🍺 CHICO MOEDAS
A festa era um borrão ao fundo, abafada pelas paredes do banheiro. Luzes dançavam do lado de fora, música pulsava, mas nada disso parecia importante enquanto os lábios de Chico desciam pelo meu maxilar, provocando uma faísca a cada centímetro que ele tocava. Faz dois meses que terminei com ele, dois meses jurando a mim mesma que não cederia a tentação. Mas agora, com suas mãos explorando meu corpo como se quisesse lembrar cada detalhe, todas essas promessas parecem distantes, quase infantis.
A pressão dos dedos dele na minha cintura, a forma como ele conhece exatamente os pontos que me arrancam suspiros involuntários, tudo isso me fazia esquecer as brigas, as desculpas, o motivo do término. A química entre nós sempre foi intensa, como uma tempestade pronta para explodir a qualquer momento, e estar assim, tão perto dele de novo, era um vício ao qual eu sabia que não deveria sucumbir.
— Volta comigo...? — Ele sussurra contra a pele do meu pescoço, a voz baixa e macia, carregada com uma doçura quase desesperada.
Deixo uma risada escorregar, algo entre diversão e incredulidade. — Nem inventa, Chico.
— Ah, qual é... — Ele afasta o rosto, mas ainda me encara, sorrindo, aquele sorriso descompromissado que sempre me tirava do sério — Vai me dizer que isso não lembrou os velhos tempos?
A voz de Chico soava como uma provocação doce, e seus lábios ainda estavam próximos o suficiente para que eu sentisse sua respiração quente na pele. Ele me conhecia o suficiente para entender como usar exatamente a combinação certa de nostalgia e desejo para me fazer hesitar.
— Velhos tempos? — Arqueei uma sobrancelha, mantendo o tom irônico enquanto tentava ignorar o calor subindo pelas minhas bochechas. — Foi só um beijo, Chico. Você acha que isso apaga tudo que aconteceu?
Ele deslizou a mão pela curva da minha cintura e subiu devagar, os dedos traçando um caminho ardente que fazia minha pele se acender com o toque. Aquele movimento era tão familiar quanto o caminho de casa. A ponta de seus dedos deslizou até minhas costas, e senti como se cada nervo do meu corpo tivesse acendido.
— Camille, para de brigar com o que a gente sente — ele sussurrou, inclinando-se de novo, os olhos mergulhados nos meus. — Você não sente falta disso? Da gente? A química que a gente tem...
Fecho os olhos por um segundo, tentando respirar fundo, mas ao fazer isso, sinto seu perfume e cada parte de mim quer ceder, quer jogar todo o orgulho pela janela. Em vez disso, afasto meu rosto um pouco, forçando um sorriso enquanto contenho o tremor na voz.
Ele me estudava com aquele olhar intenso, cheio de uma confiança que me irritava e me atraía na mesma medida.
— Nem se eu me odiasse muito, Francisco.
Ele riu, um som grave e baixo que reverberou no pequeno espaço, preenchendo o silêncio que eu tentava desesperadamente sustentar. A risada tinha aquele tom perigoso, suave, que sempre me fizera esquecer o que era certo e errado. Ele se aproximou um pouco mais, sua respiração quente no meu rosto, como se quisesse quebrar minha última barreira de resistência.
— Você me olha desse jeito e depois quer me convencer de que não sente nada? — Ele murmurou, seus lábios tão próximos que quase roçavam os meus, desafiando o autocontrole que eu ainda tentava manter. — Não mente pra mim.
— Tô bêbada o suficiente pra te beijar aqui, mas sóbria o suficiente pra não voltar com você.
A resposta saiu firme, mas eu sabia que ele percebia o leve tremor na minha voz. Ele sorriu, os olhos escuros brilhando como se estivesse se divertindo com a resistência que eu ainda tentava fingir.
Ele me encarava com aquele olhar carregado de autoconfiança, desafiador e cínico, como se estivesse convencido de que, no fundo, eu já tinha me rendido a ele. Era um jogo que Chico sabia jogar muito bem — testar meus limites, me puxar até o ponto onde minhas palavras se perdiam e apenas o desejo restava. Mas eu não era mais a garota que se deixava levar tão facilmente, ou pelo menos era o que eu tentava me convencer enquanto cruzava os braços, sustentando seu olhar.
— Se eu estivesse sóbria, provavelmente nem estaria aqui no banheiro com você — murmuro, me aproximando um pouco, mantendo meu rosto a poucos centímetros do dele. Minha voz soa firme, mas há uma nota de ironia nela, tentando esconder o arrepio que subia pela minha coluna. — E estaria te lembrando de todas as vezes que você me deixou esperando, de todas as promessas quebradas e... — A provocação na minha voz é clara, e noto que ele percebe o desafio.
