Capítulo 2: Baile de Máscaras
A loira deu uma última olhada no pequeno espelho revisando a sua maquiagem e cabelo preso para o alto em um elegante coque, logo depois guardou o acessório na pequena bolsa de mão. Então falou com a voz em tom profissional para o homem que conduzia o carro:
- Morgan, fique a postos. Não pretendo demorar muito, apenas vou cumprir o protocolo e então saímos. Entendido?
- Sim, Senhora. – Ele respondeu da melhor forma militar.
Eric Morgan, ex-Seal da Marinha, os caras com a formação e a preparação mais casca grossa que poderia ter. O homem resolveu largar a carreira militar e seguir a segurança privada, ainda mais quando teve a proposta bem vantajosa da Senhora Brown, era irrecusável. Ele era moreno, de postura e corte de cabelo militar, enorme e atlético, intimidaria qualquer um só com o olhar, o mesmo olhar que ele usava agora, enquanto descia do SUV preto e observava tudo em volta com atenção.
Abriu a porta e Stephanie desceu do veículo, impecavelmente vestida em um Yves Saint Laurent preto, de corte sereia, com decote moderno e assimétrico, era o retrato da mulher independente e além do seu tempo.
- A Rainha está entrando. – Falou Eric no rádio.
Stephanie apenas acenou para ele discretamente, para dizer que era hora do show e as peças iam começar a se mexer. Toda a alta sociedade norte americana estava ali no Museu de Arte Moderna de Nova York, para um dos tantos bailes de gala que acontecem ali. Não era um MetGala, mas ali estavam todos os grandes empresários e empresarias dos Estados Unidos.
Ela atravessou o discreto tapete vermelho, parando para posar para alguns paparazzi escolhidos a dedo para estar ali naquela festa exclusiva. O convite era vendido a um preço exorbitante e todos pagavam caro para parecerem bons moços, já que o valor arrecadado era direcionado para a caridade.
Ao entrar no salão, o olhar dela percorreu o local, visualizando logo as possíveis oportunidades e problemas que ali poderia ter. Poucas mulheres, na verdade pouquíssimas estavam naquele evento na condição de empresárias, o Clube do Bolinha era muito seletivo em suas escolhas, tanto que a maioria dessas executivas, que foram convidadas aquela noite, se dedicavam a ramos notoriamente femininos como moda, beleza e estilo de vida, nada que pudesse ameaçar o ego dos rapazes. Infelizmente a maioria das mulheres que se encontravam naquele salão eram acompanhantes de luxo, esposas troféus, namoradas para serem exibidas ou amantes para serem comidas. Aquilo sempre causava asco em Stephanie, que pegou uma taça oferecida gentilmente por um garçom e então caminhou entre os convidados. Até que o Prefeito de Nova York, o senhor Jared Milton a parou com um sorriso cortês e animado.
- Senhorita Brown! Que bom tê-la aqui esta noite. Nem tive como agradecer seu altruísmo ao fazer tamanha doação para o Hospital New York Hope, a comunidade agradece. – Ele se curvou falando em tom de segredo. – Sei que a Senhora quis se manter anônima...
- Se até o Senhor já sabe que eu fui a doadora, pelo visto as coisas não foram tão anônimas assim. Pelo menos o Senhor me poupou de toda a cerimônia pomposa em que eu teria que fazer um discurso mentiroso elogiando sua política pública para a saúde que é completamente inexistente, Sr. Prefeito. – Ela sorriu cordialmente ao final da afirmação.
O homem parecia ter levado um tapa, mesmo assim manteve a compostura, afinal estava diante de uma grande "colaboradora".
- Jamais faria a Senhorita passar por tamanho constrangimento. Por isso esperei a oportunidade correta para agradecer tamanha doação.
- Que não fiz ao Senhor, mas ao Hospital graças as notícias que li sobre sua gestão que tem feito tanto com tão pouco. Assim os encoraja a seguir no caminho certo.
- Excelente forma de raciocínio.
- Creio que concorde com ele.
Ela segue o caminho, deixando o homem solto no ar. Era divertido fazer isso com pessoas como aquele homem desprezível, que fazia qualquer coisa para ter uma casquinha de alguma coisa, migalhas, se sujeitando a ser insultado e mesmo assim continuar adulando. Aquele era um sinal de total perda de moral ou vergonha na cara.
