❄︎ ! 02. Onde minha mãe decide me punir
͙ࣳ 𖥔 ⸰. capítulo 2 .⸰ 𖥔 ͙ࣳ
onde minha mãe decide me punir
⊱⋅ ──────────── ⋅⊰
AS REFEIÇÕES NO PAVILHÃO, eram eventos em sua maioria caóticos. Experimente colocar um bando de crianças com TDAH e uma leve aptidão para violência, juntos em um só lugar tendo como supervisão um homem com bunda de cavalo e um ex-deus alcoólatra em abstinência. Obviamente era de se esperar que as coisas sempre acabassem com alguém coberto de purê de batata ou em um estado minimamente nojento.
Os horários de almoço eram um esporte. Um esporte que Cecília gostava de pensar que jogava melhor do que ninguém, tendo em vista que desde a grande Catástrofe do Macarrão, Cecília nunca mais teve nenhuma comida sendo jogada em sua direção. É claro que isso a obrigou a passar horas tendo que limpar o pavilhão inteiro como forma de castigo para nunca mais arremessar uma bacia enorme de comida em seus colegas. Além de horas de um sermão dado pelo próprio Quíron, sobre como todos estavam chateados com a situação. Ainda era possível ouvir campistas reclamando sobre terem macarrão em seus ouvidos.
É claro que com a tensão pairando sobre o ar, devida os inúmeros fracassos nas missões, — que Cecília carinhosamente apelidou — de resgate do Procurando Nemo, ninguém estivesse com muita vontade de começar uma guerra de comida por algum motivo desnecessário.
Além do mais, Cecília estava muito focada na sua atual missão de encarar, para prestar atenção em possíveis conflitos no refeitório. Desde o momento que deixará Jason junto com os garotos e garotas do chalé de Hermes, ela não conseguia tirar os olhos dele. Jason era diferente e estranho, o que era surpreendente, levando em conta que ele estava cercado de pessoas diferentes e estranhas.
A curiosidade de Cecília não era cobiça, mas era óbvio que assim que chegou ao acampamento as garotas não tiravam os olhos de cima dele. Figuras femininas — e masculinas — vinham de todos os lados, querendo sempre estar por perto caso ele precisasse de algo. Talvez seus cabelos loiros, olhos azuis e jeito nobre fizesse mais sucesso do que a Rey esperava. Patético.
━ Esperteza, você está deixando pingar molho na sua camisa. ━ Annabeth lançou um olhar de aviso para Cecília ao seu lado na mesa do chalé de Atena. ━ Pare de encarar, está parecendo uma maníaca.
━ Eu sou uma maníaca. ━ Cecília sorriu, limpando o molho da camisa laranja do acampamento. ━ Você não vai me perguntar o que eu conversei com ele quando o escoltei?
Annabeth não perguntou. Apenas continuou olhando para Cecília, o
que era quase a mesma coisa.
━ Não conversamos nada de relevante. É isso. Não tem nada, mas algo me diz que tem sim alguma coisa.
━ Eu sinto o mesmo, ━ admitiu. ━ Hera não teria me feito ir até eles por nada, mesmo ela sendo muito inconveniente. Algo me diz que alguma coisa grande está por vir, Ceci. Percy ter sumido e derrepente três semideuses aparecerem. ━ Annabeth olhou para Jason. ━ Tem algo de muito estranho nisso, e Quíron não quer nos falar o que é.
Desde que Percy descidira desaparecer sem deixar nenhum rastro pra trás, Annabeth aos poucos vinha perdendo a lógica, agindo de forma descontrolada e tomando decisões sem pensar muito antes. Isso obrigava Cecília a ser lógica, o que não era uma das melhores opções, tenho em vista que os únicos raros momentos em que ela pensava de fato era quando estava lutando.
━ Aquele cavalo velho, ━ Cecília resmungou. ━ Uma hora ou outra vai ter que abrir aquela boca.
Não entendam mal, ela adorava Quíron. Era a maior figura de autoridade no acampamento, sem contar que era um ótimo mentor. Cecília apenas gostava de demostrar seus fortes sentimentos por alguém sendo desbocada.
Cecília se levantou assim que acabou com toda a comida em seu prato, deixando apenas os restos de sua refeição para jogar no fogo como oferenda a Despina. Cecília levantou-se e caminhou até a fogueira, despejando a comida.
