capítulo 02 | o infinito mar do teu sorriso

Seonghwa não podia dizer que estava tranquilo com a forma que as coisas aconteceram, mas sabia que não tinha nenhuma opção melhor, então ficou onde estava. A piscina era funda o suficiente para ser confortável e ele conseguia dormir como costumava no mar. Faltavam alguns corais para ficar perfeito, mas serviria enquanto ele precisasse.

Seu sono foi interrompido por um barulho e ele se apressou para chegar na superfície, onde um dos meninos o encarava na entrada da área da piscina, e Seonghwa lembrou de um golfinho desconfiado escondido em um cascalho.

— Hm, oi — falou San, hesitantemente. — Eu sou o San.

— Eu lembro — respondeu Seonghwa, nadando até a borda da piscina.

San entendeu isso como uma permissão para se aproximar, sorrindo, e se sentou próximo ao lugar onde ele se apoiava.

— O Woo vai fazer café da manhã, mas nós não sabemos com certeza o que você come, então eu vim perguntar.

Seonghwa tirou o cabelo molhado do rosto.

— Nós comemos principalmente algas, mas com o que vocês humanos têm com mais frequência, peixe serve.

— Sério? Eu sempre pensei que fosse mais peixe — comentou ele.

Seonghwa deu de ombros.

— Você não seria o primeiro.

Duas covinhas apareceram nas bochechas de San quando ele sorriu enquanto se levantava.

— Certo, nós vamos trazer mais tarde.

Seonghwa assentiu.

— Obrigado.

Ele saiu acenando e Seonghwa voltou a nadar na piscina, pela primeira vez tendo espaço para esticar a cauda e nadar de fato. O aquário que ele ficou por alguns dias era mais alto do que largo e, embora ele tivesse espaço para ficar na vertical, ele não tinha espaço para nadar mais do que alguns metros. A piscina era pequena se comparada ao mar, mas ele tinha espaço para nadar para todas as direções, mesmo que não muito longe.

Seonghwa não tinha nenhuma concepção de tempo além de dia e noite, então ele não fazia ideia de quanto tempo passou sozinho. Ele escutava alguns sinais de movimento ao longe, conversas e risadas, mas ninguém se aproximou, até ele ouvir passos novamente, encostado na parede lateral mais afastada. O primeiro par parecia hesitante, com pausas curtas entre cada passo, como se a pessoa estivesse parando para ouvir. O segundo par era constante e ritmado, os passos ressoando de maneira uniforme no chão de madeira.

Aos poucos, Wooyoung e San entraram, o segundo mais confiante do que o primeiro, cada um segurando uma bandeja. Os dois se aproximaram da borda oposta à que Seonghwa estava e se abaixaram, colocando as bandejas no chão. Seonghwa nadou até eles, com cuidado para a água não espirrar em ninguém.

— Oi, de novo — falou San, mais confiante dessa vez. — Você se importa se nós comermos com você?

Seonghwa fez um gesto para encorajá-los e os dois se sentaram à frente dele.

— Nós compramos peixe fresco, mas não sabíamos se você tem alguma preferência, então nós trouxemos dois tipos — Wooyoung explicou. — E... — ele hesitou. — Nós conseguimos comprar algumas algas.

Seonghwa arregalou os olhos, surpreso, ele não esperava que eles fossem tentar conseguir algo especificamente para ele.

— Para mim?

— Sim, ué — Wooyoung respondeu, confuso. — San disse que você gosta, então eu dei uma procurada quando fui comprar os ingredientes frescos e encontrei. Eu não mexo com alga com frequência, então não sei se comprei certo, mas se você me explicar melhor eu consigo comprar alguma coisa que você goste mais.

Seonghwa ficou sem palavras e Wooyoung empurrou um dos pratos de sua bandeja na direção dele, peixes e algas estavam arrumados no prato com variedade, algas verdes, pardas e algumas vermelhas, e ele ficou sem saber o que dizer. Seonghwa não esperava que nenhum deles fosse ter o cuidado de procurar por algo que ele gostava.

San e Wooyoung pegaram seus pratos e ficaram confortáveis sentados lado a lado, enquanto Seonghwa pegou uma das algas e deu uma mordida experimental, ficando mais que satisfeito ao perceber que era uma das que ele mais gostava.

A risada de Wooyoung soou e os outros dois olharam para eles, San curioso e Seonghwa apreensivo.

