☄️ DANIEL MACIEL - Parte 1

2735 palavras

Alguns não acreditam em Karma, mas eu acredito. Se Karma não existe, então qual a explicação de eu estar esperando dar meia noite num barzinho, para comemorar meu aniversário sozinha?

Não que eu tenha feito algo horrível. Mas às vezes as coisas voltam pra você numa velocidade diferente. Pode ser a consequência de um dia eu ter pego meu chef quando tava meio bêbada na festa da agência. Ou a vez em que eu dedurei pro namorado da minha amiga que ela tava traindo ele. Ou até mesmo a vez em que eu neguei uma moeda pro pedinte com cheiro de álcool, mesmo tendo alguma perdida na mochila, porque tava quase perdendo meu ônibus.

O karma existe. Se não fosse isso, qual o outro motivo de todos os meus cinco amigos estarem ocupados hoje?

Saio dos meus devaneios quando vejo alguém colocar gelo no meu copo.

— Eu vi seu gelo derreter — Fala o ruivo ao meu lado. Eu não fazia ideia de quanto tempo ele estava ali, mas se for verdade, seria mais de meia hora — E a bebida desce melhor gelada.

— Obrigada. — Sorri, encarando-o levemente.

Encaro o relógio e são 23:56. Eu aceitaria qualquer mínima companhia quando desse 00:00.

— Eu... Eu odeio ser intrometido, mas eu tô muito curioso pra saber o que você tá fazendo sozinha num bar quase meia noite — Ele se inclina casualmente para o balcão, encostando os dois cotovelos na superfície enquanto olha para mim.

Em outros dias eu daria um grande fora nele. Mas hoje eu realmente queria uma companhia, então eu só respirei fundo encarando minha caipirinha cheia de gelo e água e falei — Eu estou comemorando.

Não era bem a resposta que ele esperava, nem o tom de voz que ele esperava, já que eu consegui ver o sinal de confusão se formando em sua testa.

— E você? — Perguntei, antes que ele pudesse querer mais explicações.

— Eu estou levando um bolo — Dessa vez foi ele quem sorriu, um sorriso meio sem graça, mas sorriu.

— E veio tentar me cantar para não perder o look do date? — Solto tentando descontrair, mas vejo que o efeito que consegui foi deixá-lo vermelho. Deve ser horrível ser tão branco ao ponto da sua pele te denunciar, mas até que era fofo.

— Eu quis unir o útil ao agradável... mesmo que o útil tenha sido totalmente brochante — Falou e deduzi que o "útil" era estar sozinho num bar, mesmo marcando um date.

Escapei uma risada com seu comentário — Tudo bem...

Sou interrompida pelo meu próprio alarme, que eu mesma coloquei caso eu dormisse em cima do balcão antes da meia noite. A tela brilhava entre nós dois com um grande texto escrito "FELIZ ANIVERSÁRIO ALICE DO FUTURO".

— Você quem é a Alice? — Ele pergunta encarando o celular, enquanto eu desligava o alarme.

— Na mosca. — Falo recolhendo o celular — Parece que em termos de encontros brochantes, eu ganhei. — Tentei fazer piada, mas talvez ele tenha visto que eu não estava lidando bem com isso.

Eu nunca comemorei o aniversário sozinha. Mesmo que fosse com minha família, mas nunca sozinha. Era difícil morar em uma cidade nova, principalmente quando seus amigos te conhecem há menos de 5 meses. Eu sabia que eu não seria tão relevante, mas não sabia que seria para todos eles.

— Eu sinto muito — Ele fala, como se lesse minha mente — Mas se servir, eu aceito ser um convidado intruso na sua comemoração de aniversário... falida.

Escapo outra risada e encaro seus olhos. Ergo a bebida em sua direção.

— Aos planos frustrados.

Ele sorriu e ergueu a própria bebida como se estivesse pronto para brindar comigo. Havia algo nele que me confortava; talvez fosse o fato de que ele, assim como eu, estava tentando fazer o melhor de uma noite que não saiu como o esperado.

— Aos planos frustrados. — Ele repetiu antes de tomar um gole.

Tomamos juntos, em silêncio, e eu senti um leve calor subir pelo meu corpo. Não sei se era a bebida ou o alívio de não estar mais sozinha, mas de repente, o bar parecia um pouco menos vazio, um pouco mais... suportável.