━ Hora de ser útil, mamãe ━ sussurou segurando o prato vazio em mãos. ━ Me ajude a encontrá-lo.
Ela não esperou para que a comida virasse cinzas ou o fogo aumentasse em sinal que Despina ouvirá sua súplica. Tinha coisas a fazer que não podiam esperar.
Cecília precisava de um bom cochilo para que quando acordasse fosse capaz de planejar mais uma missão para fora do acampamento à procura de Percy.
Então andou em direção ao chalé de Despina. Era estranho pra Cecília se acostumar com a ideia de que agora ela tinha um chalé apenas dela. Claro, ela não estava reclamando, mas depois de anos vivendo no chalé de Hermes, com toda sua super lotação e conflitos logo cedo, era de se estranhar o silêncio. Ela não era a única. Depois de vencerem a batalha de Manhattan, Percy — que poderia ter pedido qualquer coisa — pediu para que todos os deuses menores tivessem um chalé no acampamento, não apenas os doze — Zeus, Hera, Poseidon, Deméter, Ares, Atena, Apolo, Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dionísio —, além é claro, os deuses agora teriam que reivindicar todos os seus filhos assim que completassem doze anos. Chega de pais abandonando seus filhos para irem atrás de cigarro.
Percy era um herói por completo e Cecília não pode deixar de se questionar o que teria pedido se tivesse a chance. A única certeza que tinha era que não seria um pedido tão altruísta como o de Percy.
O Acampamento Meio-sangue era um acampamento quase que normal se ignorasse as coisas bizarras. Ele era um campo de treinamento secreto e um santuário para semideuses, o único lugar seguro no mundo para pessoas como ela. Suas fronteiras mágicas impostas por Zeus à alguns anos, garantiam que nenhum monstro pudesse ter acesso ao local. Apesar de tudo aquele lugar era sua casa.
Cecília Rey nunca teve nada que poderia chamar de seu, no entanto, ela tinha uma família, tinha um pai. E mesmo que Edgard Rey fosse um completo maluco, ela o amava. Cecília saiu de casa muito jovem, não porque quis, mas porque Edgard a colocou para fora. Se fosse uma escolha, ela ainda estaria em sua casa no Brooklyn, junto de seu pai, ignorando todas as coisas bizarras que aconteciam em sua volta.
Cecília ficava doente com aquilo. Com os inúmeros "e se", com a dúvida de como ele estaria agora. Ela poderia sair do acampamento, poderia ir até o apartamento em New York no Brooklyn. Ela poderia entrar pela porta da frente e dizer tudo o que havia feito até ali durante todos aqueles anos, mas ela sabia que seu caráter não lhe permitiria fazer isso. Seu pai nunca a aceitaria de volta, não com ela sendo o que era agora. E infelizmente Cecília sempre seria o que era e nunca poderia mudar isso, por mais doloroso que fosse.
Ouviu-se uma inconfundível voz. Um grito vindo da floresta. O choque atingiu o corpo dela, tão rápido quanto o reconhecimento de quem era a voz da pessoa que gritava.
━ Não ━ disse em um sussurou, antes de sair correndo em disparada.
Cecília ouviu seu nome ser gritado, não só pela voz dele de dentro da floresta, mas dos outros campistas. Como se eles tentassem entender o porquê dela estar correndo tão rápido. Cecília desviou dos semideuses na sua frente e entrou na floresta já com a lança em sua mão.
━ Cecília! ━ Mesmo à distância, o desespero era quase palpável em sua voz.
Quanto mais corria, mas longe ele parecia estar, e o desespero em seus gritos a deixavam a berra da loucura. Precisava achá-lo, precisava salvá-lo.
No momento em que algo a atingiu, ela lutou para se equilibrar, mas o pé errou o relevo e escorreu na terra úmida. Quando o lado da cabeça de Cecília acertou o chão, foi uma catástrofe de luz. Ela viu todas as cores em um único segundo se combinando para fazer o branco. A dor sibilava dentro de sua cabeça. Cecília estava no chão e não conseguia parar de ouvir a voz de Percy. Seu rosto estava coberto de poeira e terra.
