🪩 JOAQUÍN PIQUEREZ - ESPECIAL ANO NOVO
Pedido: -tragiclove19z
4748 Palavras
A água fria da piscina escorria pelos meus pés enquanto eu os mantinha submersos, tentando afastar o calor daquela noite de dezembro. Era a festa de fim de ano organizada pelo clube do Palmeiras. Reuniram os jogadores, suas famílias e alguns amigos próximos em uma chácara enorme. Não havia uma programação rígida - o único pedido era que nos comportássemos e nos divertíssemos. Até agora, ninguém parecia ter dificuldade em seguir essas instruções.
A banda tocava no fundo, alternando entre músicas animadas e clássicos que deixavam o ambiente ainda mais descontraído. Alguns petiscos eram servidos por garçons que passavam entre as pessoas, enquanto uma churrasqueira de proporções quase industriais produzia cortes suculentos. No jardim, os mais jovens jogavam bola, outros relaxavam com as famílias. Era uma noite calma, quase perfeita.
Mas minha atenção não estava na música, nos jogos ou na comida. Meu olhar insistia em seguir Luísa.
Ela estava próxima à mesa de drinks, rindo de algo que uma amiga tinha acabado de dizer. O vestido branco que ela usava caía leve em seus ombros, e o sorriso dela parecia iluminar ainda mais o ambiente. Era impossível ignorá-la. Não que eu quisesse tentar.
Luísa, irmã do Rafael, tinha se tornado uma das minhas pessoas favoritas ao longo do ano. Tudo começou com algumas conversas nos treinos, quando ela ia buscar o irmão ou aparecia nos jogos. Antes que eu percebesse, a gente já tinha estabelecido uma conexão fácil, cheia de provocações e risadas. Era uma amizade leve, mas cheia de intensidade. Ela tinha aquele jeito de quem não leva desaforo para casa, o que fazia qualquer conversa nossa virar um duelo de ironias.
Mas não era só isso. Luísa era de uma beleza que prendia o olhar. Não precisava de esforço, de maquiagem ou artifícios. Era tudo dela. Do jeito que mexia no cabelo, do riso que vinha fácil, das sobrancelhas arqueadas quando estava prestes a soltar alguma resposta afiada.
Eu suspirei, mexendo os pés na água. Não era exatamente o momento de pensar nessas coisas, mas era inevitável. Com Luísa por perto, minha concentração desaparecia, junto com qualquer tentativa de ser discreto.
De repente, ela me viu e começou a caminhar em minha direção. Eu me preparei, porque com Luísa nunca era só um simples "oi". Sempre vinha algo inesperado.
- Já começou o seu retiro espiritual, Piquerez? - disse Luísa, cruzando os braços e me observando com aquele meio sorriso desafiador que sempre me fazia sorrir, mesmo que eu não quisesse.
Levantei uma sobrancelha, fingindo indiferença. - Não posso ter um momento de paz, não?
A risada dela soou leve e contagiante enquanto se sentava ao meu lado, molhando a ponta dos dedos na água da piscina, como se a leveza do gesto fosse algo natural.
- Paz? - ela perguntou, com aquele tom cheio de sarcasmo que era tão dela. - Meu amor, é Ano Novo! Dia de beber como se fosse o último dia da sua vida, zoar os amigos e, sei lá, jogar... truco!
Eu soltei uma risada sincera, jogando a cabeça para trás. Ela sempre sabia como me arrancar uma reação, mesmo quando eu só queria ficar no meu canto.
- Você me conhece bem o suficiente pra saber que essa não é minha praia, Luísa.
Ela suspirou como se estivesse lidando com uma criança teimosa e se ajeitou ao meu lado, mantendo os pés fora da água, o que era muito típico dela.
- Só estou dizendo que você deveria se divertir, só isso... - comentou, me encarando com aquele sorriso tranquilo, se aproximando mais de mim. Eu prendi o olhar no dela por um segundo a mais do que deveria, e juro por Deus, por um instante pensei em beijá-la. Por um instante eu cogitei o fato de que talvez ela também quisesse. Mas era maluquice.
