Aproveitei que estava na área de treinamento e corri mais um pouco, Ice não se aproximou embora estivesse nítido em seu olhar que queria. Eu precisava tirar seus olhos azuis da cabeça o mais rápido possível. Não posso ficar com ele e não posso ficar muito tempo aqui, tendo casa e alimentação seria mais fácil juntar dinheiro suficiente para me mandar desse país, mudar de nome e fazer algumas mudanças na aparência.

Então quando eu estiver pronta para ser corajosa
E meus cortes curados com o tempo
O conforto irá descansar em meus ombros
E vou enterrar o meu futuro para trás
Eu sempre irei lhe guardar comigo
Você sempre estará em minha mente
Mas há um brilho nas sombras
Eu nunca saberei se não tentar

Com cada pequeno desastre
Eu vou deixar as águas paradas
Me levar para algum lugar real.

Aqui não era real, minha realidade não é essa, eu sou uma fugitiva e nada pode mudar isso. Eu pedia mentalmente para que eles nunca descobrissem a verdade, para que todas as merdas fossem deixadas para trás e quem sabe eu conseguiria passar um ano em um mesmo lugar.

Era sempre a mesma coisa, eu mudava de cidade e começava a trabalhar. Com menos de seis meses eles apareciam na cidade e eu tinha que fugir novamente e procurar um lugar estranho onde minha personalidade dificilmente permitira que eu tivesse contato. Escondida nos becos de cidades e em bairros perigosos eu tive que me reerguer e lutar contra meus próprios ideais.

Parei quando senti as lágrimas molharem meu rosto, a respiração pesada me fez ter que agachar e disfarçar enquanto enxugava as lágrimas. Uma sombra se pos a minha frente e eu não tive dúvidas que era o lobinho branco.

- Kira, você está bem? - sua voz fremita estava mais baixa e preocupada, levantei devagar e sorri para ele.

- Estou bem, o que faz aqui? - estava óbvio o que ele veio fazer mas eu precisava ter alguns minutos para esquecer as lembranças ruins.

- Me deixou sozinho no quarto. - sua sobrancelha esquerda se ergueu exigindo uma resposta, gargalhei para sua pose de professor irritado.

- Eu avisei que só seria uma noite, o problema não é meu se não levou minhas palavras a sério. - dei de ombros, ele pareceu magoado e eu também fiquei, odiava machucar as pessoas com palavras principalmente aquelas que queriam meu bem.

- Então não gostou da nossa noite juntos? - oh querido você não faz idéia de como eu gostei, depois dessa noite eu não quero nenhum outro homem em minha cama. Minha vontade era pular em seus braços e pedir um replay.

- Não disse isso. Ice, a noite foi incrível mas, eu não quero relacionamentos. Nada de namoro e pessoas no meu pé, gosto da liberdade. - eu não tinha liberdade, essa era a verdade. Ser livre requer uma quantia de dinheiro que eu não tenho.

- Vai simplesmente me dispensar por outro macho? Estou aqui quase implorando para que você fique comigo, eu posso ser um bom macho Kira. Vou te dar um lar, carinho, amor e o que mais você quiser, se me pedir uma estrela eu juro por tudo em que você acredita que te trago, e em troca eu só te peço que fique comigo e me deixe mostrar o quão bom posso ser para você. - minha boca ficou seca de imediato, ele não estava me dizendo isso, estava? Oh inferno. Desviei dele e tentei sair da área de treino mas seu braço segurou minha cintura. - Só uma chance então?

- Não sei como pretende fazer isso, mas o país é livre certo? Então tem sua chance. - sorri forçado, as lágrimas prontas para desabar a qualquer segundo e as pernas prontas para começar a correr. Ele sorriu fechando os olhos e meneou a cabeça balançando os fios brancos que eu estava louca para tocar novamente.

- Não vai se arrepender, meu pequeno girassol. - embora eu não fosse tão pequena assim deixei que ele pensasse da forma que queria, era mais alta que a maioria das mulheres e alcançava pouco a baixo da sua linha clavicular.

- Certo, eu vou para o refeitório. Amanhã tenho um dia cheio e não quero me cansar hoje em frente a um fogão. - quando se mora sozinha e não tem muito dinheiro você precisa aprender a conzinhar na marra. Lembro do meu primeiro macarrão instantâneo ter queimado a ponto de carvão.

- Tudo bem, posso te acompanhar?  - hm, mudanças ele agora estava me pedindo? Não sabe ele que se me jogasse na cama outra vez eu nunca iria conseguir sair de lá.

Assenti e ele andou ao meu lado, as mãos dentro do bolso da calça. Eu queria que ele segurasse a minha ou falasse algo mas não fez, talvez eu tenha conseguido o afastar um pouco ou somente ainda esteja magoado.