Dor no peito

Será....?

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Meu querido amor, acenda o fogo da paixão dentro de mim 

Ou acenda o fogo que vai me consumir


                        Keith teve um primeiro período tranquilo, isso até seu curso de química chegar e, bem, adivinha quem foi o abençoado que decidiu se sentar ao seu lado hoje? Exato, Lance McClain, e pelo sorriso em seu rosto, o garoto estava querendo alguma coisa.


-Keeeeeeeef.


                            Deus, só ele sabia o quanto era irritante ouvir esse apelido vindo de Lance, ainda mais com aquela cara de que ele iria aprontar.

                           Ele decidiu não encarar muito o rosto de Lance, focando nas substâncias que tinha na mão.


-É Keith Kogane para você, Lance.

-Não seja assim, vai~


                              Antes que seu coração pudesse explodir, ele encurtou o máximo a conversa.


-Desembucha, o que você quer?

-Eu não posso fazer dupla com o meu melhor amigo na aula de química?

-Eu achei que seu melhor amigo fosse o Hunk.

-Ele é meu irmão do peito, um cargo um pouco mais alto que um melhor amigo, nesse caso, estou dando essa vaga pra você. -Um sorriso arrogante surgiu em seu rosto. -Se sinta honrado.

-Estou super honrado. -Keith respondeu com sarcasmo. -Vai falar para mim o que te trouxe até minha mesa? Porque nós dois sabemos qual é a melhor opção em entre a Pidge e eu.

-Bem, já que você insiste que tem algo a mais do que a nossa amizade que me fez vir até aqui-

-Eu insisto.

-Eu queria saber sobre sua relação com o seu primo.


                            Keith sentiu seus dedos quase abandonarem os vidros de ensaio, por sorte, ele ainda os manteve firme em suas mãos.  

                              Mesmo assim, ele não conseguiu disfarçar sua cara de desgosto quando Lance citou o seu primo. Eram memórias do passado que ele odiava, que ele gostaria imensamente de esquecer.


-Detesto falar sobre isso, Lance.


                     Lance assentiu em concordância, começando a pegar novos frascos de ensaio.


-Tá bom, não vamos falar.


                          Ele gostava o quão compreensivo Lance podia ser as vezes. Mesmo que ele estivesse se revirando de curiosidade, ele nunca forçou Keith a se abrir quanto aos seus problemas pessoas. 


-E ai, temos que fazer o quê?

-Não prestou atenção na aula de novo? Inacreditável. -Keith revirou os olhos. 

-Eu estava ocupado mandando mensagem para o amor da minha vida, ok? 


                               Um punhal invisível foi posto em seu peito, quase o matando de um doloroso golpe de amor. O sabor amargo que aquilo tinha era horrível. 

  

-Bom, só não se distraia com sua namorada enquanto tiver essas coisas na sua mão.

-Sim, chefe.


                                Apesar disso, a professora cansou de chamar a atenção daqueles dois por estarem conversando demais no meio de um experimento químico, no fim, ela só pediu para que eles tomassem cuidado com as substâncias.


.

.

.

.


                                       Finalmente, o horário que todos os seus amigos mais gostavam: intervalo. 

                                       Ali era o momento que todos se reuniam para botar o papo em dia antes de continuarem seu estressante dia escolar, isso, claro, enquanto enchiam a barriguinha. 

                                        Todos pareciam estar mesmo enchendo a barriga, menos Keith, que só estava comendo sem nenhum prazer apetitoso envolvido, pois hoje, justo hoje, ele se viu em duas situações desagradáveis: um Allurance e seu primo na mesma mesa. O primeiro ele já estava se acostumando, mas nunca que ele ficaria bem no mesmo espaço que Lotor respirasse.

                                          Allura o encontrou no corredor e o integrou ao grupo, supostamente esquecendo ou ignorando a breve interação que eles tiveram no corredor hoje cedo e o claro desconforto que Keith sentia em relação ao primo. Fora isso, Lotor pareceu se integrar bem, conversou com todos sobre diversos assuntos, mas estava claro que ele preferia conversar bem mais com Allura do que com o resto.

                                         Aparentemente, Allura e Lotor descobriram que são ótimos amigos, pois gostam de praticamente as mesmas coisas e são ótimos conhecedores de impérios antigos. Ambos estavam falando sobre isso o almoço inteiro, tanto que Keith começou a imaginar as estratégias de guerra, só que no seu almoço (As ervilhas estavam perdendo a guerra, só para consta).