— Então, Alice do futuro — Ele disse, inclinando-se um pouco mais na minha direção com uma expressão curiosa. — O que você tinha planejado para essa noite? Além de esperar a meia-noite em um bar com uma caipirinha cheia de gelo derretido, claro.

Suspirei, brincando com o canudo da minha bebida.

— Sabe, eu esperava algo bem básico, tipo um jantar com amigos, algumas risadas, um bolo — Ri ironicamente ao dizer isso. — Nada muito exigente. Mas, aparentemente, todos estão ocupados ou esqueceram.

Ele acenou, e percebi que estava realmente ouvindo, sem aquele ar de alguém que finge interesse para ganhar pontos. Isso me desarmou um pouco.

— E você? — Perguntei, devolvendo a curiosidade, tentando não transparecer que eu estava comovida pela atenção que ele estava me dando. — Como foi levar um bolo? Ela pelo menos tinha uma desculpa boa?

Ele riu, um som leve e genuíno.

— Ah, ela me mandou uma mensagem cinco minutos depois que cheguei dizendo que 'não estava no clima'. O que é meio justo, eu acho, mas, sinceramente, poderia ter dito antes de eu chegar até aqui. — Ele deu de ombros e tomou mais um gole. — Mas aí você apareceu e a noite começou a melhorar.

Eu sorri, sentindo-me corar um pouco. Havia algo no jeito casual e honesto com que ele falava que me fez relaxar. Talvez o Karma tivesse decidido aliviar um pouco, com pena de mim.

— Injusto você me elogiar assim e eu sequer saber seu nome.

Ele sorriu, olhando para a bebida e em seguida ergueu o olhar até mim e sua mão para um cumprimento — Eu me chamo Maciel.

Maciel. O nome combinava com ele, simples, mas com uma presença marcante. Sorri de volta, sentindo uma pontada de curiosidade sobre quem ele realmente era, eu queria rir mais com ele, conversar mais.

— Prazer, Maciel. — Apertei levemente sua mão estendida, o toque quente e firme, e brinquei: — Acho que você acabou de salvar meu aniversário.

Ele soltou uma risada suave, como se estivesse levemente envergonhado pela formalidade, e balançou a cabeça.

— Não sei se salvar é a palavra certa... Mas se for, então você acabou de salvar meu quase encontro.

Havia uma naturalidade nas nossas interações que eu não costumava ter com estranhos. Geralmente, eu era desconfiada, mantinha distância, mas ali, com Maciel, tudo parecia fluído, sem pressão. Talvez fosse a bebida, talvez a solidão da noite, ou quem sabe uma combinação dos dois. Mas eu gostava disso.

— É uma das minhas habilidades secretas, eu acho. — Falei com um sorriso que foi retribuído.

— Posso saber o que você faz da vida? — Ele perguntou, inclinando-se levemente para me ouvir melhor, com aquele olhar atento que me fazia sentir vista.

— Publicidade. Trabalho em uma agência aqui perto, acabei de começar. — Expliquei. — O que basicamente significa que passo metade do meu tempo tentando ser criativa e a outra metade em reuniões que poderiam ser e-mails.

Ele riu, e eu me peguei sorrindo mais uma vez. Havia algo contagiante na sua risada, uma leveza que eu não sabia que estava precisando.

— Entendo bem essa rotina — disse ele, inclinando a cabeça. — Trabalho com... Comunicação. Meio que faço alguns vídeos em dois canais no Youtube. Em um eu falo de esportes e em outro é só entretenimento, mesmo.

— Ah, é? — Perguntei, com curiosidade genuína. — Então você é famoso no YouTube? Já deveria ter percebido. Me desculpe, eu sou meio ruim de lembrar rostos... E pelo visto nomes também.

Maciel riu, dessa vez com uma pontada de timidez.

— Eu não diria famoso, mas tem uma galera que acompanha, sim. Acho que a palavra "relevante" seria mais realista — respondeu ele, brincando com a borda do copo. — Mas, para ser sincero, eu ainda não me acostumo com essa ideia de gente me reconhecendo na rua ou comentando sobre minha vida.