Quando se levantou, a dor era excruciante. Entretanto, ela não escutava mais nada. O desespero tomou conta de seu corpo. Ela estava em uma parte muito densa agora, onde o sol mal entrava por meio das árvores. O escuro era uma massa assustadora em volta dela. Cecília teve vontade de chorar. Não sabia o que tinha à acertado, mas precisava encontrá-lo. Quando tentou voltar a correr, a terra a agarrou e a puxou para baixo.
Ela viu a realidade imediatamente: uma armadilha. Cecília impulsionou o corpo para cima. Ela fincou a lança em uma árvore e usou todas as forças para sair dali.
Os joelhos de Cecília começaram a afundar no chão. Ela fazia o melhor que podia para manter a maior parte de seu corpo para fora da terra, se impulsionando com a lança.
Você se acha invencível, criança. Sabe de uma coisa? Eu também me achava. Uma voz rouca e áspera disse dentro de sua cabeça.
Quando ela disse isso, Cecília soube que seja o que fosse iria matá-la. Pois
não havia como alguém ter tanto ódio e rancor na própria voz e não querer matar.
━ Se revele, seu merda!━ Ela gruniu de raiva. ━ Covarde, deve ter uma cara horrível para se esconder.
Ela riu, embora o pânico já estivesse em sua mente.
Cecília usou o resto de força que tinha para se apoiar na lança de gelo, e então se impulsionar mais uma vez. O suor escorria pelo seu pescoço e suas mãos escorregavam pela base da lança. Cecília olhou para baixo onde suas pernas já estavam quase totalmente submersas pela terra, xingou um palavrão e estendeu a mão para o lado. Um longo espeto de gelo se formou na árvore ao seu lado, e quando estava ao seu alcance Cecília o agarrou. Ela enlaçou um braço em sua lança e o outro no espeto de gelo, e usou todas as forças para se jogar para cima.
Um. Dois. Três. Quatro. Cinco.
Cecília perdeu as contas de quantas vezes havia tentado se desprender da terra.
Ela usou seu poder para alongar o espeto e o unir com a ponta da lança, os transformando em uma coisa só. Cecília jogou o tronco para cima, se curvou sobre o gelo e então congelou o chão abaixo dela assim que seus joelhos saíram de dentro da terra.
Por um instante, não houve nada, apenas o espaço entre uma respiração e outra. Era apenas ela a lança unida ao espeto e a terra congelada em volta de seus pés.
Cecília tentou mexer os pés para quebrar o gelo, quando conseguiu congelou mais ainda a terra a sua volta, e cuidadosamente apoiou os pés no chão. Mas ela não conseguia pensar. Seus pensamentos se chocavam explosivamente na terra congelada em baixo de seus pés, no ritmo do coração, na dor em sua cabeça e na lança presa na árvore. Ela socou a parte onde unia sua lança com a estrutura de gelo que fizerá, dois socos foram o suficiente para quebrar a união e poder arrancar a lança da árvore indo ao chão assim que a tirou.
Cecília ficou deitada na grama por um longo tempo, ouvindo o zunido dos insetos nas árvores à sua volta. Ela se levantou devagar, os joelhos firmes no chão. Por um momento, tudo ficou completamente em silêncio, e então, abruptamente, ela saiu correndo, com o coração palpitando nos ouvidos.
Percy não estava ali. Algo tentará a enganar, algo entrou em sua cabeça e conseguiu à manipular. Cecília pedirá a sua mãe, pedirá que a ajudasse. Talvez, Despina tivesse se sentido atacada por Cecília a oferecer os restos de seu almoço, talvez quisesse ensinar uma lição para ela. Como se a profecia que jogará sobre ela aos quatorze anos não fosse o suficiente.
Realmente, Cecília havia escapado por pouco. Mas mesmo assim ainda doía. Percy ainda estava desaparecido. Cecília se sentia ferida: seu melhor amigo não estava ali, havia sido arrancado dela e usado como forma de punição por Despina.
Cecília não sabia para onde estava correndo e não parou mesmo quando chegou ao acampamento. Talvez não teria parado se suas pernas não tivessem cedido. Ela foi ao chão com um baque surdo. Respirou fundo. Havia barulho por toda parte. Cecília precisava ficar de pé. Sair daquela situação humilhante. Alguém agarrou seu braço e a puxou para cima. Cecília se levantou cambaleante.
━ Que merda você fez, pirralha. ━ Clarisse La Rue a segurava pelo braço, a analisando de cima a baixo. Cecília tinha certeza que estava em uma situação deplorável. ━ Chamem a Annabeth!