Assim seguiu a noite naquele baile, cumprimentando empresários, sendo agradável com quem merecia ou deveria, e totalmente ácida e ásperas com os imbecis, que acreditem, tinham muitos. Alguns tentavam desmerecer a posição que ela chegou. Era afrontoso uma mulher tão nova e que tinha a pachorra de sair comprando empresas e capitais de velhos decrépitos que não conseguiram gerenciar tão bem seus negócios, poderia chegar até o sétimo lugar na Forbes, entre os empresários mais bem sucedidos. E isso tendo uma carreira meteórica. Muitos se questionavam quem ela teria chupado para chegar ali. A resposta seria surpreendente, mas eles nunca compreenderiam que não precisou chupar ninguém.
Mais um gole de champanhe para tentar aguentar aquela noite. Que era mentalmente cansativa.
- Aceita dançar?
A voz masculina perfeitamente pontuada e com uma educação estudada afastou os pensamentos, ela se virou e soube muito bem quem estava na sua frente, segundo muitos do Mundo dos Negócios, ele era a sua versão masculina, com mesmo faro para os negócios, agir como um robô, mais credibilidade por ter um pinto entre as pernas e por dominar grande parte da Costa Oeste.
Ela avaliou o moreno de olhos cinzentos que esticavam a mão com um sorriso educado. Diante do perfil que ela conhecia, não se enganaria com a máscara de gentileza e educação que ele apresentava. Mas gostava de brincar com o fogo, então...
- Será um prazer, Sr. Thompson.
Colocou a sua mão na mão que ele oferecia educadamente, então o acompanhou em direção a pista de dança, o deixando guiar. Repousou uma das mãos no ombro dele, enquanto a outra ele aprisionou assim que a loira aceitou a dança, que logo se encarregou em manter uma postura distante e respeitosa, demarcando bem os limites.
O homem era elegante, no seu smoking Armani, certamente feito sob medida, era um pouco mais alto que a mulher, mas naquele momento a altura era compensada pelos saltos altos. Tinha um olhar divertido, era um jogo para ele também. Stephanie não se deixaria enganar pelo rosto inocente, quase como Davi de Michelangelo.
- Era de se esperar que você não faria nada, deixando o primeiro movimento ser o meu. Claro.
- Mas não espere que tire minha máscara, já que algo me diz que não vai tirar a sua.
- Touché...Não esperaria menos da Senhorita com a fama que tem.
- Frank Sinatra? Sério? – Fala ela ao ouvir os primeiros acordes da música, era o seu cantor favorito, mas a mulher nunca admitiria.
- Ele sempre funcionou para ajudar meu charme e fechar bons acordos. – Deu um sorriso discreto e torto, finamente estudado.
- Eu não sabia que estava aberta a temporada para vender a alma para o Diabo.
- Ouch!...Vamos lá, Brown. Eu não sou tão ruim assim.
- Não esperaria menos do Senhor com a fama que tem.
- Acho que era melhor ter escolhido um tango, acho que combinaria mais com a nossa dança.
- Dramático demais, e pelo que vejo, é o que menos compartilhamos aqui.
- Brown, apenas quero conhecer possíveis parceiros de negócios da Costa Leste.
- E se tornou o número 1 da Forbes entregando seu dente para a Fada do Dente ou foi investindo na Bolsa do Papai Noel?
- Você não gosta de trabalhar com parceiros.
Ele deu um puxão a trazendo para perto, colando os corpos, a surpreendendo com a ousadia, ainda mais levando a frase em contexto.
- Não cheguei aonde cheguei tendo parceiros. – Ironizou a palavra propositalmente usada por ele. - Ainda mais aqueles que não são confiáveis.
Ela enfiou o salto no pé dele de forma proposital, com um sorriso fingido de cordialidade, enganando os desavisados que jamais imaginavam o duelo que acontecia ali. Ele, por sua vez, manteve a cordialidade mesmo sentindo uma dor imensa, manteve a postura o máximo que podia.
A mulher se inclinou e sussurrou no ouvido dele com ironia:
- Foi um prazer conhecê-lo.
- O prazer foi todo meu. – Respondeu tentando esconder a dor o máximo possível.
A loira se afastou, dando as costas e caminhando até a saída, sua paciência tinha acabado para manter sua mente no lugar. Ao se aproximar do hall de entrada do grande prédio, Morgan se aproximou rapidamente, falando no rádio para posicionarem o carro, ordenando sua equipe de apoio.
Em alguns minutos ela estava no refúgio do seu carro, podendo retirar a máscara que vestia para a sociedade e finalmente descansar. Soltou os cabelos, sua cabeça estava a ponto de explodir, de tanto que doía. A noite havia sido longa, e ela precisava descansar.
***
Essa e outras músicas estão na playlist da Trilha Sonora no Spotify: https://open.spotify.com/playlist/2l7XQw3oh4uZidoumVL96a?si=G5fRfy3uSMimeWcN9OFNmQ
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