Desviei os olhos rapidamente, fingindo observar os meninos na piscina, que, nesse momento, estavam tentando se empilhar uns nos outros. A pirâmide humana durou exatos três segundos antes de desabar em um estrondo de água, nos molhando no processo.
- Eu estou me divertindo - rebati, secando os respingos no rosto. - Estou descansando, o que já é suficiente. Não me deram trégua nesse fim de ano, estou cansado.
Ela gargalhou, uma risada tão espontânea e solta que me fez sorrir também.
- Para de ser dramático, Joaco! Vocês estão sem jogar há meses. Vai me dizer que tá reclamando dos rachinhas que os meninos marcam? - Luísa zombou, empurrando meu ombro de leve e me olhando com aquele sorriso desafiador, como se quisesse ver até onde eu aguentava.
Revirei os olhos, rindo baixo. Estava prestes a responder quando uma sombra se formou à nossa frente. Richard surgiu da água, sacudindo o cabelo molhado de um jeito displicente, mas claramente ensaiado. Ele caminhou até a borda da piscina e se apoiou ali, inclinando-se ligeiramente na direção de Luísa.
- Cariño... Chegou há pouco tempo? Não te vi quando cheguei. - O sorriso dele era fácil, mas eu sabia exatamente o que estava acontecendo. Ele estava cantando ela.
Luísa, sempre educada, retribuiu o sorriso de Richard, embora estivesse mais contida do que o habitual.
- Atrasei hoje. Você sabe como o Raphael é quando está se arrumando - respondeu, revirando os olhos de uma maneira que, para mim, era quase automática, mas ainda assim adorável. Não consegui evitar um sorriso discreto enquanto a observava.
Richard riu, aquela risada sempre tão ensaiada, só para prolongar o momento. Ele inclinou ligeiramente a cabeça, os olhos brilhando com um interesse que me incomodava mais do que eu gostaria de admitir.
- Não me leve a mal... Mas, do jeito que você está bonita hoje, aposto que a demora foi toda sua, Lu.
A insinuação me fez revirar os olhos antes mesmo que eu pudesse me controlar. Levantei-me, esfregando a mão na nuca como uma desculpa para sair dali. Diferente de mim, Richard nunca perdia tempo com rodeios. Ele já chegava deixando claro o que queria, e ele sempre faz isso quando Luísa está por perto. Ela foi muito presente nos treinos esse ano e nas reuniões na casa do Raphael.
Naquela época, eu ainda não era tão próximo de Luísa, mas lembro claramente de como ela e eu começamos a nos aproximar de verdade.
Flashback On
Eu, Richard e Endrick estávamos reunidos, como de costume, na casa do Raphael, em mais uma sexta-feira à noite. A sala estava preenchida pelo som das risadas, das cervejas sendo abertas e das piadas que só saem quando a turma se encontra.
Estávamos todos concentrados em um jogo de videogame, a competição acirrada, como sempre. A tensão estava no ar, mas a zoação também não faltava.
- Porra, nem no FIFA você sabe dar gol? - Endrick reclamava para Richard, que, ironicamente, era o maior goleador do time nessa temporada.
Richard não se deu ao trabalho de responder, simplesmente levantou o dedo do meio, rindo de forma debochada enquanto sua atenção continuava no jogo.
Era o tipo de encontro em que a gente se sentia à vontade, sem preocupações. Então, levantei da cadeira querendo ir ao banheiro.
- Aí, gente, bebi demais. Vou tirar a água do joelho - falei, levantando a mão em um gesto de despedida enquanto começava a caminhar pelos corredores da casa, já bem conhecidos de todos nós. Eles nem me olharam, ainda mergulhados na partida, e Raphael começou a reclamar sobre algum passe errado de Endrick.
