Capítulo 7: Sinfonia Agridoce

O carro negro percorria a longa estrada que seguia em meio ao caminho arborizado, separando a grande mansão que parecia um castelo antigo, da loucura da cidade de Boston. Encrustada no meio do bairro residencial de Pine Manor College, em meio a uma vizinhança seleta e exclusiva, fazendo limite com o Dane Park. Conhecia aquele lugar como ninguém, foi ali que passara parte de sua infância e adolescência.

Enquanto Thomas, o protegido do seu pai estudava na Suíça, na Le Rosey, Katherine estudava na Escola Middlesex, aonde Thomas veio estudar na adolescência, após se rebelar e não querer mais voltar para a Suíça. E seu pai teve que aturar dois adolescentes ao mesmo tempo, cada com um ato diferente de rebeldia. Mas ambos difíceis de domar.

O carro parou diante da porta, onde seu pai com o perfeito alinhamento inglês a aguardava, Phillip Dankworth, aquele por quem tinha uma gratidão e grande respeito.

A mulher desceu do carro usando calça jeans escura e uma camisa branca de seda. Caminhou até o homem e o abraçou:

- Papai! Que saudade! Como está?

- Bem, minha filha. Como tem passado?

- Bem também, apenas muito trabalho, como sempre.

Eles conversavam enquanto entravam na grande e imponente estrutura, caminhando pelos corredores em direção a cozinha, onde certamente um bolo a esperava, juntamente com um café para ela e um chá para o seu pai, a espera de serem servidos.

- Já falei que trabalha demais, que deve se cuidar.

- Eu tenho me cuidado, pai.

- Cada vez que a encontro está mais magra. Uma hora irá sumir.

O humor inglês estava ali, assim como sua postura contida no 1,84 metro que ele possuía, era esguio. Estava sempre com o seu típico traje: camisa branca, cardigan e terno de linho combinando com a calça, sapatos lustrados. Thomas dizia que ele não era um funcionário daquela casa, mas seu pai, com sua educação e teimosia britânica, preferia manter os velhos termos, e o patrão aceitou para diminuir as discussões. Mas as vezes uma ou outra farpa era trocada, mostrando o inconformismo do mais jovem.

Ao chegarem na cozinha, a mulher se acomodou no banco de sempre, enquanto seu pai se encaminhava para o fogão, pegando a chaleira para servir o chá, enquanto a máquina de expresso passava o café.

- Soube que andou se desentendendo com o Senhor Parker. – Ele comentou com um leve tom de censura nas entrelinhas.

- Pai...

- Eu já lhe disse para me chamar de Thomas, Phillip. – Logo a voz do dono da casa preencheu a cozinha, cheio de uma repreenda carinhosa, uma coisa quase de pai e filho.

- Pai, como eu ia lhe dizendo... – deixou bem claro o descontentamento pela interrupção, enquanto retomava o assunto. – são apenas negócios, então não podemos deixar o lado pessoal interferir no julgamento de algo que pode vir a ser importante para toda uma comunidade.

- Pode repetir quantas vez for, mas não aceitarei isso. Vocês deviam respeitar-se mutuamente. – Ele repreendeu, então deu um pequeno tapa na mão de Thomas e falou. – Tire essa mão, esse café é da sua irmã, vou passar um para você.

Ele pegou a xícara e levou para a moça que deu um gole do café com um olhar de pura satisfação em ter ganho aquela.

- Não se preocupe, Phil. – Falou com ar divertido pela repreenda, se sentindo um menino de novo. – Eu passo meu café.

O homem o dispensou com uma mão, pegou a xícara de chá e então sentou-se na bancada, logo os três conversavam amenidades, coisas triviais como o jardim, a manutenção da casa, alguns bailes. Assuntos que deixavam todos os presentes ali confortáveis. Katherine fazia isso por causa do pai, queria o seu bem e sabia que a tensão entre ela e Thomas o afetava muito.

Então a moça levantou-se com um sorriso e anunciou:

- Bom, tenho que ir. Preciso me arrumar para o baile desta noite.

- Ah! Que bom, fico feliz com a homenagem que o Prefeito está fazendo para você. O Se... – percebeu o olhar do jovem e logo consertou - ...Thomas irá também.

Ela beijou o rosto do mais velho, deixando-o sem jeito como sempre.

- Até papai! Cuide-se!

- Você também, minha menina. Cuide-se!

- Eu a acompanho até a porta. – Ofereceu-se o mais jovem de forma educada.

Os dois saíram da cozinha caminhando em direção ao hall de entrada.

- Sei o que tem feito para limpar a zona portuária. – Ele falou assim que se certificou que o homem mais velho não pudesse escutá-los.

- Não sei do que está falando, Parker. – Ela se fez de desentendida.

Segurou a mão dela, forçando a olhá-lo nos olhos.

- Não pode sair por aí matando pessoas? – Falou baixo, como se tivesse vergonha de falar alto tamanha barbárie.

- Não são pessoas, são criminosos. – Ela fala baixinho, entredentes.

- Que ao matá-los se torna um deles. – O homem a repreende.

- Se esse é o preço para salvar outras pessoas, ajudar outras pessoas, estou disposta a pagar. Uma alma em troca da salvação de várias outras. – Fala com naturalidade.

- Não acredito que esteja falando um absurdo como este. Enlouqueceu, Mulher? – Ele estava assustado, em que momento ela havia mudado daquela forma?

- Falou aquele que faz a mesma coisa que eu. O sujo falando do mal lavado. Como sempre. – Ela o encara profundamente.

- Não utilizo o mesmo método que você, matar é extremo demais.

- Alguém tem que ter coragem de sujar as mãos.

Ele segura os ombros dela, a sacode a encarando.

- O que houve com você? Em que momento você se perdeu?

- Quando você foi embora.

Ela respondeu rapidamente, como um tapa desferido no rosto dele, talvez o tapa tivesse doído menos. Lá estava a velha ferida exposta novamente.

A mulher se desvencilhou dele, caminhou até a porta, que abriu e se direcionou até o carro. Deixando para trás um Thomas sem resposta, porque ele não tinha como responder, apenas devia reconhecer sua parcela de culpa em toda aquela situação. Ele criou um monstro, agora não tinha como domá-lo.

***

Essa e outras músicas estão na playlist da Trilha Sonora no Spotify: https://open.spotify.com/playlist/2l7XQw3oh4uZidoumVL96a?si=G5fRfy3uSMimeWcN9OFNmQ

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