— Não é nada, é que você arregalou os olhos quando comeu, foi fofo — comentou ele, rindo um pouco mais. — Não fui eu que fiz, mas eu sei reconhecer quando alguém come alguma coisa que gosta e você estava com os olhos brilhando enquanto comia.

— É uma das minhas favoritas — contou ele.

O rosto de Wooyoung se iluminou.

— É? Vou comprar mais dela da próxima vez, então.

Eles voltaram a comer, San e Wooyoung conversando enquanto Seonghwa aproveitava a refeição, até que San fez a primeira pergunta sobre como era a vida dele no mar. Aos poucos, a curiosidade deles foi crescendo e Seonghwa foi ficando mais confortável enquanto respondia. Quando acabaram de comer, ele nem lembrava que não os conhecia. Os dois prometeram voltar para visitá-lo em breve.

Seonghwa nem percebeu que estava sorrindo enquanto nadava ao redor da piscina.

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O tempo passou mais um pouco e Seonghwa ficou mais confortável com a piscina; foi até a área externa e aproveitou o sol. San e Wooyoung às vezes passavam por ali e acenavam ou sorriam para ele, mas fora isso, ele ficou majoritariamente sozinho.

Isso mudou quando Yeosang se aproximou com uma caixa em mãos.

— Oi — cumprimentou ele, com um sorriso tranquilizador. — Posso me aproximar?

Seonghwa assentiu.

— Sabe, eu percebi que você tem alguns ferimentos e sou eu que cuido da parte médica, então pensei em vir oferecer ajuda. — Seonghwa o observou e acenou com a cabeça novamente. — Você pode sair da piscina? Vai ser mais fácil se nós estivermos na mesma altura.

Seonghwa se apoiou na borda e se ergueu, sentando perto de Yeosang e deixando a cauda na água. Assim, ele começou a trabalhar, cuidando de alguns cortes e hematomas que ele sabia que tinha em seu torso.

— Como vocês cuidam desse tipo de coisa? — Yeosang perguntou, curioso.

Seonghwa ficou pensativo.

— Depende, algumas algas podem ser usadas, esponjas e corais também, às vezes até peixes.

Ele não conseguia ver Yeosang enquanto ele cuidava de suas costas, mas escutou o som surpreso que ele fez.

— Sério? E como é?

Com essa pergunta, eles ficaram um bom tempo conversando enquanto Yeosang cuidava dele, e Seonghwa percebeu que, diferente de San e Wooyoung, que eram bem energéticos e estavam sempre conversando, Yeosang era calmo e falava pouco, mas prestava atenção como ninguém, percebendo pequenos detalhes e fazendo perguntas inteligentes, mesmo se distraindo rápido.

Quando ele terminou, deixou Seonghwa para trás, também prometendo voltar mais vezes.


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O dia foi passando e Seonghwa foi ficando cada vez mais confortável na piscina e com a parte da equipe que ele já conhecia. Ao longo do dia, San, Wooyoung e Yeosang passavam por ali apenas para conversar com ele e, na hora da próxima refeição, os três foram comer com ele, fazendo mais perguntas e cuidando para que ele continuasse confortável. Até Hongjoong passava por lá às vezes, perguntando se ele estava bem e se precisava de alguma coisa, e Seonghwa não sabia como lidar com isso — ou com o que isso fazia ele sentir.

Os próximos a visitá-lo foram Yunho e Mingi, que levaram mais uma refeição quando já tinha anoitecido. Seonghwa estava sentado na borda da piscina que estava exposta na área externa, observando as estrelas, quando os dois chegaram e ele gesticulou para que eles entrassem, se aproximando da borda mais próxima deles, menos apreensivo depois de perceber que os outros não eram perigosos.

— Oi — Yunho falou, colocando a bandeja que carregava na frente de Seonghwa. — Woo pediu que nós trouxéssemos seu jantar porque ele se enrolou fazendo o nosso.

Seonghwa sorriu levemente.

— Podemos sentar? — Mingi perguntou, apontando para um espaço perto da bandeja.

— Claro.

Os dois agradeceram e sentaram, enquanto Seonghwa começava a comer, percebendo que a alga que ele disse ter gostado estava em maior quantidade.

Mingi e Yunho conversavam enquanto ele comia, e a relação dos dois chamou a atenção de Seonghwa.

