Victoria: Parte II

Um tanto quanto tarde demais, os seguranças da guarda real alcançaram a repórter inoportuna, e os outros que a acompanhavam, e enxotaram todos dali.

Mas agora já não adiantava mais. Agora Victoria entendia o que estava errado: as várias mãos estendidas segurando telas que exibiam sua nudez. Haviam até algumas fotos impressas voando ao vento.

Agora ela conseguia visualizar o que todas aquelas imagens borradas mostravam, e fazia sentido ao que todas aquelas vozes desconexas diziam. Todas aquelas pessoas haviam adentrado sua intimidade de uma forma inadmissível.

Ela estava atônita, sem reação. Só queria acordar no meio da madrugada e constatar que aquilo tudo tinha sido um sonho, mas não era. Por quê? Por que isso estava acontecendo? E bem no dia do seu casamento?

Como essa foto tinha ido parar nas mãos das pessoas? Ninguém, ninguém mesmo, sabia da existência dela! Ninguém tinha acesso aos seus dispositivos eletrônicos!

Ou tinha? Mas... Como podiam? A segurança da família real era a coisa mais importante do mundo, literalmente.

O estômago dela revirou, e teve certeza de que iria vomitar ali mesmo, sobre o vestido mais caro de todos os tempos, e isso nem seria a pior coisa a acontecer naquele dia. Ou em sua vida inteira!

Alguns seguranças se aproximaram dela, com uma espécie de fone de ouvido e ternos pretos.

- Hora de ir, Vossa Alteza. Nosso limite de horário já está pra lá de estourado. - Um deles disse, e todos começaram a marchar para a porta da igreja, empurrando-a junto. Victoria estava paralisada, agia mecanicamente.

O grupo chegou até a porta descomunal da igreja. Um dos seguranças cochichou algo para seu fone, e a marcha nupcial ressoou no salão lá dentro.

As portas duplas se abriram, e mais de seis centenas de pessoas se puseram de pé, e encararam o rosto da princesa com expressões que, ela poderia jurar, eram de decepção e repulsa. Como uma princesa poderia ser assim tão vulgar?

Victoria viu seu noivo, o duque George, vindo de um pequeno corredor lateral até o altar, acompanhado de seu irmão mais novo, para se posicionar diante do ministro que celebraria a união eterna dos dois. Ambos estavam fardados, e o peito de George coberto de medalhas.

Por impulso, Victoria começou a caminhar para frente, vacilante. Ela sentia o choro subir por sua garganta.

Caminhou, e caminhou, sozinha, por um corredor que parecia não ter fim. Não estava nem em um terço dele, e já podia ver as pessoas se inclinando para sussurrar no ouvido umas das outras.

Já podia enxergar os sorrisos de deboche atravessados. George olhou para ela à distância, e, mesmo ele, parecia sentir-se enojado.

- Quer saber - Victoria disse, para si mesma. - Que se foda.

Virou-se, e saiu correndo igreja à fora, o mais rápido que conseguia com todas aquelas camadas de tecido e tule. Algumas pessoas da equipe técnica fizeram menção de se levantar para ir atrás dela, mas, como poderiam? Ela era a princesa, oras! Na ausência da rainha e de seu irmão, a autoridade suprema daquele lugar.

Antes que o desastre pudesse ser evitado, Victoria já tinha se desvencilhado de qualquer pessoa que cruzasse seu caminho, e entrado no mesmo carro em que veio, ordenando ao motorista para dirigir de volta ao palácio.

Na viagem de volta, arrancou bruscamente o véu e a tiara da cabeça, e jogou os dois numa bola na extremidade oposta do carro. Fechou a divisória entre ela e o motorista, e caiu no choro mais desolado de sua vida.

Tinha sido humilhada diante do mundo inteiro. Sua foto provavelmente circulava a internet até nos países mais remotos. As centenas de câmeras de televisão de diversas emissoras diferentes, que estavam preparadas para registrar o momento mais especial do país nos últimos trinta anos, gravaram apenas sua fuga estúpida e degradante.

Quando chegou no palácio, quis correr direto para o seu quarto, trancar a porta e não sair de lá nunca mais. Mas sua mãe, a rainha Lisandra, e mais uma equipe enorme de técnicos em informática estavam tendo uma discussão acalorada no lobby.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top