Caminhei pela casa conhecida, o som da risada ainda ecoando em minha cabeça. O ambiente estava quente e a luz suave da sala contrastava com a escuridão do corredor. Quando finalmente alcancei a porta do banheiro, ela se abriu repentinamente, e Luísa saiu de dentro, trombando em mim.
- Aí, merda. Desculpa... - ela falou rapidamente, tentando enxugar as lágrimas que escorriam pelo rosto. Seu olhar estava turvo, mas o esforço para esconder o choro era óbvio.
Eu a segurei por instinto, impedindo que ela tropeçasse ao tentar se afastar. A visão de Luísa, tão vulnerável e com os olhos inchados de tanto chorar, fez meu peito apertar. Ela parecia querer fugir, mas não conseguia esconder o que estava sentindo. Antes que eu pudesse dizer algo, ela tentou passar rápido por mim, enxugando os olhos com pressa.
- Luísa... - falei, a voz baixa, sem saber se eu estava invadindo um momento pessoal demais. A gente não tinha tanta intimidade, mas algo em mim sentia que precisava fazer algo, não podia deixá-la ir sem mais nem menos.
Ela se parou por um momento, secando as últimas lágrimas, mas não me encarou. Deu um sorriso forçado, tentando manter as aparências.
- Não é nada, Joaquín. Só... só uma coisa boba. Não liga, tá? - Ela começou a se afastar novamente, mas eu não conseguia simplesmente deixá-la ir. Algo me impelia a continuar.
Eu alcancei seu ombro, parando-a. Ela se virou levemente, ainda evitando meu olhar.
- Ei, eu prometo que não vou contar nada. - Falei, tentando passar a maior tranquilidade possível. - Certeza que não quer, sei lá, conversar? Me parece que você está precisando de alguém.
Luísa hesitou. Ficou em silêncio por um segundo, antes de finalmente virar um pouco o rosto para mim. A respiração dela estava pesada, e parecia que ela estava se segurando para não cair em lágrimas de novo.
- É que... - A voz dela estava mais baixa agora, como se estivesse se permitindo um momento de sinceridade. Ela mordeu o lábio, buscando as palavras. - Eu terminei... terminei meu namoro hoje.
Eu senti um calafrio passar por mim. Não sabia se era o que eu estava esperando ouvir, mas a revelação me pegou de surpresa. Ela estava tentando manter a compostura, mas a dor em sua voz era clara.
- Eu... Eu sabia que isso ia acontecer. Estava demorando. - Ela riu de maneira amarga, enxugando mais uma lágrima. - Mas mesmo assim, dói, sabe? Acabou. E... ele não queria me apoiar no que eu quero. Ele disse que eu estava mudando demais, que ele não me reconhecia mais. E eu... não sei... Acho que ele tava me traindo.
- Que filho da puta... - Falei sem querer e ela me encarou com um pequeno sorriso - Desculpa, é que. Nossa, inacreditável. Ele deve ser muito otario.
Luísa olhou para mim com um leve sorriso, como se estivesse tentando encontrar algum consolo nas minhas palavras. Mas a dor ainda estava lá, claramente visível, mesmo que ela tentasse esconder.
- É, ele... foi. Eu sabia que as coisas estavam diferentes, mas não queria acreditar. Só que, agora, depois de tudo... não tem mais como negar. E eu só... não sei. Estou tão perdida. - Ela respirou fundo, mais uma vez enxugando as lágrimas que teimavam em cair.
Eu senti uma vontade incontrolável de abraçá-la, mas fiquei ali, parado, não sabendo se era o certo. Queria dar algum conforto, mas parecia que qualquer coisa que eu dissesse não seria suficiente para apagar a dor que ela estava sentindo.
- Não merece isso, Luísa. Nenhuma mulher merece ser tratada assim. - Eu disse, tentando transmitir a seriedade e a sinceridade que estava sentindo naquele momento. - Ele te traiu e ainda te fez sentir que era você quem estava errada? Isso é simplesmente... Nossa, que filho da puta.