— Vocês se conhecem há muito tempo? — perguntou, antes que pudesse pensar melhor.

Os dois se entreolharam.

— Desde crianças, então, basicamente a vida toda — Mingi respondeu, sorrindo nostálgico. — Mas ficamos mais próximos quando nos enfiamos nessa ideia maluca do Hongjoong.

Seonghwa riu levemente.

— É, nós não imaginamos que ia tomar essa proporção — falou Yunho, mostrando a área da piscina com a mão.

Os dois contaram para Seonghwa sobre como eles se conheceram melhor e se tornaram amigos, além de contar como conheceram Hongjoong e o resto da equipe, e como foram parar em uma loucura como aquelas.

Seonghwa ouviu engajado até que Mingi ficou inquieto, olhando para ele. Olhou ao redor, procurando por algo que pudesse deixá-lo daquele jeito.

— O que foi? Tem algum predador por perto? — perguntou ele, olhando além dos dois e atrás dele mesmo.

Mingi ficou confuso.

— Predador? Não, não, é só que... — hesitou. — Posso te pedir uma coisa?

Seonghwa assentiu, curioso.

— Podemos ver sua cauda? Quer dizer, ver mais de perto. Ela parece ser bonita, mas como está sempre na água, nós não conseguimos ver direito — pediu Mingi. — Mas não precisa, se for te deixar desconfortável.

Seonghwa sorriu e acenou com a cabeça antes de se afastar da água, puxando a cauda toda para fora da piscina e colocando em uma posição que permitiu que Mingi e Yunho a vissem melhor. Os dois olharam as escamas maravilhados e ele sentiu uma pontada de orgulho.

— Ela é linda — Yunho falou, hipnotizado.

Ele olhou para a própria cauda, as escamas justapostas, formando uma proteção até a ponta volumosa que brilhava com a luz da lua.

— Vocês podem tocar, se quiserem, mas tomem cuidado, porque as escamas são feitas para cortar.

Os dois concordaram e colocaram a mão na cauda, abrindo a boca impressionados.

Seonghwa deixou que eles acabassem com a curiosidade, e eles passaram um bom tempo conversando até que os humanos começaram a bocejar e dar sinais de cansaço. Preocupado, Seonghwa mandou que eles fossem descansar e, apesar dos leves protestos, eles o deixaram sozinho para perseguir o próprio descanso, se enroscando com a própria cauda no fundo da piscina como gostava.


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Com a passagem dos dias, Seonghwa ficou cada vez mais próximo de cada um deles.

San e Wooyoung eram os que visitavam com mais frequência, enquanto Yeosang, Yunho e Mingi o visitavam com um espaço de tempo mais longo entre cada visita. Além disso, ele sempre tinha pelo menos um deles acompanhando-o enquanto ele comia.

Hongjoong, no entanto, passava muito tempo longe da base, mantendo a fachada de ser um cantor fútil como tantos outros que moravam na capital. Jongho sempre o acompanhava e Seonghwa não teve oportunidade de conhecê-lo melhor, porém, naquele dia, Hongjoong teve um evento de última hora e Jongho não o acompanhou, permitindo que ele finalmente pudesse se aproximar do tritão enquanto ele estava na piscina, nadando, para exercitar a cauda.

Jongho deu um sorriso fofo ao se aproximar e Seonghwa, já habituado com o resto da equipe, retribuiu enquanto se sentava na borda da piscina, como os outros costumavam fazer. Mas ao invés de só conversar com ele como era o habitual, ele fez um pedido inusitado.

— Eu posso entrar na piscina com você?

O pedido pegou Seonghwa desprevenido e ele ficou levemente confuso antes de responder que sim. A resposta valeu a pena quando Jongho, que ele descobriu ser o mais novo da equipe, abriu um sorriso enorme antes de ir trocar de roupa para uma de mergulho e voltar, se sentando na borda mais uma vez, porém colocando os pés dentro da água antes de tomar impulso para entrar na piscina por completo.

Entre os sete rapazes que se revezavam para visitá-lo, Jongho foi o primeiro que pediu para, de fato, entrar na água com ele, e isso mostrava um nível assustador de confiança, porque Seonghwa não teria dificuldade nenhuma em acabar com ele uma vez que estivesse dentro da piscina. Ele sabia que o local era fundo demais para qualquer humano, o que significava que ele estaria confiando em Seonghwa para ajudá-lo a se manter com a cabeça acima do nível da água, mas em nenhum momento agiu como se isso fosse um problema.