Antes que eu termine, sinto suas mãos deslizarem até a minha cintura de novo, puxando-me para mais perto, como se estivesse me prendendo naquele pequeno espaço entre nossos corpos. Seu toque era firme, possessivo, e o jeito como ele se movia deixava claro que não planejava me soltar tão cedo.
— Mas você não tá sóbria, né? — Ele sussurra, a voz baixa e carregada, enquanto aproxima o rosto do meu pescoço, sua respiração quente contra minha pele. Eu sabia que ele fazia de propósito, que estava jogando com o meu autocontrole, desafinando a última linha que eu ainda tentava manter. — Tá aqui, comigo. Porque sabe que a gente tem uma coisa, uma química que você não encontra em mais ninguém. Porra, foram dois anos... E mesmo que você diga que passou esses dois meses de boa, sua atitude de agora prova o contrário.
A provocação era calculada, cada palavra escolhida como um golpe preciso para tentar me desarmar. Ele sabia onde tocar, onde cutucar, e o pior é que ele estava certo. Dois anos juntos tinham criado uma intimidade perigosa, uma faísca que eu mesma tentava negar, mas que estava longe de estar extinta. Sinto o arrepio percorrer minha espinha, uma resposta involuntária que meu corpo parece dar ao toque dele, mas eu seguro firme, determinada a não deixar que ele veja o quanto ainda me afeta.
Solto uma risada baixa, debochada, forçando um sorriso que esconde a turbulência dentro de mim enquanto afasto seu corpo do meu com um pouco mais de força.
— Química não paga as contas, Chico.
Ele inclinou a cabeça, os olhos faiscando com aquele sorriso insolente, como se minha resistência apenas o deixasse mais determinado. Era como se ele estivesse se alimentando do desafio, da tensão entre nós, e a cada palavra que eu dizia para afastá-lo, ele se aproximava mais.
— Engraçado, você dizia outra coisa quando estávamos juntos — ele rebate, cruzando os braços e me observando como se pudesse enxergar através de qualquer fachada que eu estivesse tentando manter. — Você achava que só a gente, que só isso bastava, lembra?
A resposta afiada corta o ar entre nós como uma lâmina afundando lentamente, e por um instante, vejo algo mais profundo cruzar o rosto de Chico — uma sombra de arrependimento, talvez, ou quem sabe culpa. Mas ele rapidamente cobre tudo isso com o sorriso descompromissado, aquele que ele usa como armadura, preferindo o sarcasmo à vulnerabilidade.
— Ah, você ainda tá pensando naquela vez no bar? Já te disse que não foi nada — ele retruca, a voz soando casual, como se esperasse que eu me contentasse com uma desculpa qualquer.
— Nada? — Minha voz sai carregada de incredulidade e, antes de perceber, o calor que eu tentava esconder nos gestos e olhares agora se converte em raiva, em uma decepção que me acende por dentro. Dou um passo para trás, aumentando a distância entre nós, tentando manter o controle que me escapava como areia entre os dedos. — Você mentiu pra mim, Chico. E agora quer fingir que isso não importa?
Respiro fundo, tentando recompor as emoções, mas a dor ainda está ali, em cada sílaba, e ele sente. Tento reaver alguma dignidade antes de sair pela porta, forçando um sorriso frio.
— Olha, foi divertido. Obrigada pelo beijo e pela nostalgia. Agora, preciso voltar pra festa com nossos amigos e fingir que tive... sei lá, uma dor de barriga. Pensarem nisso me daria menos vergonha do que ser vista com você de novo.
Ele solta uma risada baixa e amarga, aquela risada cínica que ele usa quando quer se defender, e o som reverbera entre as paredes do banheiro, carregado de um ciúme que ele tenta disfarçar.
— Tudo bem, vai lá. Aquele cara te encarando a noite toda deve estar esperando você acabar comigo aqui — ele solta, a voz mais rouca, mais sombria, o sarcasmo escondendo o que ele realmente sente.
Ignoro o comentário e dou mais um passo em direção à porta, mas antes que eu possa sair, sinto a pressão de sua mão segurando meu braço. Seu toque é quente, firme, mas, por algum motivo, a força dele agora parece hesitante, como se estivesse me pedindo alguma coisa.
— Não beija ele... pelo menos não comigo aqui. Por favor...
Sua voz sai quase num sussurro, um pedido embutido em uma súplica disfarçada, e sinto o peso de suas palavras. Algo em mim se desfaz por dentro, mas me forço a manter o tom seco.