Eu balancei a cabeça, compreensiva. Era estranho pensar em alguém que parecia tão casual e descontraído como Maciel sendo seguido por milhares de pessoas online. Era como se o cara que estava sentado ao meu lado, com quem eu estava compartilhando histórias e risadas, tivesse uma vida completamente diferente fora dali. Isso o tornava ainda mais intrigante.

— Deve ser interessante... e meio surreal, né? — Perguntei. — Ter essa vida pública e, ao mesmo tempo, conseguir fazer coisas normais como levar um bolo num bar.

Ele soltou uma risada alta, dessa vez se divertindo mais com a situação.

— Já que a gente não tem muito a perder... E eu tô sendo o seu convidado VIP... Quer ser meu encontro de hoje? — Ele pergunta, meio tímido mas sem desviar os olhos dos meus.

Eu pisquei, surpresa pela pergunta direta. Não estava esperando por isso, mas ao mesmo tempo, havia algo genuíno na forma como ele disse, com aquele toque de timidez que o tornava irresistível.

— Seu encontro, hein? — Perguntei, tentando parecer ponderada, mas com um sorriso brincando nos lábios. — Isso quer dizer que vou precisar pagar a conta?

Ele riu, balançando a cabeça.

— Não, não. Sou um cavalheiro. A conta é minha. — Ele ergueu as mãos num gesto defensivo.

Levei a mão até a boca, tentando segurar o riso.

— Olha, essa caipirinha não foi a única coisa que eu bebi hoje...

Maciel sorriu, inclinando-se um pouco mais perto, com aquele olhar curioso e divertido.

— Então, além de uma caipirinha derretida, o que mais eu perdi antes de chegar aqui? — Ele perguntou, claramente interessado em saber mais sobre o que havia me levado até aquele momento da noite.

Eu dei de ombros, brincando com o canudo da bebida.

— Ah, nada muito empolgante... Só algumas taças de vinho  e umas doses de tequila. Digamos que eu estava tentando manter o espírito festivo do meu aniversário. — Sorri, lembrando das minhas tentativas frustradas de fazer a noite funcionar. — E, claro, na expectativa de que meus amigos aparecessem... Mas você sabe como é, quando você chega na tequila, significa que as coisas não estão indo como planejado.

— Ainda bem que eu levei um bolo... — Ele sorri, seu olhar cada vez mais hipnotizado em mim, mas antes de eu sentir qualquer gelo na barriga, ele continua — Quer sair daqui? Quer dizer, se vamos mudar os ares... Acho melhor irmos para um lugar sem memórias decepcionantes.

— Olha, se você não for cuidadoso, vou te promover de convidado VIP a herói da noite — brinquei, sorrindo sem jeito e noto que ele gostou de provocar esse sentimento em mim.

— Eu adoraria ser promovido a seu herói da noite — Respondeu sincero, me fazendo sentir algo no peito.

Ele chamou o barman e ofereceu pagar sua bebida e as minhas, antes de me oferecer sua mão. Eu hesitei por um momento, mas então coloquei minha mão na dele. O toque era firme e gentil, e eu senti uma onda de calor passar por mim. Tentei esconder um sorriso bobo que estava se formando nos meus lábios. O gesto dele era tão simples, mas tinha algo de encantador e confiável, como se ele realmente estivesse interessado em tornar a noite especial para mim.

Saímos do bar, e a brisa fresca da noite carioca nos envolveu assim que atravessamos a porta. O céu estava limpo, com estrelas brilhando acima e a lua iluminando o Rio de Janeiro de uma maneira que fazia a cidade parecer mágica. Maciel me guiou até o carro, abrindo a porta para mim com um gesto cavalheiresco. Entrei e me acomodei no banco, observando enquanto ele dava a volta para o lado do motorista.

— Onde vamos agora? — Perguntei, enquanto ele ligava o carro e começava a dirigir.

— Já viu a vista de Niterói à noite? — Perguntou, concentrado na estrada.

— Não, nunca tive a chance — respondi, curiosa. — Sempre ouvi falar que a vista é incrível, mas nunca tive a oportunidade de ver à noite.

Ele sorriu, claramente satisfeito com a resposta.

— Então você está prestes a ver uma das melhores vistas do Rio e de Niterói. A orla de Niterói tem um charme especial à noite — disse ele, dando uma olhada rápida para mim antes de focar novamente na estrada.

Ele inclinou-se um pouco mais para a frente, o tom da voz dele carregado de um charme sutil.