Ela balançou a cabeça levemente, concordando, mas o sorriso ainda era triste, quase como uma maneira de não permitir que a situação tomasse o controle de tudo.
- Não conta pro Rapha, tá? - Ela pede, olhando nos meus olhos - Eu converso com ele depois...
Eu assenti, vendo a vulnerabilidade dela brilhar nos olhos, algo que ela claramente tentava esconder sob a fachada de força.
- Pode deixar. Não vou contar pra ninguém. - Respondi com firmeza, meu tom sério. Eu sabia que, naquele momento, ela precisava de um pouco de paz e espaço para lidar com isso do jeito dela.
Ela deu um suspiro pesado, quase como se estivesse aliviada por poder confiar em mim, por saber que eu respeitaria o pedido dela. O sorriso ainda era triste, mas havia algo de mais genuíno, como se, pelo menos por um instante, a dor ficasse um pouco mais suportável.
- Obrigada.
Flashback Off
Depois daquele dia, Luísa começou a se aproximar mais de mim. Ela e eu conversávamos mais e, aos poucos, eu a ajudei a se entrosar melhor com o time. Raphael não gostou muito, claro. Ele sabia exatamente o quão bonita sua irmã era e isso ficou claro conforme Richard foi criando campo perto dela.
Passei a mão pelos cabelos, tentando aliviar o incômodo que crescia no peito, mas era inútil. Toda vez que alguém demonstrava interesse em Luísa, algo em mim reagia. Era como se uma onda de ciúmes subisse direto para o meu rosto, queimando por dentro e me deixando sem chão.
Eu a queria. Mais do que tudo. Queria aquele sorriso fácil, mas que parecia sempre brilhar mais quando era direcionado a mim. Queria sua atenção, sem precisar dividir com ninguém. Queria seu jeito desafiador, que me fazia rir e, ao mesmo tempo, me tirava do eixo. E, acima de tudo, queria sentir o gosto do seu beijo. Ouvir sua voz dizendo meu nome, várias e várias vezes no meu ouvido.
Respirei fundo e virei o rosto para observá-la novamente, incapaz de me conter. Meus olhos captaram a cena de longe: Rafael, já impaciente, se aproximava de Richard. Ele gesticulava de forma enfática, claramente mandando o loiro se afastar. Conhecia bem o irmão mais velho de Luísa para saber que ele sempre tinha um olho protetor sobre ela, especialmente quando sabia exatamente o que Richard queria.
- Vai procurar outra, Ríos! - ouvi Rafael dizer, sua voz alta o suficiente para chegar até mim.
Richard deu de ombros, soltando uma risada sem graça antes de voltar para a piscina, enquanto Luísa gargalhava ao lado do irmão. Ela se levantou da beira da piscina, o cabelo brilhando sob as luzes decorativas da festa, abraçando e acalmando o irmão.
Sorri para mim mesmo, vendo Rafael fazer o trabalho sujo enquanto Luísa seguia com aquela leveza que sempre me desarmava. Mas o sorriso logo se desfez. Por mais que fosse reconfortante vê-la livre de Richard, isso não mudava o fato de que eu continuava no mesmo lugar.
Me juntei à minha família na mesa, onde o ambiente estava quente e acolhedor, típico das confraternizações do clube. Sempre gostei desses eventos, a sensação de união, a forma como todos se reuniam para compartilhar bons momentos. O clube realmente se preocupava com o bem-estar de todos, e a comida era sempre excelente. Mas naquela noite, o tempo parecia se arrastar, e eu não conseguia me concentrar em nada além da cena que se desenrolava na pista de dança.
Fiquei observando a cena à distância, o tempo parecia se arrastar enquanto todos ao meu redor pareciam imersos nas conversas e risadas, alheios ao que se passava na pista de dança. Eu tentava me concentrar em algo, qualquer coisa, mas os olhos sempre voltavam para Luísa e Richard.