Era estranho, a confiança desse humano que mal o conhecia fazia com que ele se sentisse de alguma forma no dever de conquistar esse tipo de confiança dos demais.

Seonghwa o conduziu pela piscina enquanto conversavam, conhecendo-o melhor.

Depois quase uma hora desse jeito, eles perceberam que não estavam sozinhos, Hongjoong os observava na entrada com um sorriso orgulhoso no rosto como Seonghwa se acostumou a ver sempre que ele assistia as interações do tritão com o grupo, feliz por eles estarem se dando bem, disse ele uma vez.

— Chegou quando? — perguntou Jongho ao perceber a presença dele.

Hongjoong se aproximou, se agachando próximo à piscina e Seonghwa os levou para perto dele, apoiando Jongho para que ele não se afogasse.

— Não faz muito tempo, uns 10 minutos.

Jongho revirou os olhos, mas não falou nada sobre isso. Ao invés de questioná-lo sobre o assunto, esticou o braço na direção dele.

— Me ajuda a sair, eu estou começando a ficar com frio.

Hongjoong não respondeu verbalmente, apenas esticou a mão como ele tinha pedido enquanto Seonghwa observava, mas nenhum deles estava preparado para o que o caçula planejava. Em um minuto Hongjoong estava na borda ajudando-o a sair e, no minuto seguinte, ele estava na água enquanto Jongho ria.

Seonghwa foi rápido em segurar os dois, mantendo-os respirando.

Hongjoong xingou criativamente enquanto tanto Jongho, quanto o tritão riam; eventualmente, ele começou a rir também.

Sem ar de tanto rir, Jongho pediu para Seonghwa ajudá-lo a sair e ele o fez, segurando Hongjoong pela cintura para apoiá-lo na água enquanto ajudava o caçula a se erguer até que conseguisse subir na borda sozinho.

— Obrigado pela conversa, Seonghwa, qualquer dia desses eu venho nadar com você de novo.

Jongho falou como se o tritão fosse ficar ali por muito tempo, mas ele não corrigiu.

Quando ele saiu, Seonghwa arrumou Hongjoong em seus braços, deixando-o de frente para ele e ajudando-o a chegar de volta à borda, onde ele ficou com as costas apoiadas nos ladrilhos laterais enquanto o tritão o mantinha flutuando, segurando-o pela cintura.

Os dois ficaram sozinhos em um silêncio desconfortável por alguns segundos e Hongjoong começou a agir como se quisesse falar alguma coisa, mas estava se impedindo.

— Você pode falar, sabe? Eu não mordo — Seonghwa falou brincalhão.

Hongjoong riu e respirou fundo antes de falar.

— Foi você, não foi? Você me salvou quando eu era criança — perguntou depois de tomar coragem.

O tritão desviou o olhar, como se qualquer outra parte da piscina tivesse do nada se tornado mais interessante.

— Foi.

— Por quê?

Seonghwa ainda se lembrava daquele dia.

Ele tinha se separado dos pais e do resto do bando quando a correnteza ficou muito forte e assistiu Hongjoong com um humano mais velho, pescando. Sua mãe sempre falou que humanos eram perigosos, então ele tentou se manter escondido, mas o menino o viu e ele entrou em pânico e nadou mais fundo. Ele viu pela água quando o menino, Hongjoong, caiu na água e, embora ele não estivesse nem perto de ter a força que um sereiano adulto tinha, na água ele tinha muito mais resistência que um humano. Então, ele fez o oposto de tudo que lhe foi ensinado desde que começou a se aventurar por águas desconhecidas: ele se aproximou de um humano e, pior que isso, ele o salvou.

— Eu te salvei porque não me custava nada e ninguém merece morrer sem conseguir respirar. Você era novo demais e tinha a vida toda pela frente. Era o mínimo que eu podia fazer.

Seonghwa não sabia que tipo de resposta Hongjoong estava esperando, mas não achou que fosse aquela, porque ele o encarava como se sua cabeça tivesse se dividido em duas. Mais uma vez ele ensaiou falar, porém, dessa vez, o tritão não precisou incentivá-lo.

— Eu posso te beijar?

