Capítulo 1: Nadando com os Tubarões

Ela olhava a paisagem de Nova York que se descortinava diante da parede de vidro do seu escritório. Aquele local não tinha sido escolhido em vão, o topo do prédio na Wall Street esquina com a South Street, davam uma bela vista do Diamond Reef, do rio East e a ponte do Brooklin. Era uma paisagem que a acalmava, além disso, ela estava no centro financeiro da cidade, nadando entre os tubarões, enfrentando os lobos de Wall Street.

Um sorrisinho arrogante surgiu em seus lábios. É óbvio que surgiria com toda certeza, todo os dias era uma vitória em uma grande guerra. Ela era uma mulher, com seu salto vermelho, tentando abrir espaço no mundo dos homens. Isso sem perder a pose e a elegância, presente no conjunto de saia e terno Chanel, vermelhos, combinando com o batom e os sapatos Jimmy Choo, e o cabelo loiro platinado, preso para o alto de forma perfeita, nenhum fio fora do lugar, impecável como o brinco e o colar de pérolas.

Os olhos verdes, quase transparentes de tão claros, variando para um cinza, traziam uma diversão insondável, que combinavam com o sorriso de puro mistério. Ela estava se divertindo em ter o mundo aos seus pés e pisar nele, assim como se pisa em um cigarro para apagar.

O ruído de passos como se estivesse alguém marchando em direção a sua porta, o pequeno alvoroço além dela, aumentou ainda mais a sua sensação de prazer. Até que ela estoura, abrindo as duas folhas com violência e o ruído da balburdia invade a paz branca do escritório trabalhado em vidro, inox e couro branco.

O sorriso dela que não podia ser visto, ampliou-se enquanto escutava a voz áspera dele começar um discurso indignado. Enquanto o ruído da porta sendo fechada pela secretária receosa do que poderia acontecer, só aumentava a dramaticidade.

- COMO PODE SER CAPAZ DE FAZER ISSO? ATÉ ONDE VOCÊ É CAPAZ DE IR KATHERINE? ISSO É UMA VINGANÇA?

Depois de deliciar-se com aquele momento de desespero dele, Katherine Brown colocou sua máscara de frieza, aquela que lhe conferiu o título de Rainha do Gelo, e virou-se lentamente, o encarando com uma expressão fria, impassível e inabalável. Era uma transformação assustadora, uma transfiguração, pois aquela expressão causava temor até no mais corajoso dos homens. Não podia ser lida, o que dava uma brecha para muitas interpretações, e uma delas era que aquela mulher era capaz de tudo, até de matar.

Pelo menos era isso que todos sussurravam pelos cantos, mas ninguém tinha confirmação de tamanha coragem.

- Bom dia Parker! Que bom vê-lo! Para ter trazido você de Boston até aqui, deve ser algo muito importante.

- Não se faça de desentendida! - Falou entre dentes, tentando manter a postura. - Como pode trair a mim desta forma? Você sabia que aquele negócio tinha uma importância estratégica para as causas da família.

- Não entendo do que está falando. - Se faz de desentendida.

- A compra daquele Porto em Boston! Você não possui negócios em Boston para precisar de um porto. Você apenas se colocou neste negócio para prejudicar os planos da Parker Enterprise. Mas você, na sua arrogância, prejudicou muito mais que isso. Nós tínhamos um plano de revitalização do porto para diminuir os índices de violência, e utilizaríamos como base para saída de navios com donativos e suporte para as comunidades do Sudão.

Ela sentou-se na cadeira de couro branco e inox, atrás da grande mesa com tampo de vidro. Cruzou a perna o encarando, sem quebrar a máscara.

- O que o impede de enviar os donativos? O apoio?

- Como? Você nunca quis trabalhar comigo na Parker, tanto que fundou sua própria empresa e quer agora trabalhar em conjunto.

- Não. Você me paga, como paga para qualquer porto, e despacha os donativos. Prometo dar um bom desconto em nome da boa causa. Ah! E não se preocupe, farei as obras necessárias para revitalizar a região do Porto de Boston, será muito bom para a imagem da Brown Enterprise. Já que estamos expandindo nossos horizontes. - A ultima parte escorreu macia da boca dela, com a doçura enganosa que camufla o melhor dos venenos.

- Quando foi que você se perdeu? Se tornou este monstro capaz de lucrar com miséria dos outros? Como coloca sua cabeça no travesseiro a noite? Como tem paz de espírito? - Perguntou o moreno de olhos escuros, completamente horrorizado.

- Por que você não pergunta isso para os outros donos de portos que cobravam taxas de você? Por que não pergunta a eles? Seu terno Armani e os charutos caros que compartilham nas noites de homens o impede disso? Sabia que o dinheiro que você gasta com uma das modelos que sai com você faria uma diferença enorme no Sudão?

- Você sabe do que isso se trata! - Ele bate com as duas mãos no tampo da mesa e a encara de forma fria.

- Eu sei? - Ela o olha nos olhos de forma petulante. - Criticando minha postura, e a sua Thomas Parker. Até quando vai sustentar esse personagem. Homem de Caridade durante o dia, e Playboy durante a noite? Durante o dia brigando comigo por causa da minha falta de limites e a noite gastando 13 mil em uma garrafa de champanhe.

- Você sabe o porquê faço isso. - Ele fala de forma fria, a temperatura da sala caiu muitos graus.

Levada pela impaciência, ela fica em pé com um solavanco, deslocando a cadeira violentamente para trás. Então olha para ele, com sua expressão mais intimidadora possível, o encarando.

- Eu não tenho mais paciência para esse seu papel de pobre menino órfão e rico. Meu pai pode até ainda tolerar esse seu discursinho. Mas eu não. Eu passei minha vida toda lidando com esse bando de merda...

- Não fale palavrão. - Ele a interrompeu falando entre dentes, lutando para não explodir.

- Foda-se. - Falou com prazer, por que ela tinha esse prazer de chocar. - Eu já tive que aturar muito esse bando de merda que carrega dentro de você. Eu comprei aquele porto e pronto. Se você acha que a Rainha está se movendo para dar um xeque-mate. É muito bom saber disso. Saber que causo esse pânico, essa sensação de medo ao ver os Peões caindo a sua volta e eu me aproximando cada vez mais no tabuleiro. E não tente usar seu Bispo contra mim, por que usar meu pai, vai ser um golpe muito, muito baixo, até para você.

- Essa conversa não terminou, saiba disso.

Ele começou a caminhar até a porta, fazendo um recuo estratégico, percebendo que ela não moveria um milímetro naquele dia, ou talvez até nos próximos.

- Não esperaria menos de você. Afinal, estamos neste duelo a 20 anos.

Ele balançou a cabeça derrotado, fechando a porta atrás de si. Ela deixou o corpo cair na cadeira, exausta, cansada, as vezes a armadura pesava, mas era necessária. Rodou a cadeira para ficar de frente para a paisagem, respirou fundo. A Rainha Vermelha venceu mais uma vez naquele grande tabuleiro de xadrez. As vezes a coroa pesava, mas era o peso a se pagar pelo conforto do trono.

***

Essa e outras músicas estão na playlist da Trilha Sonora no Spotify: https://open.spotify.com/playlist/2l7XQw3oh4uZidoumVL96a?si=G5fRfy3uSMimeWcN9OFNmQ

Espero que tenham gostado deste primeiro capítulo. Deixe sua opinião!

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