão brincou, cutucando Chico com o cotovelo.
— Tava tão bom você calado, sabia? — Chico falou, apontando pro Beltrão que apenas riu.
— Bora outra rodada? — Alvinho sugeriu, já distribuindo cartas como se a decisão fosse unânime.
Eu levantei as mãos, me inclinando para trás na cadeira com um sorriso satisfeito.
— Passo essa. Minha vitória foi perfeita e linda, vou deixar vocês se humilharem sozinhos agora.
Pig arqueou as sobrancelhas, cruzando os braços como se não tivesse terminado comigo ainda.
— Perfeita? Isso vindo de quem só ganhou blefando metade do jogo?
— Blefe faz parte do jogo, Pig. — Respondi, cruzando os braços e inclinando-me um pouco em direção a ele. — Se vocês caíram direitinho, não é culpa minha.
Ele abriu um sorriso, mas havia algo a mais em seus olhos, um brilho que me fez sentir como se o blefe fosse apenas uma parte menor do jogo que ele estava realmente jogando.
Eu ri e empurrei a cadeira para trás, me levantando com um movimento rápido.
— Bom, enquanto vocês tentam não perder miseravelmente, eu vou parar de enrolar e ajudar a limpar o quintal.
Chico riu, balançando a cabeça.
— Finalmente! Achei que ia fazer a rainha do blefe botar a mão na massa à força.
Antes que eu pudesse rebater, Pig se levantou também, recolhendo as garrafas vazias da mesa.
— Eu ajudo. — Disse, casualmente, mas o jeito como olhou para mim fez parecer que ele tinha outra razão para querer ajudar.
— Não precisa. — Respondi, pegando uma sacola de lixo para recolher algumas latas.
— Não tô pedindo permissão. — Ele disse com um sorriso, já me seguindo para o canto do quintal.
Chico lançou um olhar significativo para Maciel, inclinando-se ligeiramente para murmurar algo que não consegui ouvir. O riso abafado que se seguiu foi suficiente para deixar claro que eles estavam se divertindo às custas de Pig. Revirei os olhos, fingindo ignorar o gesto, enquanto recolhia as latas e garrafas espalhadas.
Pig pegou um rastelo encostado na parede e começou a juntar as folhas secas espalhadas pela grama, afastando-se do centro da bagunça. Depois de alguns segundos de silêncio, ele finalmente quebrou a tensão, a voz baixa e quase casual.
— Então... Chico me contou que ia tentar contratar você pra trabalhar com a gente. — Ele disse, sem tirar os olhos do chão, mas com o tom levemente hesitante, como se estivesse escolhendo as palavras com cuidado.
Fiz uma pausa, largando as latas dentro da sacola de lixo que segurava, antes de me virar para ele.
— Ele é bem insistente, né? — Respondi, tentando soar leve, mas sentindo uma pontada de curiosidade pelo motivo de Pig trazer isso à tona.
— É. — Ele riu de leve, ainda focado no movimento do rastelo. — Mas, pra ser justo, ele não é o único que acha que você deveria aceitar.
Arqueei uma sobrancelha, cruzando os braços enquanto o observava.
— Não sabia que você tinha virado meu fã agora, Pig.
Ele parou o movimento, apoiando o rastelo no chão, e finalmente me olhou. Havia um brilho nos olhos dele, um que não combinava com o tom descontraído.
— Não é questão de ser fã. — Disse, encolhendo os ombros. — É só que... Ele se preocupa com você de verdade. Não entrou em nenhum detalhe, mas foi bem convincente quando disse que morar com ele te faria bem.
A forma como ele disse aquilo, com a voz baixa e quase cuidadosa, fez meu coração acelerar levemente. Havia uma espécie de suavidade no jeito que ele falava de Chico, mas a maneira como ele olhou para mim antes de desviar a atenção novamente me fez sentir um gelo por toda espinha.
— Você acha isso também? — Perguntei, tentando soar casual, mas a curiosidade e algo mais, difícil de definir, escaparam na minha voz.
Pig hesitou por um instante, passando a mão pela nuca. O gesto desajeitado o entregava mais do que ele provavelmente gostaria.
— Você é uma pessoa bem difícil de ler... — Ele começou, com um riso leve que parecia esconder um nervosismo. — Talvez seja isso que te faça tão boa no coup.
Eu ri, mas meu sorriso diminuiu quando os olhos dele encontraram os meus de novo, dessa vez com uma intensidade inesperada.
— Mas também me faz não saber o que você realmente quer. — Ele continuou, a voz agora mais firme, mas ainda suave. — Como você realmente se sente.
Fiquei em silêncio, incapaz de desviar o olhar, enquanto ele abaixava os olhos novamente para o chão.
— A única coisa que percebo... — Ele disse, com um tom quase melancólico — É que você se adequa muito rápido ao ambiente. Parece que está sempre em controle, mas, ao mesmo tempo, sempre pronta pra desaparecer se precisar.
Aquilo me pegou de surpresa. Ele não estava apenas tentando me agradar, estava vendo algo mais fundo, algo que talvez nem eu mesma soubesse que mostrava.
— E isso é ruim? — Perguntei, quase num sussurro.
As palavras dele me acertaram como uma flecha no peito. Não eram apenas gentis; eram desarmadoramente honestas. E, por algum motivo, ouvir aquilo vindo dele, com aquela voz calma e aquele olhar que parecia enxergar mais do que eu deixava transparecer, fez algo em mim tremer.
— Você não precisa pesar tanto quem você é para as pessoas, sabe? — Ele continuou, a voz soando mais firme, mas ainda carregada de um cuidado que parecia raro. — Não sei o que aconteceu, nem quem fez você se sentir tão mal em ser você mesma... Mas aqui, você pode ser a Lorena. — Ele finalizou, erguendo os olhos para mim outra vez.
Por um momento, fiquei sem palavras. Havia uma sinceridade crua no que ele disse, uma que me fez querer desviar o olhar, mas ao mesmo tempo me mantinha presa ali, nos olhos dele.
— Eu... — Comecei, mas minha voz saiu hesitante. Respirei fundo, tentando me recompor. — Não sabia que você prestava tanta atenção assim em mim.. — Falei escapando uma risada, aliviando o clima
Ele deu um sorriso tímido, passando a mão pela nuca, como sempre fazia quando estava desconfortável.
— Bom, é difícil não prestar atenção quando você tá sempre por perto. — Ele deu uma risada curta, mas havia algo mais nas palavras dele, algo que ele estava tentando esconder com o tom casual.
— Isso foi um elogio? — Perguntei, arqueando uma sobrancelha, com um sorriso de canto.
— Talvez. — Ele respondeu, com um brilho divertido nos olhos, mas o leve rubor no rosto entregava mais do que ele gostaria.
Antes que a conversa pudesse continuar, o som de Chico novamente cortou o ar.
— Ei! Vocês dois, tão conspirando aí? Porque o quintal ainda tá um caos, viu?
Pig soltou uma risada, pegando o rastelo novamente.
— Ciumento — Resmunguei em sussurro, encarando Chico com os olhos cemicerrados.
Pig riu baixo ao meu lado, mas não comentou nada. Pegou o rastelo de volta com um movimento casual, como se aquele momento entre nós não tivesse acontecido.
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A parte dois desse aqui sai amanhã, amores!
Tenham paciência comigo 🥲
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