Hongjoong entrou em pânico assim que acabou de falar. Quer dizer, sereianos beijavam? Seonghwa sequer sabia o que era um beijo? Ele não tinha a menor ideia e xingou até a quinta geração da própria árvore genealógica por sua boca ser mais rápida que o cérebro.

Sua sequência de xingamentos direcionados a si mesmo foi interrompido quando o som de uma risada soou próxima, um riso cheio de calor, e Hongjoong encarou Seonghwa maravilhado enquanto ele ria.

Desde que o tritão foi levado até a base, Hongjoong assistiu de longe ele se abrindo, conversando com os meninos da equipe, conhecendo-os melhor e até esboçando um sorriso ou outro, mas nunca rindo. Aquela era a primeira vez que ele testemunhava a risada de Seonghwa — e que alguém o ajudasse, porque ela só serviu para cavar uma cova mais funda.

Quando ele terminou de rir, Hongjoong estava encantado o suficiente para esquecer do próprio pedido, mas o tritão não esqueceu.

Se aproximando mais do que deveria ser possível, Seonghwa ondulou a cauda e se colocou entre as pernas de Hongjoong, que se sentia pesado graças ao volume de roupas molhadas. Apertou a mão em sua cintura enquanto Hongjoong tentava manter a respiração e os pensamentos sob controle. Ele falhou e, antes que pudesse tomar uma decisão coerente sobre o que fazer, a boca de Seonghwa estava na sua, e seu cérebro desligou de vez enquanto aproveitava o sabor de água salgada, que daquela forma era mais que bem vindo.

O beijo foi aumentando a intensidade e Hongjoong nem percebeu quando suas pernas se cruzaram na parte de trás da cauda de Seonghwa, abraçando-o entre elas. Em contrapartida, ele percebeu quando o tritão levou as duas mãos até sua cintura, o ergueu — ainda o beijando — e o colocou sentado na borda da piscina, ficando entre as coxas dele e fazendo questão de apertá-las com vontade sempre que tinha oportunidade.

Com uma mão lhe apertando a cintura e uma na coxa, Hongjoong não conseguia arrumar força — ou vontade — em si mesmo para fazer qualquer coisa além de se entregar, permitindo que Seonghwa fizesse o que queria com ele enquanto o vento frio batia em seu corpo molhado e a água escorria por sua pele.

Eles ficaram se beijando por tanto tempo que Hongjoong sentia os lábios dormentes e, mesmo assim, quando Seonghwa se afastou, ele fez bico e o tritão riu, roubando mais um selinho antes de separar seus rostos de vez, mantendo as mãos em sua cintura e coxa.

— Você devia trocar de roupa e se aquecer. Vocês, humanos, são muito frágeis — disse, ao perceber como ele tremia com a brisa batendo em sua forma molhada.

Hongjoong fez um pouco de birra, mas concordava que precisava trocar de roupa por algo que o aquecesse.

— Mas eu não quero ir.

Seonghwa sorriu e deixou um beijo na bochecha dele.

— Mas vai, porque eu não quero meu humano doente.

Hongjoong retribuiu o sorriso e roubou mais alguns selinhos antes de se levantar da borda da piscina e sair, deixando para trás Seonghwa e um rastro de pingos de água no chão.


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Depois do primeiro contato, abriu-se entre os dois uma porta que Hongjoong nunca imaginou, mas que ele não podia dizer que não era de seu agrado. Ele passou a trocar noites em que dormiria na capital depois de eventos e shows por viagens de volta, fazendo o possível e o impossível para chegar à base mais cedo e passar mais tempo com Seonghwa.

Às vezes era só um beijo rápido quando Hongjoong chegava de viagem cansado, às vezes ele ficava horas lendo na área da piscina enquanto Seonghwa nadava; algumas vezes ele lia com os pés dentro da água enquanto o tritão deitava a cabeça em seu colo. Às vezes eles nadavam juntos e, algumas vezes, eles simplesmente ficavam no mesmo ambiente, respirando o mesmo ar e aproveitando a companhia confortável um do outro.

A equipe também criou seus próprios laços com Seonghwa, organizando festas do pijama ao ar livre, nadando com ele, apenas sentando com ele na hora das refeições em diferentes combinações de pessoas para que ele não ficasse sozinho ou em uma simples visita à área da piscina quando tinham um tempinho sobrando.

Ao final do primeiro mês, Seonghwa estava tão inserido na rotina de Hongjoong e do resto da equipe, que parecia impossível lembrar que existiu uma vida sem ele.

