Sentimentos Afiados
Os sentimentos são lindos como uma flor em um jardim
Ao mesmo tempo que podem ser tão cortantes quanto uma lâmina
Keith odiava os corredores escolares. Eram muito movimentados, com multiplos cheiros de perfumes incomodando seu nariz , com certeza, muito barulhentos. Se você estivesse se sentindo meio fora das novidades da escola, bastava ficar cinco minutos parado no corredor que você poderia descobrir até quem havia roubado o chiclete de tal pessoa. Fácil assim.
Entretanto, ele nunca se interessou por essas coisas e, para piorar, as conversas eram voltadas para o assunto que menos gostava: Allurance. Esse foi o nome que deram para o casal de Lance e Allura, o casal pop no momento. Imaginem só, o galã da Garrison namorando a presidente do grêmio estudantil? Claro que isso não passaria batido, até tinham criado um podcast de romance por causa daqueles dois, fala sério! Keith achava que isso eram coisas totalmente desnecessárias para sua já estressante vida escolar.
Mas, claro, ele também não gostava de ouvir aqueles cochichos nada discretos porque tinha plena consciência dos seus sentimentos voltados especialmente para Lance. Ele se odiava por isso todos os dias, se odiava por gostar do seu amigo, se odiava por desejar que ele e Allura se separassem, se odiava por odiar Allura em alguns momentos mesmo sendo amigo da garota, se odiava por não apoiar o namoro deles como todos faziam.
Keith sabia que era um lixo de amigo.
Como ele não podia fazer nada com seus sentimentos, ele os enterrou o mais profundo que pode dentro de sua mente, agindo como se eles nunca existissem. Isso, obviamente, não excluía o fato de que eles existiam, mas deixava tudo mais suportável.
Como medida protetiva para futuras fofocas, ele pegou seus fones e colocou uma música para tocar. Isso abafou o som das vozes, o som da fofoca.
Porém, sua doce e breve paz foi interrompida quando algum desmiolado retirou um dos seus fones. Ele estava pronto para xingar a pessoa de todas as coisas possíveis, mas quando ouviu aquela voz, sua raiva evaporou tão rapidamente quanto apareceu.
-O que você tá ouvindo, Mullet?
Ele olhou para Lance, sentindo o ar faltar em seus pulmões. O garoto estava focado em tentar reconhecer a banda ou a música e, por isso, não percebia o quão lindo ele ficava quando estava concentrado. Claro, Keith não seria a pessoa a lhe dizer isso, Lance já tinha um ego grande demais para qualquer outra pessoa viva nesse mundo.
-Eu não faço ideia de que música é essa.
-É "The Resistance", do Skillet.
Ele deixou o seu tom de voz neutro, sem revelar que aquela proximidade com o garoto fazia seu coração disparar. Era uma sorte e tanta Lance não poder ouvir seu coração estralar em seu peito.
-Eu nunca vou entender o seu gosto musical, cara. -Lance balançou a cabeça em negação, devolvendo o fone para Keith.
-Dizem que entender o gosto musical de alguém é quase enxergar a alma da pessoa. -Keith deu de ombros. -E você claramente ainda é tonto demais para entender a minha.
-Tonto é a sua bunda!
-Eu acho bom você deixar minha bunda fora de questão, ou terei que falar sobre a sua também.
-E o que você diria? Por acaso você andou olhando para a minha bunda esses dias, Mullet?
Merda. Merda. Merda!
Keith havia criado sua própria armadilha e agora toda sua pose de "cara indiferente e fechado para romances" foi para o chão. Seu cérebro entravam em pânico enquanto Lance o encarava zombeteiro.
-Como vocês tem ânimo para discutir às 07:00 da manhã?
Salvo pelo pidgeotto!
Pelo corredor se aproximavam todos os seus amigos: Pidge, Hunk, Matt, Romelle e...
Claro
Allura
-Minha princesa!
E claro que isso foi o suficiente para Lance esquecer de todo o mundo e correr para os braços da garota.
Keith soltou um pequeno sorriso, obviamente forçado, para a cena. Se conteve ao máximo para não deixar o seu desgosto evidente, pensando em todos os ensinamentos que Shiro lhe deu para controlar sua raiva e de Kolivan que o ensinou a esconder suas verdadeiras emoções.
Allura abriu seu sorriso, provando mais uma vez porque ela foi eleita rainha do baile três vezes seguida.
-Bom dia, Lance.
-Você chegou bem em casa?
