Capítulo 10: Nenhum dos Lados

Andrew

Quase consegui minha fuga, mas ela foi tirada de mim sem que eu sequer ficasse sabendo.

Qualquer que seja o motivo da vinda da minha irmã, sei que isso já acabou. As pessoas pareciam mais agitadas, eufóricas, desde que minha irmã chegou. Não a vi mais nesse lugar e já tinha parado de acreditar que eu sairia daqui tão cedo. Minha irmã tinha ido embora e eu mal sei o motivo de ter me deixado aqui. Apesar de tudo eu sei que ela não me abandonou porque quis, eu sei que não. Ou talvez fosse melhor acreditar nessa hipótese.

Um tempo depois da minha chegada a esse lugar eu sentia um certo conforto, um alívio, das pessoas em volta. Até mesmo os alienígenas provaram ter sentimentos. Se me perguntassem meses atrás se aliens existissem, eu diria que não, mas agora eu já cheguei a minha conclusão. Tudo estava indo bem até ontem, quando minha irmã veio e horas depois tudo ficou mais tenso. Não que isso mude o meu cativeiro, além do mais eu ficaria presa de todo jeito, mas é sempre bom prestar atenção no mundo a sua volta.

─ Andrew Bowen? ─ a mulher com sotaque espanhol abria minha cela em busca de mim. Mesmo que quisesse fugir, não teria para onde ir, não conheço esse lugar. O mais curioso foi o fato de terem me chamado pelo meu último sobrenome, o nome do meu pai, e não o nome da minha mãe, mais bonito e exótico. ─ Podemos conversar na minha sala? ─ assenti com a cabeça, acho que não tinha outra opção além dessa.

Era a primeira vez que me deixavam olhar esse lugar sem um saco na cabeça. O soldado que me colocou naquele lugar, o de pele verde, continuava vigiando a minha cela. Talvez em um tempo distante eu poderia perguntar pra ele quais são as coisas diferentes que ele deve fazer.

Aqui todos são tão diferentes. Formas, rostos, cores, tamanhos, pessoas completamente diferentes que se entendem como um só. Não consegui ver nenhum conflito na minha caminhada até a sala da mulher, mesmo sendo uma caminhada pequena. As pessoas conversavam, discutiam entre si, mas tudo sempre acabava como uma amizade. Talvez eu não tenha tido tempo suficiente com essas pessoas ainda e eu possa estar completamente enganado, mas essa é a primeira impressão que me causou, e a primeira é a que mais fica.

Sua sala era pequena para alguém de tamanha importância, acho que até os dormitórios são divididos em tamanhos iguais para todos aqui, e eles toleram isso sem ressentimentos. Sua sala tinha uma mesa como a do interrogatório, porém dessa vez me sinto mais solto ao seu lado do que antes, mesmo que ainda não confie em ninguém. Não tenho motivos para confiança, eles apenas afastaram minha irmã de mim naquele dia.

Me sentei numa cadeira pequena de frente a cadeira na qual ela sentaria. Encarei seu rosto mais uma vez, olhando diretamente para sua cicatriz de um corte perfeito. Ela parecia uma guerreira, uma mulher que vive do conflito e da guerra que poderia me esfaquear agora mesmo. Mas ela sabe o preço que tenho para minha irmã, ou apenas Amberly para ela. Amberly queria me libertar, tenho certeza que veio perguntar o motivo.

─ Por quais motivos Amberly Johnson viria atrás de você? ─ Johnson... Bowen... eu e Amberly temos o último nome diferentes, eles não devem saber que somos parentes.

─ Eu não sei. Me achou bonito? ─ talvez essa fosse de longe a pior mentira que já deveria ter contado na vida, tirando meses atrás quando manipulei Rebecca para nos ajudar a salvar nosso povo. Pelo menos ela ajudou e muitos estão vivos, porém muitos também estão mortos. ─ Eu não sei. Nos conhecemos uma vez a muito tempo. Não estou entendendo porque estou aqui.

─ Porque você é importante para ela. E vamos tirar vantagem disso ─ ela se levantou da cadeira e pegou um papel que parecia mais uma foto. Quando sentou-se pude identificar minha irmã com um homem mais alto, mas, mesmo com a falta de qualidade da foto, não consegui ver quem era. ─ Esse é Magnus Kane ao lado de Amberly. Ela tem feito acordos com ele em troca de alguma coisa que valha muito a pena, porque nossos homens sempre declaram que Amberly está alterada. Kane tem dado coisas para ela e esse homem não é nenhum santo ─ pegou uma foto que estava abaixo da de minha irmã e o tal Kane. Dessa vez era apenas uma foto de minha irmã sentada em um banco na praça e olhando para o nada. ─ Ela tem visto coisas, ou alguém. Nossa teoria é de que Amberly esteja indo atrás de algo que perdeu.

─ Janet, assim como você perdeu ela.

─ A melhor teoria seria de que Kane a prometeu algo impossível por um preço muito baixo, e ela acabou aceitando. Precisamos tirar essa garota das mãos dele e vamos precisar de você para isso ─ tudo isso me cheirava mal. Sentia que eu acabaria me ferrando de todo jeito e, se pudesse, fugiria. Só não conseguia me teleportar daqui por causa dessa coleira infernal em volta de meu pescoço, me sufocando toda vez que me mexo. Essa mulher que ainda não descobrira o nome acabou de implantar um medo em mim que ainda era desconhecido.

No momento que ela se levantou de novo e andou para trás de mim devagar. Eu permaneci sentado foi quando percebi que alguma coisa iria acontecer. Continuava olhando fixadamente para a parede a minha frente, na qual tinha um armário velho o bastante para despencar, Kaley não estava mais no meu campo de visão já que eu evitava olhar para trás. Procurei o máximo de coisas para me distrair, para fingir de que não sabia que levaria um esporro na nuca. Suor descia pela minha testa ficando tão transparente quanto vidro o meu desespero. Na verdade esse lugar estava uma bagunça só, não parecia que ela arrumava esse lugar, talvez precise de alguém para arrumar para ela. Fechei os olhos, esperando o desmaio, nessa hora só tentava pensar em coisas boas.

Como já previa fui atingido por um taco de baseball na nuca, onde eu disse que seria. Tudo isso era mais fácil desse jeito. Eles me usariam como isca e eu teria minha irmã próxima a mim.

Mesmo ela contando seu lado da história, não posso confiar em nenhum dos lados.

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