Ele estava, como sempre, com aquele sorriso confiante, buscando qualquer brecha para se aproximar. Luísa parecia hesitar por um segundo, mas então, Richard pegou sua mão e a guiou para a pista de dança. Ela olhou rapidamente em volta, como se tivesse certeza de que ninguém estava prestando atenção, antes de se permitir ser conduzida por ele. E foi nesse momento que vi algo que não estava preparado para ver: Luísa realmente sorria.
Não era um sorriso forçado, não era aquele sorriso de quem estava tentando esconder algo. Não. Ela sorria de verdade. Os olhos dela brilhavam enquanto ela dançava com Richard, o corpo se movendo com uma leveza que eu nunca tinha visto. A música preenchia o ambiente, mas a energia entre eles parecia criar uma conexão própria, mais intensa do que qualquer melodia.
Eu não conseguia desviar os olhos, embora tentasse. Richard, sempre tão audacioso, inclinou-se um pouco para mais perto de Luísa, falando algo em seu ouvido. O sorriso dela se alargou, e pude ver como ela se sentia à vontade ali, como se estivesse se entregando àquele momento.
Aquela cena... Me atingiu mais forte do que eu imaginava. Eu sabia que Richard tinha uma confiança natural, sabia que ele gostava de provocar, mas ver Luísa assim, sorrindo genuinamente, como se estivesse se divertindo, foi mais do que eu podia suportar. Meu peito apertou, uma mistura de frustração e algo que eu não queria encarar.
Eu me perguntei se ela estava realmente gostando daquela atenção ou se estava apenas tentando se distrair. Mas, em vez de continuar me torturando com esses pensamentos, busquei afastar a visão, tentando me convencer de que não deveria me importar tanto assim. Luísa era livre para fazer o que quisesse, não tinha obrigação de me agradar. Mesmo assim, não conseguia evitar a sensação de que algo estava mudando ali, e eu não estava pronto para aceitar isso.
Enquanto isso, minha mãe percebeu que eu estava distante. Ela sempre conseguia perceber quando algo não estava certo, mesmo que eu tentasse esconder.
- Guapo... Está tudo bem? - Ela perguntou, sua voz suave, enquanto sua mão se posava gentilmente sobre minha bermuda, desviando minha atenção.
A carícia leve de sua mão e o tom preocupado de sua voz me fizeram respirar fundo. Eu me forcei a encará-la, tentando esconder o que estava sentindo, mas sabia que ela me conhecia melhor do que ninguém.
- Sim, mãe, só... só estou cansado. - Eu dei um sorriso fraco, tentando fazer com que parecesse natural, mas sabia que ela não acreditaria. Não com o olhar atento dela.
Ela não insistiu, mas seu olhar ainda estava em mim, como se ela estivesse esperando que eu falasse mais. Tentei me recompor, afastando a sensação de desconforto que tomava conta de mim.
- Eu vou... Vou ver a galera no gramado, ok? - Disse de forma simples, me esforçando para manter a voz tranquila, como se fosse uma decisão casual. Sabia que não estava convencendo ninguém, mas parecia ser o suficiente para minha mãe, que apenas assentiu suavemente, sem perguntar mais nada.
Ela não falou mais nada, mas percebi que ela sabia que eu estava fugindo de algo. Ela conhecia esse meu impulso, essa necessidade de evitar as conversas difíceis. Mas, naquele momento, eu só precisava de um pouco de distância, um pouco de tempo para processar o que estava acontecendo, e, mais importante, o que estava acontecendo dentro de mim.
Enquanto caminhava em direção ao gramado, o peso da confusão parecia crescer a cada passo. As imagens de Luísa sorrindo com Richard, ele sussurrando algo ao ouvido dela, o jeito como ela parecia genuinamente feliz... Tudo isso girava na minha cabeça como um turbilhão. Eu sabia que não poderia ignorar o que estava se passando, mas também não conseguia organizar meus sentimentos de forma coerente.
