∞ PRÓLOGO - O DESPERTAR
No século 21, a humanidade começou a colonizar o espaço, expandindo o mundo em que vivem, bem como a própria vida.
Edo City, Terra, 2380.
"ELE ESTÁ ACORDANDO! RÁPIDO! PRECISO DE AJUDA!"
Um jovem cientista gritou quando um par de olhos negros com pupilas douradas se abriu no tanque cilíndrico preenchido até o topo com gel flutuante e focou nos seus próprios olhos. Só durou um breve segundo, mas aquele mísero momento foi suficiente para enchê-lo de terror.
O espécime no tanque tentou dizer algo, mas além de estar aprisionado num local impenetrável e inquebrável, um tubo estava preso em sua garganta.
Dois colegas de trabalho adentraram o cômodo, um deles com uma expressão neutra em sua face. Naquele momento, a cobaia trouxe o braço para trás para ganhar impulso antes de socar o vidro do tanque que o aprisionara pelos últimos... bem, pelos últimos séculos.
"Que porra é essa?" Akon gritou, voltando-se para a mulher de cabelos escuros e expressão sóbria que parava, impassível, ao seu lado. "Como ele conseguiu fazer isso?"
O primeiro cientista exclamou — gritou, na verdade — enquanto seu ser era preenchido com uma adrenalina e medo sem iguais. A mulher se aproximou do tanque e posicionou a mão no vidro, exatamente sobre o local em que a cobaia havia acabado de esmurrar. Um dos olhos dela — o biônico — escaneou o espécime com interesse. Sem desviar a atenção do tanque, ela disse ao cientista aterrorizado, "Chame o Mayuri-sama". E para seu companheiro, adicionou, "Busque o sedativo. A cobaia 777 não deveria acordar neste século".
Rin, que estava apenas checando os sinais vitais das diversas cobaias na sala, concordou com a cabeça, enquanto murmurava para si mesmo, "Eu não fiz nada. Eu juro que não fiz nada. Essa... Essa coisa acordou sozinha!"
Seus murmúrios ficaram sem resposta. Logo, o cientista chefe, um homem de aparência exótica e modificações tecnológicas no mínimo interessantes, adentrou a sala. Com ambos os braços cruzados na altura do peito, ele assoviou.
O brilho em seus olhos biônicos denunciava o quão instigante ele achava toda a situação.
"Mayuri-sama!" A sub-chefe dos cientistas exclamou, virando-se para cumprimentá-lo com uma mesura exagerada. "Eu sei que o Senhor pediu para não ser incomodado hoje, mas—"
Ele apenas levantou uma mão para silenciá-la. Tinha pouco tempo para perder com cortesias insignificantes. A cena que se desenrolava à sua frente, essa sim, merecia sua completa atenção.
Ao mesmo tempo, as portas se abriram com um som extremamente alto para o ambiente e um grupo de jovens cientistas trajando equipamentos de proteção entraram. Ele se afastou, deixando espaço suficiente para que seus subordinados se preparassem — ou tentassem se preparar.
O espécime tentou pegar impulso com o braço mais uma vez e quando seu punho colidiu com o vidro, o tanque finalmente se quebrou. A princípio, só uma rachadura apareceu na superfície transparente — teoricamente, era impossível que alguém, de fato, conseguisse quebrar o tanque —, mas quando os segundos se passaram e todo mundo encarou a cena em terror, choque e confusão absolutos, o vidro se espatifou em bilhões de pedacinhos. Com ele, o gel flutuante explodiu no cômodo todo, encharcando cada pessoa ali presente.
Saindo do tanque, o espécime passou a mão sobre sua face, limpando o gel de seus olhos pretos com pupilas douradas o máximo que podia, antes de arrancar com toda sua força o tubo que ainda estava preso no fundo de sua garganta. O tubo saiu com manchas de sangue. Mas a criatura — certamente não um humano, certamente não um alienígena; algo tão antigo que não mais tinha um lugar nessa nova realidade e certamente não na Terra do século 24 — não pareceu se importar.
Ela também não parecia se importar com sua nudez. Como seu corpo inteiro estava em exibição para os outros. Apesar de sua espécie — shinigami, vizards e hollows haviam sido extintos há quase meio milênio —, sua forma era completamente humanoide: havia uma face com olhos — mesmo que o brilho presente neles fosse aterrorizante —, um par de orelhas, um nariz e uma boca — com presas afiadas que poderiam rasgar a carne de qualquer um naquele cômodo. O corpo era de um macho atlético, com listras pretas a decorar os ombros largos e o peitoral musculoso e que certamente não pareciam humanas. Ainda que não houvesse dúvidas sobre a natureza da coisa... da coisa que balançava entre suas pernas.
