Capítulo 4: De repente eu vejo

As portas do escritório se abrem violentamente, parecia que tinha virado uma rotina aquele tipo de acontecimento, em menos de um mês se repetindo, já podia ser posto como uma constante.

O homem ficou em pé atrás da mesa com um salto, assustado e surpreso com a estrondosa intervenção, a expressão de contrariedade misturada com censura, tomou o rosto dele. A loira, vestida totalmente de branco, sendo um vestido acinturado que ia até o joelho e um sobretudo que logo foi parar nos braços de uma Assistente loira e assustada, a moça agarrou o casaco no ar por puro reflexo.

Com o coque para o alto e um olhar de poucos amigos, Stephanie cruzou os braços, encarando o homem com olhar assassino. Ela não atravessaria o país todo em vão, e ele fazia mais ou menos uma ideia do porquê a mulher estava ali. Então para evitar, que a cena que certamente viria a seguir, tivesse uma plateia, fez um gesto de cabeça dispensando a Assistente que estava confusa com toda a situação.

Assim que a porta se fechou, Stephanie ergueu uma das sobrancelhas, em um claro sinal de que aquele era o momento dele se explicar, não aceitaria que ele se fizesse de idiota ou a tentasse colocar como burra. Porque, caso isso acontecesse, as coisas iam ficar bem feias.

- Boa tarde Stephanie! A que devo sua visita? Sente-se, fique à vontade!

"Filho de uma puta", ela pensou naquele momento, as palavras escorrendo lentamente por sua mente. Aquele homem havia tomado o caminho de tentá-la fazer de idiota ou estava deliberadamente tentando irritá-la mais ainda. A Executiva caminhou até a mesa dele calmamente, os saltos dos escarpins brancos estalavam no piso do rico escritório, decorado com muito bom gosto, em uma variação de branco, cinza e preto.

A mulher era como uma fera se aproximando da presa, de forma lenta e elegante, passou entre as duas cadeiras, apoiou as duas mãos na mesa de vidro e inox, algo moderno, como tudo ali. Então se inclinou um pouco para frente, de forma ameaçadora, apoiando parte do peso nas mãos, como o vestido era sem manga, os contornos dos músculos ficaram expostos, ela se exercitava, era evidente, o que ajudava a manter o foco e a força física.

O homem poderia ter recuado ao ser intimidado pela postura ameaçadora, mas apenas sentou-se na sua cadeira, relaxado, mas seguindo a principal premissa de toda a presa, nunca perca de vista seu predador, nunca deixe de olhar nos olhos dele para saber quando ocorrerá o ataque.

- Você sabe por que estou aqui.

As palavras escorreram como lava quente e perigosa dos lábios dela, era macia e lenta, se espalhando aos poucos, levando o medo e a destruição. O homem sabia o que a levaria estar ali, e ele apenas estava observando o furacão vir em sua direção. Mas agora que havia provocado a tempestade, estava pronto para enfrentá-la. Apertou os botões certos para empurrar a Rainha até aquele ponto do tabuleiro.

-Ah! Lembrei! Que cabeça minha! O projeto, claro! Não esperava que o meu pequeno anúncio causasse tal efeito. – Falou com uma empolgação ensaiada, tudo para irritá-la. Ele sabia que estava pisando em campo minado, mas o negócio valia o risco.

- O projeto que você usou brechas da lei para que deixasse os meus planos presos aos seus. – Ela tentou manter a calma, parecia conter ácido em cada palavra, quando na verdade a loira queria voar no pescoço dele.

- Eu disse que nós íamos acabar trabalhando juntos. Juro que foi um erro que eu não esperava de uma equipe tão competente quanto a sua, eu me dei ao trabalho de levantar o currículo de todos eles. Como eu, você sempre tenta se cercar dos melhores, porque sabe que os grandes talentos são os melhores investimentos que podemos fazer. Fiquei muito surpreso quando a minha equipe, achou essa falha da sua equipe. Esquecer de patentear uma parte tão importante, a base de tudo. Mas sei que este erro é perdoável, já que só poderiam patentear quando chegassem até aqui, ao Sound, - apontou para a grande porção de água que podia ser vista além da enorme parede de vidro que descortinava uma bela vista da cobertura daquele prédio que representava todo o poder do homem que fazia o pequeno monologo – precisava disso para fazer as pesquisas e achar a densidade perfeita. Então como meu corpo técnico já trabalhava em algo parecido, eu só refinei até chegar ao seu projeto e pronto, lá estava o que precisávamos. Isso que dá, não pedir ajuda para os amigos.

O monologo teatral dele, tão finamente ensaiado para aquele momento, foi recitado enquanto ele andava pela sala, se servindo de um copo de whisky. Claro, ele ia deixar bem evidente a sua vitória e a comemoração em relação a tudo aquilo. Então sentou-se em uma das poltronas que ficava próximo a um sofá, compondo um pequeno living, perfeito para reuniões informais. Até aquilo foi deixado claro por ele. E ela acompanhou toda aquela encenação como um público impassível, sem demonstrar as emoções e a fúria causada por tamanha apresentação.

- Eu posso começar uma nova pesquisa, e não depender da sua tecnologia. – Falou de forma petulante, não querendo se dar por vencida.

