☄️ DANIEL MACIEL - Parte 1
Trabalhar no Aqueles Caras é uma experiência que ninguém te prepara completamente para viver. É divertido, claro, mas também é exaustivo. Para mim, é ainda mais desafiador, porque divido meu tempo entre o estúdio deles e meu trabalho como produtora no CazéTV. A rotina é uma montanha-russa de risadas, prazos e responsabilidades.
Não me leve a mal - o trabalho é incrível, mas não é fácil. O deslocamento por si só já é um teste de paciência. Sair de casa em Niterói e cruzar quase a cidade inteira até o estúdio é um verdadeiro desafio, especialmente em dias de trânsito caótico. Ainda assim, tem algo que compensa todo esse esforço: a convivência com os caras.
Sério, nunca vi tanto homem feito agindo como se ainda estivesse no recreio do colégio. Entre uma gravação e outra, as molecagens são constantes. Eles não perdem a chance de fazer piada, encenar dramas ridículos ou lançar competições idiotas no meio do lanche. E por mais que eu role os olhos, é impossível não acabar rindo. A descontração deles transforma o ambiente, fazendo até o dia mais puxado parecer menos pesado.
Hoje foi um desses dias. Tivemos a ideia - "genial", entre aspas gigantescas - de gravar dois vídeos seguidos. Assim que essa proposta foi jogada na mesa, eu fui a primeira a levantar a mão contra. Sabia que seria um desgaste enorme. Mas, como sempre, fui voto vencido. A maioria decidiu, e lá fomos nós.
O primeiro vídeo foi tranquilo até certo ponto, mas já dava para sentir o peso acumulando conforme avançávamos para o segundo. A equipe toda já estava esgotada, mas ninguém dizia nada - todos queriam terminar o mais rápido possível. O problema é que, no mundo de Aqueles Caras, nada termina rápido. Sempre tem uma ideia de última hora, uma piada que vira cena improvisada ou um erro de gravação que gera mais uma hora de trabalho.
No fim do dia, depois de desmontar câmeras, revisar áudios e garantir que todos os arquivos estavam salvos, o cansaço já tinha tomado conta de mim. Minhas pernas doíam, a cabeça latejava, e a única coisa que eu queria era ir embora. Mas, como sempre, eles encontraram uma forma de transformar o momento mais exaustivo do dia em um festival de piadas e implicâncias. Enquanto eu guardava os últimos equipamentos, os caras começaram uma discussão completamente idiota sobre quem era o pior jogador de truco da equipe - um assunto que, de alguma forma, parecia de vital importância para eles naquele momento.
Era como assistir a um grupo de irmãos brigando pelo controle remoto, só que esses "irmãos" tinham o talento único de transformar qualquer briga boba em algo genuinamente engraçado. Eu sabia que deveria estar irritada, mas me peguei rindo das besteiras que saíam da boca deles enquanto tentavam provar um ponto absolutamente irrelevante.
E é isso que me prende nesse trabalho. Apesar do cansaço e das dores de cabeça ocasionais, há algo encantador na convivência com eles. No fundo, eu amo esses meninos. Trabalhar aqui nunca foi uma decisão que me arrependi, mesmo com as exigências e as dificuldades. Claro, eu preciso de muita bajulação - e às vezes algumas pizzas grátis - para aceitar certas coisas, mas eles sempre conseguem me conquistar.
O problema é que, às vezes, eles testam minha paciência. E hoje era um desses dias.
— Vocês podem parar de palhaçada? Estamos atrasados, o Cazé vai matar a gente! — explodi, cruzando os braços e encarando o grupo com o meu melhor olhar de reprovação. Eu já estava há meia hora pronta para ir embora, mas a bondade deles de terminar logo parecia algo inatingível.
Beltrão, como sempre, foi o primeiro a responder, com aquele tom despreocupado que fazia meu sangue ferver e rir ao mesmo tempo:
— Relaxa, a gente joga a culpa toda no Chico.
O comentário fez todos rirem, menos o Chico, que imediatamente ergueu as mãos em protesto.
— Em mim por quê? Eu nem estava nessa gravação!
— Exatamente por isso — Beltrão rebateu, com um sorriso presunçoso. — Quem não tá, leva a culpa. Tradição.