— Ele quem?
Chico solta um suspiro frustrado, como se não acreditasse que eu realmente não tivesse notado. Seus olhos se estreitam, a mão ainda no meu braço, o olhar percorrendo o rosto, tentando decifrar se estou apenas fingindo.
— Sério que você não viu o maluco te secando a noite inteira? — ele pergunta, o tom irritado misturado com uma pitada de ciume mal disfarçado. — O meio loiro, perto da janela.
— Caralho, Chico. Não vi ninguém. — Digo, já irritada. — E, de qualquer forma, a gente não é nada... — O final da frase sai mais baixo, quase um murmúrio triste, e não era bem isso que eu queria que ele ouvisse.
Ele solta meu braço lentamente, seus dedos deslizando pela minha pele como se relutasse em me deixar ir, e seus olhos permanecem fixos nos meus, com uma intensidade que me faz estremecer. O som abafado da festa, a música e as vozes ao fundo parecem desaparecer, e por um segundo, só existe o silêncio entre nós.
— A gente já foi — ele responde, a voz baixa, como se estivesse confessando para si mesmo, mais do que para mim.
Eu sabia que ele tentava manter o tom descompromissado, mas agora eu via o que ele estava escondendo: a verdade que ele nunca me contou, nem a si mesmo. Esse era o problema com Chico — ele não sabia ser honesto, nem consigo mesmo. Ele era a soma de todas as promessas quebradas e todas as verdades ocultas.
— Antes de você destruir tudo — completo, a voz firme, mas os olhos começando a se encher de algo que eu não queria demonstrar. Ele entende, e pela primeira vez, parece verdadeiramente arrependido, mas é tarde demais.
— Sinto muito, de verdade — ele murmura, o tom sincero, mas já não me comove.
— Eu odeio você — digo, e cada palavra carrega o peso da mágoa que eu guardava. — Você é possessivo, tóxico, idiota, babaca, cretino... filho de uma...
Antes que eu termine, ele me interrompe com um sorriso triste, aquele meio sorriso que sempre me deixava desarmada, mas que agora me parece só um eco de algo que um dia foi.
— Pode me xingar o quanto quiser, mas deixa minha mãe fora disso.
Por um momento, nossos olhares se encontram, e eu vejo nos olhos dele uma tristeza que quase me faz ceder. Quase. Porque sei que ceder significaria abrir espaço para mais uma rodada do mesmo jogo, para mais desculpas e mentiras. E já passei por isso antes.
— Eu sei que você está brava. E eu entendo, eu mereço toda a raiva que você tem. Mas o que aconteceu entre nós... Porra, Camille, aquilo foi real. Eu ainda te amo pra caralho — ele diz, o tom de sua voz carregado de um desespero que, por um momento, me faz hesitar, como se o peso das palavras fosse sincero. A frustração e a dor de tudo o que aconteceu estão ali, pulsando entre nós.
— Isso não é justo — respondo, minha voz agora mais suave, mas ainda marcada pela emoção crua que pulsa dentro de mim. Cada palavra pesa mais do que deveria. — Você não pode simplesmente aparecer e dizer isso. Você mentiu pra mim sem culpa nenhuma. Sumiu por dois meses e agora... agora chega e quer que eu acredite que tudo isso é real? Você chegou a essa conclusão porque me viu hoje? Ou foi só porque me beijou?
Ele parece não saber como responder de imediato, o olhar fixo nos meus, tentando me entender, tentando se fazer entender. O silêncio entre nós se arrasta, e eu me sinto consumida pela dúvida e pela raiva.
— Porra. Claro que não — ele diz, a voz rouca, frustrada. — Eu liguei igual maluco pra você, mas sequer chamava. — Ele parece se perder nos próprios pensamentos, lembrando o quão patético foi, como se as palavras não fossem suficientes. — Eu só... não consigo te esquecer, Camille.
Sinto o peso de suas palavras, e o desespero em sua voz só torna tudo mais confuso. Ele parece estar tentando se expressar, mas a dor que transparece em cada frase faz com que eu me sinta ainda mais perdida. Não sei se quero ouvir aquilo, se devo dar espaço para que ele fale mais, ou se devo simplesmente virar as costas e seguir em frente.
— E o que eu faço com isso, Chico? — Pergunto, a voz tremendo um pouco, meus olhos queimando com a dor não resolvida. — Eu não posso simplesmente ignorar o que aconteceu. Você sabe o que é receber uma foto da sua namorada dançando com alguém no bar, enquanto você achava que ela estava em casa cuidando da mãe doente? Porra... — Não consigo evitar que uma lágrima quente escorra pelo meu rosto, traindo o orgulho que eu tanto tentei manter intacto. Já fazia meses que eu não chorava, e aqui estou, deixando que ele me veja assim, vulnerável, em uma fraqueza que eu queria esconder a todo custo.