-Você me acompanhou até em casa, Lance.
-Bem, chegou bem até sua cama?
-Cheguei, sem nenhum tropeço, obrigada.
E eles se encararam com amor, o que fez o estômago de Keith se embrulhar.
-Vocês dois são tão melosos que me deixam enjoada. -Pidge comenta.
-Ah, deixa eles, Pidge! -Hunk defende. -Eles estão curtindo a lua de mel.
-Eles estão nessa há dois anos já, você e a Shay que estão nessa fase.
-Verdade, meu amigão está tão crescido! -Lance brincou. -Quem diria que finalmente teve coragem para chamar a Shay para sair, hein?
-Ah cala boca, Lance! Você e a Allura demoraram quatro anos para terem o primeiro encontro. -Romelle defendeu o amigo.
-É porque não era o momento! -Ele se defendeu.
-Você não pediu conselhos para o Keith sobre isso? -Matt lembrou.
Se Keith pudesse amaldiçoar alguém, esse alguém agora seria Matt. Ele estava indo tão bem sendo excluído da conversa! Odiava lembrar o dia em que Lance chegou em sua casa desesperado e o sacudindo para o ajudar a ter um primeiro encontro perfeito com sua garota perfeita. Eles passaram tantas horas selecionando os lugares que quando se levantaram, ele sentiu caibras em todo o seu corpo.
-Sim e, por mais emo que esse cara possa ser, ele tem um gosto romântico aceitável.
Ele decidiu que seria bom dizer algo, para não ficar estranho.
-Você devia me dar um vale de massagens, aquele dia eu me senti um velho centenário.
-Oras, se fosse isso, podia ter falado que eu te ajudava! Mamá sempre diz que tenho mãos divinas!
Um pequeno arrepio percorreu a sua coluna. Imaginar aquelas mãos percorrendo o seu corpo...
Foco, Keith!
-Eu nunca seria louco para deixar você fazer uma massagem em mim. não duvido nada que na primeira oportunidade você iria me atacar com cocegas.
-Isso pode e pode não acontecer.
-Isso com certeza aconteceria, Lance. -Allura riu. -Você nunca perde a chance de irritar o Keith
-É um dom.
-Eu ainda acho que o Shiro deve te pagar alguma coisa para você me tirar do sério. -Keith cruzou os braços.
-Não, mas se pagasse, eu seria o melhor nisso e seria bem rico.
Keith quase xingou Lance quando ele sorriu. Eram sempre esses sorrisos largos e brilhantes que faziam seu coração parar e o mundo girar. Eram esses sorrisos que o jogaram nesse poço de sentimentos conflitosos. Foram esses sentimentos que fizeram ele se perguntar "Por que não eu?" todos os dias.
-Keith?
E, dessa vez, ele soltou um nítido "puta merda" quando ouviu aquela voz.
Lentamente, ele se virou, só tendo a esperança de tudo ser uma ilusão, um engano terrível, mas isso se desfaz rapidamente quando ele se virou e viu seu primo Lotor ali, diante dos seus olhos.
Eles se encararam por um tempo. A tensão entre eles era quase palpável. Keith tinha motivos ótimos para não gostar do seu primo.
Foi pego quase de surpresa quando foi Romelle que se pronunciou primeiro.
-Lotor. -Ela disse, rangendo os dentes. -O que você tá fazendo aqui?
-Quem é esse, Keith? -Hunk questinou.
-Você não fala nem da própria família para os seus amigos? -Lotor o olhou, estupefado.
-Família? Você e o Keith são parentes? -Lance questionou, surpreso.
-Somos primos. -Keith explicou, sério.
-Eu nunca vi pessoas tão diferentes!
De fato, ele e Lotor nunca poderiam ser considerados primos somente pela aparência. Lotor era mais alto, tinha cabelos grandes e brancos e pele morena. A única coisa que eles tinham em comum eram os olhos púrpura, que passava quase despercebido pelas pessoas.
-É, somos diferentes. -Keith disse, fechando o seu armário e passando por Lotor. -Estou indo para a sala.
-Nos vemos por ai, Keith!
-Eu acho que não, Lotor. -Ele respondeu.
Ele ouviu passos e logo viu Romelle ao seu lado colocando a mão em seu ombro como forma de conforto. Ele sorriu para a garota, aceitando com gratidão o carinho que estava recebendo por sua irmão de consideração.
Somente poucas pessoas sabiam sua relação perturbada com Lotor. E Keith pretendia que as coisas continuassem assim.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top