Antes que eu pudesse intervir, os outros já tinham abraçado a ideia e estavam elaborando um plano detalhado para culpar o Chico. Era impressionante como eles conseguiam ser tão criativos em coisas absurdas, mas quando precisávamos de um roteiro pronto, levavam dias para escrever a primeira página. O contraste era tão frustrante quanto engraçado.
Soltei um suspiro pesado, peguei minha bolsa e me joguei no sofá, resignada. Mentalmente, me preparei para mais uns vinte minutos de enrolação antes de finalmente irmos embora.
— Se eu for demitida do CazéTV, vocês vão ter que triplicar meu salário — reclamei, afundando no sofá e observando o caos organizado ao meu redor.
— Relaxa, a gente faz uma vaquinha pra te sustentar — Beltrão respondeu, lançando uma piscadela que só serviu para me irritar ainda mais.
Enquanto eu revirava os olhos, Maciel, que parecia ser o único minimamente sensato ali, finalmente se pronunciou. Ele já estava com a mochila nas costas e um semblante impaciente.
— Vamos, gente, não adianta atrasar. O Cazé sempre arranja um jeito de colocar a gente pra jogar, mesmo que a gente chegue duas horas depois do combinado.
— Apostam quanto que daqui até lá o Chico arruma um jeito de torcer o pé pra não jogar — Pig comentou, seguindo o exemplo de Maciel e organizando suas próprias coisas.
O comentário arrancou gargalhadas, menos do Chico, que imediatamente protestou:
— Para, gente! Eu machuquei a mão de verdade naquele dia. — Ele cruzou os braços, largando um pequeno sorriso, mas ninguém parecia levar a sério.
— Deixa de mentir, Francisco Moedas — Donatello rebateu com um sorriso debochado. — A gente te viu jogando sinuca no mesmo dia com a mão "machucada".
— Foi só pra testar se tava melhor — Chico retrucou, agora rindo. — Mas não é mentira, eu tenho até laudo médico!
— Laudo médico do Dr. Beltrão, né? — Alvinho devolveu, e o comentário provocou outra onda de risos generalizados.
Enquanto a discussão seguia, cheia de provocações e risadas, olhei para o relógio e percebi, com desespero crescente, que já estávamos 40 minutos atrasados. Cada minuto a mais parecia um convite ao Cazé para soltar o sermão do ano.
Perdi a paciência. Levantei num salto, pegando minha bolsa de forma decidida.
— Eu desisto de ser boazinha com vocês! Vou pegar um Uber e me mandar daqui! — Declarei, já me dirigindo para a saída do estúdio.
Maciel, rindo da minha explosão, veio atrás de mim e me segurou pelo braço de leve.
— Para com isso, vem comigo. Não precisa disso tudo, a gente já tá saindo — disse, ainda rindo enquanto me puxava de volta, com o braço sobre meu ombro. Em seguida, ele virou para o restante do grupo e, com a voz firme, gritou: — Vamos, galera! Anda logo!
O tom autoritário de Maciel finalmente fez efeito. Entre risadas e resmungos, os outros começaram a pegar as mochilas e equipamentos, mas, claro, isso não os impediu de continuar provocando o Chico pelo caminho. Suspirei de novo, mas dessa vez, com um leve sorriso no rosto. Era sempre assim: o caos completo antes de cada saída.
Entrei no carro de Maciel e me acomodei no banco do passageiro, sentindo o alívio de finalmente poder relaxar um pouco. Pela janela, vi Chico entrando no carro com Beltrão e Alvinho, e Pig e Donatello entrando no outro carro.
Soltei um suspiro cansado, encostando a cabeça no banco e fechando os olhos. O dia havia sido longo demais, e o pensamento de que ainda tinha um evento pela frente só piorava minha disposição. Eles estavam indo jogar, e eu, como sempre, estava indo trabalhar. Mesmo que fosse só algo pequeno, a ideia de gravar dois vídeos no mesmo dia tinha sido uma verdadeira maluquice.
Minha cabeça latejava, minha paciência estava no limite, e minha raiva persistia como uma dor surda no fundo da mente.
— Parece cansada, amor... — Maciel comentou, dando a partida e rompendo meus pensamentos. Sua voz era um misto de preocupação e suavidade, quase como se tentasse me consolar sem chamar muita atenção. — Se quiser, te deixo em casa.