Foi, portanto, um choque e tanto quando Hongjoong, ao voltar de uma sequência de shows particularmente exaustiva, encontrou a piscina vazia e a ausência de Seonghwa em qualquer lugar que ele pudesse ter ido sem andar.

Levemente desesperado, mas sem querer sucumbir ao desespero, Hongjoong procurou pelo resto da equipe para conseguir uma explicação. Sua busca não durou muito e poucos minutos depois, as vozes tensas e incertas o levaram até a cozinha, onde toda a equipe estava reunida ao redor de Seonghwa, que estava sentado à mesa. E com pernas.

Hongjoong travou na entrada da cozinha, sem saber como reagir ao fato de que seu tritão tinha finalmente conseguido se transformar e ao que isso significava.

A presença de Seonghwa não era algo definitivo e, por mais que ele coubesse na vida deles como uma luva, ele tinha um lugar para onde voltar. A despedida estava se aproximando e as pernas dele eram um lembrete físico de que eles não tinham mais o tempo roubado que o manteve ali até aquele momento.

Hongjoong não queria parar para pensar nos próximos passos, mas eles precisavam, então ele juntou a equipe na cozinha e, enquanto Wooyoung cozinhava, eles começaram a conversar.

— Bom, nós precisamos decidir o que fazer daqui para frente — começou Hongjoong. — O que você quer fazer Hwa?

Seonghwa respirou fundo e Hongjoong se sentou na cadeira ao lado dele, oferecendo a mão que ele aceitou e entrelaçou seus dedos.

— Eu quero ver o mar — foi tudo que ele respondeu, mas não elaborou.

Antes que qualquer um deles pudesse falar mais alguma coisa, Yunho se manifestou.

— Não queria estar falando sobre isso, mas eu acho que vocês precisam saber. Eu encontrei mais um sereiano.

Hongjoong viu o momento em que Seonghwa absorveu a informação, a indignação surgindo.

— Onde?

Yunho suspirou.

— Em um laboratório perto da saída da capital para o litoral.

Wooyoung parou de cortar vegetais para olhar para eles.

— Nós temos que fazer alguma coisa.

Hongjoong concordou.

— E faremos.

— Eu quero ajudar — falou Seonghwa, chamando a atenção de todos.

Hongjoong não soube como reagir à oferta de ajuda, mas não precisou, porque Seonghwa ainda não tinha terminado de falar.

— Eu estive no lugar dele e sei que não é fácil confiar em humanos. Minha situação era ruim, mas a dele provavelmente é muito pior. Seria mais fácil se alguém como ele, eu, ajudasse a convencê-lo. Sem ofensas, mas quando você está em uma situação dessas, preso, humanos não são exatamente o que você quer encontrar. Posso ajudar vocês a resgatá-lo e nós vamos para o mar com ele.

Ninguém podia protestar contra alguém que esteve nessa posição.

Hongjoong não gostou desse plano que colocava a despedida em perspectiva, mas era o melhor que eles tinham. Então ele respirou fundo e acenou com a cabeça.

— Vamos resgatá-lo, assim como resgatamos você.

E Seonghwa sorriu de uma forma que fez com que Hongjoong quisesse mantê-lo por perto o máximo de tempo possível.


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Eles levaram dois dias para se preparar para invadir o laboratório. Foram dias estranhos, pequenos momentos de despedida em que Seonghwa passou a dormir na cama com Hongjoong, tomar café da manhã junto com a equipe na cozinha, conversar na sala enquanto assistiam filme e até se aventurou a ir às compras com Wooyoung.

Hongjoong via a forma como ele se encaixava bem com sua equipe, mas não tinha coragem de pedir a ele para ficar. Assim, ele se contentou com os últimos momentos roubados enquanto viajavam na van até o laboratório.

Yunho e Jongho observaram a rotina, entenderam como eles funcionavam e montaram um plano baseado nisso. Invadir foi a parte fácil, o problema seria sair depois.

O laboratório era um labirinto de corredores estreitos e salas frias e úmidas, iluminadas apenas por luzes neon fracas. O ar era pesado com o cheiro metálico de desinfetante e o som constante de máquinas zumbindo. Estava vazio, como sempre ficava à noite, com exceção de um jovem guarda que eles despistaram sem dificuldade.