Bem... ninguém queria disputar se o tamanho era agradável para humanos ou não.
Como se o choque houvesse se esvaído como um feitiço passageiro, todos subitamente se tocaram do que deveriam fazer e voltaram a agir num estado frenético. Akon retornou com o sedativo, mas parou quando o espécime o fitou.
Aqueles olhos pretos com pupilas douradas bastavam para fazer qualquer um congelar.
"Onde está Mashiro?"
Akon franziu as sobrancelhas.
Quem diabos era Mashiro?
Ele deveria saber quem era aquela pessoa? Outro da espécie que estava à sua frente, talvez? Se sim, esse espécime estava morto — fora aniquilado da Terra como todos como ele, com exceção dos outros seis que jaziam em tanques... que eles acreditavam ser indestrutíveis até alguns minutos atrás.
Akon conseguiu se afastar, mas o cientista ao seu lado foi muito lento. O espécime fechou uma mão forte ao redor de sua garganta e esmagou sua traqueia.
Ao mesmo tempo, todos correram em direção ao espécime. Agulhas em mão para fazê-lo dormir — se possível indefinidamente; por que precisavam manter um espécime de algo que havia sido declarado uma ameaça à existência de todos naquele planeta? Não era suficiente que mantivessem seis deles vivos em tanques? —, mas ele era muito forte.
Não.
Ele estava furioso.
Com a mão esquerda, ele socou o primeiro cientista que o encontrara. O impacto da colisão de seu punho com o corpo do cientista foi suficiente para quebrar alguns ossos — nada que uma nova capa não pudesse resolver, mas não deixava de ser doloroso, tampouco. Qualquer corpo podia ser substituído, desde que o cartucho cortical não fosse destruído. Ele conseguiu manter os cientistas distantes, enquanto perguntava a todos com uma voz rouca de um ser que não conversava há dias... em seu caso, séculos.
Cadê a Mashiro? O que vocês fizeram com ela?
Durante todo esse desenrolar de ações, seus dedos continuaram enterrados na garganta do cientista. Sangue brotava das marcas que suas garras fizeram, do nariz e dos lábios do humano que aquele... aquele demônio segurava em suas mãos.
Os olhos biônicos do cientista-chefe escanearam o corpo do espécime. Mesmo que parecesse poderoso e invencível, ele sabia melhor do que ninguém o quanto certas impressões são enganosas.
O espécime já estava absolutamente exausto quando atirou o corpo do cientista que o encontrara para longe.
Alguns cientistas se levantaram do chão — aqueles que não tinham tido seus ossos quebrados —, alguns dispostos a fazer o espécime pagar pelo que fizera, outros estavam tão amedrontados que não conseguiam sequer pensar em sair do lugar.
A subchefe dos cientistas levantou uma mão, indicando que todos eles deveriam parar onde estavam. Todos eram inteligentes o suficiente para saber que uma ordem de Nemu equivalia a uma ordem do próprio Capitão Kurotsuchi, mas alguns deles estavam muito aterrorizados — a adrenalina os fazia agir sem pensar, sem ouvir a uma ordem que tinha a intenção de salvaguardá-los.
"Eu não vou perguntar de novo." Os olhos dourados fitaram os olhos biônicos do cientista chefe, como se, finalmente, ele o reconhecesse. "Me diga onde a Mashiro está, Kurotsuchi Taichou."
O Cientista-chefe estendeu uma mão para sua subordinada, indicando que desejava uma das seringas com sedativo. Nemu prontamente depositou uma delas sobre sua palma e curvou a cabeça num gesto que ninguém saberia precisar se era respeito ou medo. De todos eles, ela era a que menos deveria temê-lo, afinal havia tantos clones à sua disposição quanto havia humanos naquele departamento.
Mayuri fechou os dedos ao redor da seringa e encarou o espécime à sua frente. Um sorriso, misto de uma profunda irritação — afinal ele havia pedido para não ser incomodado e todos sabiam o quanto ele odiava ser perturbado quando sua mente brilhante era bombardeada por novas ideias — e incandescente sadismo contorceu sua face tecnologicamente modificada.
"Saia da minha frente." Ele passou por ela, por pouco não a empurrando com o ombro, e parou diante do espécime, ajustando o embolo da seringa de forma displicente. "Parece que eu tenho que fazer tudo sozinho nessa Divisão."
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