                                           Bom, pelo menos ele não é o único infeliz na situação. Lance também parecia um pouco incomodado com aquela aproximação, ainda mais quando ele estava com uma das mãos segurando a mão de Allura e ela não parecia ligar muito.

                                             Mas, como estamos falando de Lance McClain, claro que ele não ficaria calado.


-Carinõ, você tem muita coisa para fazer no conselho hoje? 


                                              Anotem, Lance McClain sempre conseguia chamar a atenção quando queria. 

                                                Allura o olhou e, na visão de Keith, por um segundo ela pareceu incomodada com o apelido carinhoso, coisa que ele nunca testemunhou. Porém, se alguém mais notou, ficou tão mudo quanto ele.


-Hoje acho que estou livre no final da aula.

-Podemos ver um cinema mais tarde na minha casa, se você quiser. Minha mãe já te adotou como nora mesmo.


                  Allura deu um dos seus sorrisos encantadores. 


-Eu adoraria.


                       Keith sente que vai vomitar o seu almoço logo logo, melhor ele acelerar para terminar e sair daquela mesa antes disso.


-Ei, Keith, você podia ter dito que seus amigos eram tão legais.


                         Ele vai vomitar seu almoço e vai fazer questão que seja no prato de Lotor.

                         Hunk olhou para os dois enquanto limpava sua boca cheia de migalhas do seu sanduiche. 


-Em falar nisso, vocês dois são realmente primos?

-Sim, somos realmente bem diferentes, não é?

-Nunca vi pessoas tão diferentes quanto vocês dois. -Allura comentou, rindo.


                   Allura, como seu amigo, espero que isso não seja um insulto. Keith pensou, bebendo seu refrigerante em silêncio.


-O Keith parece ter uma postura bem mais maneira, você é um pouco mais principesco. -Lance observou.


                        Keith desviou o olhar para o seu prato e focou o máximo para dissipar o calor da sua face, mantendo sua expressão a mais neutra possível. Lance deveria ser preso por soltar essas bombas do nada sem que Keith pudesse se preparar antes.

                        Allura lhe deu um leve tapa no braço.


-Lance!


                             Lotor riu, um sorriso tão ensaiado que irritava Keith.


-Ele não está mentindo, desde crianças nós já éramos de personalidades muito diferentes. 

-Você o Keith cresceram juntos? -Pidge questionou.

-Ah, depois que o Keith ficou orfã, ele morou um tempo comigo.


                            O ar ficou tenso naquela mesa. Claro, ninguém tocava no assunto sobre os pais de Keith, pois a última vez que alguém comentou isso foi James, encontrado em uma cama hospitalar no mesmo dia. Porém, Lotor citou isso como se estivesse dizendo "Ah, eu vi uma borboleta hoje, que coisa!". 

                           E aquele desgraçado sabia o quanto isso ainda afetava Keith.


-Beleza. -Lance começou. -E o que você faz do seu dia a dia, Lotor? 


                           Keith segurou o sorriso agradecido, apenas olhou para Lance e, quando seus olhares se encontraram, eles se entenderam em um "obrigada" e um "de nada" silencioso. 


-Bem, eu ajudo meu pai com a empresa dele, sabe? Trabalhamos com transações financeiras, um trabalho um pouco chato, de você parar para pensar.

-Deve ter seus pontos positivos. -Allura observou.

-Sim, o dinheiro. -Pidge acrescentou.

-Me refiro a outros pontos positivos. -Allura retrucou. -Por exemplo, imagino que você tenha viajado muito.

-Sim, eu e meu pai já viajamos algumas vezes. -Ele assentiu. -Quando eu e o Keith éramos crianças, meu pai levava a gente para viajar também. -Seu olhar caiu sobre Keith. -Você lembra, Keith?



                        Lotor o olhava de uma maneira gentil, até amigável, mas Keith o conhecia, sabia que tudo que vinha de Lotor era uma farsa bem elaborada. Assim era a natureza de seu primo.


-É, lembro. -Keith respondeu, indiferente.

-Ele nunca parava quieto nas viagens, minha mãe ficava irada. 


                       Keith estremeceu a simples citação de Honerva. Aquela mulher era um demônio, uma bruxa sem alma. Ele ainda tinha pesadelos de quando ela o trancava no porão de castigo sem ver a luz do sol por um tempo.


-Acredita que ela estava falando de você esses dias, Keith? 

-É mesmo?

-Sim, disse que você nunca mais foi visitar a gente depois que você fugiu e o Kolivan te adotou. 