Meu corpo inteiro tensionou ao ouvir a palavra "amor". Aquilo escapava tão natural da boca dele que me dava a impressão de que o mundo inteiro já sabia, mas não comentava. Era um hábito, um deslize recorrente que só complicava ainda mais nossa situação.
— Você fez de novo. — Minha voz saiu baixa, mas carregada de exaustão.
Ele me lançou um olhar confuso, dividido entre mim e o trânsito.
— Fiz o quê?
— Isso. Eles vão perceber, Maciel. — Cruzei os braços, tentando manter minha voz firme. — Você tá me dando carona quase todos os dias, e não chama nenhum deles pra vir junto. Tá me encarando demais, me tocando demais...
Ele abriu a boca para retrucar, mas parou, deixando o silêncio se instalar por um instante antes de suspirar.
— Porra, amor. No começo até dava pra disfarçar, mas... Tá ficando difícil fingir que eu não ligo pra você.
Esfreguei as mãos no rosto, sentindo o peso do dia inteiro desmoronar sobre mim. As lágrimas ameaçaram surgir, mas eu as engoli. Não agora. Não ali.
Maciel tinha razão. Desde a primeira vez que nos beijamos, depois daquela festa, as coisas nunca mais foram as mesmas. A gente tentava manter em segredo, fingir que nada estava acontecendo, mas as escapadas no meio da rotina, os toques rápidos e os olhares demorados diziam mais do que qualquer palavra. O acordo era esconder - minha ideia, claro. Eu não queria ser tratada diferente por ninguém, e Maciel, apesar de relutante, aceitou minha decisão.
Mas a verdade é que isso estava pesando para nós dois.
— Eu só... — Suspiro, mas prefiro deixar o assunto morrer — Eu preciso de uma dipirona e um energético.
Virei o rosto para a janela, deixando claro que não queria continuar aquela conversa. Meus olhos estavam fixos no movimento borrado das luzes da cidade, enquanto meu peito se apertava em um misto de culpa e frustração.
Maciel não insistiu. Ele apenas dirigiu em silêncio, respeitando meu espaço, o que, de certa forma, me irritou ainda mais.
Sem perceber, o cansaço me venceu. O calor do carro, o ritmo constante do motor e o silêncio incômodo me embalaram, e meus olhos se fecharam.
Quando acordei, o carro estava parado, e Maciel me olhava com um sorriso de canto, me cutucando de leve no braço.
— Chegamos. — Sua voz era suave, quase um sussurro, como se quisesse me poupar de um despertar brusco.
Pisquei algumas vezes, ainda grogue, tentando me situar. Olhei pela janela e reconheci o lugar: estávamos bem em frente a casa onde os jogos iam acontecer, na CazéTV. Suspirei profundamente, sentindo o cansaço pesar de novo assim que percebi que a noite ainda estava longe de acabar.
Encostei a cabeça de volta no banco, fechando os olhos por um segundo.
— Olha, parei no caminho pra comprar isso... — disse Maciel, estendendo a mão com uma cartela de dipirona.
Fiquei encarando o gesto por um momento, e um sorriso suave escapou dos meus lábios antes que eu pudesse evitar. Ele sempre fazia coisas assim, pequenas atitudes que diziam mais do que qualquer declaração.
— Obrigada... — murmurei, pegando o remédio.
Antes que eu pudesse abrir a embalagem, ele também me entregou uma garrafa d'água que estava no console entre os bancos.
— Bebe um pouco.
Soltei uma risada leve, mesmo que fosse de puro cansaço. Ele sabia exatamente como me desmontar, mesmo quando eu queria manter a pose de distante ou irritada. Tomei o remédio com alguns goles d'água, deixando que o líquido gelado aliviasse um pouco a secura da minha garganta.
— Você devia descansar. — Ele quebrou o silêncio novamente, sua voz baixa, quase hesitante. — Sei que vai trabalhar, mas talvez... Não sei... Quer que eu finja estar passando mal pra você me levar no hospital e fugir daqui?
Sorri com sua tentativa de me distrair.
— Maciel, você sabe que o primeiro a surtar e te levar pro hospital seria o Alvinho. Além disso, todos ficariam desolados sem você pra marcar os gols.
