Capítulo 19: Justiça, Vingança, Necessidade

Andrew

─ Já viu algo assim antes?

O professor franziu o cenho e olhou atentamente para a foto. Agora parecia que ele não ia parar de falar. Albert ficou bastante tempo pensando e olhando para a foto, ele já conhecia esses sinais, só estava tentando lembrar aonde os vira. Ele tinha um sotaque britânico, porém não parecia nada com um. Parecia latino, mesmo sendo engraçado com seu sotaque, é incrível pensar que as mais diversas culturas estão por todo o mundo. Ele deveria ser brasileiro, venezuelano ou qualquer um desses países, ou pelo menos seus pais são. Deveria ter vindo pra cá em busca de educação ou trabalho, mas ele se recusa a falar como nós.

─ Eu já vi esses símbolos em algum lugar, pelo que me lembro é de uma história. Vamos ver ─ ele se levantou, deixando eu e minha irmã sentados na cadeira de espera de sua sala. Na verdade a sala não deveria ser dele, deveria ser de algum coordenador, mas mesmo assim acho que ele não vê problema em utilizar. Albert procurou por algum livro na estante ao nosso lado esquerdo e pegou um livro relativamente pequeno, porém com muitas páginas. Ele sentou novamente e seguiu folheando-as, até encontrar o que precisava. ─ O primeiro ilustra a letra H ─ ele ia na sequência das três runas ─; a segunda mostra a letra L e a última letra Y. Esse livro conta um mito antigo sobre três entidades que deram inicio a algum tipo de tribunal universal. Como um lugar que vai julgar toda a sua vida.

Amberly parecia prestar muita atenção, já deveria ter ligado alguns pontos. Não sei de onde ela tirou essa foto ou onde ela quer chegar com isso, mas parecia que sua vida dependia disso, como se todos os segredos dela seriam revelados.

─ A mais de dez séculos atrás, três principais povos se juntaram numa tríplice aliança. Os povos germanos, o povo nórdico e o pequeno povo anglo-saxão na ilha da atual Inglaterra formaram o primeiro julgamento pós-morte da história. Os germanos eram liderados por Ylleeth, um rei tirano da época; os nórdicos eram liderados por Laurentio, um homem que sempre buscava desafios; os anglo-saxões eram liderados por Hugo, o mais novo entre eles e o mais esperto. Eles dividiram o tribunal em três: Ylleeth e seu povo ficaram com a justiça, Laurentio e seu povo com a vingança e Hugo e seu povo com a necessidade. Juntos, eles deveriam julgar todas as pobres almas da Terra, o que até certo tempo deu certo. Porém, com o passar dos séculos, Ylleeth começou a ficar perturbado com a justiça, onde até os mínimos detalhes virariam motivo de mandar a alma ao inferno. Laurentio e Hugo se sentiram ameaçados pelo poder que Ylleeth estava tomando, ficava mais forte a cada alma perdida, então eles tiveram a brilhante ideia de prender Ylleeth e erradicar suas memórias, porém apenas nos dias de hoje dizem que Ylleeth foi libertado totalmente sem memórias.

─ Você acha que eles ainda andam entre nós? ─ Amberly perguntava, focada na história de Albert. ─ Se têm descendentes?

─ Não posso dizer que tenho certeza, mas se for real eu acredito que ainda estejam entre nós ─ Albert fechou o livro e o guardou exatamente onde estava na estante. ─ O mito diz que eles não poderiam gerar uma grande família. Se tiverem mais de um filho, algum deles teria que ser sacrificado para que a balança de poder fique equilibrada. Mesmo assim, os descendentes não durariam muito mesmo que se reproduzissem.

Um pouco depois de Albert calar a boca, uma certa movimentação parecia estar acontecendo do lado de fora. O professor fechou a cortina da sala e deixou tudo fechado, mas antes que pudesse fugir, uma bala atingiu seu peito e sangue foi jorrado por toda a mesa. Ferido, ele apoiou as costas contra o pé da mesa. Tentei ajudá-lo, mas não teria muito pelo que fazer já que a bala atravessou seu estômago. Por um momento me vi na mesma situação de Amberly a meses atrás, de frente com uma pessoa baleada, mas diferente dela, agora foi apenas uma pessoa e apenas um tiro. Ela parecia em choque, ainda não deveria ter superado a morte de Janet, já que nem eu consegui superar em tão pouco tempo. Abigail, Erik, Janet e muitos mais foram vítimas de tiros. Quando isso iria parar?

─ Espero que encontrem seu objetivo com Ylleeth, Hugo e Laurentio ─ ele declarava, já pronto para a morte. Mesmo negando, eu tentava preencher a ferida com gaze que encontrara na gaveta da mesa. Eu continuava procurando qualquer canto da ferida que possa estancar o sangue, mas era tarde demais. Não poderia salvar Albert.

─ Andrew ─ Amberly chamou a minha atenção, que levantava para olhar para a porta.

─ Andrew VanCite, você está preso ─ um soldado com a arma apontada para mim me algemava com algum tipo de tecnologia das coleiras. No fim do corredor, Kane se aproximava, de longe até próximo demais. Ele olhava para a minha irmã com certa decepção, um olhar que ela já recebeu muito, mas dessa vez era diferente. Ele sabe que tem que perdoa-la.

─ Amberly, você finalmente conseguiu seu irmão de volta ─ ele chegava próximo a nós. Grande conquista, Amberly. ─ Vou mantê-lo sob custódia até ser seguro para mim, para você e para todos. Vamos prosperar e você vai ter sua amada de volta ─ Amberly me encarou se sentindo culpada. Então ela fez uma troca, nossos poderes pela namorada morta. Não preciso ler a mente de Magnus para saber que isso daria errado. ─ Seu trabalho acabou, criança. Pode sossegar agora.

─ O que fez com a Comissão? ─ me impressionei desta ser sua primeira pergunta para ele. Não sabia que se importasse, mas pode ser que não se importe e esteja perguntando por curiosidade. Da última vez que saímos de lá, tudo estava indo por água abaixo. Não duvido que esteja pior.

─ Podemos conversar com isso depois ─ ele segurou seu ombro e a conduziu para fora da sala, me deixando com o soldado desconhecido. Antes de ir, ela me deu um olhar por cima dos ombros. 

Ela vai voltar.

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