- Tudo bem, é um direito seu. – Ele dá um gole de whisky fazendo uma pausa dramática. – Mas terá jogado fora todo o dinheiro que gastou para toda a pesquisa feita até agora, já que não poderá usar nada do que já foi pesquisado, porque agora é meu. Ai partimos para a outra parte, que consiste no dinheiro que terá que gastar com a nova pesquisa. E tudo isso por puro orgulho e arrogância.

- Quem é você para falar sobre arrogância? – Ela se escora na mesa, que agora estava atrás dela, e cruza os braços o encarando com indignação. – Acha que aqui do alto da sua torre... – gesticulou com uma das mãos para a sala a volta deles, e então volta a cruzar os braços. - ...pode mandar na vida das pessoas, manipular as pessoas?

- Vamos para este ponto mesmo, do sujo falando do mal lavado, da hipocrisia? – Ele deu um sorriso divertido com a tamanha ironia. – Não me diga que chegou aonde chegou sem fazer tudo isso, e segundo as más línguas, até um pouco mais. Todos que chegam ao topo tem alguns esqueletos dentro do armário.

- Por que eu? – Ela simplesmente pergunta. Estava começando a ficar cansada daquele jogo de gato e rato, com tantas pessoas para ele criar guerra, por que tinha que ser justamente com ela?

- Porque gosto de ter os melhores comigo, nos meus projetos. E nesse em questão, o seu é o melhor projeto, você é a melhor. – Ele aponta para ela, então complementa o raciocínio. – Eu não sou o bicho papão desta história, tanto que eu te proponho que eu fique com 40% e você 60% dos lucros.

- 30 – 70. – Ela vai direto ao ponto.

- 35 – 65. – Ele faz a contra proposta.

- 30 – 70 e não tem acordo, a maior parte foi minha equipe que desenvolveu. – Ela era implacável no seu ponto de vista.

- 35 – 65, sem a base seu projeto não é nada. – Mas ele não a deixaria levar fácil. Afinal, ele era um negociador.

- 30 – 70, porque sem o meu projeto, você só tem uma base, cujos custos não torna a base rentável sem a minha estrutura para justificar o investimento, terá um elefante branco. A sua parte leva menos tempo para elaborar do que a minha parte como um todo, mesmo seu irmão sendo o renomado Engenheiro que é.

Ele olhou para ela de forma analítica, dando um último gole na bebida, pesa a situação. Ele nunca admitiria em voz alta, mas ela era boa de negócio. Ele deixou o copo sobre a mesa de apoio, levantou-se e caminhou até ela estendendo a mão enquanto falava:

- Fechado. 30% dos lucros para mim e 70% para você. Nossas equipes se reunirão para discutir os termos do contrato.

- Fechado. – Ela apertou a mão dele, meio desconfiada e então disse. – Se tentar me passar a perna, senhor Thompson, eu arranco a sua cabeça.

Ela falou a ameaça com tanta naturalidade, como se estivesse falando de algo banal, como se fosse puxar a orelha ou dar um beliscão.

- Não duvidaria disso, senhorita Brown. Por isso a respeito muito e quero que esse projeto renda tantos frutos quanto qualquer outro. Estamos encontrando o futuro para a superpopulação das grandes cidades, mas de forma ambientalmente correta e refinada.

- Eu sei disso, eu tive essa ideia, eu toquei pessoalmente esse projeto. Por isso estarei aqui a cada 15 dias para acompanhar o andamento de tudo e enviarei uma pequena equipe assim que assinarmos o contrato, serão meus olhos e ouvidos para quando eu não estiver aqui.

- Claro, eles terão livre trânsito dentro dos departamentos ligados ao projeto. Não esconderei nenhuma informação. Seremos como uma grande família.

- Não sabia que tinha um lado tão passional sob a fama de implacável, dizem que nem tem coração, como poderia ter uma família. – Ela foi irônica, indo diretamente na ferida dele.

- Estou apenas tentando convencê-la da minha transparência. – Tentou passar o máximo de honestidade possível.

- Sei, só porque sou mulher acha que palavras emotivas vão tocar meu coração. Então menos Thompson, não insulte minha inteligência. – Deixou bem claro o seu ponto de vista.

- Jamais faria isso. – Ele manteve a conversa honesta, tentando deixar bem claro o respeito que tinha pela nova parceira de negócios.

- Acho bom. – O tom de desconfiança estava presente na voz, deixando bem claro que ela ia sempre confiar, desconfiando.

Ela caminha até a porta dando a conversa como encerrada, mesmo não tendo agradado em nada dividir os lucros de algo que seria somente seu. Mesmo tendo vantagens em fazer o projeto com uma parceira em Seattle, mas financeiramente nada daquilo a agradava mesmo.

- Boa tarde para você também, Stephanie. – Ele falou em tom neutro, mas o deboche estava ali implícito.

A mulher mentalmente o mandou se foder, com toda a arrogância que só ele poderia ter e o talento aparentemente nato para ferrar os planos dela.

Ao passar pela Assistente de Andrew Thompson, a moça correu para entregar o sobretudo para a mulher, que logo o vestiu e saiu escoltada pelo seu chefe da segurança. Deixando um burburinho tomar o prédio. Algo estava solto no ar.

***

Essa e outras músicas estão na playlist da Trilha Sonora no Spotify: https://open.spotify.com/playlist/2l7XQw3oh4uZidoumVL96a?si=G5fRfy3uSMimeWcN9OFNmQ

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