Dessa vez, foi ele quem riu. Uma risada fraca escapou de seus lábios, carregada de cansaço, mas ainda assim genuína. Ele se inclinou levemente para mim, e sua mão encontrou meu cabelo, ajeitando uma mecha que caía pelo meu rosto. O toque era cuidadoso, quase automático, como se ele fizesse isso sem perceber.
— Então... assim que o jogo acabar, eu te levo pra casa. Fico com você. Pode ser?
Por um momento, fiquei em silêncio, apenas o observando. A expressão em seu rosto não tinha nenhum traço da descontração habitual que ele exibia na frente dos outros. Era só preocupação — crua, sem disfarces.
— Maciel... — comecei, mas não sabia exatamente como terminar. Parte de mim queria aceitar, deixar que ele cuidasse de mim naquela noite, enquanto outra parte lutava contra isso. Não era justo deixá-lo carregar mais do que já carregava.
— Eu sei — ele interrompeu suavemente, como se entendesse o conflito dentro de mim. — Você não quer depender de ninguém, mas... deixa eu cuidar de você hoje, só um pouco.
Aquele "só um pouco" me desmontou. Fechei os olhos por um instante, tentando ignorar a pontada de emoção que ameaçava transbordar. Quando abri, ele ainda estava lá, me olhando com aquele sorriso tranquilo que parecia dizer que tudo ia ficar bem, mesmo quando eu sabia que não seria tão simples assim.
— Tá bom. — Suspirei, finalmente cedendo.
Ele se aproximou mais, com um sorriso largo no rosto, depositando um beijo em minha testa.
— Vamo?
Assenti e, antes de sair do carro, hesitei por um segundo. Então, me inclinei rapidamente e depositei um beijo em sua bochecha.
— Obrigada... por tudo.
Ele sorriu, os olhos brilhando, mas não disse nada.
Entramos na casa e fomos recebidos pelo som de vozes se sobrepondo em uma discussão calorosa. Assim que chegamos à sala principal, a cena que se desenrolava era quase cômica. Chico estava sentado em um dos sofás, com uma expressão de puro drama enquanto segurava o pé, envolto em gelo improvisado com uma toalha.
— Foi um mal jeito que eu dei ali na escada! — ele dizia, tentando defender sua situação, mas ninguém parecia levar a sério.
— Claro, Chico. Escada. — Beltrão respondeu, com um tom carregado de ironia enquanto cruzava os braços e balançava a cabeça. — Aposto que a "escada" tava jogando sinuca com você de novo, né?
As risadas explodiram na sala, e Chico ergueu as mãos em protesto, a indignação evidente.
— Dessa vez é sério! Olha só! — Ele apontou para o pé com uma expressão ofendida.
Maciel deu um leve sorriso ao meu lado, mas manteve a postura.
— Isso não tá nem inchado, Chico. Levanta daí, você vai ser do meu time — Maciel decretou, cortando qualquer possibilidade de mais drama.
— Do seu time? — Chico fez uma careta, se afundando ainda mais no sofá. — Você só quer me colocar pra correr atrás da bola enquanto fica de goleiro.
— E qual o problema disso? — Maciel retrucou, com um sorriso desafiador. — Melhor você do que o Beltrão, que não sabe nem pra onde tá chutando.
— Ei! — Beltrão protestou, indignado, mas a risada geral já havia abafado qualquer defesa que ele pudesse apresentar.
Enquanto isso, eu me encostei na parede, cruzando os braços e observando a interação caótica com um misto de cansaço e diversão. Mesmo com toda a exaustão, não tinha como negar que essas situações, por mais irritantes que fossem às vezes, tinham um certo charme.
— Ótimo. Então já temos os times. — Alvinho surgiu do lado oposto da sala, carregando uma bola debaixo do braço e com aquele sorriso típico de quem adorava provocar. — Vamos logo antes que o Chico dê outro "mal jeito" e vire um caso médico de verdade.
Chico soltou um resmungo, mas, sob o olhar insistente de Maciel, começou a se levantar. Antes de sair do sofá, ele olhou para mim, como se buscasse alguma forma de solidariedade.
— Você não vai falar nada, não? — ele perguntou, claramente tentando ganhar aliados.
— Acho que o Maciel tá certo — respondi, com um sorriso de canto. — Se você consegue dramatizar, consegue jogar.