— Bem, você pode achar que eu sou um bom flertador, mas a verdade é que, desde o momento em que te vi no bar, não consegui tirar os olhos de você. — Ele sorriu, com um brilho suave nos olhos. — Eu não falei antes, mas você é a mulher mais linda já vi.

Senti um calor subir ao meu rosto, e sorri timidamente.

— Você está me deixando sem palavras, Maciel. — Respondi, tímida.

— Não estou tentando ser um galanteador, só sendo honesto. — Ele olhava para a estrada, mas o sorriso brincava em seus lábios — E se eu tiver a sorte de terminar a noite com um beijo seu, acho que a vista de Niterói só vai parecer ainda mais especial.

O carro desacelerou à medida que ele se aproximava do local onde planejava parar. A vista de Niterói começava a se revelar ao longe, com as luzes cintilando como estrelas na terra. Maciel estacionou o carro em um ponto estratégico que oferecia uma vista panorâmica da orla.

— Chegamos — ele anunciou, com um tom de satisfação.

Ele saiu do carro e foi até o lado do passageiro para abrir a porta para mim. A gentileza no gesto me fez sentir um calor no peito. Saí do carro e segui com ele até a borda do mirante, onde a vista era ainda mais espetacular de perto.

— É realmente deslumbrante — falei, olhando para o panorama.

— Eu só espero que a noite tenha sido tão especial para você quanto foi para mim — ele disse suavemente.

Eu o olhei, sentindo meu coração acelerar com suas palavras. A forma como ele estava falando era sincera.

— Voce é um anjo ou uma coisa do tipo? — Pergunto, fazendo-o gargalhar.

Maciel riu, um som leve e contagiante que fez o ambiente ao nosso redor parecer ainda mais acolhedor. Ele olhou para mim com um brilho divertido nos olhos.

— Não, nada de anjos por aqui. Só um cara que está tendo uma noite incrível com uma mulher realmente encantadora — ele respondeu, o sorriso ainda presente em seu rosto.

Eu ri junto, a atmosfera descontraída e a brincadeira leve fazendo meu coração bater mais rápido. A maneira como ele falava, com uma mistura de charme e sinceridade, me fazia sentir à vontade e especial ao mesmo tempo.

— Bem, se você não é um anjo... Entao acho que tudo bem eu beijar voce, né?

Maciel olhou para mim com um sorriso largo e os olhos brilhando com um misto de surpresa e satisfação. O ambiente ao nosso redor parecia estar em sintonia com o clima que se formava entre nós, tornando o momento ainda mais mágico.

— Acho que não haveria nada mais perfeito — ele respondeu, a voz carregada de um tom suave e envolvente.

Ele se aproximou lentamente, a intensidade do olhar dele aumentando conforme o espaço entre nós diminuía. A brisa leve da noite parecia brincar com nossos cabelos e envolver o momento em um toque de romance. Com um sorriso tímido e um brilho de expectativa nos olhos, deixei que o momento nos envolvesse. Nossos lábios se encontraram em um beijo suave e carinhoso. A boca macia de Maciel com certeza foi a melhor coisa que experimentei hoje, vindo daquele bar.

Quando nos afastamos, o sorriso de Maciel era um reflexo do quanto ele estava encantado com o que acabara de acontecer.

— Ainda bem que eu levei um bolo — ele repetiu, o sorriso dele agora um pouco mais suave, mas ainda cheio de encanto.

Eu ri, mas eu concordava. Ainda bem que a outra menina não quis sair com Maciel, ainda bem que meus amigos não quiseram comemorar meu aniversário...

— Sim, sem dúvida, foi o melhor presente que você poderia ter trazido — respondi, ainda com um sorriso nos lábios.

Ele deu um passo à frente, envolvendo-me em um abraço carinhoso. E teria sido perfeito, se eu não tivesse ido para casa horas depois e ter percebido que sequer trocamos números de telefone ou algo do tipo. E ainda estava meu Karma brincando comigo mais uma vez, porque eu definitivamente não merecia ver Maciel uma outra vez.

Foi difícil porque não sei se captei muito a essência dele, mas para mim ele seria totalmente fofo e carinhoso.

Espero que tenham gostado, mesmo assim. ❤️

Pedido de: Grazieli070

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top