Não demorou para que eles encontrassem o tanque em que o sereiano estava sendo mantido e Seonghwa fez um som engasgado de puro horror.

Dentro do tanque, pequeno demais para o tamanho dele, estava um tritão pálido e fraco, quase como se não estivesse consciente. Sua cauda, amarelo ouro, jazia imóvel no fundo, como se ele nem tivesse forças para movê-la mais.

Seonghwa foi rápido em se despir e pular no tanque, suas pernas sendo substituídas por sua cauda azul marinho enquanto ele nadava a até o outro tritão, que se assustou com o movimento repentino e abriu a boca em surpresa ao reparar no sereiano no tanque com ele.

De perto, o estado dele era ainda pior do que parecia. Seu torso estava coberto de hematomas e cortes, seus braços cheios de marcas de agulhas e o rosto estava macilento e magro.

— Eles capturaram mais? Não, não pode ser! — disse o sereiano com a voz rouca e ríspida. — Por que vocês trouxeram mais? Eu prometi que ia cooperar.

Ele olhava para os amigos de Seonghwa como se eles fossem os vilões.

— Calma, calma, nós viemos ajudar — Seonghwa tentou explicar. — Eles me salvaram e agora é sua vez. Eu sou Seonghwa.

O tritão juntou as sobrancelhas em confusão ainda olhando para Hongjoong e companhia que esperava próximo à entrada da sala.

— Ajudar? Humanos?

— Eu sei que parece uma armadilha, mas eu juro pelas ondas que não é. Nós vamos tirar você daqui. Como é seu nome?

— Juyeon.

— Certo, Juyeon, precisamos que você nos ajude a tirar você daqui, tudo bem?

Juyeon segurou a mão dele o mais forte que conseguiu, mas sua força estava comprometida e ambos sabiam que ele não tinha chance. Mesmo assim, Seonghwa fez o que pôde, e nadou pelos dois. Afinal, de que valia a força que ele lutou tanto para recuperar se ele não era capaz de salvar alguém que precisava?

Então ele nadou e nadou, mas o aperto de Juyeon ficava cada vez mais fraco, até que ele o soltou e caiu em direção ao fundo do tanque. Seonghwa foi rápido em segurá-lo pela cintura, porém quando ele tentou se avançar assim, ele sentiu Juyeon balançando a cabeça em seu ombro.

— Eu não vou conseguir, Seonghwa, não desperdice sua força comigo. Outros vão precisar dela mais do que eu — falou, resignado. — Você pode só... — Juyeon travou, como se sua voz estivesse presa em um nó na garganta. — Só fica comigo o quanto puder. Seria bom morrer com pelo menos um dos meus por perto.

Seonghwa sabia que lágrimas estariam escorrendo por seu rosto se eles já não estivessem na água, e ele sabia reconhecer quando alguém não resistiria. Juyeon claramente não tinha muito tempo e sentia a força do desespero e da impotência por ter demorado demais para chegar até ele.

— Sinto muito, Juyeon, eu vou fazer o meu melhor para que mais nenhum dos nossos acabe nessa situação de novo. Nunca mais.

Juyeon sorriu, um movimento fraco dos lábios enquanto fechava os olhos, como se na presença de Seonghwa ele finalmente pudesse descansar.

Não demorou para que o peito dele parasse de se mover e Seonghwa podia jurar que o mundo parou por alguns segundos.

Seonghwa o deitou nas pedras artificiais do fundo do tanque com cuidado.

— Que as ondas levem sua alma e o mar o guie de volta até o oceano infinito.

Seonghwa mal teve tempo de voltar ao encontro dos amigos antes de sentir suas forças evaporarem e ele cair nos braços de Hongjoong, que o abraçou forte o suficiente para abafar o som dos soluços e da dor.

Seonghwa sabia que eles poderiam ter sido amigos. Se tivessem se conhecido em qualquer outra situação, eles teriam se dado bem. Mas eles nunca teriam chance e Juyeon nunca mais veria o oceano.


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Hongjoong assistiu de perto Seonghwa voltar a se esconder na própria concha aos poucos e ele não sabia o que fazer. Eles estavam viajando em direção ao litoral e, embora Seonghwa ainda se mantivesse fisicamente por perto, ele estava muito mais calado e introspectivo. A equipe estava toda reunida na van enquanto Yunho dirigia.