━ Eu estou bem. ━ Cecília disse, mas nem ela acreditava naquilo.
Clarisse — geralmente temperamental, de olhos escuros cruéis e cabelos castanhos — ainda a segurava pelo braço, como se estivesse preocupada se caso soltasse ela pudesse cair. Digamos que ter a preocupação da filha de Ares era algo inesperado, Cecília teria feito uma piada com a situação, mas não estava em condições. Sua cabeça ainda latejava e suas pernas pareciam gelatina.
A filha de Ares jogou um dos braços de Cecília pelo ombro e arrastou a garota em direção a enfermaria. Não demorou muito para que Cecília estivesse deitada em uma das camas, com um filho de Apolo a entregando néctar e ambrosia.
Para começo de conversa, a enfermaria estava barulhenta e com um número considerável de semideuses dentro dela. Grover era educado e gentil demais e ajudava Will Solace — o surfistinha loiro de quinze anos e olhos azuis — a organizar as coisas e afastar qualquer campista curioso. Clarisse, entretanto, mais do que compensava a gentileza e calma de Grover, com suas reclamações e análises desnecessárias. Os irmãos Stoll apareceram derrepente no local, atraídos pela fofoca, mas não demorou muito para serem expulsos por Clarisse e Will.
━ Alguém poderia tirar Annabeth daqui? Ela está me deixando nervosa. ━ Cecília pediu. ━ Me sinto um pouco intimidada.
━ Ela não vai simplesmente desaparecer porque você não quer lidar com ela, Ceci. ━ Disse Grover. Cecília tinha certeza que ele estava ali apenas para advogar a favor de Annabeth.
Todavia, Grover parecia tão preocupado quanto a loira. Cecília sabia disso porque havia crescido com o Grover ao seu lado, assim como com Percy e Annabeth. Sua forma de aliviar o sentimento de preocupação era sendo prestativo, por isso estava correndo atrás de Will, querendo ajudar de alguma forma a tornar as coisas mais fáceis.
━ Você está perdendo os únicos neurônios em funcionamento nessa sua cabeça? ━ Annabeth esbravejou, falando algo pela primeira vez desde que entrou na enfermaria. ━ Certamente não é normal você correr para o meio da floresta feito uma maluca, aparecer assim e agir como se nada tivesse acontecido.
Quando Annabeth entrou pela porta, marchando feito um soldado pronto para matar alguém, Cecília sentiu vontade de sair correndo feito um raio para a direção contrária.
━ Em que buraco você se enfiou? ━ Exigiu respostas, analisando a garota suja de terra sentada na cama.
━ Eu to bem, ta legal. ━ Cecília resmungou com a boca cheia de ambrosia.
Annabeth a olhou feio, cruzando os braços. Cecília tinha certeza que se olhar matasse ela já estaria morta.
━ O que aconteceu, Cecília? ━ Um arrepio percorreu o corpo da garota. Annabeth conseguia ser mais assustadora do que qualquer coisa.
Todos sentiram e por isso ninguém ousou falar uma palavra naquele momento. Nem mesmo Clarisse, que estava reclamando desde aquele momento.
Ela não poderia contar o que havia acontecido. Primeiro: porquê doeria em Annabeth saber que Cecília quase morrerá depois de escutar a voz de Percy, e por mais que tivesse sido uma armadilha de Despina, Annabeth iria pessoalmente até onde tudo aconteceu para certificar-se. Segundo: Cecília já estava se sentindo humilhada e envergonhada o suficiente.
━ Minha mãe resolveu me dar uma lição. ━ Cecília riu sem humor, negando com a cabeça.
Ela havia sido tola em pensar que Despina, uma deusa temida até pela própria mãe, rejeitada pelos deuses e criada por um titã, seria tão tolerante apenas porque Cecília era sua filha.
⊱⋅ ──────────── ⋅⊰
02
Caos básico no acampamento hoje, só pra não perderem o costume.
Criei uma conta no ttk (@forcirce.wp) pra poder divulgar e soltar alguns spoilers dos futuros capítulos de Ice Heart, corram lá pra me desflopar!!
É muito importante que voltem e comentem, a cada apoio a está fanfic, me dá mais motivo para continuar.
Beijinhos
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top