Chico observa a lágrima que escorre pelo meu rosto com uma expressão que mistura dor e arrependimento. Seus olhos, normalmente cheios de confiança, agora estão fracos, quase quebrados. Ele parece perceber o peso de tudo o que disse, e o silêncio entre nós fica ainda mais pesado. O barulho da festa lá fora já não existe mais, e só o som de nossas respirações apressadas ecoa entre as quatro paredes.
Ele dá um passo em direção a mim, como se finalmente quisesse me tocar, me consolar, mas seu gesto é hesitante, quase cauteloso. Seus olhos se suavizam de uma forma que eu não via há muito tempo, e isso faz com que meu peito se aperte. Ele parece genuinamente abalado, mais do que eu poderia ter imaginado.
— Camille, eu não sabia que tinha te machucado tanto assim — ele diz, a voz rouca, cheia de tristeza, a culpa evidente em seus olhos. Ele nunca tinha se mostrado tão vulnerável antes, e isso me pega de surpresa. — Eu fui um idiota, e eu vejo isso agora. Eu devia ter sido mais honesto, mais presente. Eu tinha medo de você ir embora e...
— Quando foi, Chico? — Minha pergunta sai cortante, uma lâmina que corta o ar entre nós. Eu o encaro, o olhar fixo, querendo entender, querendo que ele me diga a verdade. — Quando foi que eu deixei de ser suficiente pra você?
Ele para por um segundo, os olhos arregalados, como se a pergunta o tivesse pegado de surpresa. Eu posso ver a luta interna dele, o desejo de me responder de forma que pudesse me agradar, mas ao mesmo tempo a dúvida sobre como ser honesto sem se expor completamente. Ele leva as mãos ao meu rosto, num gesto de afeto, mas eu rapidamente afasto seu toque, sentindo um nó apertar na minha garganta.
— Nunca, meu amor. Você nunca... — ele começa, mas para abruptamente, os olhos arregalados ao me ver apertar os olhos e retirar suas mãos de mim.
O som de "meu amor" é como um golpe. Não é o que eu queria ouvir. Beijá-lo não doía nada, mas ouvi-lo me chamar assim, agora, depois de tudo o que aconteceu, é como colocar o dedo diretamente em uma ferida que nunca cicatrizou. A dor que ele me causou ainda está fresca, ainda está ali, viva.
Chico recua lentamente, seus olhos se fixando em mim com uma mistura de compreensão e arrependimento. Ele parece entender a gravidade do que disse, a reação que causou. E, apesar de toda a sua dor, ele respeita o espaço que criei entre nós, o vazio que ele mesmo construiu.
— Não me chame assim — minha voz sai trêmula, mas firme. — Não agora. Não depois de tudo que aconteceu.
Chico parece tentar encontrar as palavras certas, mas fica em silêncio por um momento, a expressão no seu rosto refletindo uma mistura de frustração e arrependimento. O peso do que foi dito, do que não foi dito, paira no ar entre nós, e ele parece se perder na tentativa de encontrar uma resposta que, talvez, nem ele soubesse mais qual seria.
— Eu só... — ele começa, a voz falhando no ar, a fragilidade surgindo onde antes havia confiança. Ele dá um passo para trás, os ombros caindo, como se estivesse tentando recompor tudo o que se quebrou em um piscar de olhos.
— Podia ter sido uma pegação sem intenção nenhuma, mas você tinha que abrir a boca, né? — Eu falo, jogando a cabeça para trás, rindo de forma amarga. Cada palavra sai com um peso que só eu consigo sentir. — Esquece, Chico.
As palavras se espalham no ar, pesadas e cortantes, e vejo o reflexo delas no rosto dele. Por um segundo, tudo o que ele tinha tentado construir, todo o esforço em se redimir, parece desmoronar novamente.
Sem esperar mais, sem dar espaço para o que ele pudesse dizer, saio do banheiro. O som abafado da festa do lado de fora me envolve novamente, mas não consigo me desvencilhar da sensação de vazio que agora ocupa meu peito. Deixo Chico ali, sozinho, com os próprios pensamentos, e continuo meu caminho, sabendo que, talvez, ele nunca compreenda o que acabou de perder.
Eu sei que eu prometi o Maciel e tô entregando um Chico Veiga, mas esse já tava salvo nos rascunhos, passem pano pra mim dessa vez.
Eu vou entregar o que prometi, n me cancelem!
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