-Pera, o Keith fugiu? -Hunk questionou. -Por quê?

-Ah, motivos de crianças. Toda criança tem uma fase rebelde, o Keith só era mais rebelde que as outras crianças. -Lotor explicou.


                     Não é isso. Keith quase gritou isso a todos, mas as palavras morreram em sua boca seca. Por quê? Por que Lotor estava querendo mexer no passado agora? Qual o sentido disso? Por que ele só não calava a boca e seguia sua vida? 


-Keith sempre teve um espirito bem rebelde mesmo. -Allura observou.

-Antigamente a gente chamava ele de "O Lobo Solitário", porque ele vivia quieto e com cara de mau. -Hunk comentou.

-Águas passadas, gente. Agora pelo menos ele está mais sociável. -Lance defendeu.

-Me pergunto até quando. -Lotor comentou.

-O que você quer-


                   Não dá mais. Keith não aguenta aquela atmosfera claustrofóbica. A presença de Lotor era uma ameaça constante para expor aos seus amigos uma parte que Keith queria esconder, que ele queria deixar no passado. 

                  Ele se levantou com sua bandeja e saiu da mesa, ignorando os chamados de seus amigos.

                 Longe, ele precisa ir para um lugar isolado, um lugar onde ninguém o ache. Longe. Sozinho. Ele já não fez isso antes? Eles estava fugindo de novo, não estava? Até quando ele teria que fazer isso? Quando ele pararia de correr? 


                    Nunca se esqueça do lixo em que você veio, Keith. Uma criança que provoca a própria morte dos pais se quer merecia estar viva.


                    A voz de Honerva visitou a sua mente como um lembrete constante de cicatrizes que ele nunca sarou. Novamente, a pergunta ecoou em sua mente: O que Lotor queria provocando tudo isso? 

                   Quando ele se livrou da sua bandeja de comida, ele correu para o terraço da escola, o único lugar que não teria uma alma viva para o assombrar, somente as lembranças de um tempo que ele queria nunca mais relembrar.

                      Ele parou um momento, sentindo a brisa mexer em seus cabelos. Ele olhou para o céu, pedindo desculpa aos seus pais por tudo. Se ele nunca tivesse feito aquilo, talvez seus pais ainda estariam vivos? 


-Talvez ela estivesse mesmo certa, não é?


                          Não. Ele negou, ele jamais devia dar créditos ao que Honerva lhe dizia, nunca. Sua mãe sempre lhe dizia isso, que ela era uma mulher má e que só falava maldades. Porém...ele tinha medo de que houvesse verdades nessas maldades.

                           Ele houve o som da porta se abrir e está pronto para expulsar a pessoa dali, mas ao se virar e ver o rosto preocupado e ofegante, ele se calou.


-Caralho, Mullet. Para que vir num lugar cheio de escadas?


                           Keith odiava esse apelido, mas agora ele não tinha forças para brincar com Lance. Ele não tinha cabeça para mais nada além de tentar escapar do passado. 

                            Ele voltou a encarar o céu, deixando a presença de Lance em segundo plano, sua cabeça já estava bagunçada o suficiente para isso, ele não precisava pensar nos sentimentos que o outro rapaz lhe causava.


-O que rolou lá foi muito tenso.

-Claro que foi. 

-Você está bem?


                           Keith suspirou, voltando a olhar para Lance e vendo seu olhar genuinamente preocupado. Foi de encher seu coração de carinho e afeto, por um momento, desejou poder pular nos braços de Lance e se esconder ali, mas ele sabia que não podia. Os braços de Lance não eram o seu lugar, eram o lugar de Allura. Assim como o coração de Lance também pertencia a apenas aquela mulher.

                             Ele respirou fundo e forçou um sorriso.


-Vou ficar bem. 


                             E aquilo era tudo que Lance teria. Um falso "Vou ficar bem". Keith não conseguia dizer a verdade por trás das palavras de Lotor, não agora e nem com ninguém. Contar para Shiro e para Kolivan já tinha sido o mais próximo e mais difícil passo de intimidade que ele teria sobre o seu passado. Ele não estava pronto para outra carga emocional como aquela.

                            Por sorte, Lance sempre foi compreensivo.


-Tudo bem, se precisar de qualquer coisa, saiba que tô sempre por aqui, tá?

-Eu sei. -Assentiu. -Agora desce lá e vai ficar com sua namorada, ok? 


                            Lance assentiu e voltou a descer as escadas. 

                          E Keith ficou olhando para o céu, sozinho.














Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top