O tritão tinha a cabeça apoiada no ombro de Hongjoong enquanto ele fazia cafuné nos fios negros, deixando que ele descansasse pelo menos um pouco.

Desde a morte de Juyeon, toda a equipe se uniu ainda mais, pelo bem de Seonghwa. Wooyoung e San estavam quase sempre fisicamente grudados com o tritão, seja de mãos dadas ou abraços rápidos; Mingi e Yeosang tentavam fazer ele conversar, Jongho e Yunho intercalavam na direção dia e noite para que eles pudessem chegar ao litoral o mais rápido possível.

O pior de tudo era que mesmo quando ele claramente não estava em seus melhores dias, Seonghwa ainda cuidava deles o melhor que podia. Ele estava silencioso, mas fazia questão de confirmar que todos eles estavam comendo direito. Quando ele percebeu os primeiros ventos de Hongjoong se culpando por não terem sido mais rápidos para ajudar Juyeon, ele cuidou dele o melhor que podia.

As coisas não foram fáceis e a despedida iminente também não ajudou.


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Seonghwa não sabia o que esperar ou como se sentir quando finalmente chegaram ao litoral. Ele aproveitou que a equipe se juntou para comer assim que chegaram e o tritão encarou os amigos que fez, a decisão tomada já em mente.

— Vocês podem vir à praia comigo hoje à noite? — pediu.

O grupo se entreolhou e Hongjoong foi rápido em responder.

— Claro.

Assim, eles se encontravam na praia vazia à noite reunidos à beira do mar.

A areia, antes dourada sob o sol, se fundia com a escuridão do mar, criando uma faixa indistinta que se estendia até o horizonte e o céu noturno, adornado por milhões de estrelas cintilantes que refletiam na superfície calma do mar enquanto a lua brilhava majestosamente no céu, lançando sua luz prateada sobre a paisagem e criando um caminho cintilante sobre o mar. O som das ondas quebrando na costa se tornava mais suave à noite, um murmúrio relaxante e convidativo. A brisa fresca da água carregava o aroma salgado da maresia.

Seonghwa encarou o mar, o oceano que foi sua casa por anos, e confirmou sua decisão ao sentir Hongjoong circundando sua cintura com o braço e o resto do grupo se aproximando.

— Eu quero ficar com vocês — falou ele, atraindo a atenção. — Vocês... me aceitariam?

Hongjoong o virou, fazendo com que ele o encarasse.

— Como assim, Seonghwa? Você quer ficar? — perguntou incrédulo, quase como se não quisesse se permitir ter esperança antes da hora.

— Eu não tenho para quem voltar no mar. Meu bando provavelmente fugiu para longe quando fui levado, eu pedi que eles fizessem isso — contou Seonghwa. — Eu prefiro que eles estejam bem e longe daqui do que presos em algum lugar — confessou, cheio de sinceridade e resignação. — Mas isso também significa que agora eu estou por conta própria e tem tantos que estão presos como eu estava. Eu quero ajudar os que eu conseguir — disse, olhando para o horizonte, como se pudesse ver cada um dos sereianos presos, como se pudesse alcançar todos eles. — E, sendo bem sincero, eu não estou pronto para abrir mão da família que eu construí com vocês. Não quero deixar nenhum dos meus para trás mais uma vez. Então eu quero ficar, se vocês me quiserem por perto.

Hongjoong ficou sem reação por alguns segundos, mas então alguém soluçou e ele reagiu, puxando-o para perto e o abraçando.

— É claro que nós queremos você por perto, Seonghwa, nós nem queríamos que fosse embora, mas nenhum de nós quis te colocar na posição de ter que decidir.

Wooyoung se jogou sobre os dois.

— Eu estou tão feliz que você vai ficar.

Seonghwa sorriu e retribuiu o abraço, que cresceu em volume conforme o resto dos amigos se juntou.

Eles ficaram assim por minutos e até o tritão sentiu seus olhos marejarem ao finalmente entender que tinha conseguido uma segunda família; o grupo desfez o abraço, voltando para a van para poder voltar para casa.

Antes que Seonghwa pudesse se juntar ao grupo, Hongjoong o puxou e o beijou.

— Nossa vida começa agora.

───── fim.

Notas da autora

Acabou, meus amores, espero que tenham gostado tanto quanto eu gostei de escrever.

Até uma próxima, anjos ❤️❤️❤️.

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