A provocação arrancou uma onda de risos, e até Maciel teve que esconder um sorriso satisfeito enquanto Chico murmurava algo inaudível e finalmente calçava o tênis. Era engraçado como ele conseguia transformar qualquer situação em um show.
Enquanto eles saíam, aproveitei para organizar meus equipamentos no canto da sala. A câmera, o tripé e o microfone estavam ali, prontos para capturar os melhores (ou piores) momentos dos jogos que iriam começar. Isso, claro, se a bagunça deles permitisse algo além de gritos e piadas internas.
Chico passou por mim mancando de forma exagerada, lançando um último olhar dramático.
— Se isso virar filme, faz eu parecer um herói, tá? — Ele piscou, rindo. Era incrível como Chico, desde meu primeiro dia no Aqueles Caras, não parava de tentar flertar comigo.
— Vou tentar fazer milagre na edição. — Respondi sorrindo, sem levantar os olhos enquanto ajustava o foco da câmera.
Do lado de fora, ouvi os primeiros sons da bola sendo chutada e as vozes se misturando em provocações. Beltrão provavelmente estava discutindo alguma regra inventada de última hora com Donatello, enquanto Pig tentava colocar ordem no caos.
Logo saí, preparando-me para trabalhar.
Enquanto caminhava para fora com a câmera no ombro, ouvi a discussão de Beltrão e Donatello atingir um novo nível.
— Não existe essa de "três toques na bola antes de chutar", Beltrão! — Donatello gesticulava com impaciência, enquanto segurava a bola com firmeza. — Você tá inventando isso agora porque não sabe driblar!
— Regra é regra, Donatello. — Beltrão respondeu, inflando o peito com falsa autoridade. — E eu sou o único aqui que leu o manual de futebol amador.
Pig, no meio da confusão, revirava os olhos. Ele olhou pra mim com uma expressão de súplica.
— Você não quer assumir o apito, não? — Perguntou, enquanto tentava apartar a briga.
— De jeito nenhum. — Ri, ajustando a câmera com cuidado e posicionando o tripé perto da linha lateral, onde a visão seria perfeita para capturar todos os detalhes. — Meu trabalho é registrar o caos, não organizar ele.
— Tá bom, galera! Vamos começar! — Sua voz ecoou pelo campo, fazendo todos os meninos se alinharem com mais seriedade. Ele deu uma última olhada para o cronômetro, ainda em suas mãos. — Arruma o cronômetro aí!
Com a voz de Cazé como sinal, o jogo finalmente começou. Agora, com o apito dado e os times se organizando, a atmosfera no campo mudou. A diversão deu lugar à competitividade, mas, como sempre, ninguém deixava de lado as piadas e provocações. Cada drible era uma chance de chamar atenção, e cada passe, uma oportunidade de mostrar quem mandava.
Menos de 20 minutos depois, um grito ensurdecedor rompeu o ar quando Chico, com seu "pé quebrado", fez o primeiro gol da partida. Mesmo mancando de forma dramática, ele estava lá, no centro do campo, comemorando como se tivesse acabado de ganhar a Copa do Mundo.
Ele olhou para mim com aquele sorriso confiante, e apontou diretamente na minha direção. A torcida improvisada, um amálgama de risos, gritos e alguns xingamentos, ecoava ao fundo, acrescentando uma camada extra de caos ao momento.
— Esse foi por você, Manu! — Ele gritou meu nome, com um aceno de cabeça, como se tivesse acabado de realizar algo épico. E, de certa forma, tinha mesmo.
Não consegui evitar uma risada incrédula, ainda processando o que acabara de acontecer. Ajustei a câmera de novo, capturando o brilho de autoelogio nos olhos de Chico, que parecia se considerar o herói do jogo, apesar de seu pé supostamente quebrado.
Mas quando olhei para o outro lado, os olhos de Maciel estavam fixos em mim. Ele, embora fosse do time de Chico, não estava nem um pouco satisfeito. Sua expressão estava tensa, e quando percebeu que eu o encarava, levantou uma sobrancelha, quase como se dissesse sem palavras: não gostei disso. Eu sabia, no fundo, que a conversa que tentamos evitar no carro iria voltar com força total quando fôssemos para casa.
Eeeeeeeeh
Lembrem de comentar o que vocês acharam!
Obrigada pela paciência 🤣
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