- Mas que merda, Joaquín... - Resmunguei baixinho para mim mesmo, enquanto me deixava cair em um banco distante de todos.
A noite estava fresca, mas a sensação de calor no meu rosto me dizia que eu estava irritado, frustrado, talvez até um pouco envergonhado comigo mesmo por deixar isso me afetar tanto. Cruzei os braços, encarei o chão e soltei um suspiro pesado, tentando entender por que, de repente, aquilo parecia tão importante.
Olhei para o relógio no meu pulso. 23h30. Faltava pouco para a meia-noite, para a contagem regressiva, para o momento que todos esperavam ansiosamente. Era a virada do ano, e aqui estava eu, remoendo coisas que nem deveria estar pensando. Eu devia estar com minha família, me disse pela milésima vez, mas não conseguia reunir forças para voltar. A ideia de encarar aquele sorriso de Luísa enquanto minha mente criava mil cenários sobre o que podia acontecer entre ela e Richard me travava por completo.
- Isso com certeza vai dar azar do cacete... - Murmurei, tentando brincar com a ideia de que passar a virada com raiva podia selar meu destino para o ano inteiro. Mas, lá no fundo, eu sabia que não era azar. Era só eu, me debatendo contra algo que não queria admitir.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som de passos atrás de mim. Instintivamente, me virei, e lá estava Luísa, caminhando na minha direção com aquele jeito descontraído que parecia tão natural nela. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ela se jogou no banco ao meu lado, soltando um suspiro exausto.
- Não aguento mais tanta gente - comentou, com um sorriso no rosto, enquanto girava levemente o copo de bebida na mão. - Juro, de quem foi a ideia?
Eu deveria ter rido, mas não consegui. Tudo em mim parecia travado, sufocado por uma mistura de raiva, frustração e algo que eu não queria admitir. Voltei a encarar o vazio à minha frente, evitando seu olhar.
- Pareceu se divertir. - Minha voz saiu baixa e carregada, um contraste com o tom leve dela.
Senti o movimento dela ao meu lado, inclinando-se para tentar entender minha expressão.
- E foi divertido... até certo ponto. - Luísa respondeu, ainda casual, mas havia algo na maneira como ela me observava agora, como se estivesse tentando decifrar o que eu estava escondendo.
Não consegui evitar. Soltei um riso curto e seco, balançando a cabeça enquanto apertava as mãos nos joelhos.
- Imagino - Falei, deixando escapar mais sarcasmo do que planejava. - Você e o Richard parecem estar se dando muito bem.
Ela franziu o cenho, claramente confusa.
- O Richard? - perguntou, arqueando uma sobrancelha. - O que tem ele?
- Nada, Luísa. - Respondi rápido demais, tentando encerrar o assunto antes mesmo de começar. Mas, claro, ela não ia deixar passar.
- Joaquín... o que tá acontecendo? - Luísa perguntou, agora séria, virando-se para ficar de frente para mim - Desde quando você age assim comigo?
Eu respirei fundo, passando a mão pelo cabelo, mas o nó na garganta só parecia apertar mais. Não podia continuar assim, mas também não sabia como lidar com aquilo.
- Nada tá acontecendo, Luísa! - falei, um pouco mais alto do que pretendia. - Só que... eu não aguento mais, tá?
Ela me olhou surpresa, piscando, mas não disse nada. Então as palavras começaram a sair, como se eu não tivesse mais controle sobre elas.
- O que?
Eu encaro seu rosto - Eu não devia. Eu sou amigo do seu irmão. Mas, porra... Eu odeio tudo o que eu sinto quando vejo Richard ou qualquer outro cara dando em cima de você! - Acho que soou meio bravo, porque sua expressão é assustada. Então respiro fundo e passo a mão no rosto - Luísa, eu me apaixonei por você. E é cruel, porque eu sei que não tenho chance nenhuma.
O silêncio que seguiu foi esmagador. Meu coração batia descompassado, enquanto eu encarava o chão, sem coragem de olhar para ela. Estava tudo ali, exposto. E agora?
- Você acha mesmo que não tem? - A voz dela veio baixa, mas firme, me pegando completamente desprevenido.
Eu levantei a cabeça devagar, finalmente encontrando seus olhos. Não havia confusão ou brincadeira neles, apenas algo genuíno, quase desafiador.
- O quê? - Perguntei, quase sem acreditar.
Ela repetiu, mais enfática desta vez:
- Você acha mesmo que não tem chance, Joaquín?
Eu engoli em seco, os pensamentos estavam uma bagunça. O que ela estava dizendo? Tudo isso era um jogo para ela? Não podia ser. Ela parecia séria demais.
- Não brinca comigo, Luísa... Não fala isso só porque eu...
Ela cortou minha fala com um olhar fulminante, seu tom ficou mais firme, quase irritado.
- Porra, Joaquín! - Ela exclamou, cruzando os braços, seus olhos queimando com intensidade. - Eu não estou brincando, e você sabe disso. Eu só cansei de te dar sinal, e você, com toda a sua cabeceira de tijolo, não percebeu nada! Você me deixou sozinha com o Richard na piscina, nem tentou marcar seu espaço?! Sério?
O calor da situação me atingiu com força. O choque inicial foi substituído por uma onda de frustração. Ela estava falando sério? Eu, tão ocupado tentando entender os jogos que fazia com Richard, não percebi os sinais dela.
- Você está dizendo que... - minha voz soou confusa, quase desesperada, enquanto eu tentava juntar as palavras.
Ela não perdeu tempo. O sorriso irônico desapareceu de seus lábios, e seu olhar se manteve fixo em mim, mais sério do que nunca.
- Sim, Piquerez! Eu também sou apaixonada por você. Só que você, seu burro, não percebeu! Fiquei lá, esperando você fazer alguma coisa, enquanto ficava todo esse tempo se consumindo de ciúmes, igual um adolescente.
Eu me virei em sua direção, a frustração ainda no meu peito, misturado de um sentimento louco de que eu estava sonhando.
- Então quer dizer que se eu fizer isso... - perguntei com um sorriso desafiador, me aproximando lentamente. Ela não recuou. Aproximei a mão de seu rosto, traçando a linha de seu queixo e maxilar com o dedo, sentindo sua pele quente sob meu toque. - E isso... - continuei, levando minha mão até sua nuca, puxando seu rosto para mais perto, seus olhos fixos nos meus, como se estivesse esperando a próxima ação.
A tensão entre nós estava inegável, o desejo se acumulando no ar como uma carga elétrica. Ela não respondeu com palavras, mas o olhar intenso dela falou mais do que qualquer coisa que ela pudesse dizer.
- Se eu te beijar, você não vai me bater? - perguntei, a provocação ainda ali, mas com algo mais suave na voz. A resposta estava em seus olhos, que brilharam de forma indescritível.
Ela revirou os olhos, um sorriso brincando em seus lábios, como se estivesse irritada e, ao mesmo tempo, divertida. Com um movimento rápido, levou as duas mãos até o meu rosto, me puxando com força para um beijo.
O contato foi imediato, urgente, e ao mesmo tempo, tudo o que eu desejava. Ela se entregou ao beijo com intensidade, e eu a acompanhei, sentindo o calor crescente entre nós. Puxando-a ainda mais na minha direção.
Soltamos do beijo assustados, quando os fogos começam a soar no céu. Olho no relógio que marcava exatas meia noite.
- Feliz ano novo, Joaco.
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Gente, dnv a formatação tá maluca e eu tô cheia de coisa pra fazer e não consigo arrumar, mas depois eu organizo isso, ok?
Amanhã posto mais 2
A parte 2 do Maciel só consigo dia 3 porque ainda falta finalizar!
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